sábado, 30 de junho de 2018

ENGAIOLADO


Este é um comentário, uma resposta que acabou virando novo post. Taí, este texto é um(a) respost! Que acha, Marreta?

Não entendo de aquários e detesto gaiolas. Sempre achei abominável a visão de pássaros engaiolados; nunca consegui aceitar que alguém aprisione passarinhos só por gostar de seu canto, suas cores, sei lá que mais. Os pássaros jamais deveriam ser aprisionados em gaiolas. Os defensores dessa crueldade argumentam que os canários e seus companheiros de infortúnio morreriam se fossem soltos, pois “estão acostumados” com a falta de liberdade. Comovente! Então, por que foram capturados e presos?

Uma vez eu li que as aves em geral têm um “espaço vital” ou território, cada espécie com um tamanho ou abrangência diferente.  As aves de rapina têm quilômetros quadrados para chamar de seus. Pássaros pequenos movimentam-se em espaços menores. Mas nada comparado com gaiolas.

Eu fui uma criança engaiolada e sei o quanto foi estranho ver a porta abrir-se um pouco. Talvez nunca tenha conseguido abandonar as gaiolas em que fui entrando ao longo da vida. É por isso que eu digo: “Abaixo as gaiolas!

Sou contra gaiolas, estejam elas com animaizinhos indefesos ou aprisionando nossas vidas, nossos sonhos e emoções. Sentir-me livre algumas vezes, ainda que fossem sensações fugazes, tornou-me um defensor perpétuo da Liberdade. (Acho que me entusiasmei demais. Está frio agora, talvez seja melhor entrar de novo e fechar bem a porta...)



SKYLINE PIGEON - ELTON JOHN & BERNIE TAUPIN

"Saia voando, pombo correio, voe
Em direção aos sonhos
Que você há muito deixou para trás"



Skyline Pigeon

Turn me loose from your hands
Let me fly to distant lands
Over green fields, trees and mountains
Flowers and forest fountains
Home along the lanes of the skyway

For this dark and lonely room
Projects a shadow cast in gloom
And my eyes are mirrors
Of the world outside
Thinking of the ways
That the wind can turn the tide
And these shadows turn
From purple into grey

For just a Skyline Pigeon
Dreaming of the open
Waiting for the day
He can spread his wings
And fly away again

Fly away, skyline pigeon, fly
Towards the dreams
You've left so very far behind
Fly away, skyline pigeon, fly
Towards the dreams
You've left so very far behind

Let me wake up in the morning
To the smell of new mown hay
To laugh and cry, to live and die
In the brightness of my day

I want to hear the pealing bells
Of distant churches sing
But most of all please free me
From this aching metal ring
And open out this cage towards the sun

For just a Skyline Pigeon
Dreaming of the open
Waiting for the day
He can spread his wings
And fly away again

Fly away, skyline pigeon, fly
Towards the dreams
You've left so very far behind
Fly away, skyline pigeon, fly
Towards the dreams
You've left so very, so very far behind
Pombo do Horizonte

Liberte-me de suas mãos
Deixe-me voar para terras distantes
Sobre campos verdes, árvores e montanhas
Flores e fontes em florestas
Para casa, ao longo das raias do horizonte

Pois este quarto escuro e solitário
Projeta uma sombra lançada na escuridão
E meus olhos são espelhos
Do mundo lá fora
Pensando nas maneiras
Em que o vento pode virar a maré
E as sombras mudarem
De roxo para cinza

Simplesmente para o pombo do horizonte
Sonhando com o aberto
Esperando pelo dia
Que ele possa abrir suas asas
E sair voando novamente

voe longe, pombo do horizonte, voe
Em direção aos sonhos
Que você há muito deixou para trás
Saia voando, pombo correio, voe
Em direção aos sonhos
Que você há muito deixou para trás

Deixe-me acordar de manhã
Para o cheiro do feno recém-cortado
Para sorrir e chorar, para viver e morrer
Na claridade do meu dia

Eu quero ouvir os sinos ressonantes
Das igrejas distantes cantar
Mas, acima de tudo, por favor me livre
Destas algemas dolorosas
E abra esta gaiola em direção ao sol

Simplesmente para o pombo do horizonte
Sonhando com o aberto
Esperando pelo dia
Que ele possa abrir suas asas
E sair voando novamente

Voe longe, pombo do horizonte, voe
Em direção aos sonhos
Que você há muito deixou para trás
Voe longe, pombo do horizonte, voe
Em direção aos sonhos
Que você há muito, muito tempo deixou

NEUROTIRAS - 06


sexta-feira, 29 de junho de 2018

NEUROTIRAS - 05





Sinapse: região de proximidade entre a extremidade de um neurônio e uma célula vizinha, onde os impulsos nervosos são transformados em impulsos químicos em decorrência da presença de mediadores químicos. Os axônios apresentam diversas ramificações e, no final delas, são encontradas expansões chamadas de botões pré-sinápticos. Esse botão está separado da membrana do outro neurônio ou célula muscular através de um espaço que recebe o nome de fenda sináptica.


quinta-feira, 28 de junho de 2018

NEUROTIRAS - 04

Só para registro: não estava gostando do título original desta série ("Longe Do Microscópio"). Por isso, pensei em duas alternativas: "O Minueto Dos Neurônios" e "Neurônios Neuróticos". Acabei não escolhendo nenhuma das duas, pois resolvi adotar o título que estou usando para arquivar os “não-desenhos” – Neurotiras. Um caso típico de muitos títulos para pouco humor.





terça-feira, 26 de junho de 2018

NEUROTIRAS - 02

Quem já acessou o blog mais que apenas uma ou duas vezes talvez já tenha percebido minhas tentativas de fazer humor com formas básicas, figuras geométricas e por aí. Um dos motivos óbvios é não saber desenhar de forma decente. Outra razão é tentar fazer um humor meio non sense com frases, situações e expressões do mundo real em um contexto alternativo, minimalista.

Isso normalmente resulta em séries de “não-desenhos” ligados pela mesma temática. Para mim, o melhor resultado já obtido foi com a série “Fiat Lux!”. Mas eu continuo tentando. O problema é que a inspiração e o “humor” tornaram-se cada vez menores - ou mínimos. Mesmo sabendo disso, mesmo que o “humor” seja do tipo infantil ou “adolescente”, resolvi cometer mais este deslize. Na prática, mesmo que o resultado seja risível, horrível ou digno de pena, isso me diverte e ajuda a neutralizar um pouco a depressão instalada (é a idade, estúpido!).

sexta-feira, 22 de junho de 2018

DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ - ELIS REGINA



Outro dia ouvi no rádio do carro a Elis Regina cantando a música “DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ”. Havia tempos que não a escutava. Fiquei prestando atenção na letra do Aldir Blanc. Que cara fera! Sem ele, talvez o João Bosco não tivesse feito o sucesso que fez. As imagens se casam à perfeição com o estilo da música. “Meu coração traiçoeiro batia mais que o bongô, tremia mais que as maracas”. Isto é genial.

Uma vez eu li que se não fosse sua opção pela temática suburbana (“band-aid no calcanhar”, por exemplo), o Aldir estaria no mesmo nível do Cole Porter. Tentei achar quem teria dito isso, mas não consegui. O que não tem importância nenhuma.

Essa gravação da Elis Regina é perfeita, com direito a bongôs e maracas. Boa para dançar, para namorar, para tomar um vinho. E ainda tem o belíssimo bolero “La Puerta” como música incidental. Show demais.


Sentindo o frio
Em minha alma
Te convidei prá dançar
A tua voz me acalmava
São dois prá lá
Dois prá cá...

Meu coração traiçoeiro
Batia mais que o bongô
Tremia mais que as maracas
Descompassado de amor...

Minha cabeça rodando
Rodava mais que os casais
O teu perfume gardênia
E não me perguntes mais...

A tua mão no pescoço
As tuas costas macias
Por quanto tempo rondaram
As minhas noites vazias...

No dedo um falso brilhante
Brincos iguais ao colar
E a ponta de um torturante
Band-aid no calcanhar...

Eu hoje, me embriagando
De wisky com guaraná
Ouvi tua voz murmurando
São dois prá lá
Dois prá cá... 


terça-feira, 19 de junho de 2018

CONFESSIO


- Eu gostaria de me confessar... Tenho sentido que as pessoas me veem como um pecador...

- Abra seu coração, meu filho.

- Sabe o que é? Eu não bebo bebida alcoólica...

- Isso não é pecado, meu filho, é uma atitude louvável.

- Também não fumo nada que seja fumável,

- A saúde deve ser preservada...

- Nem uso drogas ilícitas.

- Você é um exemplo de integridade.

- Para piorar, não gosto de futebol. Não assisto nem aos jogos da seleção!

- Há pessoas que são mais voltadas para as coisas do espírito.

- Além disso, detesto picanha mal passada e com aquela capa de gordura amarela.

- Quê????????? Seu... Seu indecente!

- Calma, assim também não!

- Você não merece absolvição, merece é ser excomungado!

- O senhor está passando bem? Não há tanto motivo para toda essa exaltação!

- Venient super te omnes maledictiones istæ, et plagas Aegypti Pharaoni regi et quæ venerunt super populum ejus, quia non fecerit legem Dei. Maledictus in agro ubicumque fueris et viculos et edere et bibere et custodibus somno vivere et mori statuo. Maledictus fructus terras animalia habent. Mitte te Deus, qui illum fames et pestis consumet. Inimicos eius, corripiatur; turbata est. Quod diaboli est!

- O senhor enlouqueceu?

- Você não pertence a este mundo! Revertere ad locum tuum!




sábado, 16 de junho de 2018

ESCOLINHA DE FUTEBOL

Mesmo que aqui seja o país do futebol, do Neymar e da Bruna, existem pessoas que não sabem nem quem é a bola ou o que é um juiz. Como estamos em plena época da Copa do Mundo, imagino que o constrangimento dessas pessoas fique ainda maior. Por isso, para ajudá-las a melhor apreciar o ludopédio, esse nobre esporte bretão, resolvi ensinar os primeiros conceitos sobre o assunto, mas de forma tão básica que quase chega a ser uma aulinha de Escolinha de Futebol. Olhaí.





Agora, de posse desses novos conhecimentos, já dá até para torcer pelo sucesso da seleção do canarinho pistola. Isso, claro, só para quem gosta de futebol, de canarinho ou de pistola. Eu tô fora.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

O TERÇO DA DISCÓRDIA


Eu sei que a moda agora é divulgar fake news pelas redes sociais, mas como sou um saudosista descontrolado, fico pensando nos bons tempos em que só existiam notícias falsas, fofocas e mentiras. Mesmo assim, não posso viver no passado. Por isso, resolvi comentar uma fake news recente. Para ninguém me acusar de plágio, vou chamá-la de fuck news ou, para atender os mais pudicos, funk news. Trata-se da história do terço.

Tudo teria começado com um advogado argentino (sempre eles!) tentando se encontrar com o Lula. Um dos motivos midiáticos era entregar ao Luisinho um terço que o Papa Francisco teria benzido e mandado especialmente para ele. Mas não conseguiu autorização e o terço foi entregue pelo advogado.

A manada do PT divulgou nas redes sociais que “o papa Francisco fez sua primeira manifestação explícita de apoio ao ex-presidente Lula, mantido como preso político há 67 dias”, ao enviar “um rosário ao presidente Lula, preso político há 67 dias. O presidente recebeu o terço na sede da Polícia Federal em Curitiba".

Só que isso não era verdade. Ou melhor, era apenas meia verdade ou nem isso, era só um terço de verdade (boa essa!), pois o Vaticano logo trucou em cima, desmentindo o PT. “Segundo a Santa Sé, advogado argentino que tentou visitar petista na prisão não é emissário do papa, mas 'ex-consultor do Pontifício Conselho Justiça e Paz'”. E disse mais, disse que “o papa Francisco não enviou terço a Lula”.

Imagino que isso deixou o pessoal do PT numa saia justa danada. Como o petismo é uma religião, o PT uma igreja e o Lula o seu papa (papa tudo!), talvez fosse mais adequado dizer que os cardeais do PT ficaram numa batina justa lascada.

Tenho um amigo que manifestou preocupação por esse incidente diplomático. Mas, como diz dona Marcela, “não há o que Temer”, pois o que aconteceu mesmo foi um conflito religioso, uma rusguinha entre duas igrejas diferentes. Além do mais, o Papa Francisco estudou para ser padre, não ator de teatro.

Ah, quase me esquecia: sim, ele benzeu o terço, como benze centenas de outros terços, entregues depois a presos comuns, Assim como o Lula. “Preso político”? Educadamente direi como se diz nas redes sociais: kkkkkkk!





terça-feira, 12 de junho de 2018

POSSUÍDO PELO MEDO - ALGUMA SESSÃO

A porta do elevador se abre e dele sai um homem idoso com ar angustiado. Dirige-se ao número 303, entra na saleta de recepção, anuncia-se para a secretária (que já o conhece) e espera ser chamado.

- Como vai? Vamos entrar?
- Bom dia, doutor...

O homem acomoda-se no divã e começa a falar.

- Sabe, doutor, primeiro tenho que pedir desculpas pela saída estabanada. Aquilo foi muito idiota! Quando estava vindo para cá, lembrando do meu comportamento tão despropositado, fiquei pensando que devo ter desarmado uma trava presa há muito tempo. Ou seja, o ódio e a vergonha reprimidos na infância pelo medo de um menino filho da puta, um verdadeiro bad baby, foram despertados e explodiram sem controle. Que acha disso?
- Na psicanálise, a eliminação do sintoma é consequência da modificação na estrutura psíquica que deu origem ao sintoma. Ou seja, uma transformação na dinâmica psíquica na qual o paciente se submergiu, e que o faz sentir-se e viver angustiado consigo mesmo e com os outros (no sintoma).
- Não entendi porra nenhuma!
- Ao verbalizar uma vivência que causou sofrimento intenso no passado, você conseguiu reviver os sentimentos contraditórios que recalcou. E isso foi libertador. Para ser eficaz, a terapia pressupõe a criação de um vínculo entre terapeuta e analisando. Na relação entre o terapeuta e o paciente forma-se uma relação pessoal de onde se pode interpretar o inconsciente do analisando. Na análise leva-se o paciente a tomar suas próprias decisões, a estar mais consciente de suas escolhas. É um compromisso de longa duração. Por isso, meu papel não é julgar, mas ouvir e analisar.
- Eu sei, doutor, já não sou calouro nessa matéria. Podemos prosseguir?
- Claro!
- Depois de começar aqui a revolver o passado, percebi que não quero mais fazer isso. Até porque já contei os casos da infância e juventude para o outro psicanalista. Poderia contá-los outra vez, mas, sinceramente, são  café pequeno perto do tornado, do tsunami que está atingindo minha mente.
- Ao final desta sessão vou te dar uma receita de medicamentos contra depressão.
- Eu não quero tomar nenhuma bomba! Além do mais, não estou deprimido. O que estou é angustiado, totalmente sitiado pelo Medo, um medo que nunca senti, que surge de todos os lados, em todos os momentos, entendeu?

(silêncio ofegante)

Hoje eu acordo e durmo com medo, medo de tudo. De acontecer alguma coisa a um de meus filhos (e eu não suportaria!), medo que sofram algum acidente quando viajam, medo de ficar dependendo financeiramente deles, medo de andar à noite e ser assaltado, medo de perder amigos, bens, status, saúde, a fé, medo de  morrer de câncer, medo do amanhã, medo do próximo instante, medo de tudo, de tudo, de tudo. É um sentimento que não me abandona mais, que me vestiu como uma camisa de força. Eu não aguento mais isso!

(silêncio breve)

- Eu imagino que você vai dizer que esse medo está relacionado ao meu desejo irrealizável de controlar tudo, que esse desejo é um eco da impossibilidade de controlar as ausências da minha mãe durante sua gravidez. Vocês têm sempre uma explicação plausível para o que eu e outros sentimos. Mas eu tenho pressa, não aguento mais sofrer pelo amanhã, pelo que pode ou não acontecer amanhã ou depois. Sim, talvez eu queira controlar tudo, justamente para não sofrer. E eu nunca conseguirei isso!
Se o futuro fosse uma entidade, uma divindade mitológica, eu diria para ele: Futuro, não aguento mais temer suas ações! Chega,acabe com isso,  abata-me logo! Livre-me do Medo para sempre, não me faça esperar!
- Aqui está o número do meu celular. Ligue-me a qualquer hora do dia, não faça nada que coloque em risco sua integridade física. Pense que esta é uma fase que será superada...
- Ah, doutor! E o senhor acha realmente que eu vou te ligar? Que vou te mandar uma mensagem pelo whatsapp? Que vou dizer: “Meu caro doutor, vou suicidar agora. Fui!”. Kkkkk, não é assim que se faz? Eu disse que não aguento mais! Tenho dor na nuca, acordo sobressaltado, perco o sono. E sempre tem uma mão invisível a me sufocar. Medo filho da puta! VOU ACABAR COM VOCÊ, DESGRAÇADO!
- Você quer um pouco de água?
- Quero nada, só quero ir embora! Não vou ficar mais aqui!

O homem sai estabanadamente. O psicanalista fica pensativo, o cenho carregado. Lá fora ouve-se o guinchar de pneus freando bruscamente e o barulho de uma batida. Alguém acabava de ser atropelado.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

SABE VOCÊ - CARLOS LYRA & VINÍCIUS DE MORAES

Essa música é uma das mais lindas para mim. A melodia é do Carlos Lyra e a letra é do Vinícius de Moraes. Nunca ouvi a gravação original, mas duvido, tenho a quase certeza que jamais superaria essa interpretação do Milton Nascimento (em sua melhor fase).

Os versos iniciais sempre foram para mim um antídoto contra os medíocres poderosos e contra gente que tem um rei na barriga ou se acha a dona da verdade eterna. Toda vez que eu me sentia estressado, passava esse "bálsamo" na alma:

Você é muito mais que eu sou
Está bem mais rico do que eu estou
Mas o que eu sei você não sabe
E antes que o seu poder acabe
Eu vou mostrar como e por que
Eu sei, eu sei mais que você
Sabe você o que é o amor?
Não sabe, eu sei

 



domingo, 10 de junho de 2018

POSSUÍDO PELO MEDO - OUTRA SESSÃO

A porta do elevador se abre e dele sai um homem idoso de aparência cansada. Dirige-se ao número 303, entra na saleta de recepção, anuncia-se para a secretária que já o conhece e espera ser chamado.

- Como vai? Vamos entrar?
- Bom dia, doutor...

O homem acomoda-se no divã e fica em silêncio por alguns instantes. E começa a falar.

- Sabe, doutor, tenho uma amiga que também faz terapia. Estava contando para ela a história da gravidez de minha mãe. Na opinião dela, todas as pessoas deveriam fazer terapia. O que acha disso?
- Todos nós usamos como que uma couraça, uma armadura, para viver em sociedade. Mas nem todos têm armaduras tão pesadas que paralisem ou os impeçam de se movimentar. Ou seja, nem todas as pessoas precisam fazer algum tipo de terapia, entendeu?
- É, você deve ter razão.

(silêncio breve)

- Eu vim pensando em contar um ou dois casos que até hoje me envergonham. Na época, fiquei muito mal. Qual você prefere escutar primeiro, o mais delirante ou o mais abjeto?
- A escolha é sua.
- OK, vou contar o mais antigo primeiro. Eu estava na quarta série do grupo escolar e tinha dez ou onze anos. Era colega de dois irmãos, um menino e uma menina. O menino era do tipo valentão e frequentemente arrumava brigas na saída da aula. Eu era franzino e medroso, morria de medo de alguém querer brigar comigo. Talvez por isso e pelo fato de irmos na mesma direção, acabei ficando amigo desse menino.
Um dia, comentei com ele que na minha casa existia um anel de caveira igual ao usado pelo Fantasma. Conhece essa história em quadrinhos, doutor?
- Sim, o "Fantasma que anda", não é?
- Isso mesmo. Eu gostava muito dessas histórias. Pois bem, o menino ficou empolgado e pediu para vê-lo. Eu disse que não poderia, pois era de um de meus tios, mas ele insistiu. Eu repeti a negativa e ele ficou com raiva. Pegou meu braço e começou a torcer. Pedi para que me soltasse, mas ele continuou a torcer meu braço e disse que se eu não desse para ele o tal anel ele iria me bater no dia seguinte.
A irmã do valentão ficou com um sorriso cúmplice enquanto eu era ameaçado e agredido. Fiquei tão apavorado com a possibilidade de apanhar, de ser surrado (meus pais nunca me bateram), que não pestanejei: no dia seguinte, tal como em um filme de gangsters, entreguei a ele o anel da caveira (que não era meu!).
Depois disso, creio que passei a voltar sozinho para casa. Não me lembro se era eu que o evitava ou se era ele que me ignorava. O que me consolou foi o fato de ser um anel sem valor, abandonado e esquecido em uma gaveta. Se eu o tivesse dado de presente ou jogado fora, nada teria acontecido, mas o que me marcou não foi a covardia abjeta explicitada por meu comportamento nem a provável humilhação a que seria submetido ao ser espancado na rua. O que me fez ceder à chantagem do colega filho da puta foi o Medo, um medo incontrolável. Medo da dor, medo do desconhecido, medo, medo, medo, medo!

- Doutor...
- Sim?
- Eu não estou legal, não sei explicar, mas lembrar dessa história me deixou muito estranho. Acho que vou embora agora.
- Calma, respire pausadamente, o tempo ainda não acabou e...
- Foda-se o tempo! Eu não estou bem, estou agoniado, entendeu?.
- Espere um pouco...
- Tchau!






sexta-feira, 8 de junho de 2018

FALANDO BÚLGARO

Essa é uma história boba que só vale a pena ser contada por eu estar com preguiça de me dedicar à série "Possuído pelo medo". O caso é o seguinte: graças à magia e às mandingas do Facebook, recentemente recebi (e aceitei) uma "solicitação de amizade" das mais inusitadas, pois o pedido partiu de um parente de uma amiga de minha mulher. O "inusitado" decorre do fato dele morar na Bulgária.

O que sei é que o pai dessa amiga era um engenheiro búlgaro que chegou ao Brasil ainda jovem, casou-se, inventou uma peça qualquer e ficou rico pra burro com a invenção. Muito bem. Ao receber a solicitação de amizade vi que o sobrenome do solicitante era o mesmo de nossa amiga. Resolvi entrar em seu perfil e foi nessa hora que descobri que ele vive na Europa. Em suas publicações não havia nenhuma palavra em português, raramente alguma coisa em inglês. O restante (ele publica pouco) estava escrito no alfabeto cirílico.

Como eu sou o rei da interatividade superficial, resolvi escrever para ele. Logo eu, um monoglota juramentado. Só que hoje existe o Google Tradutor! Aí, lembrando-me da decifração dos hieróglifos, resolvi seguir a linha e postei isso:


remembering the Rosetta stone ... I do not speak English, much less Bulgarian. But I will try to express my astonishment and joy at having asked Facebook for my friendship. I know the wife of Mr. Lubomir, his daughters Ludmila and Tatiana and their granddaughters Nina and Cristiana (daughters of Ludmila). We will probably never meet, few words to change (always through Google Translate), but, believe me, I'm very happy with this approach.

Спомняйки си Ромета Стоун ... Не говоря английски, много по-малко български. Но ще се опитам да изразя учудването и радостта си от това, че помолих Facebook за моето приятелство. Познавам съпругата на г-н Любомир, дъщерите му Людмила и Татяна и техните внуци Нина и Кристиана (дъщери на Людмила). Вероятно никога няма да срещнем няколко думи, които да се променят (винаги чрез Google Преводач), но, повярвайте ми, аз съм много доволен от този подход.

lembrando a pedra de Roseta... Eu não falo inglês, muito menos búlgaro. Mas tentarei expressar meu espanto e alegria por ter solicitado no Facebook minha amizade. Conheço a esposa do Sr. Lubomir, suas filhas Ludmila e Tatiana e suas netas Nina e Cristiana (filhas da Ludmila). Provavelmente nunca nos encontraremos, poucas palavras trocaremos (sempre através do Google Translate), mas, pode acreditar, fiquei muito feliz com essa aproximação.


Coisa de puxa-saco profissional, concordam? Achei estranho meu novo "amigo de facebook" nem ter se lixado para isso, nem ter "curtido". Pensei comigo: "Esses gringos são muito secos mesmo". E a coisa ficou por aí. Ontem, dia do meu aniversário (foi dia do meu aniversário), recebi dele uma mensagem em alfabeto cirílico. Copiei e colei no Google para saber o que dizia. E aí é que aconteceu a surpresa que me fez rir até. A mensagem recebida é esta:

Happy birthgay!
Честит рожден ден! Желая от сърце много здраве и благополучие!

A tradução ficou assim:
Happy birthgay!Feliz aniversário! Desejo de coração muita saúde e bem-estar!

Meio distraído, notei que havia uma frase não traduzida, pois estava em inglês. Olhando melhor, comecei a rir, pois em vez de "birthday" estava escrito "birthgay". Mas o que que é isso? O gringo estaria me zoando? Espero que seja erro de digitação, pois bullying de búlgaro eu não aceito!




quinta-feira, 7 de junho de 2018

POSSUÍDO PELO MEDO - UMA SESSÃO

Hoje, 07 de junho, é o aniversário de quatro anos da criação do Blogson Crusoe (já é um senhor!) e também de Jotabê, o blogueiro de comportamento infantilizado, que comemora sessenta e oito aninhos (pois é...). Nesses quatro anos, 1.295 posts foram divulgados, mais de sessenta mil visualizações aconteceram - mesmo que uns 30% delas tenham sido feitas pelo próprio autor. Muitos números, pouca significância.

Mas, para não deixar esta data memorável passar em branco (e preto), resolvi divulgar um texto comemorativo, cheio das cores vivas da paixão, da loucura e da perplexidade (esta é só uma frase de efeito). Como imagino que ficará longo (ainda nem comecei a escrever), será dividido em partes, bem ao estilo "Para gostar de ler" (duas páginas em fonte arial 12). Depois, será postada a "Versão do diretor", com o texto completo.

O estilo escolhido abriga-se na seção "Literatices", pois é ficcional, apesar de traços auto e multi-biográficos (não daria para encarar esse tema a seco). A história se passa no consultório de um terapeuta da linha freudiana - com direito até a divã. Por quê?  Porque certas coisas, mesmo que inventadas, normalmente são ditas apenas no consultório do terapeuta ou ao padre, no confessionário (confissão auricular, entenderam?). Para não cair no charlatanismo, tentarei limitar ao máximo as intervenções do profissional de psicologia (ainda vou estudar essa merda!). Então, estamos combinados. E agora, Luzes, câmera, AÇÃO!


- Bom dia, doutor!
- Bom dia! Tenha a bondade de entrar.
- Obrigado.
- Como você disse já ter feito terapia, fique à vontade para acomodar-se no divã.
- Já estava até com saudade! (mesmo que quatro décadas tenham se passado).

(Silêncio)

- O senhor sabe o que me trouxe aqui?
- Não.
- Quando eu tinha vinte anos, fiz terapia por ter medo da Morte, da dor. Hoje, tenho medo da Vida, da perda.
- Interessante...

(Silêncio prolongado)

- Como eu já sei que o senhor não vai dizer nada, ou melhor, dirá alguma coisa quando eu menos esperar, vou dar uma recapitulada na minha vida, ou ainda, no efeito do Medo ao longo da minha vida. O senhor quer perguntar alguma coisa?
- Não.
- Posso substituir o “senhor” por “você”?
- Claro!
- Se eu ficar muito tempo em silêncio, pode acontecer de estar cochilando, pois tenho andado muito cansado e insone.
(murmúrio ininteligível)
- Mesmo que eu não o esteja vendo, estou enxergando um risinho de escárnio em sua boca! Mas, fique tranquilo, Com uma hora de cinquenta minutos cobrada a preço de joia, pretendo aproveitar bem o tempo.
- Fique à vontade.

(Silêncio muito prolongado)

- Creio que o Medo, tal como se fosse uma entidade demoníaca, instalou-se em mim muito cedo, influenciando, pautando, balizando minha vida, minhas atitudes, comportamento pessoal, profissional e caminhada. A primeira lembrança mais nítida que tenho do efeito devastador do Medo em minha mente está relacionada à gravidez de minha mãe.
Eu tinha dez anos quando ela ficou grávida de meu irmão. Eu era uma criança presa, impedida de sair de casa para brincar com a molecada das redondezas. O primeiro terapeuta disse uma vez que eu era “filho de mãe castradora”, expressão que me causou algum desconforto. Por isso, por ser "inocente, puro e besta", eu nem sonhava o que seria “gravidez”. É ridículo isso (ainda mais nos dias atuais), mas era a pura verdade.
Quando não estava na escola (que chamava-se "grupo escolar" naquela época), ficava pela casa ou quintal "idiotizando" alguma coisa. Um dia, minha mãe sumiu. Perguntei onde estava e me disseram que "tinha saído". Quando saía por perto, para alguma compra, logo voltava. Se precisava ir “na cidade", normalmente me levava. Mas aquela ausência prolongada era novidade, pois eu não tinha ido com ela. Fui tomado por um desassossego, logo transformado em medo de ser abandonado e, por fim, de desespero quase histérico.
A única salvação para mim era fazer promessa, alguma promessa, qualquer promessa, para que ela voltasse. Não chorei, mas não conseguia pensar em mais nada. Aí ela chegou com meu pai, falou alguma coisa comigo e eu fui invadido pelo ódio mais cristalino, mais destilado, por ter-me feito sofrer tanto ao pensar que iria perdê-la.
Essas ausências aconteceram outras vezes, sempre gerando o medo mais mortal de ser abandonado. Ela saia com meu pai para fazer o controle pré-natal, provavelmente uma vez por mês, mas eu não sabia. Como "sexo" era assunto tabu em uma casa onde se ajoelhava às dezoito horas em frente ao rádio na "hora do Ângelus", só fiquei sabendo que minha mãe estava grávida já bem perto do dia do parto. Assim mesmo, graças à minha madrinha que passou a ir lá todos os dias para dar uma força na arrumação de casa e almoço. Lembro-me que fiquei surpreso com a notícia e assustado com o tamanho da barriga, nunca notado antes. Lembro-me também do aspecto meio repulsivo de seus pés inchados como uma bola, pois ela era bem magra.

- Bem, a sessão de hoje acabou.
- Já? Mas eu nem esquentei ainda!
- Na próxima, você continua...
- Hora de cinquenta minutos é foda!
- Até mais.
- Falou, doutor!


terça-feira, 5 de junho de 2018

SOB O DOMÍNIO DO MEDO

De acordo com as “Propriedades” do arquivo em formato WORD, este texto começou a ser esboçado em 18/07/2012 e foi salvo com o título atual em 04/05/2014, exatos 33 dias antes da criação do Blogson. Apesar de não saber a que corresponde a data do esboço original, é indiscutível que o assunto “medo” há muito me atormenta. Quando aconteceu a “primeira morte” do blog – discretamente antecipada no post “PARA ENTREGA DA LOJA” e depois  divulgada oficialmente no post "CODA"- esse título foi citado e “oferecido” a outros blogueiros. Transcrevo o que disse na época:

Os títulos dos posts que nunca terminarei são: "Sob o domínio do medo" e "Os sete pecados capitais". Essas ideias surgiram na época da criação do blog, mas ficaram esquecidas até hoje, talvez pela imersão necessária a cada uma.

Esses posts tratariam dos temas sob a minha ótica pessoal e funcionariam como sessões de "terapia blóguica": de que forma o medo alterou meu comportamento, pensamentos e atitudes, por exemplo. No caso dos "sete pecados", a coisa ficaria mais divertida, pois precisaria identificar o modo como eu teria (ou não) cometido esses "pecados". Mas não dá mais. Por isso, foram excluídos junto com os outros rascunhos. Se alguém quiser carregar essa tocha não olímpica (mas tão desgovernada e sem rumo como se fosse), fique à vontade. Eu até que gostaria de ler o resultado.


Apesar de realmente ter excluído o rascunho do blog, descobri em outra pasta o arquivo original que foi mencionado no início deste post. A intenção inicial era mapear a influência do Medo ao longo da minha vida, mas de uma forma mais serena, meio contemplativa, como se estivesse contando casos para alguém (no caso, meus filhos e amigos).

Hoje, a intenção já é fazer uma “cirurgia de peito aberto e sem anestesia”. Mesmo assim, graças à função de “blogoteca” que às vezes atribuo ao velho Blogson, resolvi exumar mais este morto, deixando para outro post o registro dos sentimentos atuais. Vê aí.


Lá pros idos da década de 70, eu e minha mulher assistimos o filme “Sob o domínio do medo”, com o Dustin Hoffman. O filme era tão intenso e violento que, ao sair do cinema, começamos a discutir sem mais nem menos. Aí nos demos conta que estávamos assim por causa do filme (sensacional) e começamos a rir. Exceto pelo título emprestado, o texto a seguir nada tem a ver com esse filme (que é excelente e uma ótima dica para uma sessão pipoca).

Algum tempo atrás, fiquei pensando sobre como o medo pode moldar uma pessoa, uma cultura, um povo, a Vida, enfim. Daí a pensar sobre a influência do medo em minha vida (afinal, sou o personagem predileto das minhas reflexões), foi um passo. Bem curto, diga-se.

Mas, antes de me deitar no divã, vou listar alguns medos que encontrei na internet (JB também é cultura – inútil, é verdade – mas cultura) e que têm tirado o sono da humanidade ao longo dos séculos.

PRÉ-CULTURAIS:
O medo do homem pré-histórico era o mesmo dos outros animais: o de ser devorado por um predador.

INÍCIO DA CULTURA (100.000 A.C):
O homem começa a prever e evitar os perigos que podem ser encontrados na noite, na chuva e no mar. Com o desenvolvimento da imaginação, passa a temer deuses, demônios e espíritos.

CIVILIZAÇÃO (3500 A.C.):
O medo de ser erroneamente diagnosticado como morto e enterrado vivo é bastante comum;
As primeiras civilizações começam a temer os seres humanos vindos de longe, os bárbaros.

IDADE MÉDIA (476 D.C.):
A Igreja Católica promove o medo do fogo do inferno, das bruxas e do apocalipse. À noite, passamos a temer os vampiros e fantasmas;
A peste negra aterroriza a Europa;
O medo de ser devorado por lobos cria a lenda dos lobisomens;
Os ladrões de crianças medievais são os primeiros serial killers

IDADE MODERNA / CONTEMPORÂNEA
1831: FRANKENSTEIN, o livro de Mary Shelley mostra o primeiro monstro construído pelo homem. A ciência passa a fazer parte de nossos temores
1870 - MARCIANOS: Encontramos indícios de vida em Marte. Os alienígenas começam a fazer parte de nosso imaginário
1917 - COMUNISTAS: A revolução russa faz o Ocidente temer um novo tipo de invasão bárbara: os ataques comunistas
1945 - ATAQUE NUCLEAR: Depois das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, o homem passa a temer o holocausto nuclear. A ciência finalmente pode acabar com toda a humanidade
1960 – PSICOSE: Os serial killers começam a aparecer no cinema com o filme de Alfred Hitchcock. 14 anos depois, O Massacre da Serra Elétrica volta ao tema. Em 1991, O Silêncio dos Inocentes traz um novo tipo de assassino, mais frio e manipulador.
1968 - A NOITE DOS MORTOS-VIVOS: Com o filme de George Romero, os zumbis passam a fazer parte do imaginário da humanidade. Em 1996 eles chegam aos videogames com a série Resident Evil
1973 - EXORCISTA: O filme de William Friedkin atualiza o medo do demônio para o século 20
CAMA DE HOSPITAL: Com o avanço da ciência, o temor não é mais ser enterrado vivo. O medo agora é de uma morte lenta e dolorosa, adiada pelos médicos.
1975 – TUBARÃO: Steven Spielberg mistura os medos do mar e de ser devorado para criar o primeiro blockbuster do cinema
1980 - O ILUMINADO: Os fantasmas aparecem tanto no filme de Stanley Kubrick quanto em Poltergeist. Em 1999, O Sexto Sentido, com Bruce Willis, dá um novo sentido ao medo de espíritos.
1999 - A BRUXA DE BLAIR: O medo da magia e do escuro se misturam num novo tipo de filme de terror, que junta ficção e documentário.
ANOS 2000: O Bug do Milênio é o primeiro dos temores do século 21. Com o ataque às torres gêmeas, o medo de estranhos se volta aos terroristas islâmicos. O apocalipse não sai de cena (2012). E o medo dos fantasmas continua.


O rascunho do post parava aqui e nunca mais foi retomado. Imagino que eu acabaria tirando essa penca de informações encontradas na internet, só deixando minhas divagações. Mas não me lembro mais do que iria dizer. Em compensação, eu sei o que quero dizer hoje, mas só em outro post.

ESTRELA DE BELÉM, ESTRELA DE BELÉM!

  Na música “Ouro de Tolo” o Raul Seixas cantou estes versos: “Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado. Macaco, praia, ...