Alguém pode pensar
que estou sem assunto para um post original. Na verdade, estou mesmo. Mas, como
disse no post anterior, estava atrás de poesias para ler na internet, pois
atualmente só leio livros que me emprestam ou ganho de presente. E tenho
preferido biografias e livros que abordam a Realidade (muitas vezes mais louca
que a mais delirante das ficções).
Por isso, talvez ninguém saiba que considero
a Poesia uma inutilidade absolutamente necessária, capaz de tornar a Vida melhor e de suscitar "uaus!", wows!", "epas!", "issas!" e outras
interjeições de espanto e admiração provocadas pela capacidade de síntese que
os poetas - esses neurocirurgiões da literatura -, conseguem atingir,
compactando emoções e belas imagens em apenas meia dúzia de versos. Como nesses
dois poemas que pincei da internet. Fica só uma dúvida (dúvida real, de ignorante): no poema do
Bandeira a expressão original seria mesmo "tábua rasa"? Ou o certo
seria "tábula rasa"? Olhaí.
VELHA
CHÁCARA
A casa era por
aqui…
Onde? Procuro-a e
não acho.
Ouço uma voz que
esqueci:
É a voz deste
mesmo riacho.
Ah quanto tempo
passou!
(Foram mais de
cinquenta anos.)
Tantos que a morte
levou!
(E a vida… nos
desenganos…)
A usura fez tábua
rasa
Da velha chácara
triste:
Não existe mais a
casa…
- Mas o menino
ainda existe.
(Manuel Bandeira)
ESCÁRNIO
PERFUMADO
Quando no enleio
De receber umas
notícias tuas,
Vou-me ao correio,
Que é lá no fim da
mais cruel das ruas,
Vendo tão fartas,
D’uma fartura que
ninguém colige,
As mãos dos
outros, de jornais e cartas
E as minhas, nuas
– isso dói, me aflige…
E em tom de mofa,
Julgo que tudo me
escarnece, apoda,
Ri, me apostrofa,
Pois fico só e
cabisbaixo, inerme,
A noite andar-me
na cabeça, em roda,
Mais humilhado que
um mendigo, um verme…
(Cruz e Souza)
Gosto pra caralho do Bandeira, é o meu modernista preferido. Tem um "poeminha" dele que eu considero um primor, de uma simplicidade inigualável, Irene no Céu.
ResponderExcluirIrene no Céu
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
Rapaz, lá pelos idos de 1966, 1967, esse poema foi objeto de estudo no Colégio de Aplicação de BH (é curioso pensar que isso acontecia em um colégio público).
ExcluirLá pelos idos de 1967, eu tava nascendo, mas pelos idos de 1980, 81, esse poema também foi objeto de estudo no Colégio Dom Bosco, em Porto Velho (RO), onde residi por 3 anos por conta do trabalho de meu pai.
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