quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

POESIA, DE QUE ME SERVE?

Alguém pode pensar que estou sem assunto para um post original. Na verdade, estou mesmo. Mas, como disse no post anterior, estava atrás de poesias para ler na internet, pois atualmente só leio livros que me emprestam ou ganho de presente. E tenho preferido biografias e livros que abordam a Realidade (muitas vezes mais louca que a mais delirante das ficções).

Por isso, talvez ninguém saiba que considero a Poesia uma inutilidade absolutamente necessária, capaz de tornar a Vida melhor e de suscitar "uaus!", wows!", "epas!", "issas!" e outras interjeições de espanto e admiração provocadas pela capacidade de síntese que os poetas - esses neurocirurgiões da literatura -, conseguem atingir, compactando emoções e belas imagens em apenas meia dúzia de versos. Como nesses dois poemas que pincei da internet.  Fica só uma dúvida (dúvida real, de ignorante): no poema do Bandeira a expressão original seria mesmo "tábua rasa"? Ou o certo seria "tábula rasa"? Olhaí.


VELHA CHÁCARA
A casa era por aqui…
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
Ah quanto tempo passou!
(Foram mais de cinquenta anos.)
Tantos que a morte levou!
(E a vida… nos desenganos…)
A usura fez tábua rasa
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa…
- Mas o menino ainda existe.
(Manuel Bandeira)


ESCÁRNIO PERFUMADO
Quando no enleio
De receber umas notícias tuas,
Vou-me ao correio,
Que é lá no fim da mais cruel das ruas,

Vendo tão fartas,
D’uma fartura que ninguém colige,
As mãos dos outros, de jornais e cartas
E as minhas, nuas – isso dói, me aflige…

E em tom de mofa,
Julgo que tudo me escarnece, apoda,
Ri, me apostrofa,

Pois fico só e cabisbaixo, inerme,
A noite andar-me na cabeça, em roda,
Mais humilhado que um mendigo, um verme…
(Cruz e Souza)


3 comentários:

  1. Gosto pra caralho do Bandeira, é o meu modernista preferido. Tem um "poeminha" dele que eu considero um primor, de uma simplicidade inigualável, Irene no Céu.

    Irene no Céu

    Irene preta
    Irene boa
    Irene sempre de bom humor.

    Imagino Irene entrando no céu:
    - Licença, meu branco!
    E São Pedro bonachão:
    - Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

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    Respostas
    1. Rapaz, lá pelos idos de 1966, 1967, esse poema foi objeto de estudo no Colégio de Aplicação de BH (é curioso pensar que isso acontecia em um colégio público).

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    2. Lá pelos idos de 1967, eu tava nascendo, mas pelos idos de 1980, 81, esse poema também foi objeto de estudo no Colégio Dom Bosco, em Porto Velho (RO), onde residi por 3 anos por conta do trabalho de meu pai.

      Excluir

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