Cheguei à conclusão de que um blog é um parente próximo dos tamagotchi, bichinhos virtuais semi-extintos que precisavam ser alimentados para não "morrer". Assim é o Blogson. Sinto que se não alimentá-lo com com alguma frequência, acabará morrendo de inanição. E como os posts que ele abriga quase não tem sustança, a morte pode acontecer mais rápido. Por isso, resolvi fazer uma sopa de chuchu só para enganar a fome.
Depois de certa idade (frase clichê), a
coisa mais normal é conversar sobre morte, doenças e perdas, especialmente em
velórios, lugar ideal para exibir saúde e pujança - ou decrepitude - para os
amigos e parentes de idade aproximada à sua. Fala-se de tudo: remédios,
tratamentos, sintomas e dores, tanto próprias quanto de conhecidos em comum.
Contam-se piadas, fala-se em voz alta (a perda auditiva é a responsável por isso), uma zona, enfim. Isso aconteceu
agora, há poucos dias, no velório do irmão de minha mulher.
Já se aproximando a hora do sepultamento, um
primo de minha mulher perguntou a idade de meu cunhado. “Setenta e dois”, respondi. Nova pergunta: “E você, quantos anos tem?” Como não tenho o costume ridículo (para mim!)
de pintar os cabelos nem o hábito ou desejo de falsear ou esconder minha idade, respondi: “Sessenta e sete, por quê?”
- “É
engraçado, conheço uns dez casos recentes de pessoas que morreram na faixa dos
setenta”,
respondeu ele.
Esse primo é alguns anos mais moço que
eu, por isso brinquei que ele estava falando aquilo só para me agradar, pois ainda tenho
três anos para me esbaldar. E como ele também já se aposentou, resolvi sacanear:
- “Você
deveria ter se aposentado mais tarde! Segundo uma estatística americana, a
pessoa vive em média só mais doze anos após parar de trabalhar”. Mas o feitiço virou contra o feiticeiro (segundo
clichê!), pois resolvemos fazer as contas. E ficou assim: aposentei-me em 2009,
prestes a completar cinquenta e nove anos. 2009 mais 12 é igual a 2021, ano em que farei
setenta e um!
Resumindo, mesmo querendo mandar essas
estatísticas à puta que o pariu, não posso deixar de reconhecer que “estou na tábua da beirada” (hoje estou
bom em clichês!). E foi assim que fiquei tentando imaginar um epitáfio legal
para mim. Para não ficar muito dramático, vou chamá-lo amistosamente de epitácio. E creio que o epitácio que mais
combinaria comigo (embora patético) seria este:
- “Seu
sonho era ser amado por todas as pessoas do mundo”.
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