terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

FILHOS DA LUZ

Meu filho enviou-me por e-mail um texto interessantíssimo sobre o "primeiro serial killer" brasileiro. Chamava-se Febrônio Índio do Brasil. Segundo o texto, autodenominava-se "Filho da Luz", expressão que tatuou no próprio peito: "Eis o Filho da Luz".

Em 1926 começou a escrever o livro "Revelações do Príncipe de Fogo", "no qual relatou suas visões religiosas e de mundo. O livro é uma mistura do melhor do Misticismo Aleatório Brasileiro: trechos da Bíblia, princípios espíritas, ideias protestantes. Tudo isso o levava a conclusão que ele deveria sacrificar três crianças para livrar o mundo dos fins dos tempos".

Foi preso e julgado pelo assassinato de dois jovens e condenado a ficar preso em um hospício (de onde fugiu e foi recapturado). Virou marchinha de carnaval, foi citado em uma crônica do Rubem Braga, talvez tenha servido de inspiração para Mário de Andrade criar o personagem Macunaíma e morreu em 1984. Caso alguém se interesse em saber mais detalhes, o link do artigo recebido encontra-se no final deste texto.

Porque o tema de hoje é sobre um pensamento que surgiu há algum tempo e foi reavivado pela história do Febrônio e seus delírios religiosos. Já adianto que ninguém deve esperar grande coisa, pois minha paciência e capacidade de argumentação estão muito pequenas. Mesmo assim, vamos lá.


Já pararam para pensar o que teria acontecido se as religiões nunca tivessem existido? Ou melhor, como seria o mundo se o medo dos primeiros homens pelo desconhecido e pelas forças da natureza não tivesse feito com que associassem deuses a fenômenos naturais, seja para protegê-los ou para ajudá-los em suas necessidades de sobrevivência? O que teria ocorrido à humanidade se ela não tivesse uma natural atração pelo transcendente, pelo sobrenatural, pela divindade e, consequentemente, se não tivesse criado os primeiros rituais e celebrações, as primeiras manifestações religiosas?

Obviamente, são questões a exigir respostas que minha capacidade intelectual não consegue formular. Por isso, tentarei abordar de forma apenas genérica e superficial o impacto que essa “realidade alternativa” provocaria na raça humana.

Se a humanidade tivesse prescindido das religiões e da adoração de divindades, para que construir os templos de Angkor, as mastabas e pirâmides egípcias? Por que perder tempo e dinheiro erguendo igrejas cristãs, mesquitas, templos greco-romanos, mausoléus, a Caaba, o "Templo de Salomão" do Edir Macedo, santuários de todos os tipos, os megálitos de Stonehenge, os moais da ilha de Páscoa, as intrigantes linhas de Nasca? Nada disso faria sentido!

Por outro lado, ficaríamos livres de crenças, crendices e picaretagens, apresentadas sob a forma de bruxarias, feitiçarias, encantamentos, exorcismos, histeria, sessões de descarrego e venda de indulgências. Nem seriam feitas  orações, invocações ou maldições, nem celebrações satânicas, missas, cultos e rituais de todo tipo e origem, tendo como celebrantes padres, pastores, mulás, sacerdotes, monges, rabinos, pais e mães de santo e todo tipo de representantes do Deus judaico-islâmico-cristão, dos diversos orixás e de todos os deuses invocados em todas as culturas e em todos os tempos (egípcios, sumérios, nórdicos, etc.). Também não seriam invocadas ou temidas as entidades de "segundo escalão" tais como anjos, demônios, duendes, fadas e elfos.

Não ter nenhum tipo de fé ou crença poderia ser bom, pois a humanidade não teria conhecido sacrifícios humanos e de animais nem atos de terrorismo ou selvageria de cunho religioso, não teria criado os tribunais da Santa Inquisição nem provocado inúmeras guerras religiosas, execuções, martírios e todo tipo de carnificina executada por loucos e fanáticos e psicopatas messiânicos de todas as seitas, crenças e origens.

Naturalmente, teriam que buscar outra profissão os videntes, cartomantes, astrólogos, oráculos e benzedeiras. Nem seriam necessários amuletos, baralhos de tarô, runas, mapas astrais, incenso, defumação, velas, imagens, fitinhas do Senhor do Bonfim, ex-votos ou totens e carrancas.

Não existindo a busca do transcendente, a crença na imortalidade da alma ou o medo do sobrenatural, seriam dispensáveis as festas religiosas, os feriados religiosos, o Círio de Nazaré e celebrações onde se fizessem necessários utensílios cerimoniais, turíbulos, patenas, cálices, ostensórios, báculos, cajados, crucifixos, hóstias, vinho, água benta, pães ázimos ou sangue de animais. Seriam incompreensíveis pessoas usando roupas e paramentos cerimoniais, hábitos, mantos, quipás, mitras, hijab, burkas, véus, chales, clergymen ou turbantes. Mas não tão bizarros quanto os que optassem pelo celibato, clausura, retiro, pelo ingresso e participação em sociedades secretas ou que usassem tonsura, barba ou cabeça raspada por motivação religiosa nem trancinhas peiot.

A própria economia dos países seria parcialmente afetada, pois não existiria a produção e comércio de livros didáticos, teóricos ou doutrinários sobre essa ou aquela crença. Tampouco existiriam fábricas e indústrias dedicadas à confecção de camisetas, lembrancinhas ou mobiliário com finalidade ou temática religiosa. Nem profissionais voltados ao estudo ou difusão de cada religião: teólogos, missionários, evangelizadores ou pregadores. Nem construtores de templos e monumentos. Nem o pagamento de dízimo, nem a destruição de culturas e costumes considerados pagãos.

As artes e a cultura de cada época ou região seriam severamente afetadas, pois não haveria a música sacra orquestral, o canto gregoriano, a folia de reis. Jamais seriam escritos o Alcorão, o Torá, o Livro dos Mortos, a Bíblia, o Mahabharata, os Upanishads e todos os livros sagrados e seminais de cada religião. Também não teriam sido escritos romances, poemas e epopeias de maior ou menor valor literário, tais como a "Epopeia de Gilgamesh", "O Código Da Vinci", "As sandálias do Pescador", "O Evangelho segundo Jesus Cristo" e centenas ou milhares de outros.

Mas, acima de tudo, sem a temática religiosa, não existiriam algumas das mais significativas esculturas e pinturas já produzidas até hoje. Entre elas, a Vitória de Samotrácia, a Vênus de Milo, a Esfinge de Gizé e tantas outras executadas por geniais artistas e artesãos que existiram nas civilizações antigas. O mesmo se pode dizer das magníficas estátuas de Michelangelo (Davi, Pietà, Moisés), Brunelleschi e Bernini (para ficar só no período da Renascença).

Arte rupestre pré-histórica, afrescos greco-romanos, cenas do cotidiano pintadas no interior de monumentos egípcios, iluminuras medievais, quadros de Rafael, Leonardo Da Vinci, Michelangelo, El Greco, Botticelli, Rembrandt, Caravaggio, nada disso teria sido criado ou faria sentido. Nem mesmo filmes ou histórias em quadrinhos com inspiração em personagens e deuses mitológicos.

Grifos, dragões, hidras, esfinges, centauros, fantasmas, espíritos, mula sem cabeça, boitatá, saci, harpias, touros e leões alados, vampiros e criaturas demoníacas, estátuas e quadros de deuses e santos, Charles Manson, o manto de Artur Bispo do Rosário, livros proféticos, ou francamente delirantes, crenças ingênuas ou mitologias complexas e elaboradas, promessas, penitências, procissões, automutilações, nada disso teria surgido da mente e na história da humanidade se não tivesse havido o medo primordial do desconhecido ou do futuro, a necessidade de proteção, o desejo de prosperar ou de elevar-se espiritualmente. 

Enfim, guardadas as devidas proporções, a história e a trajetória da humanidade seriam pouco diferentes da vida de nossos primos peludos se em um período muito remoto não tivéssemos tido a crença ou percepção da existência da divindade, representada e explicada em diversas formas e de várias maneiras, em todas as línguas, por todos os povos, em todas as épocas. E a civilização humana seria muito chata e sem graça, pois jamais nos veríamos como filhos da luz.

Agora, os links:
https://www.vice.com/pt_br/article/434g3w/eis-o-filho-da-luz-o-homem-que-tatuava-suas-vitimas

https://www.dropbox.com/s/ykhpktr45bm1qzt/Febr%C3%B4nio%3B%20Revela%C3%A7%C3%B5es%20do%20Pr%C3%ADncipe%20do%20Fogo.pdf?dl=0


3 comentários:

  1. Mais tarde, leio com atenção esse seu último post, mas vou responder à sua pergunta soibre o o blogs brasil. Sim, é uma espécie de ranking baseado em número de acesso, constância das postagens e outros ítens. E acaba servindo um pouco como divulgação.É só entrar no site e cadastrar o endereço do seu blog. Só que há uma única obrigação, você colocar aquele anúncio dele no Blogson. Eles fornecem o código que gerará a imagem do banner,você copia e cola na barra lateral do blog adicionando um gadget do tipo HTML. Acho que falei grego, né? Mas sei que, pelo menos,um de seus filhos manja de computadores, ele faz facinho pra você. Você entra em layout no blog, vai em adicionar gadget, escolhe o tipo (HTML), cola o código copiado no Blogs Brasil e pronto. Em algumas horas, ou em um dia ou dois, a sua posição no ranking deles começa a aparecer.

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  2. Pããããta... esqueci o link do endereço:
    https://blogsbrasil.com.br/

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