Há uma situação curiosa e meio paradoxal que
acontece na interface do blog com seus escassos leitores (“interface”, mesmo
que inapropriado, ficou muito chique!). Percebe-se o paradoxo na leitura dos
comentários já feitos pelas pessoas que se dispuseram a isso. Esses leitores
(raríssimos!) demonstram ser muito mais cultos, bem informados e inteligentes
que o blogueiro que catilografa este
texto introdutório.
E é real a maior cultura e inteligência dos
leitores, pois falam de coisas que desconheço, possuem um vocabulário rico e culto, enquanto eu não passo de um caipira que finge exibir conhecimento, que tem um verniz cultural tão ralo que descasca ao menor contato. Isso faz com que eu
me sinta quase como um bicho de zoológico, um orangotango, um chimpanzé, um
mono, que ao ver os manos em frente à sua jaula, pensa: “que é que esses caras viram em mim?”
E este monólogo monótono, monocórdio, quase monomaníaco, é apenas introdução a um belíssimo poema postado
no blog à guisa de comentário, por um(a) leitor(a) que se identifica apenas por
"J".
Como sou mesmo um ignorante incorrigível,
daquele tipo que só lê os livros que ganha de presente, daquele que só ouve
músicas, bandas e cantores que estão dentro de sua zona de
conforto (não confundir com bordel de luxo), nunca tinha ouvido falar da fadista portuguesa Ana Moura,
intérprete da canção "Desfado",
cuja letra serviu de comentário aqui no Blogson.
Como não curto fado, continuarei na minha
zona de conforto. Por isso, apenas transcreverei a letra, lindíssima. Seu autor
é Pedro da Silva Martins, compositor, letrista e guitarrista português. Em 2013
venceu o Prêmio "Melhor Canção do
Ano" de 2012 com o tema "Desfado",
escrito para o disco homônimo de Ana Moura, atribuído pela Sociedade Portuguesa
de Autores. A mesma canção ganhou em maio de 2013 o Globo de Ouro para "Melhor Canção". "Sente" só a
beleza:
Quer o
destino que eu não creia no destino
E o meu
fado é nem ter fado nenhum
Cantá-lo
bem sem sequer o ter sentido
Senti-lo
como ninguém, mas não ter sentido algum
Ai que
tristeza, esta minha alegria
Ai que
alegria, esta tão grande tristeza
Esperar
que um dia eu não espere mais um dia
Por
aquele que nunca vem e que aqui esteve presente
Ai que
saudade
Que eu
tenho de ter saudade
Saudades
de ter alguém
Que
aqui está e não existe
Sentir-me
triste
Só por
me sentir tão bem
E
alegre sentir-me bem
Só por
eu andar tão triste
Ai se
eu pudesse não cantar "ai se eu pudesse"
E
lamentasse não ter mais nenhum lamento
Talvez
ouvisse no silêncio que fizesse
Uma voz
que fosse minha cantar alguém cá dentro
Ai que
desgraça esta sorte que me assiste
Ai mas
que sorte eu viver tão desgraçada
Na
incerteza que nada mais certo existe
Além da
grande certeza de não estar certa de nada
Zona de conforto é bordel de luxo... genial.
ResponderExcluirNós não somos (até onde sei de você) instrumentistas nem compositores, não temos a habilidade de cantar nossos fardos em fados, tangos, boleros e mariachis. Os tocamos, deles nos lamentamos em nossos blogs. Nossos blogs são os nossos fados.
E saudade de não ter saudade é o máximo, é duca!
Meu caro Marreta, você tem sido muito condescendente nos comentários que faz no Blogson. Sinto-me lisonjeado e agradecido, de verdade, mas você faz parte da turma dos muito cultos e bem pensantes que leem ou já leram as bobagens que escrevo e escrevi. Isso sempre me surpreende e alegra. Valeu!
Excluir"e cantar nossos fardos em fados" é um ótimo achado.
ExcluirTambém gostei, e só encontrei esse "achado" porque li sua postagem e comentei; acaba sendo uma troca de inspirações, eu acho.
ExcluirPoxa JB, no momento estou em Teresina, mas só pra constar não deixo de visitar meu bom amigo e meu companheiro Blogson. Já mencionei algumas vezes em postagens que me agrada o fado e mais os fadistas, na real são das últimas linhagens de poetas. Não sei se você chegou a ouvir a música, porém a Ana Moura também não deixa nada a desejar. Concordo com o Azarão quando fala que é uma troca, pois é quase sempre de algum comentário despretensioso, uma cena que vêm as ideias. E deixe de firulas que você não é nenhum homem das cavernas (tirando os pelos da cara, do peito, das costas... Rs)
ResponderExcluir"J"
Que legal ler seu comentário! Mas, vamos aos fados, ou melhor, aos fatos: Sim, ouvi a música, procurei mais informações na internet e descobri que a cantora é mais fada que fadista. Mas apesar de todo o respeito (sincero) que tenho por esse gênero musical, ainda não consegui gostar da música. Prefiro o blues (mesmo sem entender o que cantam) e os sambas de Cartola ou Nelson Cavaquinho. E posso até não ser um homem das cavernas (embora quase tenha idade para isso), mas sou um urso hibernando, toscão, meio primitivo, ignorantão. Mesmo não sendo da Idade da Pedra, às vezes me sinto meio "louco de pedra" (melhor parar por aqui). Valeu!!!
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