MAKING OF
Os posts Álbum de Casamento" 1 e 2 já publicados no Blogson foram escritos a partir da consternação que senti ao tentar ajudar (inutilmente) uma pessoa próxima. Pouco tempo depois que eu e minha mulher nos casamos, aconteceu o casamento dessa amiga. O fotógrafo (Paulinho) foi o mesmo nas duas cerimônias. A diferença é que só nós mandamos fazer o álbum. Muitos anos depois esse casal separou-se e ela às vezes lamentava nunca terem se preocupado em fazer o álbum de casamento. Como sou fissurado em retratos antigos, eu e minha mulher resolvemos bancar os detetives, pois tínhamos o endereço antigo do fotógrafo. Encontrar as tais fotos pelas quais o ex-marido aparentemente nunca manifestou muito interesse não era um desejo totalmente desinteressado, pois fomos padrinhos do casal. A história dessa busca está descrita na segunda parte do texto.
Como fiquei realmente entristecido com o resultado da busca, resolvi criar uma conversa telefônica que introduzisse o assunto. E viajei na maionese. Imaginei uma cena ainda com algum rancor, uma pitada de chantagem emocional e melancolia, adequados a sentimentos ainda não de todo resolvidos. No texto inteiro, embora seja um diálogo, só se conhece a fala de quem recebeu o telefonema, um homem que se aproveita da ligação para dar alfinetadas chorosas e melodramáticas na ex-mulher (nada disso aconteceu na vida real. Aliás, quem pediu a separação foi o marido). Caso alguém se interesse, pode imaginar tudo o que não se ouviu. Foi assim que surgiu a primeira parte.
Para mim, o melhor trecho da segunda parte é justamente aquele "Adeus" fictício do final, sem ênfase, sem emoção. Relendo tudo agora, vejo que o texto (especialmente a primeira parte, da qual gostei mais no início) ficou menos que meia boca. Muito dramalhão mexicano e pouca literatura.
E antes que eu me esqueça, eu sempre utilizo expressões do tipo "making of" e "versão do diretor" a título de piada!. Sou presunçoso, mas não totalmente idiota.
Como fiquei realmente entristecido com o resultado da busca, resolvi criar uma conversa telefônica que introduzisse o assunto. E viajei na maionese. Imaginei uma cena ainda com algum rancor, uma pitada de chantagem emocional e melancolia, adequados a sentimentos ainda não de todo resolvidos. No texto inteiro, embora seja um diálogo, só se conhece a fala de quem recebeu o telefonema, um homem que se aproveita da ligação para dar alfinetadas chorosas e melodramáticas na ex-mulher (nada disso aconteceu na vida real. Aliás, quem pediu a separação foi o marido). Caso alguém se interesse, pode imaginar tudo o que não se ouviu. Foi assim que surgiu a primeira parte.
Para mim, o melhor trecho da segunda parte é justamente aquele "Adeus" fictício do final, sem ênfase, sem emoção. Relendo tudo agora, vejo que o texto (especialmente a primeira parte, da qual gostei mais no início) ficou menos que meia boca. Muito dramalhão mexicano e pouca literatura.
E antes que eu me esqueça, eu sempre utilizo expressões do tipo "making of" e "versão do diretor" a título de piada!. Sou presunçoso, mas não totalmente idiota.
PRIMEIRA PARTE
- Alôu!
- Alô! Quem está falando?
- Quem?
- Não acredito! Uma janela para o passado
acabou de se abrir! Está tudo bem com você?
- Demorou, mas agora eu estou bem.
- Pois é... E o que te fez ligar para mim
depois de tanto tempo?
- Ahn? Álbum de retratos?
- Você quer ver nosso "álbum de
casamento"? Mas nós NÃO TEMOS UM ÁLBUM, NUNCA TIVEMOS! Aliás, foi você
que nunca quis mandar fazer!
- Não estou brigando! Não tenho mais vontade
nem energia para brigar com você.
- Eu sei, no início você queria escolher as
fotos. Mas o tempo foi passando, você nunca tinha tempo, e as ilusões e os
sonhos logo começaram a se desmanchar. E nós tínhamos tantos sonhos!
- Não estou te culpando de nada! Nós já
brigamos tanto para saber quem estava com a razão! Pode acreditar, esses são
momentos que eu não quero repetir.
- Não se preocupe, está tudo bem. Mas,
voltando ao álbum, o que você pretendia fazer com ele depois de tanto tempo?
- Entendi. É engraçado..., hoje, mais do que
antes, eu curto ver fotografias, imagens de pessoas queridas que já morreram,
fotos de quando eu era criança... E é isso que você quer resgatar? Fotos de
alguns momentos em que ainda acreditávamos em um futuro comum? É isso? E nós
fizemos tantos planos!
- Não estou forçando barra nenhuma, estou
dizendo o que sinto e me lembrando do que senti naquele dia. Toda aquela gente
sorrindo para nós e nos cumprimentando... E você estava tão linda!
- Você está chorando? Não precisa desligar,
não há motivo, não há mais motivo para isso! Desculpe-me o que eu disse. Eu me
deixei levar pelas lembranças e acabei me emocionando também. Não sei por
que, me lembrei daquela música do Paulinho da Viola que você amava.
- É claro que você se lembra! Sinal
Fechado! Lembrou agora?
- Você nunca se ligou que ela, sem que nos
déssemos conta disso, prenunciava nossa vida?
- Como não? E essa frase "Tudo bem,
eu vou indo correndo pegar meu lugar no futuro". Ou
essa: "Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios". Você
estava sempre com pressa, parecia pensar mais na sua profissão que no nosso
casamento... E nós éramos tão jovens!
- Eu sei que você queria se realizar
profissionalmente, nunca fui contra isso. Só se fosse louco. O que eu sei é
que...
- Espera, deixa eu completar! Aos poucos eu
fui notando que, para você, nosso casamento tinha perdido o brilho, estava se
dissolvendo.
- Foi culpa minha também! Acho que a última
vez que eu te falei para fazermos o álbum - que já estava pago! -
você torceu a boca sem perceber, fazendo uma cara de desconsolo ou descaso,
como se dissesse -"agora talvez seja tarde!". E é esse
álbum que você deseja ver agora?
- Eu sei, eu já tinha ciúmes antes, sempre
fui inseguro! Mas a sua expressão me deixou mais inseguro ainda, mais
ciumento.
- Bom, não quero tomar seu tempo com
sentimentalismo, com esse tipo de lembranças. Se é isso o que você quer, vou
procurar o Paulinho fotógrafo e pedir que ele faça nosso, ou melhor, seu álbum de
casamento. Acho que ainda tenho o endereço dele. Te ligo assim que tiver
notícia.
SEGUNDA PARTE
- Alô? Sou eu, claro! Já se esqueceu da minha
voz?
- Demorei a ligar porque custei muito para
achar o endereço dele. Mas as notícias não são boas.
- Calma, não há mais pressa. Eu fui até o
endereço que eu tinha, mas encontrei um bar onde antes era o estúdio dele. Ele
morava no fundo do imóvel. Perguntei ao dono do bar se ele sabia do Paulinho,
se havia se mudado. Nem conhecia. Um freguês do bar me indicou uma casa
próxima, e disse que a família dele ainda morava lá.
- Não, não o encontrei. Bati a campainha,
veio uma senhora e eu perguntei pelo Paulinho. Ela me disse que era a viúva
dele. Eu quase caí duro. Aí contei do álbum de casamento e perguntei onde
estariam os negativos, já imaginando que teria de procurar uma agulha em palheiro,
como no ditado. Mas ela deu o golpe final: contou que pouco tempo antes de
morrer e já quase cego, o Paulinho colocou todos os negativos e fotos que tinha
em um quartinho sem laje, nos fundos da casa. Em um dia de tempestade muito
forte, os ventos arrancaram algumas telhas do quartinho e a chuva pesada que
caia fez o resto.
- Pois é, eu também fiquei em choque.
Perguntei se não tinha sobrado nada, mas ela disse que a maior parte tinha se
estragado e, por isso, depois da morte dele, a família resolveu jogar tudo
fora. Mas que traria o que conseguiram recuperar. Voltou com alguns negativos
de outros casamentos, mas nenhum do nosso.
- Quer saber? Não sei se foi assim tão ruim.
Veja bem, o que esse álbum significaria agora? Além de mostrar você tão linda,
vestida de noiva, o que mais representaria? Seria um testemunho do nosso
fracasso, dos nossos enganos, dos sonhos desfeitos, das ilusões perdidas? (Pô,
isso ficou parecendo música de corno!).
- Não estou brincando, falo sério. Acho que a
perda dos negativos do nosso álbum é um fecho definitivo para o que foi nosso
casamento, concorda? É melhor que as lembranças sobrevivam apenas em nossas
mentes. Assim, podemos escolher se ficamos com as melhores ou as piores. Com o
passar do tempo, nem isso.
- Não precisa agradecer! Foi legal conversar
outra vez com você, ouvir de novo sua voz.
- Não, acho que não... Não temos mais nada a
falar.
- Não se cola vidro quebrado, sabe? Ainda
mais depois de tanto tempo...
- OK, outro para você. Cuide-se.
- Adeus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário