sexta-feira, 30 de junho de 2017

PENSAMENTOS EMBARALHADOS

Caí na asneira de ler o programa do PSOL e agora vou ter dificuldade para dormir, de tão apavorado fiquei. É muita “democratização” para o meu gosto! Aliás, já observei que quanto mais os políticos de esquerda falam em “democratização”, “processo democrático” e “Estado democrático de direito”.mais autoritarismo se prega, menos democracia realmente desejam.

Por isso, ocorreu-me a ideia de que nas próximas eleições, antes de prestar atenção (impossível!) ao que seu candidato diz, talvez seja melhor você dar uma lida no programa do partido ao qual ele está filiado. Pensando nisso, lembrei-me de uma palestra muito interessante sobre performances desiguais causadas justamente pela singularidade de cada indivíduo. Para ressaltar o que dizia, o palestrante contou esta historinha:

"Imagine um agricultor que esteja fazendo uma semeadura em sua propriedade. Pela diversidade de tipos de solo e relevo que encontra, pode acontecer que parte das sementes caia ao longo do caminho; os pássaros virão e irão comê-las. Outra parte pode cair em solo pedregoso, onde não há muita terra. As sementes logo germinarão, mas como a terra é pouco profunda, acabarão queimadas por falta de proteção para as raízes. Outras sementes cairão entre espinhos, que sufocarão as plantinhas que ali brotarem. Para sorte do agricultor, muitas sementes cairão em terra boa, obtendo uma produtividade de cem por um, sessenta por um, trinta por um”.

Boa essa imagem, não? Para ser sincero, eu não a ouvi em palestra nenhuma. Na verdade, esta “história” é a “Parábola do Semeador”, que pode ser lida no Evangelho de São Mateus (Mateus 13:1-9). Para disfarçar sua origem bíblica, o que eu fiz apenas foi mudar o tempo dos verbos, para jogar a história em um futuro hipotético.

Todos queremos reduzir as desigualdades sociais, e quando digo “todos”, estou falando de Direita e Esquerda. Mas tenho a sensação de que a única forma que a moçada de Esquerda entende como solução para isso é um nivelamento equivocado de desiguais, de dessemelhantes, pois é um nivelamento por baixo. O problema é que, embora devamos ter oportunidades iniciais iguais, não somos nem teremos resultados e desempenhos iguais, por mais que gente como o Leonardo Boff bufe contra isso. “Aquele que tem ouvidos, ouça".


quinta-feira, 29 de junho de 2017

AMOR IMPOSSÍVEL

Meu amigo Daniel, além da inteligência privilegiada e de um senso de humor e ironia finíssimos é publicitário e manda super bem na cozinha nas horas vagas. Disso sou testemunha e dou fé. Seu maior defeito - para mim, pelo menos - é uma irritante juventude, pois tem idade para ser meu filho.

Juntando essas habilidades, criou o Mixidão, um blog bacanaço de receitas lindamente ilustradas (já foi até premiado!), que só divulga depois de devidamente testadas (é nessas horas que eu já entrei algumas vezes, fazendo test drive das iguarias).

Em virtude do sucesso do blog, resolveu reunir em livro algumas dessas receitas. Como conheço e sou amigo de seus pais desde antes dele nascer, um dia chegou e me deu esse livro de presente (com dedicatória). Como agradecimento, fiz e dei para ele um cartoon tipo "objetos muito animados", uma love story impossível entre um quindim e um ovo estrelado.

Em outra ocasião mostrou-me o envelope que utiliza para enviar pelo correio os livros que vende através do blog. Coisa de quem ama o que faz, pois é um envelope pardo com plástico bolha por dentro (para não danificar o livro), todo carimbado por fora, com carimbos decorativos que bolou e mandou confeccionar.

Dentre esses, um com o desenho que dei a ele. Como era fim de mês e meu saldo bancário estava uma merda, fiquei todo orgulhoso com a homenagem, porque "orgulho", como já disse antes, é coisa de gente pobre – de espírito, obviamente (quando é que vou parar de contar essa piada?).

Lembrando-me disso, resolvi mostrar (preservação da memória!) uma imagem de parte do envelope que utiliza, justamente onde foi carimbado o desenho que dei a ele, pois descobri que o moleque acaba de lançar o segundo volume do livro de receitas (o menino é uma fera!). Olhaí.




quarta-feira, 28 de junho de 2017

"MEU CASACO DE GENERAL"


Uma coisa puxa outra e assim vai-se desenrolando o novelo da vida. Começar um post com uma frase assim é sacanagem, pois o texto ficará impregnado de naftalina. Mas danem-se as convenções, as ênclises, próclises e mesóclises.

Estimulado por um comentário feito pelo titular do blog "A Marreta do Azarão" (“um porra louca? Ora, ora... isso tá com cara é do Livro das Revelações. Uma curiosidade : chegou a ser hippie, JB?”), estava tentando dar forma a mais um trecho das minhas ridículas e risíveis lembranças, quando escrevi “meu casaco de general”, expressão contida na letra da música "Vapor Barato", do Jards Macalé e Waly Salomão (que no princípio da década de 1970 gostava de assinar "Sailormoon".

Aí o novelo desenrolou-se mais um pouco, pois precisava criar um parêntese para explicar o significado daquela expressão. Mais uma desenroladinha e bateu a vontade de ouvir de novo essa música tantas vezes tocada no violão. Mesmo que tenha sido gravada em 1971, alguns versos combinam bem com minha cabeça de vento totalmente em harmonia com o "zeitgeist" da época. Resultado: arranquei o parêntese do texto de origem e decidi transformá-lo na introdução deste post. Aliás, um texto introdutório que precisa de introdução é bem o estilo do Blogson.

Para complicar ainda mais, o que deveria ser um comentário sobre a magnífica interpretação da Gal Costa em uma gravação ao vivo, acabou virando o texto principal do post e "Vapor Baratofoi rebaixada à categoria de música incidental. Se ninguém entendeu nada, melhor ainda. Por isso, bora lá:

O tal "casaco de general" era na verdade, uma jaqueta, parte de um uniforme militar de algum exército estrangeiro, que foi comprada na "Galeria Ouvidor", um centro de compras mais popular, instalado no hipercentro de BH. Na década de 1970 o prédio era ocupado por lojas de discos, livrarias, lanchonetes e pequenas butiques que vendiam produtos importados, provavelmente muamba trazida do Paraguai.

Um dia vejo um conhecido com um dólmã na cor cáqui, bacanérrimo, cheio de insígnias e visivelmente usado. Perguntei como conseguira e fiquei sabendo que uma butique da Galeria estava vendendo. Fui conferir e descobri um verdadeiro brechó de casacos, jaquetas e dólmãs militares. A maioria absoluta era na cor cáqui, mas havia um ou dois na cor azul e um de lã cinza, com um furo pequeno em algum lugar e puído.

Um bando de malucos estava por lá revirando tudo, experimentando e comprando as peças. No meio daquela zona toda descobri uma jaqueta que deduzi ser de alguma patente mais alta, não só pelo estilo mas também pelas insígnias nela costuradas e por estar mais bem conservada que a maioria das outras. Experimentei e serviu certinho. Comprei. Imagino que aquelas roupas teriam sido objeto de doação para desabrigados ou vendidas a preço de pano de limpeza por algum país estrangeiro - os Estados Unidos, talvez.

Quando cheguei em casa com minha compra, meus pais manifestaram seu desagrado: era roupa usada, questionaram a origem, a higienização, a desinfecção e, principalmente, as insígnias. Talvez fosse apenas excesso de zelo de meu pai, mas o fato é que estávamos em plena ditadura e o presidente era o Médici. Daí o medo de eu ser confundido com militar por eventuais terroristas ou como terrorista por militares mais "zelosos". Não tive opção a não ser, muito contrariado, descosturar todos os símbolos. Mesmo assim ficou bacana.

Durante bom tempo usei essa jaqueta, "descendo por todas as ruas", andando "sem lenço e sem documento, nada nos bolso ou as mãos", até perceber que ficava meio brega vestido com ela, pois não combinava mais com meu perfil de engenheiro pai de família. Durante muitos anos ficou esquecida em um armário, até ser definitivamente descartada. Nessa época eu já tinha engordado uns vinte quilos e, mesmo que quisesse, não conseguiria mais vesti-la, nem mesmo para ir a uma festa à fantasia.

A seguir, duas imagens que comprovam ser essa jaqueta um verdadeiro "casaco de general". A mais nítida mostra o general Eisenhower na época da Segunda Guerra. A segunda, bem apagada e convenientemente pouco nítida, é um "retrato do artista quando jovem". Agora, posso voltar ao post original.






domingo, 25 de junho de 2017

ETERNAMENTE - TUNAI

Tunai é o irmão menos conhecido do compositor João Bosco. O que é uma sacanagem, pois já compôs melodias lindíssimas, mais bonitas até que as do irmão famoso. Uma delas é “Eternamente”, parceria com Sérgio Natureza e magnificamente interpretada pela Gal Costa. A letra é linda e pediria para ser saboreada com um vinho em um final de tarde.

Como não bebo mais (nem leite com Toddy!), fica só a sugestão de ouvi-la em uma versão voz e violão, interpretada pelo próprio compositor (com o auxílio luxuosíssimo de fraseados de guitarra magnificamente executados). Mas se alguém quiser ouvir a voz linda e cristalina da Gal Costa, não tem problema, pois os links das duas versões estão abaixo.

ETERNAMENTE
Só mesmo o tempo pode revelar
O lado oculto das paixões
O que se foi e o que não passará
Inesquecíveis sensações
Que sempre vão ficar prá nos fazer lembrar
Dos sonhos, beijos, tantos momentos bons

Só mesmo o tempo vai poder provar
A eternidade das canções
A nossa música está no ar
Emocionando corações
Pois tudo que é amor parece com você
Pense, lembre, nunca vou te esquecer

Vou ter sempre você comigo
Nosso amor eu canto e cantarei
Você é tudo que eu amei na vida
Nunca vou te esquecer



COMENTANDO AS RECENTES - 043 (GRAVANDO!!!)

Segundo notícia divulgada no portal G1 em 23 de junho, “O laudo da perícia da Polícia Federal que analisou as gravações da conversa entre o empresário Joesley Batista, dono da empresa JBS, e o presidente Michel Temer e os gravadores usados pelo empresário aponta que não houve edição de conteúdo, ou seja, não houve manipulação nos diálogos”. Depois de ler essa notícia, não resisti à tentação de fazer algum comentário sobre isso (a carne é fraca!).

Eu sei que a BRF é dona das marcas Sadia e Perdigão e concorrente da JBS do conhecido friboy Jo-Ex-Lei, autor da premiadíssima delação que deu início a mais essa quizumba. Aí pensei no que o pessoal da BRF poderia dizer sobre essa notícia. Talvez digam -“não nos metemos em SEARA alheia”. Faz sentido.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

SOUVENIRS

A praia é pequena, tendo pouco mais de quinhentos metros de extensão. Está confinada entre dois morros rochosos e escarpados e é de acesso restrito, o que faz suas areias finas e brancas ser muito pouco frequentadas.

Naquele dia, estava inesperadamente deserta. Para ser sincero, não totalmente deserta, pois ali estávamos nós três e um senhor de feições orientais, que com determinação e seriedade nipônicas corria para lá e para cá na areia fofa, cobrindo toda a extensão da praia.

Havia também dois funcionários uniformizados que com seus rastelos e sacos enormes de plástico preto tentavam manter a praia limpa, removendo da areia o lixo deixado pelos eventuais frequentadores ou trazido pelas ondas. Não posso deixar de mencionar a simpática companhia de duas gaivotas e uma garça que petiscavam aqui e ali, onde as ondas se espraiavam. Resumindo, éramos apenas nove os viventes que ocupavam aquele paraíso deserto engastado na cidade enorme.

Era ainda bem cedo e o mar estava particularmente cheio de detritos, com vários objetos que podiam ser vistos flutuando antes da rebentação das ondas e que, aos poucos, iam sendo lançados à praia. Perguntei a um dos funcionários encarregados da limpeza o que isso significava. Depois de mencionar que o mar estava mais agitado, explicou-me que a maré estava vazante - ou baixa. À medida que fosse subindo, essa sujeira sumiria.

Aceitei aquilo como verdade eterna, mistério insondável e comecei a andar despreocupadamente pela praia, tentando não espantar as aves. Mesmo assim, caminhava na linha demarcada pelas ondas anteriores, experimentando uma sensação muito agradável de calma e tranquilidade enquanto as ondas que chegavam lambiam meus pés com sua água fria. Algumas eram mansas e afetuosas enquanto outras batiam estabanadamente nas pernas a um palmo abaixo do joelho.

Comecei a observar os detritos que o mar caprichosamente lançava na areia, espalhando-os por toda a praia como se fizessem parte de uma exposição de arte manicomial ou de uma instalação feita com objetos perdidos ou descartados - restos de plantas aquáticas, pedaços de tábua, a sola de um tênis, uma escova de dente, uma argola de plástico, um pedaço de corda muito grossa que deve ter sido utilizada para amarrar embarcações.

Podiam ainda ser vistas pequenas conchas, pedaços pequenos de vidro com as bordas já sem corte devido ao atrito com a areia no vai e vem das marés, um colchonete de plástico, um baiacu, uma lancheira infantil e garrafas, muitas garrafas. Os objetos eram como que souvenirs que o mar oferecia aos poucos frequentadores da praia, cada um remetendo a um momento, um local, uma lembrança. Às vezes uma onda mais impetuosa se encarregava de levá-los de volta, como se reclamados por um Netuno enciumado e cioso de seus domínios e posses.

Enquanto caminhava, tive a atenção despertada por dois objetos. Um deles era uma garrafa de vidro, provavelmente de uísque, fechada cuidadosamente com um pedaço de plástico antes de ter sido recolocada a tampa original. Dentro, um bilhete escrito à mão. A um passo de distância, uma caixinha metálica com tampa tipo "caixa de sapato", em formato de coração, dimensões equivalentes a uma lata de atum e já praticamente sem tinta e dizeres que indicassem seu fabricante, graças à ação abrasiva da água salgada combinada ao atrito da areia.

Peguei primeiro a garrafa, tentando ler sem óculos o que estava escrito, mas sem retirar o bilhete. O pouco contraste entre a cor azul da tinta de caneta esferográfica e o pedaço de papel cor de rosa, provavelmente arrancado de um caderno escolar, tornava difícil a leitura da mensagem escrita em letra cursiva caprichosamente desenhada.

Ainda com a garrafa na mão, aproximei-me do coraçãozinho de lata. Movimentando-o com o pé, supuz que não havia nenhum objeto dentro dele. Talvez estivesse vazio, talvez tivesse um cartão com dedicatória, já deteriorado e se desmanchando, não sei.

Tenho uma natureza um pouco sonhadora e romântica. Por isso, fiquei pensando o que estaria escrito no bilhete da garrafa. Uma jura de amor eterno, uma maldição imprecada contra uma ex-paixão, um pedido de ajuda divina? E o coração, em que momento teria sido dado a alguém? Teria sido recusado e atirado com desprezo ou raiva na água? Fiquei ali durante alguns minutos, imaginando a história por trás de cada um deles, em quem os haveria jogado na água e o significado de cada um dos gestos.

Sentindo que eles deveriam continuar guardando as lembranças de quem os entregou ao mar, decidi não abrir nenhum dos dois objetos, pois não me vi no direito de tentar desvendá-las. Coloquei a garrafa de volta na areia ao lado do coraçãozinho e continuei a caminhar. Quando voltei, o mar já os tinha resgatado.



quarta-feira, 21 de junho de 2017

COMENTANDO AS PENÚLTIMAS - 028 (OH, MERDA!)

Recentemente ouvi uma notícia engraçadíssima que me deixou muito espantado. Ia dizer “estupefato”, mas não fiquei tanto assim. Acredito que já estou anestesiado, mas ri bastante de mais um fato bizarro. Foi uma declaração que o gargamel (acho que parece um pouco) Eduardo Cunha fez em seu depoimento à Polícia Federal.

Em 14/06/2017 o site UOL divulgou esta notícia: “A PGR (Procuradoria-Geral da República) afirma que um diálogo entre Temer e um dos donos da JBS, Joesley Batista, mostra que o presidente teria dado autorização para que o empresário comprasse o silêncio de Cunha para que o ex-deputado não fechasse um acordo de delação premiada.

Segundo a mídia, o ex-deputado disse esta pérola: -“Meu silêncio nunca esteve à venda”. Que fofo! Isso só confirma o fato de que Ética e Moral são “produtos” intelectuais, do cérebro humano. Eu sei que devem existir trocentos estudos abordando essa deformação com muito mais propriedade e conhecimento, mas não é esta a intenção do blog. Meu negócio é só comentar essa “omertà” política (que bem poderia ser traduzida para “oh, merda!”).

O sujeito vende até a mãe se precisar, mas não entrega seus iguais. Muito ético!

terça-feira, 20 de junho de 2017

SINCE I DON'T HAVE YOU – GUNS N’ ROSES

Esta madrugada eu entrei no "modo acordar" sonhando com uma música de melodia muito linda, só com base de violão. Estava naquela de acorda, não acorda, ouvia alguém tocar, para logo perceber que era eu mesmo e depois já não era. Tentei me fixar nos acordes e aí acordei mesmo (juro, eu não queria fazer este jogo de palavras!). Mas não sabia mais que música seria aquela. 

Já totalmente desperto, lembrei-me de outra melodia (não era a mesma do sonho), uma balada gravada lá pela década de 1950, que sempre me deixa "melanchólico". Anos depois, o Guns  n’ Roses fez uma versão que é a minha preferida. A música é "Since I don't have you".

Aliás, essa é uma curiosidade para a qual não encontro explicação: algumas baladas lançadas na década de 1950 me deixam sempre um pouco melancólico (mas eu tinha apenas dez anos no final dessa década!). Um exemplo é "Blue Velvet" que foi tema do filme de mesmo nome, estrelado pelo "Easy Rider" Dennis Hopper e Isabella Rossellini. Mas isto é outra história. Hoje a música é “Since I don't have you”. Escuta aí.




segunda-feira, 19 de junho de 2017

LEVIATÃ DE ALPARGATAS - RENATO PERIM

Se não me engano, Renato Perim é um jovem advogado de Beagá que um dia tropeçou no velho Blogson. Além de advogado (deve ser dos bons), escreve muito bem e é o titular e senhor absoluto do blog de onde foi tirado o ótimo texto apresentado a seguir. Se alguém quiser saber mais um pouco sobre o blog e o autor, o link será apresentado no final deste post. Olhaí.


Criatura monstruosa de origem bíblica, o Leviatã ocupou o imaginário popular dos navegantes da Idade Média. Inúmeros os relatos dos que cruzaram o temido monstro que naufragava navios oceano afora. Nas palavras de Jó (41:18-22): “da sua boca saem tochas; faíscas de fogo saltam dela. Das suas narinas procede fumaça, como de uma panela fervente. O seu hálito faz incender os carvões. Diante dele até a tristeza salta de prazer”.

Em 1651, Leviatã deu nome à mais conhecia obra de Hobbes, na qual o humano é apontado como um completo egoísta, que, juiz de si mesmo, ignora o interesse coletivo na busca da própria satisfação: “o homem é o lobo do homem”. Para o filósofo inglês, somente uma autoridade maior, centralizada, capaz de regular e punir os indivíduos desobedientes ao Pacto Social traria a paz social. Para esta temida figura, Hobbes valeu-se da metáfora do Leviatã, também conhecida pelos botecos do mundo pela alcunha de Estado.

Passados 363 anos, homônimo filme russo, dirigido por Andrey Zvyagintsev, retratou o tema na ótica da Rússia pós-soviética. Dotado de uma envergadura de dar inveja aos ancestrais medievais, o Leviatã contemporâneo desfila com músculos torneados pela corrupção e burocracia das instituições. Até que um pai de família, Kolya, desafia a criatura para não se ver despejado da própria terra por um prefeito mal intencionado. Não é preciso dizer o resultado da inglória batalha, nem que a obra-prima, reverenciada nos mais importante festivais, foi censurada e tachada de “antirrussa” pelas autoridades do país. Leviatã versus Leviatã.

Por aqui, nossa versão tupiniquim não é menos assombrosa. Enorme, com tentáculos continentais, quase onipresente. Às vezes me pergunto se a criatura, inebriada e maligna, é digna do nome. A comparação parece injusta com o mito bíblico cuspidor de tochas. Nosso monstrengo, que agasalha 54 mil autoridades com foro privilegiado e esmaga, como baratas, milhões de miseráveis, é mais diabólico. Talvez se assemelhe a um Cavalo de Tróia, cujos mercenários, tal qual numa trama kafkiana, um dia o abandonarão para nos aniquilar numa noite de sono.

Desperto do pesadelo e a figura sombria do Leviatã é substituída pelo semblante de Gilmar Mendes no portal de notícias. O ministro, já interceptado pela Polícia Federal em ligações telefônicas com políticos indiciados, dessa vez promete rever o posicionamento sobre a prisão a partir da condenação em 2ª instância.

O tema, despercebido por alguns, é o alicerce básico para a construção de um país mais decente. Gilmar, antes efusivo defensor da medida, promete acompanhar Toffoli e Lewandowski para reverter a maioria anterior do plenário e fazer prevalecer o entendimento de que um réu apenas cumpra a pena após a condenação instâncias superiores em Brasília. Estamos falando de décadas de tramitação e prescrição da maioria das penas. No caso do ex-senador Luiz Estevão, lá se vão 24 anos sem a finalização do processo. Para os indiciados de hoje: quem sabe 2.040?

Enquanto Leviatã dá cambalhotas de alegria, a súbita mudança do supremo jurista é justificada pela preocupação com “os réus pobres”. A coincidência temporal com o avanço da lava-jato contra os amigos Temer e Aécio é mero acaso. Com este, Gilmar foi grampeado pela Polícia Federal articulando a favor do criticado projeto de Lei de Abuso de Autoridade. Na companhia daquele, jantares não oficiais noites adentro pelo Palácio do Jaburu. Pelas mídias sociais, há quem diga que o gesto, mais que franciscano, é sobrenatural. Confirmaria o presságio de um profeta, de um passado recente, que um dia sussurrou sobre um grande acordo nacional para estancar a sangria, “com o Supremo, com tudo”. Coisa de Teoria da Conspiração.

O Ministro Joaquim Barbosa certa vez acusou Gilmar, em plenário, de “destruir a credibilidade do judiciário brasileiro”. A atriz Monica Iozzi foi além e o chamou de cúmplice por libertar Roger Abdelmassih, julgado por 58 estupros. Acabou condenada a pagar 30 mil por danos morais. Os adjetivos, um a um, desafiam essa caneta. Contenho-os. Falta-me o arrojo transbordado por dois brasileiros. Ou a bravura do russo fictício com o dedo em riste para o monstro malvado. Leviatã dá gargalhadas. Será que Hobbes descansa em paz?


domingo, 18 de junho de 2017

TRADUTTORE, TRADITORE

Eu me impressiono tanto com a letra do tango "Cambalache" que resolvi transformá-la em prosa adaptada, uma interpretação pretensiosa e livre dos versos originais do genial Discépolo. Vê aí.


Que o mundo foi e sempre será uma porcaria, eu já sei. Era em 1.500 e após 2.000 também. Pois sempre houve quadrilhas, trambiqueiros e safados, contentes e amargurados, honrados e amorais. Mas que o século XXI é uma exposição de maldade insolente, já não há quem negue. Vivemos misturados em um lamaçal e nessa lama somos manipulados!

Hoje em dia dá no mesmo ser honesto ou delator, ignorante, sábio, burro, pretensioso, enganador. Tudo é igual, nada é melhor! Até mesmo um aluno e um grande professor! Não há notas baixas ou mérito, os amorais nos igualaram... Se alguém vive na impostura e outro rouba com ambição, dá na mesma que seja padre, traficante, preguiçoso, deputado ou senador.

Que falta de respeito, que afronta à razão! Qualquer um é cavalheiro, qualquer um é um ladrão! Misturados com Aécio, Luís Inácio e Zé Dirceu, Michel e Joesley, Gilmar Mendes e Fachin. Assim como na vitrine desinibida dos bazares e brechós, se misturou a vida. E surpreendida com a perfídia, ferida em sua esperança, fica a população.

Século vinte e um trambiqueiro problemático e febril, onde quem não chora,não mama e quem não rouba é um imbecil. Vai em frente, continue! Manda ver! Que lá no inferno iremos nos encontrar. Não pense mais, desencane, pois ninguém se importa se você nasceu honesto! Se é o mesmo que trabalha noite e dia como escravo ou se vive na fartura. Se é quem mata, se é quem cura ou não se importa com as leis.


RUMINANDO UM PROVÉRBIO

Há um ditado que diz “DOU UM BOI PARA NÃO ENTRAR NA BRIGA, MAS DOU UMA BOIADA PARA NÃO SAIR”. Parece que é de origem portuguesa. E deve ser mesmo, pois aqui no Brasil aconteceu justamente o contrário.

Vê lá se alguém de bom senso faria uma maluquice dessas! O dono da JBS, por exemplo, não fez. O friboy Jo-Ex-lei deve ter pensado assim: “dou um boi para não entrar na briga, mas dou uma boiada para sair dela”.

E saiu mesmo, “livre, leve e solto”, “mais soltinho que o arrozinho da mamãe”. Para conseguir essa mamata (ou seria “mamada”?), entregou o nome de trocentos políticos do seu “curral eleitoral”, a quem alimentou e deu ração.


sexta-feira, 16 de junho de 2017

ALÍVIO

No começo foi paixão. O amor chegou depois, trazendo consigo a esperança de muitas alegrias. Com o tempo, esse amor mal correspondido, foi se transformando em decepção, em raiva e tristeza. Como ocorre em muitos relacionamentos, houve uma ruptura, uma separação - que acabou durando pouco.

Mas, assim como às vezes acontece na retomada de antigos relacionamentos, o clima mudou, a espontaneidade deu lugar a uma atitude desconfiada e uma sensação de estranhamento foi tomando corpo.

Nesse ponto, depois de várias noites mal dormidas e cheias de tristeza decidiu-se afinal que agora era para valer. Como um dia cantou Gonzaguinha, chegou-se à conclusão de que não dava mais pra segurar.

Fui salvo pelo despertador que soava cada vez mais alto, livrando-me do pesadelo que atormentou o final de um sono agitado. Eram cinco horas e o dia ainda estava escuro, mas a sensação era de alívio, apesar da secura da boca. O blog ainda não tinha chegado ao fim.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

PULA A FOGUEIRA, IAIÁ...

Junho é o mês dos rojões, das fogueiras, das festas juninas. E Brasília, apesar de super moderna, está cheia de quadrilhas. Sério! Só que lá os integrantes lembram a comadre Sebastiana, pois sempre dançaram fora do compasso.

Por terem ensaiado tanto tempo, estão agora aflitos, em compasso de espera (boa essa!), à espera do julgamento pela banca examinadora. E como merecerem a nota máxima, meu sonho é ver todo mundo dançando. Na Papuda, em Curitiba ou qualquer outro arraial.

“Chegou a hora da fogueira..."

FONDUE


Achei essa iguaria circulando no Facebook. Bacana! Agora só falta preparar a mistura da Itália com a Suíça (para ser consumida no Brasil, lógico!): o Fottuto de mortadela.

terça-feira, 13 de junho de 2017

INTIMIDADE


Frase estampada na blusa das funcionárias de uma loja de lingerie: 

"PRESERVE SUA INTIMIDADE". 

Não pude deixar de achar graça e sugeri à vendedora um complemento:
SAIA DO "GRUPO DA FAMÍLIA" NO WHATSAPP. 

Funciona bem para um bocado de pessoas, concorda?

sábado, 10 de junho de 2017

OFF ROAD

No dia 7 de junho o Blogson comemorou três anos de vida. Muito tempo, muitas idiotices. Não foi possível registrar isso no dia certo, mas fica aqui uma alegoria (que serve também para o blogueiro):

O modelo do veículo é 1950, o chassis está meio sambado, mas o espírito continua totalmente Off Road.

domingo, 4 de junho de 2017

PREMIATA

Hoje é que eu entendi porque o Friboy Jo-Ex-lei teve tantos benefícios ao fazer sua delação Premiatta. É o seguinte: a JBS é a maior processadora de carne do mundo, certo? Ora, se ele é o dono da maior processadora, como poderia ser ele o processado?

Mas, em minha opinião, se o açougueiro saiu livre, leve e solto dessa quizumba, deveriam soltar também o empreiteiro Marcelinho Odebrecht (somos íntimos). Afinal, as duas delações são “do fim do mundo”, "da bomba atômica". Por isso, continua valendo aquela musiquinha: “aonde a vaca vai, o boi vai atrás”.

sábado, 3 de junho de 2017

AH, SE...

Se eu pudesse voltar no tempo,
Não gostaria de cometer os mesmos erros que cometi.
Diria um resoluto “Não!
Em vez de um constrangido e acuado “Sim...

Diria “Sim!”, quando ruminei bovinamente um “Não...
Exclamaria “Vamos!” em lugar de “Tenho medo...
Gostaria de cometer novos erros,
Testar o lado B de cada “Se”.

Se eu pudesse voltar no tempo,
Ah, se eu pudesse!
Gostaria de não ter sido cruel,
Violento e insensível com nossos filhos.

Talvez assim eu pudesse curar
A ferida que não fecha nunca
(como um câncer)
E que me acompanhará por toda a eternidade.

Se eu pudesse voltar no tempo,
Gostaria de fazer todas as tolices que fiz,
Dizer todas as bobagens que disse
Só para alegrar e seduzir minha Amada.

Mas nunca diria ou faria novamente
Tudo o que fiz ou que disse
E que a magoaram e feriram tanto,
Se eu pudesse voltar no tempo.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

AMIGÃO!!!


VALORIZANDO O MÉRITO

Você poderia imaginar que na Bíblia, o “Manual do Proprietário” de todos os cristãos, há um texto que valoriza o mérito pessoal e o empreendedorismo nos negócios? O texto é conhecido como “Parábola dos Talentos” (embora o “talento” da história seja uma moeda. Mas a coincidência é perfeita).

Pois é, se você é ateu ou abomina esses conceitos, pode conferir abaixo a transcrição literal do texto bíblico (mas se quiser saber mais um pouco, dê uma olhada em Mateus 25: 01-30):

Um homem, “tendo de viajar, reuniu seus servos e lhes confiou seus bens. A um deu cinco talentos; a outro, dois; e a outro, um, segundo a capacidade de cada um. Depois partiu. Logo em seguida, o que recebeu cinco talentos negociou com eles; fê-los produzir, e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebeu dois, ganhou outros dois. Mas, o que recebeu apenas um, foi cavar a terra e escondeu o dinheiro de seu senhor.

Muito tempo depois, o senhor daqueles servos voltou e pediu-lhes contas. O que recebeu cinco talentos, aproximou-se e apresentou outros cinco:
- Senhor, disse-lhe, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco que ganhei.
Disse-lhe seu senhor:
- Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor.

O que recebeu dois talentos, adiantou-se também e disse:
- Senhor, confiaste-me dois talentos; eis aqui os dois outros que lucrei.
Disse-lhe seu senhor:
- Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor.

Veio, por fim, o que recebeu só um talento:
- Senhor, disse-lhe, sabia que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste.Por isso, tive medo e fui esconder teu talento na terra. Eis aqui, toma o que te pertence.
Respondeu-lhe seu senhor:
- Servo mau e preguiçoso! Sabias que colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei.Devias, pois, levar meu dinheiro ao banco e, à minha volta, eu receberia com os juros o que é meu.Tirai-lhe este talento e dai-o ao que tem dez.Dar-se-á ao que tem e terá em abundância. Mas ao que não tem, tirar-se-á mesmo aquilo que julga ter.E a esse servo inútil, jogai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes." 

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4