quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

SILENT NIGHT – SIMON AND GARFUNKEL

Há muitos anos eu comprei um CD da fantástica dupla Simon & Garfunkel. Mesmo sendo um disco excelente e “de grife”, já faz um tempão que eu não o escuto. A única música de que me lembro é uma linda e curiosíssima gravação da manjadíssima “Silent Night”, conhecida no Brasil como “Noite Feliz”.

Nem preciso dizer que a harmonização vocal da dupla é lindíssima. O bacana na história é a superposição da música com um trecho de um noticiário americano de 03/08/1966. A voz do locutor está quase inaudível no início da melodia, vai aumentando aos poucos e termina com um “Boa noite” no mesmo instante em que a música acaba. O efeito é super legal. Além disso, essa música é a cara do período natalino. Olhaí. 




terça-feira, 27 de dezembro de 2016

CARTÃO DE BOAS FARRAS

O brasileiro é um sujeito cordial (assim disse o pai do Chico Buarque, O Sérgio. Sério). Como sou brasileiro e caipirão, sou super cordial. Por isso, resolvi mandar um cartão de boas farras (boas festas é pouco) aos políticos delatados pela Odebrecht. Como não sei o nome de todos, já que ainda estão sob sigilo os depoimentos dos executivos da construtora, resolvi mandar um cartão genérico para toda essa galera - ou gangue.

Pena ter sido devolvido, não podendo ser recebido a tempo. Fui conferir o endereço e percebi que me distraí, pois em vez de Brasília, mandei para a penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. Sem problemas. Continuo prestando minha solidariedade a esses abnegados desconhecidos (ainda). Assim, resolvi usar a internet para andar mais rápido. E mesmo que o Natal já tenha passado, vou manter a mensagem bilíngue (fica mais chique, entendeu?). Creio que eles gostarão.


O NATAL DESTE ANO

O Natal deste ano foi o primeiro sem a presença ruidosa de meu cunhado, compadre e irmão Elcio. Nada mais natural que a ceia tradicional na casa de sua mãe fosse mais contida, menos barulhenta, e que a troca de presentes, abraços e votos acontecesse sem a algazarra costumeira. Às vezes algum dos irmãos era visto com lágrimas discretas ou mesmo em choro aberto, mas sempre longe dos olhos de minha sogra, para que ela, nos seus noventa e quatro anos, não se fragilizasse ainda mais.

Houve ainda uma diferença em relação aos anos anteriores: o sentimento de amor e carinho que perpassava de forma muito mais intensa a casa e as pessoas. Era como se ele estivesse por ali, dizendo a todos com seu jeito descontraído e desbocado: “gosto de vocês pra caralho!”

Fiquei pensando nisso e me deu vontade de fazer uma declaração natalina de amizade e carinho a todos os meus amigos e amigas de Facebook. Claro que isso só seria possível por não ter tantos assim.

Com essa ideia na cabeça, abri o post com o texto acima, comecei a listar os noventa e um (um “trabalhinho de turco”, como dizia um colega). e lancei no aplicativo. Zebra! Descobri que o bosta do face permite um máximo de 50 indexações. Removi tudo e dividi o post em duas partes, fechando o texto com votos que particularizavam os traços de alguns. 

Essa ideia provocou o maior rebuliço entre os “amigos” e duas reações curiosas do aplicativo. A primeira foi uma mensagem de que eu estava “temporariamente bloqueado”. A segunda aconteceu quando fiz um texto de brincadeira sobre os emojis que algumas pessoas usaram a título de comentário. Depois de ironizar que o máximo que entendia eram as emoticons tipo dois pontos e parêntese, que reproduzi no final, o merda do aplicativo “editou” o texto sem que eu percebesse, substituindo os dois sinais gráficos por uma carinha amarela e sorridente. Ocevê!!! 

O que posso dizer é que não preciso de nenhum aplicativo para me ajudar a errar, prefiro errar sozinho!

Mesmo que eu não cite aqui o nome de ninguém, deixo claro que os votos que fiz para os amigos de facebook aplicam-se também aos 2,3 leitores desta bagaça, gente que gosta de poesia e às vezes se arrebenta de paixão. Os votos são estes (sem emoji):

É para todos que eu desejo um novo ano de novas paixões (ou paixões antigas revigoradas), cheio de medalhas, travessias, palestras, poesias, atitudes e gestos de solidariedade comovedora, muitos livros vendidos, bebês saudáveis sendo ou a ser gerados e, claro, sucesso e realizações profissionais e pessoais, saúde, alegria, paz e amor (quase que eu esquecia de falar que dinheiro também é bom!). É isso.

domingo, 25 de dezembro de 2016

MEU ÓPIO - BERNARDO COELHO

Este post é um texto que um de meus amigos de Facebook divulgou hoje. Esse amigo é o jovem, médico e poeta (inédito) Bernardo Coelho, uma das pessoas mais solidárias e generosas que já tive a oportunidade de conhecer. Como ele não colocou título, tomei a\ liberdade  de usar parte de uma frase do texto para publicá-lo aqui no Blogson. Olhaí.


Dizem que Freud afirmou que os sonhos são a manifestação dos desejos inconscientes. Nas duas últimas semanas passei por 2 sonhos pitorescos, sonhei que estava sonhando (sonhos tristes) e acordava dentro desses sonhos chorando muito, tipo novela mexicana e logo depois disso eu acordava de verdade. Eu não sou nem nunca fui de chorar desse jeito, sempre tentei me conter, é da minha natureza.

Há alguns anos escrevi um pensamento em resposta às várias vezes em que fui perguntado: "Você não bebe?" "Você nunca usou drogas?" "Você nunca fumou?", a resposta saiu assim: "minha mente é meu ópio", traduzindo, não preciso de drogas para dar uma viajada.

Hoje avaliando esses sonhos sobre a ótica dessa frase cheguei a conclusão de que ela é mais profunda do que eu pensava. Através desses sonhos eu saciei um desejo inconsciente de libertar as amarras que me impedem de expor meus sentimentos, principalmente minha tristeza, mesmo que eu tenha feito isso apenas dentro de mim, apenas em uma "viagem". Hoje percebi que minha mente é realmente meu ópio, pois enquanto eu puder sonhar, terei minha mente livre para viver aquilo que eu desejar e precisar viver...

sábado, 24 de dezembro de 2016

NÓS, OS DESAJUSTADOS

Espirramos no silencioso minuto
Acordamos na madrugada
Cochilamos na frente de amigos
Dormimos durante o discurso
Calamo-nos sem opinião
quando nos pedem uma

Não sabemos qual é
o nosso lugar
Nunca tivemos porto seguro
Somos obras sem tapume
Lagoas sem atracadouro
Estradas sem acostamento

Tartamudeamos em voz alta
Emudecemos sem motivo
Sentimos medo até da sombra
dos outros
Rimos em velórios
Choramos em comédias

Faltam-nos traquejo social
e verniz civilizatório
Tropeçamos nas palavras
Desviamo-nos das pessoas
Tropeçamos na Vida
Nós, os desajustados.






quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

SERÁ ESSA A EXPLICAÇÃO?

Talvez pela inevitável comparação de meus poucos e parcos presentes de Natal com os que meus primos ricos ganhavam, acabei por não ligar muito para essa festa de consumo desenfreado, exceto para criticar e ironizar a troca de "lenços, meias e cuecas" que acontece todo ano. Já sei, algum espertinho comentará que "as uvas estavam verdes", mas não estou nem aí.

Isso mudou um pouco quando nossos filhos foram nascendo e passamos a comprar para eles os melhores brinquedos que podíamos, provavelmente criando assim um novo ciclo de inveja infantil em alguns de seus primos. À medida que eles foram crescendo e essa sanha paterna foi sendo apaziguada, voltei a não ligar mais para o Natal da comilança exagerada e das trocas de ... tá bom, não preciso repetir.

A única coisa que mudou nisso tudo foi uma leve e aparentemente inexplicável melancolia que passei a sentir nessa época. Pensando agora sobre tudo isso, creio ter chegado a uma explicação razoável para essa tristeza suave e difusa, indeterminada, que surge nos meses de dezembro.

No final de ano, depois que as aulas acabam, a cidade começa a apresentar um trânsito e um movimento totalmente diferente do que existe durante o ano letivo. As ruas de bairro ficam mais calmas, vazias e silenciosas, sem o frenesi de carros e vans transportando jovens e crianças para essa ou aquela escola.

Se "movimento" está relacionado a "vida" e "imobilidade" pode ser relacionada a "morte", talvez essa calma provocada pelas férias escolares e, por consequência, de alguns pais de estudantes, possa ser a chave e explicação para a história da "melancholia" que sinto nessa época.

Para uns, a aproximação de um novo ano, a mudança do calendário pode trazer esperança e excitação pelo novo, pelo que surgirá. Para outros, esse pouco movimento percebido nas ruas prenuncia o fim de alguma coisa, o balanço do ano que termina, dos desejos não concretizados, das promessas não cumpridas. Além disso, o avanço da idade e a marcha inexorável do tempo ficam mais palpáveis e perceptíveis.

Por trás da alegria e esperança contidas na saudação "adeus ano velho, feliz ano novo" fica a quase certeza de que nada mudará muito, exceto a sensação escondida e dissimulada da vida que vai se acabando pouco a pouco. Acho que essa pode ser  a explicação da melancolia que muitas pessoas sentem nessa época. Inclusive eu.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

LA BARCA - ROBERTO CANTORAL

Embora a trilha sonora da minha vida tenha sido predominantemente marcada pelo rock, eu tenho um pé na velha boêmia (ou boemia, como todo mundo fala hoje), nas gafieiras (que nunca frequentei), nas serenatas e nos bailes de clubes, onde se dançava de rosto colado. Por isso, gosto de tangos (alguns), boleros (idem), fox-trots e outros ritmos adequados para se dançar cheek to cheek.

Se eu nunca precisei de nenhuma influência externa para me identificar instantaneamente com o rock, o gosto por esses outros estilos eu herdei dos meus (oito) tios e tias maternos, com quem convivi até que eles se casassem, pois, como já disse um zilhão de vezes, eu morei na casa de minha avó materna até eu mesmo me casar.

Mas o assunto de hoje não é memória, é música. Bolero, mais precisamente. Para mim, o bolero mais bonito já gravado até hoje é La Barca, composto por Roberto Cantoral, um especialista em música de corno. Mas a melodia é lindíssima e os versos são fantásticos.  Como este, por exemplo: “Cuida que no naufrague en tu vivir”. Bonito demais!

Pois bem, mesmo que eu seja um pedaço de pau chumbado no chão quando o assunto é dança (qualquer dança), esta é a música que eu resolvi compartilhar com os 2,3 leitores do velho Blogson, pois é perfeita para dançar de rosto colado e para namorar. Quer coisa melhor?


terça-feira, 20 de dezembro de 2016

COMENTANDO AS RECENTES - 021

O “Marreta”, do blog “A Marreta do Azarão” (eu deveria chamá-lo de “Azarão”, mas prefiro continuar errando o apelido, pois “Marreta” é mais legal) me fez lembrar de um coitado com penteado a la Silvio Santos, que foi ministro do Trabalho no governo Collor (péssima carta de referência!). Para mim, sua maior virtude foi contribuir para o anedotário político com o neologismo(?) “imexível” e com a frase "cachorro também é gente". Grande Rogério Magri!

Lembrando o vazamento de uma das delações da Odebrecht, fico tentado a pensar que talvez ele estivesse certo, mesmo que no sentido pejorativo da expressão, embora assim eu esteja ofendendo “o melhor amigo do homem”.

E já que o assunto passou a ser a delação da Odebrecht (já era mesmo desde o início deste texto), li no portal de notícias G1 que essa delação “é tida, no meio político, como a de maior potencial para provocar impacto nas investigações, isso porque os executivos citaram mais de 200 nomes de políticos de diversos partidos”.

Pensem bem, duzentos políticos! Se isso for verdade, o Eduardo Cunha, o Rodrigo Maia e o Renan Calheiros estariam mais parecidos com a rainha da Inglaterra, aquela que reina mas não governa. Porque, com duzentos políticos no bolso do colete, o verdadeiro presidente do Congresso só pode (ou poderia) ser o Marcelo Odebrecht.

domingo, 18 de dezembro de 2016

MINHA

Minha casa é minha propriedade
Registrada e autenticada no cartório de imóveis

Minha casa é uma fortaleza murada
Que me protege dos perigos do mundo exterior

Minha casa é meu lar
Pois nela posso encontrar as pessoas que amo

Minha casa é o refúgio e esconderijo
Em que tento esquivar-me dos meus medos e pesadelos

Minha casa é meu claustro
Onde vivo atormentado por meus erros, culpas e omissões

Minha casa é u'a masmorra
Que me separa das ilusões e sonhos passados

Minha casa é a sepultura
Onde, a cada dia, enterro uma parte do que sobrou de mim

Minha casa...
De que adiantará se você não estiver nela comigo?

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

SIMBIOSE E PARASITISMO

As investigações e delações premiadas da Operação Lavajato iluminaram o que todos ou quase todos os engenheiros civis já sabiam, suspeitavam ou tinham ouvido falar que existiu, existe e provavelmente continuará a existir na penumbra de alguns gabinetes climatizados dos órgãos públicos: corrupção, acordos e conchavos para beneficiar esta ou aquela construtora de obras públicas.

Mesmo assim, fiquei vivamente impressionado com a extensão e abrangência da corrupção no Brasil de hoje, exibida em apenas uma das delações premiadas da Odebrecht, pois o que eu já imaginava existir superou muito minhas expectativas mais negativas. É como se esse relacionamento viciado e promíscuo entre contratantes e contratados, entre padrinhos e apadrinhados lembrasse a ação de um câncer e suas metástases, pois é como se um foco dessa doença terrível fosse descoberto tarde demais, quando suas ramificações já tivessem se espalhado e se instalado em outros órgãos (órgãos públicos, por que não?). Confesso que essa é uma imagem muito forte para mim, pois, em um corpo humano, isso normalmente significa a perda de pessoas queridas. Então, preferi abandonar essa comparação, até porque os órgãos públicos tomados por “doença” desse tipo não morrem, continuam vivinhos da silva e operacionais.

Acho também importante lembrar que as pequenas obras normalmente estão (ou deveriam estar) imunes às práticas desonestas, pois, há (ou havia) uma briga de foice generalizada entre as pequenas empreiteiras para ganhar a licitação dessas obrinhas. Em termos práticos (e cínicos) é fácil imaginar que ninguém quererá se sujar e correr riscos se o retorno financeiro ilícito for desprezível.

Para organizar os pensamentos e tentar entender melhor práticas orgiásticas onde só o povo paga boquete ou fica de quatro, fui buscar nas ciências biológicas uma analogia que facilitasse a compreensão dessa sujeira toda, pois, embora tenha optado por uma profissão mais relacionada à área de Exatas, eu sempre gostei de estudar a velha e boa Biologia, que foi uma das matérias da minha predileção quando estava me preparando para o primeiro vestibular unificado da história da UFMG (velhice, meu caro, velhice). Talvez por isso ainda me lembre de muitos assuntos dessa área. Um dos que mais despertaram minha curiosidade tratava dos diversos tipos de convivência e associações de organismos diferentes.

Dias desses lembrei-me dos nomes de algumas dessas interações, mas não consegui passar muito disso (afinal, lá se vão 47 anos!). Parasitismo, Comensalismo e Simbiose foram os nomes que consegui lembrar, mas as sinapses não estavam ajudando muito no resgate de definições mais precisas desses tipos de convivência ou interação. Como não pretendo mais prestar vestibular nem dar aula preparatória para o ENEM, achei que as informações da Wikipédia serviriam.

Para acabar com o suspense, o que eu sinto que acontece no relacionamento suspeitíssimo entre políticos esfomeados, empreiteiros de bom coração e técnicos enlameados é um misto de parasitismo e simbiose.

Basta prestar atenção nas informações obtidas na internet e substituir “organismos” ou “seres vivos” (e assemelhados) por “políticos corruptos”, “empreiteiros de obras públicas” ou “dirigentes de órgãos e empresas públicas”, que o resultado fica bacanérrimo. Claro está que essa suspeita recai apenas sobre uma minoria de funcionários e dirigentes públicos, jamais sobre a totalidade dos empregados desses órgãos e empresas. O problema é o estrago que essa minoria provoca. Por isso, façam a experiência nos textos a seguir (o grifo é meu):

“Dentro de um ecossistema encontram-se várias formas de interações entre os seres vivos (...) Essas relações se diferenciam pelos tipos de dependência que os organismos mantêm entre si. Algumas dessas interações se caracterizam pelo benefício mútuo de ambos os seres vivos ou de apenas um deles, sem o prejuízo do outro. Outras formas de interações são caracterizadas pelo prejuízo de um de seus participantes em benefício do outro. Esses tipos de relações recebem o nome de desarmônicas ou negativas”.

 “Parasitismo é a associação entre seres vivos, na qual existe um ser apenas que se beneficia, sendo um dos associados prejudicado nessa relação. Desse modo, surge o parasita, agente agressor e o hospedeiro, agente que abriga o parasita. O parasita por sua vez, retira os nutrientes do ser o qual está hospedado, representando uma relação desarmônica (...)”

“Simbiose ou mutualismo é uma relação mutuamente vantajosa entre dois ou mais organismos vivos de espécies diferentes.
Há alguma indefinição nos conceitos associados a este termo. Assim, dever-se-á ter presente que a simbiose implica uma inter-relação de tal forma íntima entre os organismos envolvidos que se torna obrigatória (mutualismo). Quando não existe obrigatoriedade na relação, dever-se-á utilizar antes o termo/conceito protocooperação. (...) Os conceitos oriundos da dinâmica apresentada nos sistemas simbióticos, também têm sido aplicados no âmbito das ciências sociais e econômicas. Nestas abordagens as organizações e indivíduos são entendidos como diferentes agentes que podem estar intimamente associados, como nos processos de simbiose no mundo natural

Resumidamente, vamos dar nomes aos boys:
Parasita é o funcionário corrupto de um órgão ou empresa pública (que seria o hospedeiro), seja ele presidente, diretor ou um simples técnico, que utiliza sua posição e funções apenas para pedir e receber suborno de empresas contratadas pelo órgão ao qual pertence. Voltando ao texto teórico, vemos que “o parasita retira os nutrientes do ser no qual está hospedado”.

E se existem os “parasitas” (e como existem!), o relacionamento mais perfeito entre contratantes corruptos e contratados dispostos a pagar propina é a Simbiose. Assim como acontece na natureza, essa é “uma relação mutuamente vantajosa entre dois ou mais organismos vivos de espécies diferentes”, ou melhor, entre as empreiteiras e os paulos robertos, renatos duques e demais coleguinhas.

Por tudo isso que foi dito, eu creio que essa simbiose e esse parasitismo provavelmente nunca acabarão, pois são interações quase biológicas que devem ter vindo desde a chegada do Cabral (refiro-me ao “Cabral um”, o Pedro, não ao “Cabral dois”, o Serginho). Os empreiteiros dependem das obras e órgãos públicos para viver e vice-versa. O problema são os parasitas, os cáftens da administração pública. Qual a solução para isso, eu não sei. Talvez uma mudança comportamental e cultural em toda nossa sociedade, com a revogação definitiva da Lei de Gérson (coitado do cara!), talvez uma revisão geral de toda a legislação que, de alguma forma, (des)regula a contratação de obras públicas.

Apesar de ser fã incondicional da Operação Lavajato e suas ramificações virtuosas, tenho minhas dúvidas de que isso cure o Brasil da doença autoimune chamada corrupção. Porque, do jeito que está, a minha suspeita é de que se resolverem estender a Lavajato pelo país afora, poderá faltar água potável no planeta.



PROPAGANDA AFETIVA

Este blog não foi criado para fazer propaganda eleitoral nem propaganda enganosa (acho que estou me repetindo). Não promete milagres nem cobra dízimo. Também não publica textos ou imagens eróticas (o dono é meio careta e segue a linha de que “é melhor fazer do que falar sobre sexo”). Nem tem finalidade comercial, pois não ganha nada com o que publica (nem visualizações!). 

Em compensação, o Blogson é totalmente a favor do afeto e da amizade explícita, escancarada. Por isso, resolvi falar de dois amigos a quem admiro particularmente, mas admiro mesmo. O primeiro é o jovem Daniel Coelho, publicitário e amante da culinária "nas horas vagas e não vagas". Por conta disso, criou o premiado blog "Mixidão".

Segundo ele, "O ofício da Publicidade e Propaganda foi aprendido na universidade. Já sua formação culinária é fruto da mistura de uma mãe 'cozinheira de mão cheia', alguns cursos, muitos livros e várias tentativas (frustadas ou não). 
Não tem preferência entre pratos doces ou salgados, só não gosta quando os dois se misturam. Gosta de experimentar de tudo, desde que ninguém conte o gosto antes de provar.
Seus pratos preferidos, invariavelmente e gradualmente, aparecem todos no blog. Basicamente, não curte muito jiló, pequi, risoto e comida oriental, mas ainda pode aprender a gostar".

O segundo é um consultor e executivo de nível internacional, além de titular do excelente "Blog do MaLuCo". Chama-se Mauro cio Condé e possui uma história de vida mais que admirável, tão incrível que vale a pena conhecer um pouquinho. Mas é melhor que ele mesmo conte:
“Filho da dona de casa Maria da Conceição Condé e do carpinteiro Antônio Elias Condé Neto, Mauro Lúcio Condé nasceu na capital mineira, Belo Horizonte, e mudou-se cedo para Contagem – MG, onde morou ao lado de uma periferia, numa vila construída pela companhia Cimento Portland Itaú, implodida em 1998, na qual seu pai trabalhou por 28 anos como carpinteiro e além disso reparando móveis e assentando tacos. Devido à infância humilde, Mauro mal sabia qual era a sensação de ser presenteado com algo novo, afinal suas próprias roupas eram doadas pelos seus primos, quando não serviam mais. Contra sua própria vontade, aos finais de semana Mauro acompanhava seu pai no trabalho para aprender o ofício, e embora ele lhe tivesse dito que quando fizesse 14 anos teria que parar de estudar para trabalhar e ajudar nas despesas de casa, o simples garoto enxergou nos livros uma forma de escapar do futuro de dificuldades que já parecia planejado”.

Bacanérrimo, não? E o que teriam esses dois caras em comum? Além da inteligência privilegiada, os dois resolveram lançar lançar livros em que abordam suas predileções, conhecimentos e experiências. Por isso, resolvi mascatear um pouco e divulgar esses dois lançamentos de graça, graciosamente, pelo simples prazer de mostrar aos 2,3 leitores desta bagaça duas obras que vale a pena conhecer. 

Vou começar pelo livro do MaLuCo, cujo título é "IDEIAS DE MALUCO:)". Esse é um livro que eu gostaria de ter lido no início da minha vida profissional, pois, além das crônicas e insights do autor, é cheio de dicas fantásticas sobre como alavancar sua carreira. Por tratar-se de livro digital, custa apenas R$13,61 na Amazon.com.br, o que, venhamos e convenhamos é uma merreca.

O segundo é o livro "Quer que desenhe? - Volume 2" (existe um "volume 1") e traz receitas maneiríssimas magnifica e lindamente ilustradas (o cara é um gênio!). É o livro ideal para dar de presente de aniversário, Amigo Secreto (ou Oculto) ou presente de Natal (desde que os Correios ajudem). Sua venda é feita através do blog e custa R$29,90 mais frete. Se alguém desejar adquirir também o primeiro volume (do qual restam pouquíssimas unidades), o preço do pacote fica em R$50,00 mais frete, ou seja, mais barato que banana em fim de feira, daquela que é vendida na bacia, toda despencada.

Quem quiser dar uma olhada, os dois links são esses:  (que está esperando? Corre!)

Maluco: http://oblogdomaluco.com.br/a-solucao-esta-nos-livros-veja-que-incrivel/ 

Mixidão: http://mixidao.com.br/livro-quer-que-desenhe-volume-2/


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

DESMAGNETISMO PESSOAL

Pelo menos no meu caso, a adolescência foi igualzinha à Idade Média, um período de trevas. Isso ficou meio dramático, mas é verdade. Pensem bem, é uma fase entre a infância feliz (fodida, no meu caso) e a maioridade (depois vem a maturidade, mas deixa pra lá). Então, é mesmo uma idade intermediária - ou média (já vi que não sairá nada que preste desta goma).

É também uma Idade das Trevas, pois é cheia de medos, incertezas e solidão (no banheiro então, nem me fale).  Por que estou falando nisso? Por ser este texto uma reação a um comentário sobre outro post feito pelo meu amigo virtual Marreta, imperador absoluto do blog “A Marreta do Azarão”. Para que não restem dúvidas, o diálogo foi assim:

“Eu tenho umas quarenta fitas cassetes; todas gravadas ou de LPs emprestados, ou, a maioria delas, música a música, direto das FMs, um trabalho de tocaia e de garimpo. Ouvi uma delas tempos atrás e o som realmente não soou como nos velhos tempos, mas acredito que a culpa não seja da fita, prováveis oxidações do metal (lembra das de cromo?) ou desmagnetizações. A principal causa da queda de qualidade do som é o nosso envelhecimento, JB, não da fita, principalmente o arrefecer de nossos ânimos. Não vivemos mais no contexto em que as gravamos, não somos mais tão jovens nem temos todo o tempo do mundo.”

Na época dessa música eu tinha o dobro da sua idade (essa relatividade sempre me pareceu bizarra). Por isso, para mim, você ainda é um menino, ainda tem cheiro de fralda. Mas o que posso dizer é que nunca tivemos todo o tempo do mundo, apenas pensávamos que tínhamos. E éramos mais magnetizados.

“Já tô quase com cheiro de fralda mesmo: das geriátricas. Na época, você tinha duas vezes a minha idade, hoje tem apenas 1,35 vezes. Logo, logo, te alcanço; essa relatividade me assusta mais. Sacanagem. Mais magnetizados, eu não sei, mas éramos mais magnéticos; hoje eu não atraio mais porra nenhuma!”


Pois bem, meu caro Marreta, como este é um post-resposta (estou reciclando tudo!), preciso confessar que na adolescência eu era desengonçado, feio pra caramba, magrelo, sem graça, tímido, muito tímido e idiota, muito idiota. Fico feliz de saber que você foi um cara “magnético”. Da minha parte posso dizer que a única coisa que eu peguei na adolescência fui caxumba, que me deixou de molho mais de uma semana. Conclusão possível (para não entrar no enunciado da Lei da Gravitação Universal do Newtinho): cada um atrai o que pode e consegue. Mais acaciana, impossível.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

VÔO DE CORAÇÃO - RITCHIE

Estava com o rádio do carro ligado, quando comecei a ouvir uma música muito linda, daquelas que eu sempre tenho vontade de tocar no violão (mesmo que eu não consiga). Sabia que era do Ritchie e memorizei um pedaço da letra para procurar depois no Google. Não sei o que a letra diz, só guardei o trecho "memórias num velho computador", pois presto mais atenção no som como um todo, a voz sendo apenas mais um dos instrumentos. Está dado o recado, quem quiser que curta essa música de 1983, quando eu tinha apenas 33 anos e ainda estava coletando e guardando memórias para um dia escrevê-las em um velho computador.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

PREGUIÇA

O melhor antídoto que encontrei para minha ansiedade em relação ao Blogson foi a preguiça. Estou com uns três assuntos na cabeça, mas sem animação nenhuma de desenvolvê-los. 

Preguiça de escrever, preguiça de pensar. Vontade de dormir, de cochilar, como quem assiste a uma palestra soporífera. 

A melhor imagem dessa sensação está em uma cena de um dos hilariantes filmes da trilogia “Corra que a polícia vem aí”, que copiei na internet (o sujeito com as pernas para cima é a melhor piada).Olhaí.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

COMENTANDO AS RECENTES - 020

Encontrei no site da VEJA esta manchete:

Mulher de Cabral recebia mochilas com R$ 300 mil semanais
Secretária de seu escritório de advocacia revelou detalhes de como funcionava parte do esquema de recebimento de dinheiro em espécie

Com somas de dinheiro tão estratosféricas assim, pode-se dizer que ela é que realmente era a verdadeira “Mochileira das Galáxias”.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

COMENTANDO AS RECENTES - 019

Acabei de ver na TV imagens da transferência da esposa do ex-governador Sérgio Cabral para um presídio do Complexo de Bangu, onde provavelmente vestirá um uniforme simplesinho e calçará um par de sandálias de borracha, dessas bem baratinhas. Logo ela, a mulher dos sapatos Louboutin e das joias milionárias! Aí me lembrei do seu sogro.

As referências que guardo do jornalista Sérgio Cabral, pai do ex-governador do Rio, vêm do tempo d’O Pasquim, do qual foi um dos fundadores. Até onde me lembro, escrevia mais sobre música e compositores, o que não o impediu de ser um dos presos pelo regime militar e ficasse uns três meses em cana com o resto da galera do jornal. Depois que parei de comprar o velho Pasca, às vezes lia notícias sobre algum livro que acabara de lançar, geralmente biografias de feras da MPB.

Pois bem, creio que foi na revista Veja da semana passada que li a notícia de que está com Alzheimer. Quando perguntado sobre o que aconteceu com o enjaulado Serginho Cabral, responde que o filho morreu há muito tempo, ainda criança.

Melhor assim. Até porque o filho de quem poderia se orgulhar morreu mesmo há muito tempo. Em seu lugar ficou o Serginho Corsário, o pirata da cara de pau. Nos delírios próprios da doença, o pai pelo menos não sentirá vergonha do filho e da nora, presos na Operação Calicute.

FERREIRA GULLAR - ENTREVISTA

Em dezembro de 2014 eu divulguei no blog um post reverencial sobre o Ferreira Gullar, que trazia além de um poema belíssimo, trechos de uma entrevista ao jornalista Pedro Dias Leite, da revista Veja. Dois anos depois dessa entrevista, morre o poeta. Aí resolvi transcrever alguns trechos como homenagem a um sujeito muito bom, muito sofrido, muito poético, muito poeta.


UMA VISÃO CRÍTICA DAS COISAS

Um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos, Ferreira Gullar, 84 anos, foi militante do Partido Comunista Brasileiro e, exilado pela ditadura militar, viveu na União Soviética, no Chile e na Argentina.
Desiludiu-se do socialismo em todas as suas formas e hoje acha o capitalismo “invencível”.
É autor de versos clássicos — “À vida falta uma parte / — seria o lado de fora — / para que se visse passar / ao mesmo tempo que passa / e no final fosse apenas / um tempo de que se acorda / não um sono sem resposta. / À vida falta uma porta”.
Gullar teve dois filhos afligidos pela esquizofrenia. Um deles morreu. O poeta narra o drama familiar e faz a defesa da internação em hospitais psiquiátricos dos doentes em fase aguda. Sobre seu ofício, diz: “Tem de haver espanto, não se faz poesia a frio”.

— O senhor já disse que “se bacharelou em subversão” em Moscou e escreveu um poema em que a moça era “quase tão bonita quanto a revolução cubana”. Como se deu sua desilusão com a utopia comunista?
— Não houve nenhum fato determinado. Nenhuma decepção específica. Foi uma questão de reflexão, de experiência de vida, de as coisas irem acontecendo, não só comigo, mas no contexto internacional. É fato que as coisas mudaram. O socialismo fracassou. Quando o Muro de Berlim caiu, minha visão já era bastante crítica.
A derrocada do socialismo não se deu ao cabo de alguma grande guerra. O fracasso do sistema foi interno. Voltei a Moscou há alguns anos. O túmulo do Lenin está ali na Praça Vermelha, mas pelo resto da cidade só se veem anúncios da Coca-Cola. Não tenho dúvida nenhuma de que o socialismo acabou, só alguns malucos insistem no contrário. Se o socialismo entrou em colapso quando ainda tinha a União Soviética como segunda força econômica e militar do mundo, não vai ser agora que esse sistema vai vencer.

— Por que o capitalismo venceu?
— O capitalismo do século XIX era realmente uma coisa abominável, com um nível de exploração inaceitável. As pessoas com espírito de solidariedade e com sentimento de justiça se revoltaram contra aquilo. O Manifesto Comunista, de Marx, em 1848, e o movimento que se seguiu tiveram um papel importante para mudar a sociedade.
A luta dos trabalhadores, o movimento sindical, a tomada de consciência dos direitos, tudo isso fez melhorar a relação capital-trabalho. O que está errado é achar, como Marx diz, que quem produza riqueza é o trabalhador e o capitalista só o explora. É bobagem. Sem a empresa, não existe riqueza. Um depende do outro. O empresário é um intelectual que, em vez de escrever poesias, monta empresas. É um criador, um indivíduo que faz coisas novas.
A visão de que só um lado produz riqueza e o outro só explora é radical, sectária, primária. A partir dessa miopia, tudo o mais deu errado para o campo socialista. Mas é um equívoco concluir que a derrocada do socialismo seja a prova de que o capitalismo é inteiramente bom. O capitalismo é a expressão do egoísmo, da voracidade humana, da ganância. O ser humano é isso, com raras exceções.
O capitalismo é forte porque é instintivo. O socialismo foi um sonho maravilhoso, uma realidade inventada que tinha como objetivo criar uma sociedade melhor. O capitalismo não é uma teoria. Ele nasceu da necessidade real da sociedade e dos instintos do ser humano. Por isso ele é invencível.
A força que torna o capitalismo invencível vem dessa origem natural indiscutível. Agora mesmo, enquanto falamos, há milhões de pessoas inventando maneiras novas de ganhar dinheiro. É óbvio que um governo central com seis burocratas dirigindo um país não vai ter a capacidade de ditar rumos a esses milhões de pessoas. Não tem cabimento.

— O senhor se considera um direitista?
— Eu, de direita? Era só o que faltava. A questão é muito clara. Quando ser de esquerda dava cadeia, ninguém era. Agora que dá prêmio, todo mundo é. Pensar isso a meu respeito não é honesto. Porque o que estou dizendo é que o socialismo acabou, estabeleceu ditaduras, não criou democracia em lugar algum e matou gente em quantidade. Isso tudo é verdade. Não estou inventando.

— E Cuba?
— Não posso defender um regime sob o qual eu não gostaria de viver. Não posso admirar um país do qual eu não possa sair na hora que quiser. Não dá para defender um regime em que não se possa publicar um livro sem pedir permissão ao governo. Apesar disso, há uma porção de intelectuais brasileiros que defendem Cuba, mas, obviamente, não querem viver lá de jeito nenhum. É difícil para as pessoas reconhecer que estavam erradas, que passaram a vida toda pregando uma coisa que nunca deu certo.

— Como o senhor define sua visão política?
— Não acho que o capitalismo seja justo. O capitalismo é uma fatalidade, não tem saída. Ele produz desigualdade e exploração. A natureza é injusta. A justiça é uma invenção humana. Um nasce inteligente e o outro burro. Um nasce inteligente, o outro aleijado. Quem quer corrigir essa injustiça somos nós. A capacidade criativa do capitalismo é fundamental para a sociedade se desenvolver, para a solução da desigualdade, porque é só a produção da riqueza que resolve isso. A função do estado é impedir que o capitalismo leve a exploração ao nível que ele quer levar.
 (...)
— O senhor condena quem pegou em armas para lutar contra o regime militar?

— Quem aderiu à luta armada foram pessoas generosas, íntegras, tanto que algumas sacrificaram sua vida. Mas por um equívoco. Você tem de ter uma visão critica das coisas, não pode ficar eternamente se deixando levar por revolta, por ressentimentos. A melhor coisa para o inimigo é o outro perder a cabeça. Lutar contra quem está lúcido é mais difícil do que lutar contra um desvairado.

domingo, 4 de dezembro de 2016

ENRICOU!

Vira e mexe saem na internet notícias sobre a riqueza inexplicada do Lulinha, o filhinho do Lula. É sociedade com a Friboi, é apartamento de seis milhões, fazendas, não sei quantas mil cabeças de gado...

Ao receber uma notícia dessas no Whatsapp, minha mulher criou uma piadinha sensacional:

Uma professora pergunta aos alunos o que querem ser quando crescer. Um deles responde prontamente:

- Funcionário de zoológico!

A professora espantada pergunta:

- Você gosta tanto dos animais assim?

- Não muito, é que funcionário de zoológico fica milionário, é só olhar o filho do Lula!!!!!!!!!!!

sábado, 3 de dezembro de 2016

A GANGUE DA MINHA RUA

No final da década de 1960 e início da década de 1970 eles formavam uma gangue de adolescentes na faixa dos doze a quinze anos, Os apelidos eram sonoros e, em alguns casos, indicadores das qualidades ou defeitos do “portador”. Paulinho Grande (ou Elza Soares), Guelcha, Du, Élcio, Diogo, Trombada (ou Bum), Quarenta, Bamba, Quinho, Murilo, Ita (Itamar), os irmãos Ari, Geraldo e Bifão, Cadinho, Paulinho Preto (ou Paulinho Pequeno), Glauco, Dôque e Gerinho. Acredito que o Glauco e os irmãos Dôque e Gerinho chegaram mais tarde, já na década de 1980, mas incorporaram bem o espírito daquele bando de malucos.

Havia ainda o “time reserva”, formado pelos irmãos mais novos de alguns: Alaor, Lelé, Fernando, Iberê, Léo, Betinho, Joãozinho, Reinaldo, Serjão, Mário Lúcio e Cesar. Praticamente todos moravam na mesma rua.

Paulinho Grande (ou simplesmente Paulinho), Guelcha, Du, Élcio, Glauco, Diogo e os irmãos Ari, Geraldo e Bifão formavam o “núcleo duro” da turma, justamente por serem os mais criativos, engraçados, sacanas ou bons de briga.

Uma vez resolveram "decorar" o fusquinha do namorado de uma das minhas cunhadas com guirlandas de papel higiênico e vasos de flores. Até que ficou bacana. Mas, como reagir a isso? Em outra ocasião colaram o portão da garagem do sujeito mais rico da rua, a quem sempre provocavam. Sua esposa começou um dia a usar uma espécie de turbante. Bastou isso para o marido passar a ser saudado de joelhos, aos gritos de "Oh Marajá!" E depois riam cinicamente.

Todos eram politicamente incorretos, todos passavam o tempo livre conversando fiado, soltando papagaio, jogando futebol, arranjando briga com as turmas de outros bairros nas festinhas que organizavam ou fazendo sacanagens divertidíssimas com outras pessoas, às vezes com eles próprios.

O Trombada, por exemplo, tinha esse apelido pois seria fruto da colisão de uma locomotiva com uma carroça, pois era de uma feiura desconcertante. Aproveitando ainda a piada cruel, era chamado por alguns de “Bum”, que seria o barulho provocado pela trombada. Embora utilizado só uma ou duas vezes, o mais criativo foi “Mapa do Inferno”, graças às calosidades ósseas que possuía na testa, que teriam sugerido a um dos sacanas a sensação de relevo, com “montes e vales”.

Esse coitadinho era vítima frequente de bullying dos “amigos”, que, à falta do que fazer, ficavam marchando à noite, enquanto cantavam “eu fui à tourada de Madri, pararatiBUM bum bum”. Ou, saiam em "procissão", entoando a "Marcha Fúnebre" de Chopin: "tan tan taran, tan taran taran tan tan BUM!!!!" Coisa de puro filho da puta, puríssimo, sem diluição.

Às vezes, também à noite, colocavam nos muros mais altos latas com água suja, amarradas a uma linha que era puxada quando passava algum infeliz aleatoriamente escolhido. E riam descaradamente quando alguém reclamava.

Outra idiotice, essa mais inofensiva, era colocar uma cobra de pano escondida na saída da água de chuva dos muros, também puxada quando passava alguma mulher. Ou soltar bombas de festa junina dentro de latas de lixo e por aí vai.

Um dia, um dos “criativos” da turma teve a ideia mais genial de que me lembro: ficaram acordados até depois da meia-noite e começaram a roubar os vasos de plantas de todas as casas. Os muros eram baixos e os portões não tinham tranca nem cadeado, o que facilitou a execução do plano, que era simplesmente a troca dos vasos. De todos os tamanhos e pesos. Pegavam de uma casa e colocavam na outra. Na época em que todos os moradores da rua se conheciam, a maluquice ganhou ainda um toque sutil: trocaram os vasos das vizinhas que por esse ou aquele motivo não mais se falavam.

Disse minha mulher (que era ainda minha namorada) que logo de manhã entrou uma senhora em sua casa, toda chorosa, dizendo que “tinham roubado suas samambaias”. Minha sogra, com toda a calma, comentou que alguns vasos desconhecidos haviam aparecido na varanda da casa. Mas não eram samambaias.

O que sei é que os delinquentes, apesar do cansaço e do pouco tempo de sono, acordaram bem cedo e, sentados na calçada, ficaram só observando o trança-trança dos moradores para desfazer as trocas, tarefa que durou boa parte da manhã. O efeito colateral dessa brincadeira foi o reatamento de antigas amizades.

O Cadinho morreu de aids, o Trombada, de infarto, o Élcio, debaixo de um caminhão. Alguns mudaram-se para outros estados, outros sumiram definitivamente e dois moram hoje nos Estados Unidos (provavelmente ilegais). A maioria desses inofensivos e divertidos delinquentes, entretanto, foi ao velório de meu cunhado, para despedir-se de seu antigo companheiro de gangue.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

CHARUTO NA CUBA DOS OUTROS É REFRESCO


- O Fidel Castro era chegado num charuto, né? Descobri que existe um "puro" que é a cara dele.

- E você deve fumar charuto da Jamaica, de tanta besteira que fala!

- Tô falando sério, brother! A marca do charutão é COHIBA.

- E o que o cu tem a ver com as calças?

- Ué, o regime de Cuba é a maior prensa, pois o Fidel devia ficar só dando ordens tipo “Coíba isso, coíba aquilo”.

- CARAJO!

OLHA A PEC 241 AÍ, GENTE!

- Se a PEC do congelamento dos gastos for definitivamente aprovada, o Temer vai ficar igual videogame antigo.

- Como assim, mané?

- É que ele poderá ser chamado de PEC MAN.

- CARACA!

SERVIÇO DE INUTILIDADE PÚBLICA

Por sua própria origem, já que é filho dos e-mails que mandava para umas oito pessoas, o Blogson sempre meio que um "almanaque do Biotônico" com suas várias "seções" e ênfase nas piadinhas ruins e trocadilhos idiotas. Só faltou ter horóscopo e datas para melhor plantio de grãos e hortaliças. Ou seja, é só mesmo um passatempo (ainda que eu tivesse ambições "literárias" ou "culturais"), um digno representante do "baixo clero" dos blogs irrelevantes.

Às vezes, movido por alguma indignação um pouco maior, faço algum comentário sobre a cena política do país, mas sempre puxando para o lado da piadinha, da brincadeira. Talvez hoje devesse fazer o mesmo, mas resolvi mudar um pouco. Este post é de inutilidade pública, pois é mais precisamente sobre os inúteis que vivem naquela bolha chamada Congresso Nacional, gente que parece respirar uma mistura de gases diferentes dos que a população do Brasil respira. Só isso explicaria o resultado da votação do pacote anticorrupção. Apesar da vergonha e indignação que senti ao saber do resultado, quero abordar apenas os dois pontos que mais me incomodaram (não só a mim, lógico), que são a inclusão da medida contra o "abuso de autoridade" e da retirada da medida contra o "enriquecimento ilícito". Para que eu mesmo não me esqueça do que trata cada uma dessas medidas, transcreverei o texto que li no Portal G1:


ABUSO DE AUTORIDADE (destaque apresentado pelo PDT)

Uma das propostas mais polêmicas, o destaque apresentado pelo PDT cria a punição para juízes e membros do Ministério Público Federal por abuso de autoridade. A proposição foi aprovada por 313 votos a 132. Houve ainda cinco abstenções.

ENRIQUECIMENTO ILÍCITO (destaque apresentado por PP, PTB e PSC)
Um destaque de três partidos – PP, PTB e PSC - retirou a tipificação do crime de enriquecimento ilícito de funcionários públicos e a previsão de confisco dos bens relacionados ao crime. Foi aprovado por 222 a 173 votos.

A inclusão do "abuso de autoridade" é até fácil de entender, pois pode ter sido movida por um desejo de retaliação dos investigados na Lavajato ou pelo cu na mão daqueles que podem vir a ser. Ou seja, coisa de "lavajatáveis" e "lavajatados". Mas e a retirada da "tipificação do crime de enriquecimento ilícito de funcionários públicos e a previsão de confisco dos bens relacionados a esse crime"? Essa é uma atitude bizarra demais, pois é quase uma declaração tipo "roubei sim, mas agora é meu e ninguém tasca!" É absurdamente inaceitável que a maioria dos deputados tenha votado contra a medida que previa a punição a isso. 

E aí preciso comentar um fato quase "da cozinha daqui de casa". Descobri que no meu bairro mora um sujeito que foi repórter policial durante muito tempo. Não o conheço nem nunca falei com ele (graças a Deus!). 

Pois bem, graças à visibilidade obtida, foi eleito deputado federal e está agora no primeiro mandato, se não me engano. Pois não é que o merda votou a favor da não "tipificação de crime de enriquecimento ilícito"? A única explicação que tenho para isso é que a votação do pacote varou a madrugada. Talvez estivesse cochilando quando alguém a seu lado pode ter dito que tudo acabaria em pizza à moda da casa (tudo lá quase sempre acaba mesmo em pizza) e aí gritou - "Eu quero!", apertando o botão de votação. Só pode ser isso.

Esse mané, no final de cada reportagem, terminava com esse prodígio de criatividade:
- "Se você não quer aparecer, não deixe que o fato aconteça. Lugar de bandido é na cadeia”! E agora, como é que fica?

Depois dessa delicada introdução, vamos ao serviço de inutilidade pública, indicando os deputados de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro que zombaram do Poder Judiciário e escarraram na cara do povo brasileiro. Olhaí a tabelinha:

DE PUTA DO
PARTIDO
UF
ABUSO AUTORIDADE
ENRIQ. ILÍCITO
Carlos Melles
DEM
MG
Não
Sim
Misael Varella
DEM
MG
Sim

Mário Heringer
PDT
MG
Sim
Não
Subtenente Gonzaga
PDT
MG
Não
Sim
Marcelo Aro
PHS
MG
Não
Sim
Weliton Prado
PMB
MG
Não
Sim
Fábio Ramalho
PMDB
MG
Sim
Não
Leonardo Quintão
PMDB
MG
Sim

Mauro Lopes
PMDB
MG
Sim

Newton Cardoso Jr
PMDB
MG
Sim
Não
Rodrigo Pacheco
PMDB
MG
Sim
Não
Saraiva Felipe
PMDB
MG
Sim
Não
Dimas Fabiano
PP
MG
Sim
Sim
Franklin Lima
PP
MG
Sim
Não
Luiz Fernando Faria
PP
MG
Sim
Não
Odelmo Leão
PP
MG
Sim
Sim
Renzo Braz
PP
MG
Sim
Sim
Toninho Pinheiro
PP
MG
Sim
Não
Aelton Freitas
PR
MG
Sim
Não
Bilac Pinto
PR
MG
Abstenção
Sim
Delegado Edson Moreira
PR
MG
Sim
Não
Marcelo Álvaro Antônio
PR
MG
Sim
Não
Eros Biondini
PROS
MG
Não
Sim
Júlio Delgado
PSB
MG
Não
Não
Tenente Lúcio
PSB
MG
Não
Sim
Diego Andrade
PSD
MG
Sim

Jaime Martins
PSD
MG
Não

Marcos Montes
PSD
MG
Sim
Sim
Raquel Muniz
PSD
MG
Sim
Não
Bonifácio de Andrada
PSDB
MG
Sim
Não
Caio Narcio
PSDB
MG
Sim
Sim
Domingos Sávio
PSDB
MG
Não
Sim
Eduardo Barbosa
PSDB
MG
Não
Sim
Marcus Pestana
PSDB
MG
Não
Sim
Paulo Abi-Ackel
PSDB
MG
Não
Sim
Rodrigo de Castro
PSDB
MG
Sim
Não
Dâmina Pereira
PSL
MG
Sim
Não
Adelmo Carneiro Leão
PT
MG
Sim
Não
Gabriel Guimarães
PT
MG
Sim
Não
Leonardo Monteiro
PT
MG
Sim
Não
Margarida Salomão
PT
MG
Sim
Não
Padre João
PT
MG
Sim
Não
Patrus Ananias
PT
MG
Sim
Não
Reginaldo Lopes
PT
MG
Sim
Não
Luis Tibé
PTdoB
MG
Sim
Sim
Ademir Camilo
PTN
MG
Sim

Laudivio Carvalho
SD
MG

Sim
Zé Silva
SD
MG

Sim
Francisco Floriano
DEM
RJ
Sim
Não
Rodrigo Maia
DEM
RJ
Art. 17
Art. 17
Sóstenes Cavalcante
DEM
RJ
Sim
Não
Jandira Feghali
PCdoB
RJ
Sim
Não
Walney Rocha
PEN
RJ
Não
Sim
Marcelo Matos
PHS
RJ
Sim
Sim
Alexandre Serfiotis
PMDB
RJ
Não
Sim
Altineu Côrtes
PMDB
RJ
Sim
Não
Celso Jacob
PMDB
RJ
Sim
Não
Celso Pansera
PMDB
RJ
Sim
Não
Pedro Paulo
PMDB
RJ
Sim
Não
Sergio Zveiter
PMDB
RJ
Não

Soraya Santos
PMDB
RJ
Sim
Não
Julio Lopes
PP
RJ
Sim
Não
Simão Sessim
PP
RJ
Sim
Não
Alexandre Valle
PR
RJ
Sim
Não
Clarissa Garotinho
PR
RJ
Sim
Sim
Dr. João
PR
RJ
Não
Não
Paulo Feijó
PR
RJ
Sim
Não
Roberto Sales
PRB
RJ
Sim
Sim
Rosangela Gomes
PRB
RJ
Sim
Sim
Felipe Bornier
PROS
RJ
Não
Não
Hugo Leal
PSB
RJ
Sim

Arolde de Oliveira
PSC
RJ
Sim
Sim
Jair Bolsonaro
PSC
RJ
Não
Sim
Indio da Costa
PSD
RJ
Sim
Sim
Otavio Leite
PSDB
RJ
Não
Sim
Glauber Braga
PSOL
RJ
Não
Não
Jean Wyllys
PSOL
RJ
Não
Não
Benedita da Silva
PT
RJ
Sim
Não
Chico D Angelo
PT
RJ
Sim
Não
Fabiano Horta
PT
RJ
Sim
Não
Luiz Sérgio
PT
RJ
Sim
Não
Cristiane Brasil
PTB
RJ
Sim
Não
Deley
PTB
RJ
Sim
Não
Cabo Daciolo
PTdoB
RJ
Não
Sim
Ezequiel Teixeira
PTN
RJ
Não
Não
Luiz Carlos Ramos
PTN
RJ
Sim
Não
Alessandro Molon
REDE
RJ
Não
Sim
Miro Teixeira
REDE
RJ
Não
Sim
Aureo
SD
RJ


Alexandre Leite
DEM
SP
Sim
Não
Eli Corrêa Filho
DEM
SP
Não

Jorge Tadeu Mudalen
DEM
SP
Sim
Não
Marcelo Aguiar
DEM
SP
Sim
Não
Missionário José Olimpio
DEM
SP
Sim
Sim
Orlando Silva
PCdoB
SP
Sim
Não
Baleia Rossi
PMDB
SP
Sim

Edinho Araújo
PMDB
SP
Não
Sim
Fausto Pinato
PP
SP
Sim
Não
Alex Manente
PPS
SP
Não

Pollyana Gama
PPS
SP
Não
Sim
Capitão Augusto
PR
SP
Sim
Sim
Marcio Alvino
PR
SP
Sim
Não
Miguel Lombardi
PR
SP
Sim
Não
Milton Monti
PR
SP
Sim
Não
Paulo Freire
PR
SP
Sim
Não
Tiririca
PR
SP
Sim
Não
Antonio Bulhões
PRB
SP
Sim
Não
Beto Mansur
PRB
SP
Sim
Não
Celso Russomanno
PRB
SP
Não
Não
Ricardo Bentinho
PRB
SP
Sim
Sim
Roberto Alves
PRB
SP
Sim
Sim
Vinicius Carvalho
PRB
SP
Sim
Sim
Flavinho
PSB
SP
Não
Sim
Keiko Ota
PSB
SP
Sim
Sim
Luiz Lauro Filho
PSB
SP
Não
Sim
Eduardo Bolsonaro
PSC
SP
Não
Sim
Gilberto Nascimento
PSC
SP
Sim
Sim
Goulart
PSD
SP
Não
Sim
Herculano Passos
PSD
SP
Sim
Não
Jefferson Campos
PSD
SP
Sim
Não
Bruna Furlan
PSDB
SP
Não
Sim
Bruno Covas
PSDB
SP
Não
Sim
Carlos Sampaio
PSDB
SP
Não
Sim
Eduardo Cury
PSDB
SP
Não
Sim
João Paulo Papa
PSDB
SP
Não
Sim
Lobbe Neto
PSDB
SP
Não
Sim
Mara Gabrilli
PSDB
SP
Não

Miguel Haddad
PSDB
SP
Não
Sim
Ricardo Tripoli
PSDB
SP
Não
Sim
Silvio Torres
PSDB
SP
Não
Sim
Vanderlei Macris
PSDB
SP
Não
Sim
Vitor Lippi
PSDB
SP
Não
Sim
Ivan Valente
PSOL
SP
Não
Não
Luiza Erundina
PSOL
SP
Não
Não
Ana Perugini
PT
SP
Sim
Não
Andres Sanchez
PT
SP
Não
Não
Arlindo Chinaglia
PT
SP
Sim
Não
Carlos Zarattini
PT
SP
Sim

José Mentor
PT
SP
Sim
Não
Nilto Tatto
PT
SP
Sim
Não
Paulo Teixeira
PT
SP
Sim
Não
Valmir Prascidelli
PT
SP
Sim
Não
Vicente Candido
PT
SP
Sim

Vicentinho
PT
SP
Sim
Não
Arnaldo Faria de Sá
PTB
SP
Não
Não
Dr. Sinval Malheiros
PTN
SP
Sim
Sim
Renata Abreu
PTN
SP
Não
Sim
Evandro Gussi
PV
SP
Não
Não
Roberto de Lucena
PV
SP
Não

Major Olimpio
SD
SP

Sim



MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4