Talvez pela inevitável comparação de meus poucos e parcos presentes de Natal com os que meus primos ricos ganhavam, acabei por não ligar muito para essa festa de consumo desenfreado, exceto para criticar e ironizar a troca de "lenços, meias e cuecas" que acontece todo ano. Já sei, algum espertinho comentará que "as uvas estavam verdes", mas não estou nem aí.
Isso mudou um pouco quando nossos filhos foram nascendo e passamos a comprar para eles os melhores brinquedos que podíamos, provavelmente criando assim um novo ciclo de inveja infantil em alguns de seus primos. À medida que eles foram crescendo e essa sanha paterna foi sendo apaziguada, voltei a não ligar mais para o Natal da comilança exagerada e das trocas de ... tá bom, não preciso repetir.
A única coisa que mudou nisso tudo foi uma leve e aparentemente inexplicável melancolia que passei a sentir nessa época. Pensando agora sobre tudo isso, creio ter chegado a uma explicação razoável para essa tristeza suave e difusa, indeterminada, que surge nos meses de dezembro.
No final de ano, depois que as aulas acabam, a cidade começa a apresentar um trânsito e um movimento totalmente diferente do que existe durante o ano letivo. As ruas de bairro ficam mais calmas, vazias e silenciosas, sem o frenesi de carros e vans transportando jovens e crianças para essa ou aquela escola.
Se "movimento" está relacionado a "vida" e "imobilidade" pode ser relacionada a "morte", talvez essa calma provocada pelas férias escolares e, por consequência, de alguns pais de estudantes, possa ser a chave e explicação para a história da "melancholia" que sinto nessa época.
Para uns, a aproximação de um novo ano, a mudança do calendário pode trazer esperança e excitação pelo novo, pelo que surgirá. Para outros, esse pouco movimento percebido nas ruas prenuncia o fim de alguma coisa, o balanço do ano que termina, dos desejos não concretizados, das promessas não cumpridas. Além disso, o avanço da idade e a marcha inexorável do tempo ficam mais palpáveis e perceptíveis.
Por trás da alegria e esperança contidas na saudação "adeus ano velho, feliz ano novo" fica a quase certeza de que nada mudará muito, exceto a sensação escondida e dissimulada da vida que vai se acabando pouco a pouco. Acho que essa pode ser a explicação da melancolia que muitas pessoas sentem nessa época. Inclusive eu.
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