Este texto vem sendo escrito e reescrito e sua publicação vem sendo protelada há muito tempo, obedecendo aos ciclos de depressão e alegria. Alguém mais atento talvez perceba o sentimento predominante no momento em que cada trecho foi escrito ou reescrito. Mas hoje decidi chutar este balde enferrujado, justamente por estar muito triste, cansado e deprimido, com vontade de sumir, de estar morto. Por isso, joguei minha bússola fora, entortei as pernas de meu compasso, quebrei em dois meu metro de madeira e dei marteladas na balança. Em outras palavras, não tenho mais sentido nem direção a seguir.
Há muito tempo eu
vinha maturando a ideia de desembarcar do Blogson, deixando-o à deriva, sem
piloto, comandante ou âncora. Para mim, já não fazia sentido continuar postando
se a inspiração e o desejo tinham chegado a zero. Cheguei até a rascunhar uma
despedida para o dia em que decidisse, de vez, chutar o balde.
Mas aconteceu o
inesperado: ao submeter esse rascunho ao ChatGPT para conferir se estava tudo
certo – sem erros gramaticais ou de concordância –, fui surpreendido por um
comentário dele. E o mais curioso é que isso veio de uma IA:
“Talvez você não precise abandonar o blog – só se
libertar da obrigação de mantê-lo como antes.
Permita-se postar quando e o que quiser, sem meta,
sem compromisso e sem a necessidade de ser sempre autoral. Pode ser uma frase
solta, uma música, um link, um texto de outra pessoa ou até uma lista de
compras.
O blog pode deixar de ser um dever e voltar a ser um prazer. Sem a pressão de agradar ou impressionar, você escreve e publica apenas quando sentir vontade, nem que seja raramente. O importante é que ele continue sendo um espaço seu, mas sem te escravizar.”
O blog pode deixar de ser um dever e voltar a ser um prazer. Sem a pressão de agradar ou impressionar, você escreve e publica apenas quando sentir vontade, nem que seja raramente. O importante é que ele continue sendo um espaço seu, mas sem te escravizar.”
E aí eu relaxei.
Mandei chamar o cabo corneteiro para tocar o toque de “foda-se” e decidi que
continuarei postando textos de terceiros, links de música, listas de compras,
frases sem sentido ou qualquer coisa que me der na telha – sem me preocupar em
agradar ou impressionar ninguém. Apenas pelo desejo de postar, sem data e sem
assunto.
E, para quem tiver
curiosidade, aqui está o rascunho da "despedida que não houve”, sem
formatação:
Acho que chegou o momento (um dia chegaria!) de “passar
a bola” para os blogueiros mais novos e (ins)pirados. Creio não ter mais nada a
dizer e, principalmente, nenhuma vontade de dizer. Talvez a angústia provocada
por problemas familiares tenha contribuído para isso, mas o fato é que parecem
ter sido drenadas a inspiração e a vontade de escrever alguma coisa minimamente
atraente. Isso me entristece, mas sei ter-me transformado em um burocrata do
blog, um "blogocrata" preocupado apenas em cumprir a rotina de postar
quase diariamente. Onze anos foi tempo suficiente para publicar 3.243 posts até hoje – sem contar os excluídos. Se isso foi bom ou ruim, só posso dizer que sim, foi
bom, muito bom, pois exorcizei demônios antigos, descobri alguns novos, fiz
autoterapia (blogoterapia) e me diverti bastante. Mas agora isso acabou, pois
não encontro diversão nas coisas que retiro do cérebro a conta-gotas. Nada mais
natural portanto que eu "passe o bastão" para blogueiros mais jovens
e inspirados. Continuarei a ler os blogs que acompanho, e talvez este post não
seja um adeus definitivo, talvez só um "até logo" ou "até um
dia". Mesmo assim meu sincero e eterno agradecimento a todos os leitores atuais
e aos que se afastaram. A alegria que seus comentários me proporcionaram é
indizível.
E já que vou
continuar, talvez devesse mudar o mote “o
blog da solidão ampliada” para “o
blog da irrelevância ampliada”. Mas vou deixar como está, mesmo que o blog
seja a partir de agora um Blogson Crusoe genérico, irrelevante e vira-lata. Ué, mas
isso ele já era antes!