terça-feira, 30 de setembro de 2025
DESIDERATA - ANÔNIMO
segunda-feira, 29 de setembro de 2025
QUE ÉPOCA ESSA NOSSA!
Para mim, o retorno da regra do olho por olho seria ideal, mas sem crueldade, sem o sentimento de vingança. Já li alguém dizendo que “Quem não dá a vida não tem o direito de tirá-la”. Posso estar enganado, mas esse pensamento tem um viés religioso muito grande. Experimente convencer quem mata ou manda matar de que é assim que deve proceder! Provavelmente alguém rirá na sua cara ou te chamará de retardado.
Em 2015 eu escrevi o que pensava sobre esse tipo de situação. Por preguiça e por não ter mudado minha forma de pensar, transcrevo partes do que publiquei. Antes que alguém me acuse de ter ideias nazistas, quero lembrar que abomino todo tipo de extremismo, seja ele de direita ou de esquerda, que reprovo e condeno comportamentos radicais, fundamentalistas, calcados em racismo ou ideologia ou em religião. Meu desejo, meu sonho é o bem da raça humana, de toda a espécie humana.
Mas existem casos tão escabrosos, existem criminosos tão violentos, que acredito serem eles incompatíveis com a sociedade onde vivem e onde surgiram. Um assassino serial, um homicida sádico, um estuprador recorrente, um sequestrador e um traficante são antíteses do Bem, pessoas que considero incompatíveis, imiscíveis com o resto da sociedade.
Não importa que tenham sido abusados na infância, que tenham passado fome, que nunca tenham conhecido o pai, que nunca tenham podido mudar de vida, que tenham sofrido todo tipo de violência que se noticia nos jornais, que tenham sido "vítimas da sociedade". Nada disso importa. Pelo simples motivo de que certamente existem outras pessoas com o mesmo perfil, mas que nunca se tornaram criminosos.
Eu sou contra a pena de morte. Mas só quando ela é vista e tratada como castigo, como forma de punição. Sou contra a violência, contra a crueldade, contra o sofrimento mental dos condenados. A diferença é que, apesar disso, sou a favor de sua morte, de sua eliminação (extirpação). E a lógica desse raciocínio apresenta-se a seguir.
Uma vez alguém deu de presente para minha mulher o excelente e divertidíssimo livro “Diário de um Cucaracha”, de autoria do Henfil. Para os muito novos que nunca ouviram falar dele, Henfil foi um maravilhoso cartunista, criador do Fradim e outros personagens hilariantes, que morreu em 1988 em consequência da AIDS adquirida através de transfusão de sangue contaminado, pois era hemofílico.
O presente dado à minha Amada era “masculino”, tinha o baratão na capa. Logo de cara, fui incumbido por ela de encapar o livro, pois, de outra forma, não conseguiria sequer encostar a mão nele. Como deu para perceber, minha mulher tem fobia, pavor de barata, não suporta sequer ver uma. Assim, barata em nossa casa é uma intrusa total. A aparição desse inseto provoca uma operação de localização, cerco e extermínio tão intensa, cautelosa e abrangente, que daria até um enredo bacana de filme policial.
Enquanto a barata não é morta e desovada no vaso sanitário, ninguém dorme, ninguém faz mais nada. E todos os lugares por onde ela passou têm de ser desinfetados com álcool. Se tiver vasilha na história, aí fodeu. Tudo é lavado de novo. Parece loucura, paranoia? Pode ser. O fato é que em nossa casa não há nenhuma possibilidade de coabitarmos com a velha e boa periplaneta americana. Quando vejo uma, fixo o olhar nela para não perdê-la, peço que tragam o inseticida spray e “tshiii” nela.
Que eu quero dizer com isso, afinal? Isso: eu não tenho medo de barata, não tenho raiva de barata. Apenas sei que ela e eu não podemos viver na mesma casa. Minha mulher também não sente raiva, sente horror. Por isso, quando uma dessas aparece, o pensamento é um só: “traz o chinelo aí!”
E não deixa de ser risível o fato de que a pena de morte parece estar prevista em nossa Constituição, mas só “em caso de guerra declarada". Sabia? E que “Os crimes que podem levar a essa punição estão descritos no Código Penal Militar, de 1969. Ele prevê ainda que a pena deve ser executada por fuzilamento”.
Para mim, a repressão a crimes violentos não deixa de ser uma guerra, concordam? Se tiver alguma dúvida, lembre-se das notícias que vira e mexe nos chegam do Rio de Janeiro. Por isso, como medida higiênica, profilática, usando o mesmo raciocínio da incompatibilidade de convivência com a barata (ou com o mosquito transmissor da dengue), penso que pessoas como aquelas citadas no início deste texto deveriam ser eliminadas, mortas, extirpadas, visando o bem da sociedade.
Aqueles que são contrários à pena de morte argumentam que a criminalidade não diminui nos lugares onde ela é aceita e aprovada. Pode ser. Eu até acredito nisso. Mas, repito: não vejo isso como punição; vejo como medida profilática. É óbvio que cada caso precisaria ser exaustivamente discutido, estudado, analisado antes de uma decisão. Mas, depois de tomada, deveria ser executada sem direito a recurso, sem raiva, sem vingança, sem sadismo e, se possível, sem sofrimento. Mais ou menos o que acontece com as baratas que tentam entrar em nossa casa. Por isso, não considero retrocesso mudar a legislação para contemplar esses casos. Depois, seria só dizer “Traz a chinela aí!”
domingo, 28 de setembro de 2025
DIRETO DO MANICÔMIO
Dizem os antigos (e quando eu digo “antigos” estou imaginando pessoas bem mais velhas que eu) que Medes e Tágoras eram dois incas venusianos que adoravam a Matemágica. Um dia (expressão genérica para indicar a impossibilidade da informação ser rastreada), aconteceu seguinte diálogo:
- Medes: Quê? (Estava distraído chupando jabuticabas)
- Tágoras, manifestando alguma impaciência: Tá surdo? Eu perguntei como medes um arco, um Arco, Medes! Entendeu?
- Ah, bom! Eu descobri um número mágico, o Pi
- Pi?
- Sim, o Pi, tágoras! Igual a 3,1416.
MIGRAÇÃO DE GNUS
Mesmo que você não goste de documentários sobre a vida selvagem (eu adoro), talvez já tenha visto num globoreporter da vida uma migração de animais que acontece todo ano na África. É uma imagem impressionante, épica. Segundo a sapientíssima internet, “A migração dos gnus é a maior migração de mamíferos da Terra, onde mais de um milhão de gnus e outros antílopes percorrem mais de 800 km pelo ecossistema do Serengeti-Mara (Tanzânia e Quénia) em busca de pastagens verdes e água”
sábado, 27 de setembro de 2025
SÓ RI A PERIFERIA
Se “quem tem amigo tem tudo”, mais ainda terá quem tem amigo nobre. E eu tenho! Como dizia o colunista social Ibrahim Sued, “sorry, periferia!”. Mas não quero fazer mistério. Tenho um amigo nobre, o Conde, dono do blog “Casa do Conde”. Estava sumido, provavelmente dedicado às muitas viagens internacionais que um nobre normalmente faz para afastar o tédio. Mas voltou com tudo.
sexta-feira, 26 de setembro de 2025
PARANDO DE FUMAR
Meu estado de espírito atual está no modo "corrente alternada", ora gira para um lado, ora para o outro e isso se reflete na vontade de continuar ou abandonar de vez o blog e a blogosfera. Nunca me senti tão bipolar como agora! Às vezes meu maior desejo é que eu realmente consiga me afastar, mesmo sem saber como ficarei depois, pois a realidade é tão opressora que acho até injusto querer continuar com o blog. Em outros momentos, estando mais tranquilo ou resignado, tenho vontade de continuar "blogando". Esse é o impasse.
O texto que lerão a seguir foi escrito quando eu estava no subsolo do fundo do poço da depressão. Se eu resolvesse hoje escrever sobre o mesmo tema, sairia um texto totalmente diferente. Não vou entrar aqui em detalhes sobre minha vida pessoal e familiar, pois algumas pessoas escolhidíssimas sabem do que estou passando. Então, vamos ao texto escrito no cu da depressão:
Cheguei à conclusão de que não conseguirei fazer o “desmame” do blog tal como tinha imaginado, com a publicação a cada dois ou três dias dos textos que já estavam prontos, pois isso só tem aumentado minha ansiedade. Creio que a solução terá como modelo e exemplo o ato de parar de fumar: cortar de uma vez.
Imagino que algumas pessoas que acessam o blog devem fumar (cigarros vendidos em bares e padarias, bem entendido) ou talvez tenham conseguido se livrar desse vício. Eu já fumei, todos os meus cunhados já fumaram e pararam (um pouco tarde, para alguns). Você – que nunca fumou ou conseguiu parar – já beijou a boca de quem fuma? O gosto é horroroso, diminuindo muito o prazer da troca de saliva.
Pois bem, cheguei à conclusão que preciso fazer com o blog o mesmo que já fiz e a maioria das pessoas faz para parar de fumar: só na porrada, de uma vez só. Os primeiros dias serão horríveis, a vontade de voltar será quase incontrolável, mas, aos poucos, esse desejo irá se acalmando até que o ato de fumar/postar seja só uma lembrança. E se tiver uma recaída, não tem problema. Alguns têm, outros não.
Por isso, reprogramei todos os textos que já estavam prontos e os que fui criando de forma obsessiva – como se precisasse aproveitar o ar que está se acabando – para publicação com no máximo dois dias de espaçamento entre eles. O último deverá ser publicado no inicio de outubro. Como poderão notar, o humor está extremamente oscilante, bem "corrente alternada".
Lamento que algumas pessoas tenham ficado sabendo da existência do blog só em sua fase agônica. Meu sentimento por todos/todas que seguem o blog é de pura gratidão. Agradeço especialmente à Catiahô, à Daniela Silva, ao Eduardo Medeiros, ao Eduardo Franciskolwisk e ao Fabiano Caldeira, por sempre ou quase sempre comentar o que acabaram de ler.
Peço sinceras desculpas a todas as pessoas que acessam ou acessaram o Blogson por evitar dar respostas aos comentários porventura deixados no blog. Também peço que me perdoem por não ler nem comentar as postagens dos blogs que sempre segui, pois atualmente minha mente alterna tristeza altíssima com a esperança de que tudo ficará bem para quem eu amo tanto.
Hoje eu não sou mais o que eu era até há pouco tempo. Eu era alegre e não sabia. Hoje eu apenas finjo que sou. E são essas mudanças que me levam a me desculpar com vocês. Talvez perca todos os seguidores (acabei de perder um), mas continuarei a fazer o que está mais de acordo com a turbulência em que me encontro: não comentarei mais nada, não responderei mais nada e acessarei apenas dois ou três dos blogs que sempre acessei. E o motivo, como disse, é tristeza. Nunca me senti tão triste como agora! E não é frescura nem depressão de idoso carente, a culpa é do futuro que resolveu chegar mais cedo.
Este era o texto que acreditei ser definitivo. Hoje, pensando de forma um pouco mais relaxada (hoje ninguém sofreu dor!), imaginei uma solução idiota e paliativa: reprogramar os posts antigos para a época atual. Não escreverei nada, apenas mudarei a data de publicação. Se eu mover um terço do que já publiquei, o blog terá uma sobrevida (estou odiando esta palavra!) de três anos, mas precisarei fazer isso rápido pois até lá já devo ter morrido fisicamente ou de desgosto.
É uma ideia idiota, eu sei. Mas, assim fazendo, o blog não morrerá de inanição. E mesmo os leitores mais antigos poderão rever as "velhidades". Porque uma coisa é certa: ninguém tem interesse em ler textos de autorzinho inexpressivo se tiver de entrar nos arquivos do blog. Vamos ver como fica isso depois dos últimos posts inéditos serem publicados. Talvez amanhã eu já esteja em outra vibe e queira "parar de fumar" na porrada. Em todo caso, deixo meu abraço mais carinhoso a cada um de vocês, dizendo que sempre me diverti muito com as postagens que fizeram em seus blogs e com os comentários que deixaram aqui.
Para finalizar, sugiro a quem desembarcou agora neste blog agonizante que leiam os e-books que publiquei na Amazon. Nunca pensei em ganhar dinheiro com eles (o último depósito feito em minha conta foi de R$0,01 – um centavo), apenas digo que o Jotabê que existiu – e que não existe mais – está nesses livros bobos e um pouco pretensiosos:
JUNTANDO CACOS DE MIM: ANTOLOGIA AFETIVA DE POEMAS SEM VALOR
https://www.amazon.com.br/dp/B0FFK3V4N8
NA BATEIA DA MEMÓRIA: (Crônicas, Contos e Mais Alguma Coisa)
https://www.amazon.com.br/dp/B0FK2HZ792
ALGUÉM PEDIU SUA OPINIÃO? (Um Manual De Reflexões Irrelevantes)
https://www.amazon.com.br/dp/B0FKYS6HWB
O CASO DA VACA VOADORA E OUTRAS LEMBRANÇAS: "CAUSOS" DO
PINTÃO
https://www.amazon.com.br/dp/B0DGWR7C8K
SEM MEDO DE SER ReDÍCULO: (Cuidado! Aqui Só Tem Humor de Quinta
Série!)https://www.amazon.com.br/dp/B0FHGHLSXX
NÃO ADIANTA ESPERNEAR! (Os Dezénhos Ahahvulsos de Jotabê)
https://www.amazon.com.br/dp/B0FH2XN584
NÃO ADIANTA RECLAMAR! Eu Não Sei Desenhar, Pô!
https://www.amazon.com.br/dp/B0FGDRWJK3
THE FLYING COW CASE AND OTHER UNBELIEVABLE TALES (Edição em inglês
dos casos do Pintão)
https://www.amazon.com.br/dp/B0FJ4QQTY4
quinta-feira, 25 de setembro de 2025
ADEUS À DEUSA
Não é devaneio, tampouco invenção: o tempo de tela que ela tem em "Oito e Meio" é de exatos oito minutos e meio. Podem contar - eu contei (os céticos que cronometrem; os sonhadores hoje melancólicos que me sigam).
Não terá sido nada calculado, ou metalinguístico: nem Fellini, nem o editor - ninguém deve ter planejado a duração desse recorte. Foi a poesia do celulóide, que ganha vida própria sempre que é beijado pela luz.
Só sei que naqueles oito minutos e meio em que sua serena luminosidade eclodiu pro mundo ("O Leopardo", do mesmo ano, só estrearia meses depois), Claudia Cardinale foi a mais bela mulher do planeta. Serpenteando diáfana nos labirintos da mente do Guido de Marcello Mastroiani, ela fez com que todas as outras belezas, nos cinco cantos do mundo, fossem impiedosamente eclipsadas (sim, nos cinco cantos - estou também contando o Olimpo, onde as deusas permaneceram os oito minutos e meio mudas, borbulhando de ressentimento). Só depois desse curto intervalo, quando ela saiu de cena, é que aqui e ali as belezas mundanas foram voltando a aflorar, e a graça passou a ser redistribuída com justiça e um mínimo de equidade.
Hoje ela saiu de cena pela última vez.
E o Olimpo a recebe, em festa. As deusas, outrora invejosas, agora percebem que ela, retornando pra sua origem e não mais compartilhando sua existência com os mortais, finalmente deixa de fazer sombra a elas no imaginário coletivo.
Pobres deusas. Mal sabem que aqueles oito minutos e meio duraram o necessário pra que ela ingressasse na eternidade.
RIP
PREDESTINAÇÃO
Esta notícia foi publicada em vários meios de comunicação:
(...) um laudo técnico do LACEN-RJ (Laboratório Central de Saúde Pública Noel Nutels) identificou fragmentos semelhantes a vidro em um dos lotes, o que levou à interdição de todas as unidades do produto.
quarta-feira, 24 de setembro de 2025
BACK TO BASICS!
segunda-feira, 22 de setembro de 2025
SÓ PROCESSANDO!
É estranho pensar que a Terra, este planeta tão lindo e cheio de paisagens deslumbrantes, pode ser também um lugar extremamente hostil e perigoso. E nem me refiro às grandes extinções provocadas por meteoros gigantescos ou mudanças climáticas e ambientais dramáticas. Basta lembrar das notícias sobre avalanches, deslizamentos de terra ou inundações. Sem falar dos maiores eventos naturais já registrados, tragédias que revelam o quanto a vida aqui é frágil.
Época doentia!
domingo, 21 de setembro de 2025
ASSEMBLEIA DOS MONSTROS
Hoje aconteceu uma coisa estranha: minha cunhada, com pena da pedreira que tenho encarado como homem dólar (do lar), sempre envolvido com a limpeza da casa e dos utensílios de cozinha, lavagem de roupas e suporte para minha mulher, pagou uma faxineira (excepcional) para dar um grau aqui em casa. Mas a mulher é obcecada por limpeza e toda hora me perguntava alguma coisa:
Dizem que, numa noite sem lua, o Olimpo fechou as portas para um congresso extraordinário das criaturas que os deuses preferiam esquecer. Vieram todas, das mais temidas às mais ridicularizadas.
A Esfinge, altiva, abriu a sessão com um enigma que ninguém quis resolver. O Minotauro mugiu impaciente, afirmando que a única coisa que desejava era um labirinto menos úmido. Hidra de Lerna tentou tomar a palavra, mas cada cabeça falava ao mesmo tempo, e o secretário – um Cérbero burocrático – pediu ordem, latindo em grego arcaico.
Das profundezas do mar surgiu Kraken, ainda pingando algas, reclamando que os humanos já não acreditavam nele, preferindo tubarões de cinema. Nuckelavee, aquele pesadelo das ilhas britânicas, se queixou do sol escocês que nunca lhe fazia bem à pele inexistente. E Anhangá, guardião das florestas, entrou furioso: ninguém mais o respeitava, nem os madeireiros, nem os políticos.
No fundo da sala, vampiros e lobisomens riam baixo, convencidos de que eram as únicas celebridades ainda contratadas para filmes e seriados. Górgonas reviravam os olhos, petrificando sem querer alguns estagiários.
E ali, entre resmungos e queixas, surgiu a questão central: “O que fazer para não sermos esquecidos?”
A Esfinge suspirou:
- Talvez devêssemos mudar de estratégia. Não assustar, mas seduzir. As pessoas gostam de monstros domesticados.
O Minotauro ergueu-se, indignado:
- Eu, mascote de pelúcia? Jamais!
Mas no fundo, todos sabiam: nada é mais monstruoso para uma criatura lendária do que o esquecimento.
Naquela noite, decidiram firmar um pacto: aparecer de vez em quando, discretos, em sonhos, em livros, em histórias contadas ao pé da cama. Não para devorar, mas para lembrar. Porque os monstros, afinal, também são a memória da humanidade.
E desde então, se alguma vez você sonhou com asas, dentes, tentáculos ou enigmas sem resposta… talvez tenha sido só um monstro passando para não ser apagado.
sábado, 20 de setembro de 2025
TIVE UMA RECAÍDA
Para provocar os leitores, deixo duas frases em latim (o Google traduz). Mas deixo também uma reflexão: todos sabemos que um dia iremos morrer, embora nem nos lembremos disso (ainda bem), como se tivéssemos direito à imortalidade. Tudo muda quando um choque de realidade altera radicalmente essa percepção, fazendo com que nos sintamos como os condenados de um “corredor da morte”: não sabemos quando seremos executados, mas temos a certeza de que nossa expectativa de vida é menor que a que teríamos se não estivéssemos ali.
quarta-feira, 17 de setembro de 2025
SUPORTANDO O DIA A DIA
Vou-me embora de Pasárgada
Sou inimigo do rei
Não tenho nada que eu quero
Não tenho e nunca terei
Vou-me embora de Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Ninguém nunca me alertou que viver exigiria resiliência, resignação e estoicismo, que a vida seria como uma senoide, uma montanha russa que alterna alegria e tristeza, felicidade e sofrimento de forma tão dramática. Eu não me preparei para suportar isso!
Tenho andado triste, deprimido e muito preocupado com a saúde de minha mulher e, para piorar, com a recém-descoberta doença de meu irmão – preocupações que se somam a problemas financeiros quase insolúveis – e isso me tirou o ânimo, o tesão de publicar novos posts. Por isso tenho pensado em dar um tempo, sumir da blogosfera.
Tentando aliviar a dor na alma, consegui a muito custo criar cinco posts-lixo que em outras épocas eu jamais publicaria. Mas esta é a “fase 2” do blog, a fase em que até o lixo merece consideração. Assim, programei a publicação deles a cada dois ou três dias, enquanto eu pego um uber para sair da Pasárgada do Millôr – ao menos na minha cabeça. Espero, preciso sumir por um tempo, dedicar-me ao mundo real, ao que é fundamental, tentar higienizar a mente (provavelmente sem sucesso). Chega de escapismo.
Não sei se conseguirei escapar do vórtice que me leva a esse buraco negro em que se transformou o blog, mas a partir de hoje o Blogson está no modo automático. Quanto tempo suportarei ficar longe dele? Um mês? Dois meses? Um ano? Não sei. Volto quando der vontade. Se der vontade.
domingo, 14 de setembro de 2025
ESPERANDO A FEIJOADA - PAULINHO PEDRA AZUL
Esta música foi composta por Heraldo do Monte (que faz o solo dessa apresentação, tocando uma viola de dez cordas) e tem letra de Tadeu Franco. É uma celebração do choro e dos músicos mencionados na letra. Uma feijoada deliciosa onde os pertences são instrumentistas e compositores vivos ou falecidos – sendo o albino Hermeto Pascoal o mais recente. Escutaí.
Pandeiros, cantores e flautas
Venham já, por aqui,
Comentam que faz muita falta
Do choro que vai cozinhar
Feijão é que segura o vão
Mas choro é quem manda na fome do meu coração
Que o mestre Patápio vem dar numa canja mais uma lição
Pandeiros, cantores e flautas,
Venham já (é prá já)
Tudo bem? ( tudo em paz),
Vai chorar de vez, toda santa vez
Que Hermeto for improvisar
Sutil e delicado som, num prato, num garfo
Ou no acordeon
Enquanto batucam os ingredientes lá no caldeirão
Ver em luz de neon
Chiquinha descer do céu de braço dado a Noel
Oh! Abram alas e um véu
Heraldo tira o chapéu e vem tocar
Que dá prá esquecer essa fome
sábado, 13 de setembro de 2025
MIASTENIA
Durante o tempo em que convivemos diariamente ou quase isso, meu irmão mais velho foi sucessivamente meu amigo de infância, ídolo, mentor, incentivador, companheiro de festas e roubadas, crítico e – final e infelizmente – meu desafeto. Mas nunca deixei de gostar dele. E quando eu ainda era católico praticante sempre o coloquei em minhas orações.
No próximo dia 15/09 ele completará setenta e
oito anos. Mas descobri que está com uma doença neurodegenerativa, o que me
deixou muito triste. Por isso, pedi ao ChatGPT que escrevesse um texto sobre a
marcha implacável do Tempo e fizesse um desenho que simbolizasse a fragilidade da velhice. Meu irmão
nunca saberá disso, mas fica aqui minha homenagem a quem marcou, influenciou e
moldou boa parte da minha vida.
O tempo não tem pressa. Ele trabalha em silêncio, com a precisão de um artesão cruel. Começa riscando linhas quase invisíveis no rosto, pequenas marcas que parecem inofensivas, até que um dia já são sulcos profundos, trincheiras de uma batalha perdida. O corpo, que outrora respondia com prontidão, passa a trair, vacilante, lento, como se carregasse pedras escondidas nos ossos.
Mas não
é apenas a carne que se curva sob o peso das horas. A mente, essa guardiã de
lembranças, também se rende. Nomes se dissolvem na boca, rostos outrora
familiares se tornam vultos, episódios inteiros evaporam como se nunca tivessem
acontecido. O tempo tem a maldade de não apagar tudo de uma vez: ele deixa
fragmentos, pedaços soltos, o bastante para ferir quem percebe que já não pode
recompor o todo.
E, talvez, sua crueldade maior seja essa lucidez intermitente: a consciência de estar sendo corroído, de assistir ao lento desmoronamento da própria história, como quem vê uma casa se desfazer tijolo a tijolo, sem poder deter a ruína.
sexta-feira, 12 de setembro de 2025
BIOFILME
Uma das descobertas mais desconcertantes que fiz recentemente foi o mecanismo de defesa criado por bactérias para se proteger da ação de antibióticos. Trata-se do “biofilme” – ou filme biológico, a versão microbiológica dos escudos antimísseis criados pelas grandes potências para se proteger de ataques inimigos.
quinta-feira, 11 de setembro de 2025
AQUELA VELHA OPINIÃO...
Hoje eu penso que pessoas felizes são aquelas
que já morreram. Nada as aflige, não sentem dor nem têm depressão.
Mas posso mudar de ideia sobre isso, pois se
até um ministro do STF mudou de opinião sobre quase tudo o pensava antes, por
que não posso eu mudar também?
ANÁLISE LITERAL
“Watch out now, take care, Beware of soft shoe shufflers” (Fique atento, tome cuidado com os trapaceiros de passos sorrateiros).
Logo nos primeiros versos, o sujeito poético apresenta a premissa central — todos os seus conhecidos são “campeões”, sempre vencedores, sempre corretos, como se a vida lhes fosse uma linha reta sem tropeços. A ironia é evidente: Campos denuncia a hipocrisia social, o fingimento coletivo que elimina do discurso público qualquer falha, derrota ou imperfeição.
Na segunda parte, ele desloca o olhar para si mesmo e expõe, com brutal sinceridade, seus defeitos e vergonhas. Assume-se ridículo, covarde, mesquinho, parasita, alguém que foge de confrontos e se angustia com ninharias. Essa autodepreciação, longe de ser mero exibicionismo, funciona como contraste à postura idealizada dos outros. É como se dissesse: “Eu erro, eu falho, eu sofro — por isso sou humano. E vocês?”.
Na última parte, vem o desabafo mais contundente. O poeta acusa seus contemporâneos de viverem como “semideuses”, sem jamais admitirem uma infâmia, uma covardia, um ridículo que seja. Cansado dessa encenação, ele não pede que confessem grandes crimes, mas ao menos que assumam pequenas falhas — porque só assim a vida deixa de ser essa falsa “linha reta” e passa a refletir a verdade: um percurso cheio de desvios, contradições e quedas.
O tom do poema é de indignação, frustração e tédio, mas também de desejo de autenticidade. A linguagem — carregada de anáforas, ironias e versos longos e livres — traduz a urgência e a ansiedade do sujeito lírico, que se sente isolado no meio de tantos “campeões” irreais.
Dentro da trajetória de Álvaro de Campos, Poema em Linha Reta pertence à fase mais intimista, em que o heterônimo já não é o engenheiro futurista deslumbrado com a modernidade, mas o homem abatido, desencantado e consciente de sua própria fragilidade.
Mais do que um retrato pessoal, é uma crítica social que permanece atual: vivemos cercados de discursos de sucesso, imagens impecáveis e narrativas de vitórias, como se falhar fosse proibido. Nesse contexto, o poema ressoa profundamente porque nos lembra de que só há humanidade na imperfeição.
Em última análise, Poema em Linha Reta é um convite à coragem de ser imperfeito — de aceitar nossas quedas e de reconhecer que ninguém vive apenas de glórias. Pessoa, por meio de Campos, nos mostra que assumir o ridículo é talvez o gesto mais autêntico que podemos ter diante de um mundo que insiste em posar de “príncipe”.
quarta-feira, 10 de setembro de 2025
CRÔNICA BONITINHA
Minha mulher me mandou este texto, sem indicar o autor ou autora. Achei lindo e delicado, razão principal para ser compartilhado no blog. Não sei se os leitores gostarão, mas quase aposto que as leitoras o adorarão. Lêaí.
Perguntei à minha mãe, há poucos dias, se depois de quase sessenta anos de casamento ela ainda estava apaixonada pelo meu pai.
Ela me olhou por um instante como quem procura palavras que não cabem em frases. Não respondeu. Apenas sorriu.
Mais tarde, quando cheguei em casa, encontrei no meu telefone a resposta que o silêncio dela já trazia:
“Às vezes me perguntas se ainda estou apaixonada por ele. Sorrio, não porque a pergunta é tola, mas porque a resposta não é simples. Como dizer sim — mas não como antes?
Já não é com borboletas no estômago nem fogos de artifício. É com raízes.
O amor, depois de tantos anos, já não é um furacão que te arrebata. É o chão firme que te sustenta. Não acelera o coração — acalma a alma. Não faz as mãos tremerem — dá força para levantá-las todos os dias.
Já não existem surpresas, mas existem rituais: o café tomado à mesma hora, as pequenas discussões sobre toalhas, o cobertor puxado quando o outro espirra. Não parecem grandes coisas… mas são.
Hoje, não espero gestos grandiosos. Espero que ele perceba quando minhas costas doem, que me abrace quando desmorono, que não me deixe sozinha nem quando eu mesma não sei lidar comigo.
Amar depois de uma vida inteira juntos não é como nos livros. É como ter uma língua secreta que só nós falamos. É entender o peso de um olhar cansado, a pausa no silêncio, o respirar ao mesmo tempo.
Então, sim. Ainda estou apaixonada por ele. Mas não pelo encanto do começo. Estou apaixonada por tudo o que construímos. Pela paz de saber que, em qualquer tempestade, ele ainda é — e sempre será — o meu abrigo.”
MAIS PALAVREADO – LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
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