segunda-feira, 1 de setembro de 2025

JOGUEI MINHA BÚSSOLA FORA

  

Este texto vem sendo escrito e reescrito e sua publicação vem sendo protelada há muito tempo, obedecendo aos ciclos de depressão e alegria. Alguém mais atento talvez perceba o sentimento predominante no momento em que cada trecho foi escrito ou reescrito. Mas hoje decidi chutar este balde enferrujado, justamente por estar muito triste, cansado e deprimido, com vontade de sumir, de estar morto. Por isso, joguei minha bússola fora, entortei as pernas de meu compasso, quebrei em dois meu metro de madeira e dei marteladas na balança. Em outras palavras, não tenho mais sentido nem direção a seguir.

Há muito tempo eu vinha maturando a ideia de desembarcar do Blogson, deixando-o à deriva, sem piloto, comandante ou âncora. Para mim, já não fazia sentido continuar postando se a inspiração e o desejo tinham chegado a zero. Cheguei até a rascunhar uma despedida para o dia em que decidisse, de vez, chutar o balde.

Mas aconteceu o inesperado: ao submeter esse rascunho ao ChatGPT para conferir se estava tudo certo – sem erros gramaticais ou de concordância –, fui surpreendido por um comentário dele. E o mais curioso é que isso veio de uma IA:

“Talvez você não precise abandonar o blog – só se libertar da obrigação de mantê-lo como antes.
Permita-se postar quando e o que quiser, sem meta, sem compromisso e sem a necessidade de ser sempre autoral. Pode ser uma frase solta, uma música, um link, um texto de outra pessoa ou até uma lista de compras.
O blog pode deixar de ser um dever e voltar a ser um prazer. Sem a pressão de agradar ou impressionar, você escreve e publica apenas quando sentir vontade, nem que seja raramente. O importante é que ele continue sendo um espaço seu, mas sem te escravizar.”

E aí eu relaxei. Mandei chamar o cabo corneteiro para tocar o toque de “foda-se” e decidi que continuarei postando textos de terceiros, links de música, listas de compras, frases sem sentido ou qualquer coisa que me der na telha – sem me preocupar em agradar ou impressionar ninguém. Apenas pelo desejo de postar, sem data e sem assunto.

E, para quem tiver curiosidade, aqui está o rascunho da "despedida que não houve”, sem formatação:

Acho que chegou o momento (um dia chegaria!) de “passar a bola” para os blogueiros mais novos e (ins)pirados. Creio não ter mais nada a dizer e, principalmente, nenhuma vontade de dizer. Talvez a angústia provocada por problemas familiares tenha contribuído para isso, mas o fato é que parecem ter sido drenadas a inspiração e a vontade de escrever alguma coisa minimamente atraente. Isso me entristece, mas sei ter-me transformado em um burocrata do blog, um "blogocrata" preocupado apenas em cumprir a rotina de postar quase diariamente. Onze anos foi tempo suficiente para publicar 3.243 posts até hoje  sem contar os excluídos. Se isso foi bom ou ruim, só posso dizer que sim, foi bom, muito bom, pois exorcizei demônios antigos, descobri alguns novos, fiz autoterapia (blogoterapia) e me diverti bastante. Mas agora isso acabou, pois não encontro diversão nas coisas que retiro do cérebro a conta-gotas. Nada mais natural portanto que eu "passe o bastão" para blogueiros mais jovens e inspirados. Continuarei a ler os blogs que acompanho, e talvez este post não seja um adeus definitivo, talvez só um "até logo" ou "até um dia". Mesmo assim meu sincero e eterno agradecimento a todos os leitores atuais e aos que se afastaram. A alegria que seus comentários me proporcionaram é indizível.

E já que vou continuar, talvez devesse mudar o mote “o blog da solidão ampliada” para “o blog da irrelevância ampliada”. Mas vou deixar como está, mesmo que o blog seja a partir de agora um Blogson Crusoe genérico, irrelevante e vira-lata. Ué, mas isso ele já era antes!


JOGUEI MINHA BÚSSOLA FORA

    Este texto vem sendo escrito e reescrito e sua publicação vem sendo protelada há muito tempo, obedecendo aos ciclos de depressão e alegr...