terça-feira, 28 de agosto de 2018

ANTI-LUETICO?

Na minha infância, várias vezes ouvi meu pai falar de “Tapayuna”, nome escolhido para um produto criado por seu irmão mais velho, um apaixonado pela mística dos nomes e temas indígenas. Imagino ter sido esse medicamento o carro-chefe dos produtos fabricados pelo laboratório farmacêutico de propriedade da família.

Meu pai até guardava um recorte de jornal que, além da foto em que ele aparecia ao lado da Emilinha Borba, tirada quando ela - no auge de seu sucesso -,  se apresentou em BH, trazia ainda uma declaração da cantora louvando os benefícios do remédio. Segundo ele me disse, tratava-se de notícia paga. O engraçado é que minha mãe tinha ciúmes desse encontro, um contato que provavelmente não deve ter durado mais que cinco minutos.

Esse recorte provavelmente está com meu irmão, que fez uma limpa nos papeis guardados por nosso pai, depois de sua morte. Da mesma forma, estão com ele rótulos que descobriu no meio da papelada, usados nos demais produtos fabricados no laboratório da família. Quando ainda nos falávamos, ele disse que faria pastas com esses rótulos e daria uma para mim e outra para nossa irmã. Vou ver se me lembro disso quando nos falarmos no "Centro Espírita Oriente".

Recentemente, na falta de coisa melhor para fazer, resolvi tentar achar na internet alguma coisa relacionada ao tal “elixir" Tapayuna. Pesquisei, pesquisei e não achei nada, mesmo tratando-se de um produto que teria sido anunciado na parte interna dos bondes que circulavam pela cidade.

Pois bem, de tanto insistir, acabei achando a transcrição de duas páginas do Diário Oficial da União com pedidos de registro de marcas comerciais, etc.. Nessas páginas são mencionados o Tapayuna e o nome de meu tio. Pelo que  pude observar, deve ter sido utilizado o OCR no processo de escaneamento dos originais, pois nos textos há várias letras trocadas em virtude de sua semelhança, tipo “r” e “n”.

O curioso dessa história é que acabei descobrindo se não o nome comercial, pelo menos para que servia o tal “elixir”: “Anti-Luetico Tapayuna”. Segundo o Dicionário do Aurélio, "luético" é um adjetivo "relativo à, ou da natureza da lues". E "lues" é sinônimo de sífilis. O Tapayuna era um medicamento para tratamento de sífilis!

E aqui cabe um comentário: embora não saiba quando começou sua comercialização, o registro da marca do produto foi concluído em 1938. Já a penicilina, descoberta em 1928 e primeiro antibiótico realmente eficaz no tratamento dessa doença, só ficou disponível (segundo a Wikipédia) para uso em massa no ano de 1941. Imagino que meu pai e seus irmãos, com o sucesso e eficácia da penicilina, devem ter ficado com aquele gosto de gol anulado, pois "perderam o jogo". Em 1950, ano em que nasci, creio que o laboratório já tinha ido para o espaço, levando junto com ele os sonhos dos irmãos.

Tio Delvaux morreu em 1964, aos setenta anos. Palavras de minha irmã: "Por todas as informações que consegui obter (...) deduzo com bastante probabilidade que ele, tio Delvaux, depois da recessão pós-guerra que culminou na falência dos negócios, desenvolveu um depressão severa que na Medicina chamamos Transtorno Depressivo Maior e não se recuperou mais".

A título de curiosidade, as imagens "print screen" das informações que consegui encontrar na internet:








A SOLUÇÃO


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

ESPELHO, ESPELHO MEU!


Imaginei o Bolsonaro tendo um pesadelo: ao olhar-se no espelho, em vez de sua imagem refletida o que vê é a da Gleisi Hoffmann. Assustado, diz em voz alta:

- “Onde é que eu estou? Essa aí é uma mulher! Sou macho, pô!” E a imagem responde:

- “Não se preocupe, no espelho o que é direita aparece como esquerda, o que é esquerda vira direita”.

- “E o que significa isso? Além do mais, você é mulher!

- “Significa que somos igualmente radicais, não temos moderação e equilíbrio no falar ou no pensar, só que você é de direita e eu sou de esquerda”.

Aí o Bolsonaro acorda e vê aliviado que não mudou nada.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

UM AUSENTE - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Estava pensando em escrever um texto que repetiria várias vezes a expressão “Tenho saudade, senhor”. Imaginei um homem idoso, um velho sentado em um banco de praça, dialogando com alguém imaginário. Depois pensei que seria interessante esse homem conversando com a estátua do Carlos Drummond que fica no calçadão da praia de Copacabana.  Resolvi procurar a imagem dessa estátua (fácil de encontrar), mas acabei “trombando” com uma em que ele aparece ao lado de Pedro Nava. Mais um pouco e apareceu um poema escrito pelo Drummond após o suicídio do memorialista. Aí acabou a vontade de escrever meu texto anêmico, pois a emoção contida no poema se impôs. E é ele que engrandece e dá sustança a este pobre blog. Haja coração!


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.



SORRIA!


quarta-feira, 22 de agosto de 2018

CAPISCE?

Toda vez que um novo papa precisa ser escolhido, a imprensa começa a especular quais são os “papabile”, quais são os cardeais com maior probabilidade de ser eleitos. O único critério que precisa ser observado é que os favoritos não podem ter mais de oitenta anos. Pode ser o cara mais indicado, com mais qualidades, etc., pode ser até o J Cristo, mas se tiver mais de oitenta anos, acabou, “è finita”.

Essa situação me ocorreu ao pensar nas pesquisas de intenção de voto para os presidenciáveis de 2018. Para mim, se um dos candidatos está inelegível, não faz o menor sentido incluí-lo em pesquisas. Seria o mesmo que incluir na lista dos “papabile” um cardeal com noventa anos. Não tem sentido, “capisce”?

Imagino que os “especialistas” em Direito Constitucional (especialização feita em mesa de botequim) dirão que “de acordo com o inciso MCML do artigo tal da Constituição, a inelegibilidade de alguém dependerá da interpretação do STE bla bla bla”. Um conhecido meu veio com essa conversa. Talvez os puristas e os juristas tenham razão, mas essa zona nunca poderia existir.

Duvido que exista algum país no mundo civilizado que tenha uma legislação tão manca, tão sujeita a interpretações conflitantes. O Brasil já foi chamado de “república de bananas" e, para mim, voltou a ser. Só que antes a expressão ironizava o país. Agora, para mim, banana é sinônimo de idiota. Ou seja, somos um país de idiotas. Pior, somos um país de idiotas perplexos. E o país virou um puteiro.

domingo, 19 de agosto de 2018

QUESTÃ DE PRENÚNCIA


Tem havido alguma confusão na área petista sobre quem é o candidato do partido à presidência, quem será seu vice, etc. Para mim, isso é só uma “questã de prenúncia”.

A história é a seguinte: perguntaram ao Lula qual seria o papel do Fernando Haddad nesta eleição e ele respondeu: "VICE".

Aí alguém falou: "E a Manuela D'Ávila?" E o Lula disse: "VIXE !"

Essa é a razão de existir um candidato presidiário, um vice que será candidato a presidente e uma vice do vice. Entendeu?

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

ERA PARA SER UM COMENTÁRIO


Este texto é uma expansão do post “Receitas de pai” e uma (longa) resposta ao comentário feito por meu amigo virtual e imperador do blog “A Marreta do Azarão”. Bora lá.

Como disse no post citado, tenho dificuldade de conviver com ideias preconcebidas, comportamentos robotizados e conceitos e imagens estereotipadas. Imagino que se vivesse na Idade Média teria sido queimado por heresia ou coisa parecida. Incomodam-me as imagens idealizadas e comentários piegas e cheios de amor filial dos dias das Mães e dos Pais.  O pai ou a mãe podem ter sido carrascos, cruéis, sádicos ou indiferentes durante a infância de seus descendentes, podem ter dado surras em crianças indefesas, batendo com cinto, dando palmadas, chineladas, tamancadas, vassouradas, pauladas, beliscões, murros ou tapas na cara, podem ter espancado isolada ou coletivamente seus filhos, podem tê-los humilhado, ridicularizado ou destroçado sua autoestima, que não faz diferença. Basta se tornar adultos para que as surras, castigos e humilhações da infância virem piadas e comentários jocosos nas reuniões de família. É como se os filhos tivessem perdido a memória e recriassem a realidade esquecida. Acho esse comportamento uma maluquice. O pior é que já ouvi várias histórias sobre isso.

Uma das histórias mais bizarras que já ouvi foi contada entre risos por um filho muitas vezes “exemplado”. Segundo ele, o pai deixava dependurados atrás da porta dois “instrumentos de correção”: uma tala de couro e um chicote fino, usadas sempre que um dos filhos merecesse uma correção. Quando estava de bom humor, mandava que o “condenado” escolhesse com qual artefato queria apanhar. Quando o pai estava de mau humor ou a falta era mais grave que o normal, quem escolhia era o pai. Os filhos logo perceberam que a tala, por ser mais larga, apesar de arder mais no início, diluía o impacto da pancada graças à maior área de contato com a pele. Com o chicotinho acontecia o contrário, pois as marcas e vergões ficavam visíveis e doloridas por mais tempo. Por isso, sempre que podiam, escolhiam apanhar de tala. Muito bom!

Ouvir essas histórias sempre me deixaram espantado, pois nunca apanhei de meus pais. Podiam ter defeitos (e tinham), podem não ter deixado bens e propriedades para mim, mas sempre, sempre, sempre me senti amado e valorizado por eles. Raríssimas vezes minha mãe deu algum beliscão ou um tapa no braço, mas meu pai nem isso fez. O que ele fazia era falar. Falar muito. Por longo tempo. Falar de uma forma que me martirizava, que me deixava arrasado. Depois de algum tempo, pedia desculpas (o que me deixava putíssimo. Se era para pedir desculpas depois, por que ser tão ferino, por que cortar com palavras?). Talvez por isso, sempre lamentei não ter apanhado de meus pais.

O fato de não ter apanhado na infância teve enorme influência depois de me tornar pai, pois sempre tive mania de racionalizar meus comportamentos. Por isso, por odiar ter ouvido palavras ferinas e cortantes na infância e por não ter apanhado fisicamente, resolvi “conscientemente” que era melhor bater em meus filhos sempre que fosse necessário. E bati. Bati sem motivo, por motivo fútil, sem raiva, com raiva, equivocadamente, cruelmente. Bati em crianças lindas, adoráveis e indefesas! Até hoje isso me queima por dentro. Ainda que eu vivesse mil anos, não conseguiria nunca apagar a dor e o arrependimento que essas lembranças provocam.

Não bastasse isso, ainda fui um pai ausente e displicente, pois pouco brincava com meus filhos (mesmo que me pedissem), dormia sentado quando deveria estudar com eles, ralhava sem necessidade. Por isso, fico incomodado quando vejo alguns filhos endeusando pais que os ignoraram, humilharam ou agrediram bárbara e cruelmente na infância. Quando vejo velhinhos e velhinhas sorridentes ao lado de filhos atentos e amorosos, murmuro para mim mesmo: - “Me engana que eu gosto!” Raramente percebo alguém que manteve acesa a revolta pelos maus tratos sofridos. Só uma vez ouvi uma senhora dizer mais ou menos isso de sua mãe:
- “Não é por ter envelhecido que ficou boa! Minha mãe sempre foi má. E continua assim até hoje”.

Pensando nessas coisas e nesses casos, pensando em mim e em pais que conheci, resolvi escrever alguma coisa que ironizasse essa idealização de pais nada idealizáveis. A coisa começou a sair em forma de versos muito ruins e foi se ampliando. Cada estrofe terminada parecia pedir uma nova. E as rimas eram muito pobres, coisa de gente ignorante e caipira. Era um poema que estava ficando longo e eu não sabia como terminá-lo.  Por isso, surgiu a ideia de transformar cada estrofe em uma “receita de pai”. Só assim eu consegui interromper o texto. Então, meu caro Marreta, era mesmo para ser um poema, mas fiquei com vergonha do resultado.

Quanto ao fato de existirem pais que não agridem seus filhos, isso faz com que eu tenha um fiapo, uma linha, uma molécula de esperança na humanidade. Por isso, meu caro Marreta, aceite meu agradecimento pelo comentário imerecidamente elogioso e minha admiração e desejo de que continue a ser esse pai que diz ser. Fui.

RECEITAS DE PAI

Um dos muitos clichês que usamos no dia a dia é que "filho não vem com manual de instruções". Puro clichê. E equivocado, pois o que mais se vê é livro sobre como cuidar do pimpolho. O que realmente vem sem manual é a paternidade. Não há consenso sobre como ser um bom pai. Deve ser essa a explicação para a existência de todo tipo de pai.

Há os espancadores (eu fui um desses), os ausentes (idem), os displicentes (ibidem), os impacientes (olha eu de novo), os violentos, os sádicos, os intolerantes, os cínicos, os desonestos, os hipócritas, os perversos, os pervertidos, os opressores, os alcoólatras, os drogados, os idealizados (esses são os piores) e por aí vai, pois a lista é longa.

Dia desses comemorou-se mais um "Dia dos Pais", ótima data para os comerciantes de lenços e meias (pensando bem, isso é presente de Natal). Nessa data todo pai ganha o carimbo de bom pai, de pai amoroso. Os filhos se emocionam ao lembrar a barra que foi a infância e de "como era bom etc., etc."

Como tenho dificuldade de aceitar comportamentos e pensamentos estereotipados, resolvi elaborar algumas "receitas de pai" para pais muito comuns. Melhor dizendo, receitas extraordinárias para pais muito ordinários. Vê aí.

RECEITA 1
Ser pai é chegar de outra noitada
embriagado e de cara amarrada
protestar pela comida preparada
que há horas o espera, destampada

RECEITA 2
Ser pai é chegar da cachaçada
reclamar desta vida desgraçada
zombar da filha que o olha assustada
que o aguarda para sentir-se abraçada

RECEITA 3
Ser pai é agir como um demente
Para os filhos mostrar-se sempre ausente
Comportar-se de modo inconsequente
Estupidamente, ridiculamente deprimente

RECEITA 4
Ser pai é ficar na arquibancada
a ver jogos que não passam de pelada
ameaçar a companheira encurralada
dizendo aos berros que vai moê-la na porrada

RECEITA 5
Ser pai é cobrar tudo e não dar nada
que vê família como sendo sua boiada
que diz aos filhos que sua mãe não vale nada
que vai fazer com que ela fique desdentada

RECEITA 6
Ser pai é espancar um inocente
envergonhar o filho adolescente
é crer-se PAI em sua visão autoindulgente
e emocionar-se ao ganhar algum presente




domingo, 12 de agosto de 2018

SER PAI - ENO TEODORO WANKE


Quebrando o recesso:

Eu sempre tive alguma impaciência com as convenções sociais. Se não todas, pelo menos com algumas. Por exemplo, “dia disso”, “dia daquilo” sempre me causaram incômodo, justamente por acreditar que não há data certa para exprimir, demonstrar ou exibir sentimentos. Por isso mesmo, “Dia das Mães”, “Dia dos Pais” e congêneres – talvez pela abordagem e apelo comercial que recebem – não merecem muito respeito de minha parte. Para mim, dia de dizer “Eu te amo”, de demonstrar carinho é (ou deveria ser) todo dia, não precisaria (nem precisa!) de data marcada.

Mas hoje é “Dia dos Pais”. Eu e minha lynda mulher tivemos a imensa alegria de poder conviver com nossos filhos, com filhas do coração e netinhas. Foi demais! Mas não por ser o “Dia dos Pais”. Foi demais por tê-los conosco, por conversar e rir com eles, por dar e receber abraços. E isso é bom, é maravilhoso em qualquer um dos 365 dias do ano!  

Mas hoje é “Dia dos Pais”! Por isso, resolvi fazer uma “homenagem” a meus coleguinhas. E a forma que encontrei foi através da poesia (tudo fica melhor com poesia!). Não uma poesia qualquer, mas uma poesia-paródia (é, isso existe!), feita em cima do soneto “SER MÃE” (aquele que diz “ser mãe é desdobrar fibra por fibra o coração”, etc.). O título é “Ser Pai”. E o autor é Eno Teodoro Wanke. Vê aí.

Ser pai é desdobrar, libra por libra,
a bolsa, amanhecer com o fedelho
ao colo — ir trabalhar de olho vermelho,
mas aguentar a provação com fibra!

Ser pai (melhor diria o velho Coelho)
é ouvir a gritaria como vibra,
não ver quando o orçamento se equilibra,
pegar até mania de conselho...

Ser pai é dar palmadas em fundilhos,
depois se arrepender, mimar os filhos,
e ver que assim não adiantou palmada...

Ser pai é padecer dando um sorriso,
ser pai é ter a vida abagunçada,
ser pai é ter carência de juízo!

E agora, de volta ao recesso.


quinta-feira, 9 de agosto de 2018

I'LL SEE YOU IN MY DREAMS, I'LL SEE YOU IN MY NIGHTMARES


Graças à minha tendência a adotar comportamentos obsessivo-compulsivos, tenho acessado o Blogson e meu perfil do Facebook umas trinta vezes por dia, no barato. Isso tem provocado um puta isolamento (meu em relação aos familiares), pois passo a maior parte do tempo livre em frente ao monitor, quase não tenho lido nada e acabei agora há pouco de criar um atrito involuntário com um "amigo de "facebook" que conheço há décadas (malhei o Bolsonaro).

Esse tipo de comportamento tem um componente altamente tóxico e indesejável. Já nem ligo para a crescente falta de assunto ou para a ausência de comentários. Só sei que quero voltar a viver no mundo real. Por isso, vou dar um tempo no blog e no Facebook. Quanto tempo? Não sei, sinceramente (se bobear, pode ter a duração de um dia apenas, mas não é isso que desejo).

O que pretendo fazer? Vou ler um livro que me emprestaram sobre história da arte, assistir vídeos musicais no Youtube, creio que vou trocar as cordas do meu violão e ficar tocando alguma tranqueira antiga e talvez comprar um bloco de desenho e ficar "malfazendo" desenhos toscos. “See you later, alligator”.


terça-feira, 7 de agosto de 2018

"QUO USQUE TANDEM", CÍCERO?

Não sei se já postei essas frases. Se já, peço desculpas aos 2,3 leitores desta bagaça, pois não tive saco para verificar a eventual repetição. Só resolvi transformá-las em novo post graças a (mais) uma divergência surgida no Facebook sobre a autoria de determinada frase (“Aos amigos tudo, aos inimigos os rigores da lei”). Naturalmente, sem esquecer as várias formas encontradas na internet. Na falta do que fazer, resolvi pesquisar quem teria sido o autor da tal frase. Depois de descobrir que até a Cícero, cônsul romano, era atribuída uma das versões, desisti. Mas resolvi divulgar uma lista de frases super legais atribuídas ao autor das "catilinárias" ("Quo usque tandem, etc. etc.")


A dedicação contínua a um objetivo único consegue frequentemente superar o engenho.

A filosofia é o melhor remédio para a mente.

A ignorância é a maior enfermidade do gênero humano.

A inimizade é a ira à espera da oportunidade de vingar-se.

A minha consciência tem mais peso pra mim do que a opinião do mundo inteiro.

A vida feliz consiste na tranquilidade da mente.

As lagrimas secam depressa, especialmente quando se trata das tristezas dos outros.

Assim como gosto do jovem que tem dentro de si algo do velho, gosto do velho que tem dentro de si algo do jovem: quem segue essa norma poderá ser velho no corpo, mas na alma não o será jamais.

Casa sem livros, corpo sem alma.

É de admirar que um adivinho não ria ao ver outro adivinho.

É erro supor que os efeitos da guerra sejam maiores que os feitos da paz.

Embora seja curta a vida que nos é dada pela natureza, é eterna a memória de uma vida bem empregada.

Está em nossas mãos apagar inteiramente da nossa memória os infortúnios e as recordações desagradáveis.

Justiça extrema é injustiça.

Não basta adquirir sabedoria; é preciso, além disso, saber utilizá-la.

Não nascemos apenas para nós mesmos.

Nenhum dever é mais importante do que a gratidão.

Ninguém é tão velho que não pense em poder viver mais um ano.

Ninguém será generoso se não for, ao mesmo tempo, justo.

No fundo de mim, estou eu.

No meio das armas, calam-se as leis.

Nunca estou mais acompanhado do que quando estou sozinho.

O hábito de tudo tolerar pode ser a causa de muitos erros e de muitos perigos.

O melhor tempero da comida é a fome.

Ó tempos, ó costumes!

Os homens são como os vinhos: a idade azeda os maus e apura os bons.

Os sonhos são como os deuses. Se não se acredita neles, eles deixam de existir.

Os velhos não devem nem se apegar desesperadamente nem renunciar sem razão ao pouco de vida que lhes resta.

Para quem aspira ao primeiro lugar, não é indecoroso parar no segundo ou no terceiro.

Para se ter vida longa é preciso viver devagar.

Perdemos o apetite de viver quando nossas paixões são saciadas.

Por certo, os que não obtêm dentro de si os recursos necessários para viver na felicidade acharão execráveis todas as idades da vida.

Prefiro a paz mais injusta à mais justa das guerras

Prudência é saber distinguir as coisas desejáveis das que convém evitar.

Quanto melhor é uma pessoa, mais difícil se torna suspeitar da maldade dos outros.

Se temos uma biblioteca e um jardim temos tudo.

Somente os idiotas se lamentam em envelhecer.

Um bom amigo é mais digno do que cem familiares.

Um coração agradecido não é somente a maior das virtudes, ele é a origem de todas as outras.

Viver feliz não é mais do que viver com honestidade e retidão.






domingo, 5 de agosto de 2018

ARQUIVO PERDIDO


O homem chega em casa, tira a roupa e os sapatos, cumprindo um  ritual adquirido toda vez que vai ao cemitério. Enquanto espera que a mulher tome banho para que possa fazer o mesmo, esparrama-se pensativo no sofá. Mais uma noticia de falecimento, mais um velório. Avós, pais, tios, primos, parentes distantes, cunhados, amigos, colegas, conhecidos, vizinhos e até mesmo desconhecidos. A quantos já terá ido? Cinquenta? Cem? Não faz ideia. Só sabe que têm ficado mais frequentes, prenunciando talvez que o seu próprio não esteja tão distante.

Mas o enterro de hoje trouxe pensamentos que não tinham lhe ocorrido ainda. O falecido, um senhor com mais de noventa anos, tinha o apelido de Zuzu. Aqui cabe um parêntese: como chamar alguém de "Senhor Zuzu"? Não combinava a circuspecção do tratamento "Senhor" com a sonoridade infantil do apelido.


"Zuzu" era primo de sua sogra. Aliás, primo por adoção, pois era sobrinho da madastra da sogra. Devido ao "parentesco" e aos laços afetivos que uniam os "primos", algumas vezes teve oportunidade de encontrar Zuzu na casa da sogra, ocasiões em que trocavam sorrisos à guisa de cumprimento, mas nunca teve o menor interesse de  conversar com o homem que acabara de ser enterrado.

A explicação para isso talvez fosse a diferença de idade entre eles e o comportamento tímido e discreto do mais velho. Talvez fosse a presunção e arrogância do mais novo de acreditar que não haveria nada de interessante em manter uma conversa com aquele senhor tímido, discreto e com apelido meio ridículo. Falariam de quê? De futebol? Detestava. Do clima? "É, está precisando chover", coisas assim. De política? Ora, faça-me o favor! Não, nunca esteve interessado em ouvir o que aquele senhor baixinho e gordinho poderia lhe contar.

Mas, um dia, no penúltimo velório a que compareceu, calhou de assentar-se ao lado do "primo" de sua sogra. Para não ficar aquele silêncio de velório entre eles - na verdade, velório é um dos lugares onde mais se conversa, onde os registros familiares são atualizados ("Fulano casou", "Sicrana já está com três netos"). Casamentos, separações, doenças graves, nascimentos, de tudo se fala e comenta - começou a puxar assunto com o Zuzu

Lembrou os casos de outro "parente" de sua sogra, já falecido, conhecido por "Vovô Catapreta". Apesar do velhinho carinhosamente receber o tratamento de avô, o "parentesco" era ainda mais surreal, pois "Vô Catapreta" era padrasto da madrasta da sogra!

Conversa vai, conversa vem, Zuzu contou uma historieta saborosa sobre o velho Catapreta:

- Catapreta, no fim da vida, morava com seu enteado. A esposa do enteado regulava muito os passos do "sogro", impedindo-o de beber cachaça, sua bebida preferida. Toda vez que eu ia visitá-lo, ele me perguntava se gostaria de tomar uma cachacinha com ele. Quando aceitava, ele ia até o quintal e tirava de um buraco do chão uma garrafa que ele mantinha enterrada para escapar da "revista" da "nora".
Achou graça nessa história, mas tiveram de interromper a conversa, pois haviam começado os preparativos para o sepultamento do amigo comum.

Lembrando-se do episódio, o homem lamentou nunca ter percebido o potencial estoque de casos familiares divertidos que talvez o finado Zuzu possuísse e quisesse compartilhar com quem fosse capaz de despir-se da própria arrogância e pudesse ouvir com atenção o que aquele senhor baixinho e gordinho teria a dizer.

A esposa saiu do banheiro, dando chance a ele de tomar um banho para tirar do corpo "a poeira do cemitério". Enquanto se ensaboava, ficou pensando nos arquivos de computador. Você pode abri-los e examinar seu conteúdo quantas vezes quiser. Um dia, porém, sabe-se lá por qual motivo, um desses arquivos é corrompido e você o perde, pois nunca mais poderá utilizá-lo nem recuperar os dados nele contidos. E só poderá lamentar não ter feito backup das informações perdidas. E concluiu que as pessoas são como esses arquivos. Um dia, sem aviso prévio, recebemos a notícia de seu falecimento. E só poderemos lamentar não ter tido mais contato e conversado mais com quem agora é apenas um arquivo perdido.


sexta-feira, 3 de agosto de 2018

NASCI EM OUTRO PLANETA


O Facebook forneceu mais uma evidência de que devo ter nascido mesmo em outro planeta. Não sabiam dessa minha suspeita? Vamos às provas mais antigas já coletadas:


- Detesto gosto de cerveja (desde 2014 não bebo mais NENHUMA bebida alcoólica);

- Não fumo nem uso drogas ilícitas (leite com Toddy ainda está liberado);

- Carne de churrasco para mim deve ser tipo carvão (para mim, picanha mal passada com aquela capa de gordura amarela é ofensa);

- Não curto futebol (não assisto nem os jogos da seleção);

- Detesto música sertaneja e odeio funk.


Depois dessas evidências claríssimas de que vim de Marte, descobri mais uma:

- Eu devo ser a única pessoa (ou das raras) que lê "textões" no Facebook. E tem mais: leio também TODOS os comentários feitos nos posts a que tenho acesso, por mais idiotas que sejam (e como têm...).

Resumindo: devo mesmo ser um ET desembarcado na Terra, um Clark Kent sem super poderes e sem Lois Lane. “Fly me to the moon”...

A KICK IN THE BALLS - 14


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