Estava pensando em
escrever um texto que repetiria várias vezes a expressão “Tenho saudade, senhor”. Imaginei um homem idoso, um velho sentado
em um banco de praça, dialogando com alguém imaginário. Depois pensei que
seria interessante esse homem conversando com a estátua do Carlos Drummond que
fica no calçadão da praia de Copacabana.
Resolvi procurar a imagem dessa estátua (fácil de encontrar), mas acabei
“trombando” com uma em que ele aparece ao lado de Pedro Nava. Mais um pouco e
apareceu um poema escrito pelo Drummond após o suicídio do memorialista. Aí acabou a
vontade de escrever meu texto anêmico, pois a emoção contida no poema se impôs.
E é ele que engrandece e dá sustança a este pobre blog. Haja coração!
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
Esse é um dos meus textos favoritos do Carlos. Sim, eu prefiro Carlos porque que me parece que esse homem franzino, de aspecto tão frágil tanto um quanto demasiadamente delicado, como se a qualquer momento sob qualquer singularidade natural pudesse sucumbir. Este homem existe num contexto das suas próprias palavras que o contrapõe por uma força suprema,com essa voz grave que fala de extremos que não se sabe se vem de baixo, de cima ou de dentro e que num minuto fora, era e mesmo agora é.
ResponderExcluirAcho que você vai gostar do filme "O último poema" inspirado na troca de cartas entre uma fã e o próprio Drummond que durou, pasme, 24 anos.
Você comentou com a leveza de um poema.
Excluir"Esse é um dos meus textos favoritos do Carlos.
Sim, eu prefiro Carlos porque que me parece
que esse homem franzino, de aspecto tão frágil
tanto um quanto demasiadamente delicado,
como se a qualquer momento
sob qualquer singularidade natural
pudesse sucumbir.
Este homem existe num contexto das suas próprias palavras
que o contrapõe por uma força suprema,com essa voz grave
que fala de extremos que não se sabe se vem de baixo,
de cima ou de dentro e que num minuto fora,
era e mesmo agora é".