O post de hoje foi escrito como carta endereçada
a um jovem. Acabei desistindo de entregá-la, pois o destinatário não é meu filho.
Mas guardei. Hoje, relendo o texto que escrevi, percebi que ele é meio papo-cabeça,
tem algumas lembranças de infância, misturado com papo sério. Ou seja, é bem a cara
do Blogson. Por isso, como este blog é meu e eu faço dele o que bem entender, resolvi
postá-lo na seção Falando Sério. E criei um título, coisa que não tinha antes.
Se algum jovem quiser vestir a carapuça, tudo bem. Se nem conseguir entender direito o que leu, tudo bem também. Como disse uma vez o Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF, não estou nem aí. Mas, pela pertinência do assunto e para dar alguma elegância ao texto, acrescentei um trecho da letra da música “Samba da Benção”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, que não existia na carta original.
Se algum jovem quiser vestir a carapuça, tudo bem. Se nem conseguir entender direito o que leu, tudo bem também. Como disse uma vez o Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF, não estou nem aí. Mas, pela pertinência do assunto e para dar alguma elegância ao texto, acrescentei um trecho da letra da música “Samba da Benção”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, que não existia na carta original.
Feito essa gente que anda por aí brincando com a vida
Cuidado, companheiro! A vida é pra valer. E não se engane não, é uma só
Duas mesmo que é bom ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo”
Vou começar essa “conversa” lembrando uma música
que diz assim: “nada sei desta vida,
nunca saberei”. Você pode perguntar por que estou escrevendo isso, mas a resposta
é muito simples: porque eu me preocupo com as pessoas de quem gosto.
Eu já disse algumas vezes aos meus filhos que não sou exemplo de vida para ninguém, pois, sempre vivi frivolamente, de forma amadorística, displicente, irresponsável. E tem um papo aí que diz que se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia. Então, não vou tentar dar conselhos, vou contar um pouco da minha história, para ver se você encontra alguma sintonia.
Eu morava na casa de minha avó materna, em um bairro de classe média baixa, perto de dois campos de futebol de várzea. Quando fui autorizado a sair sozinho de casa, era para lá que me dirigia. A meninada da redondeza também ia para lá, que era o lugar ideal para se jogar “finca” e bolinha de gude, soltar papagaio e, naturalmente, jogar futebol.
Sendo muito tímido e inseguro, era às vezes alvo de gozações e ameaças dos meus “amigos”. Afinal, a partir dos seis, sete anos, eles já vagabundeavam por ali sozinhos, livres, o dia todo. Ou seja, eles tinham quatro anos a mais de malandragem que eu e não tinham hora para voltar pra casa. E isso fazia enorme diferença, pois eram craques nas peladas disputadas com bolas de plástico ou borracha (bola de couro era muito difícil de encontrar naquele lugar de gente muito pobre).
Um dia meu irmão ganhou de presente uma bola de couro, pequena, fodidinha, mas de couro. A partir daí sempre éramos convidados a jogar futebol. Para equilibrar, meu irmão ficava em um time e eu no outro (éramos pernas de pau). Normalmente, me empurravam para o gol, para não atrapalhar. Mas bastava algum menino de fora chegar com outra bola de couro, que os times eram imediatamente refeitos e a bola devolvida ao meu irmão. Como ele não iria mais jogar (pois teria que tomar conta de sua bola), eu era tirado do time, coisa que me deixava puto. A partir de algum tempo, passei a não ligar para futebol.
A médio prazo isso foi até bom, pois fez com que eu progressivamente me afastasse dessa molecada. Como morávamos na parte mais pobre do bairro, meus companheiros eram igualmente pobres, filhos de gente humilde, pobre e sem estudo. Muitos desses “amigos” eram repetentes, outros pararam de estudar ainda no ensino básico ou logo após sua conclusão.
Como morei lá até me casar, pude ver em que se transformaram: um virou fotógrafo de batizados e casamentos, outro enlouqueceu, um foi morto no início da adolescência, vários se tornaram apenas desocupados, encostados nas portas dos bares. Nenhum continuou os estudos, nenhum fez faculdade.
Que eu quero dizer com isso? Que eu dei sorte de ter me afastado dos meus antigos companheiros de infância. Senão, a chance de ficar igual a eles seria muito grande. Tem um ditado aí que diz “diga-me com quem você anda que eu te direi quem você é”. Talvez seja verdade. Mas eu prefiro pensar na frase de um antigo treinador, que dizia “junte-se aos bons que em breve poderá ser um deles”.
Acho que é por aí. E sabe por quê? Porque eu era muito tímido, inseguro e mané. Mas eu queria passar a imagem de descolado, de fodão, de esperto. Então, eu ficava tentando ser parecido com os caras que eu admirava. E eu admirava os “ricos”, pois eu era pobre pra caralho. Mas tinha uns “ricos” de quem devia ter ficado longe, pois quase virei maconheiro ou alcoólatra.
Lembrando-me dessas coisas, eu vejo o quanto fui vacilão e quantas cagadas eu dei. Ao ponto de, um dia, meu irmão ter que arrombar a porta do banheiro lá de casa para me tirar, desacordado, quase em coma alcoólica. Já viu a merda que foi, né?
Hoje eu vejo (e pra mim já é tarde) que fiz muitas escolhas merda sem pensar muito, sem pensar o que eu REALMENTE queria ser e fazer. Eu fui sendo levado e o termo é esse mesmo, EU FUI SENDO LEVADO pela vida afora. Só não me dei mal totalmente porque meu irmão mais velho me colava o saco e perguntava se eu queria ser só um merda na vida. Depois, conheci minha Amada, que me ajudou a entrar mais um pouco nos eixos. Mas poderia estar bem melhor se só tivesse feito escolhas boas, poderia dar a ela muito mais conforto do que eu consegui dar.
Que conclusão eu posso tirar de tudo isso? Que todo mundo faz escolhas o tempo todo, cada um escolhe o que quer para a sua vida. O problema é quando você não consegue enxergar um pouco mais à frente, o problema é quando seus amigos são babacas ou fracassados ou radicais ou sem noção ou piores que você - ou tudo isso junto (a repetição do "ou” foi proposital, para dar ênfase). Aí, se você não tiver um rumo SEU, você corre o risco de jogar fora, de desperdiçar as suas qualidades e sua inteligência. E adotar o rumo deles.
Jorge Paulo Lemann, o sujeito mais rico do Brasil atualmente, disse o seguinte: “pense alto, queira o melhor, pois o trabalho para conseguir isso é quase o mesmo de você pensar pequeno”.
E eu acrescentaria: Mas tem que ralar, estudar e se preparar, pois, a menos que o cara seja um gênio, inteligentíssimo (e a maioria das pessoas não é), as oportunidades de progresso e riqueza neste século XXI são canalizadas para aqueles que metem a cara nos estudos, até se formar na universidade.
Isso não é uma verdade absoluta, lógico, mas, hoje, as chances de ganhar excelentes salários surgem majoritariamente para quem se dedicou a estudar – e estudar muito. E quanto menos educação formal as pessoas têm, mais terão que se contentar com trabalhos pouco qualificados (que sempre foram pouco remunerados – e continuarão sendo). É isso.
Eu já disse algumas vezes aos meus filhos que não sou exemplo de vida para ninguém, pois, sempre vivi frivolamente, de forma amadorística, displicente, irresponsável. E tem um papo aí que diz que se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia. Então, não vou tentar dar conselhos, vou contar um pouco da minha história, para ver se você encontra alguma sintonia.
Eu morava na casa de minha avó materna, em um bairro de classe média baixa, perto de dois campos de futebol de várzea. Quando fui autorizado a sair sozinho de casa, era para lá que me dirigia. A meninada da redondeza também ia para lá, que era o lugar ideal para se jogar “finca” e bolinha de gude, soltar papagaio e, naturalmente, jogar futebol.
Sendo muito tímido e inseguro, era às vezes alvo de gozações e ameaças dos meus “amigos”. Afinal, a partir dos seis, sete anos, eles já vagabundeavam por ali sozinhos, livres, o dia todo. Ou seja, eles tinham quatro anos a mais de malandragem que eu e não tinham hora para voltar pra casa. E isso fazia enorme diferença, pois eram craques nas peladas disputadas com bolas de plástico ou borracha (bola de couro era muito difícil de encontrar naquele lugar de gente muito pobre).
Um dia meu irmão ganhou de presente uma bola de couro, pequena, fodidinha, mas de couro. A partir daí sempre éramos convidados a jogar futebol. Para equilibrar, meu irmão ficava em um time e eu no outro (éramos pernas de pau). Normalmente, me empurravam para o gol, para não atrapalhar. Mas bastava algum menino de fora chegar com outra bola de couro, que os times eram imediatamente refeitos e a bola devolvida ao meu irmão. Como ele não iria mais jogar (pois teria que tomar conta de sua bola), eu era tirado do time, coisa que me deixava puto. A partir de algum tempo, passei a não ligar para futebol.
A médio prazo isso foi até bom, pois fez com que eu progressivamente me afastasse dessa molecada. Como morávamos na parte mais pobre do bairro, meus companheiros eram igualmente pobres, filhos de gente humilde, pobre e sem estudo. Muitos desses “amigos” eram repetentes, outros pararam de estudar ainda no ensino básico ou logo após sua conclusão.
Como morei lá até me casar, pude ver em que se transformaram: um virou fotógrafo de batizados e casamentos, outro enlouqueceu, um foi morto no início da adolescência, vários se tornaram apenas desocupados, encostados nas portas dos bares. Nenhum continuou os estudos, nenhum fez faculdade.
Que eu quero dizer com isso? Que eu dei sorte de ter me afastado dos meus antigos companheiros de infância. Senão, a chance de ficar igual a eles seria muito grande. Tem um ditado aí que diz “diga-me com quem você anda que eu te direi quem você é”. Talvez seja verdade. Mas eu prefiro pensar na frase de um antigo treinador, que dizia “junte-se aos bons que em breve poderá ser um deles”.
Acho que é por aí. E sabe por quê? Porque eu era muito tímido, inseguro e mané. Mas eu queria passar a imagem de descolado, de fodão, de esperto. Então, eu ficava tentando ser parecido com os caras que eu admirava. E eu admirava os “ricos”, pois eu era pobre pra caralho. Mas tinha uns “ricos” de quem devia ter ficado longe, pois quase virei maconheiro ou alcoólatra.
Lembrando-me dessas coisas, eu vejo o quanto fui vacilão e quantas cagadas eu dei. Ao ponto de, um dia, meu irmão ter que arrombar a porta do banheiro lá de casa para me tirar, desacordado, quase em coma alcoólica. Já viu a merda que foi, né?
Hoje eu vejo (e pra mim já é tarde) que fiz muitas escolhas merda sem pensar muito, sem pensar o que eu REALMENTE queria ser e fazer. Eu fui sendo levado e o termo é esse mesmo, EU FUI SENDO LEVADO pela vida afora. Só não me dei mal totalmente porque meu irmão mais velho me colava o saco e perguntava se eu queria ser só um merda na vida. Depois, conheci minha Amada, que me ajudou a entrar mais um pouco nos eixos. Mas poderia estar bem melhor se só tivesse feito escolhas boas, poderia dar a ela muito mais conforto do que eu consegui dar.
Que conclusão eu posso tirar de tudo isso? Que todo mundo faz escolhas o tempo todo, cada um escolhe o que quer para a sua vida. O problema é quando você não consegue enxergar um pouco mais à frente, o problema é quando seus amigos são babacas ou fracassados ou radicais ou sem noção ou piores que você - ou tudo isso junto (a repetição do "ou” foi proposital, para dar ênfase). Aí, se você não tiver um rumo SEU, você corre o risco de jogar fora, de desperdiçar as suas qualidades e sua inteligência. E adotar o rumo deles.
Jorge Paulo Lemann, o sujeito mais rico do Brasil atualmente, disse o seguinte: “pense alto, queira o melhor, pois o trabalho para conseguir isso é quase o mesmo de você pensar pequeno”.
E eu acrescentaria: Mas tem que ralar, estudar e se preparar, pois, a menos que o cara seja um gênio, inteligentíssimo (e a maioria das pessoas não é), as oportunidades de progresso e riqueza neste século XXI são canalizadas para aqueles que metem a cara nos estudos, até se formar na universidade.
Isso não é uma verdade absoluta, lógico, mas, hoje, as chances de ganhar excelentes salários surgem majoritariamente para quem se dedicou a estudar – e estudar muito. E quanto menos educação formal as pessoas têm, mais terão que se contentar com trabalhos pouco qualificados (que sempre foram pouco remunerados – e continuarão sendo). É isso.
Ótimo relato!
ResponderExcluirObrigado, Scant.
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