“É
Jotabê... É aquele momento que você percebe que a Esquerda se tornou mais
reacionária do que a própria Direita...” Este comentário deixado no post “O X da Equação” fez com que eu
tivesse vontade de juntar alguns cacos do meu cérebro em processo de
desmoronamento.(boa essa!). Não sei ainda o que quero dizer e vou deixar que
meus dedos psicodigitem a mim mesmo.
Nasci em uma família que era (é)
anticomunista. Apesar disso, lembro-me de meu pai nos aconselhando a não
conversar com estranhos na rua, depois de ter acontecido o pé na bunda do João
Goulart. Ele temia que nós disséssemos alguma coisa contrária ao novo regime
para algum delator. Acho até graça ao me lembrar disso, pois eu tinha quatorze
anos em 1964! Que poderia eu dizer que fosse considerada uma ameaça à nova
ordem?
Talvez por isso, nunca me interessei por
política, especialmente alguns anos depois, quando estava (muito antes da
internet!) sempre com a cabeça na nuvem, ou melhor, nas nuvens. Justamente por
esse alheamento (que alguns podem chamar de alienação) certas palavras nunca
fizeram parte do meu vocabulário, nunca tive com elas a intimidade necessária
para usá-las de forma natural. “Comunismo”,
“nazismo”, “fascismo” e “reacionarismo” expressam
conceitos que nunca me preocupei em estudar ou entender além de sua
literalidade. O mesmo acontece com os conceitos de “socialismo” e “liberalismo”.
Para ser sincero, passei a maior parte da
minha vida sem pensar, sem conversar, sem me importar, sem ter noção sobre o
significado de socialismo, liberalismo e que tais. Tanto que se eu estivesse
cochilando e alguém me pedisse para falar algo sobre comunismo, correria o
risco de dizer “União Soviética,
China e Cuba”; sobre nazismo e fascismo diria “Alemanha, Itália, Segunda Guerra Mundial”. A
palavra “reacionarismo” me faria acordar de vez e perguntar: “O quê”?
Esses são meus vínculos secretos com os fantasmas que assustam tanta gente. Literalmente, estou pouco me lixando para esse assunto. Pensando bem, talvez não seja verdadeira essa afirmação. Hoje, o que eu sinto mesmo é ojeriza, desprezo e rejeição a manifestações inflamadas de todo e qualquer tipo de radicalismo. Esse desconforto – que começou a se manifestar a partir do (des)governo Dilma – tem aumentado muito na fase Bolsonaro. O que quero dizer é que abomino totalmente a Esquerda e a Direita em suas manifestações, propostas e ímpetos radicais.
Esses são meus vínculos secretos com os fantasmas que assustam tanta gente. Literalmente, estou pouco me lixando para esse assunto. Pensando bem, talvez não seja verdadeira essa afirmação. Hoje, o que eu sinto mesmo é ojeriza, desprezo e rejeição a manifestações inflamadas de todo e qualquer tipo de radicalismo. Esse desconforto – que começou a se manifestar a partir do (des)governo Dilma – tem aumentado muito na fase Bolsonaro. O que quero dizer é que abomino totalmente a Esquerda e a Direita em suas manifestações, propostas e ímpetos radicais.
Por exemplo, quando alguém da Esquerda usa a
palavra “fascista” de forma raivosa e pouco refletida, a vontade que tenho
(mesmo não tendo nada com isso) é dizer “fascista
é a puta que pariu!”. Da mesma forma, quando ouço bolsonaristas (vamos
tratá-los assim) chamando alguém de “comunista” (eu já fui chamado assim por
um “amigo de facebook” que
é a favor de intervenção militar e outras maluquices do gênero), a vontade é
dizer que “comunista é a senhora sua mãe,
seu merda!”
E aí é que eu entro no tema do comentário.
Sinceramente, eu não sei o que leva as pessoas, algumas pessoas a desejar
reescrever a História, a derrubar monumentos (estátua do Cristovão Colombo, por
exemplo), a rebatizar vias e prédios públicos, a adotar posturas radicais, a
abraçar conceitos nascidos de um autoritarismo.visceral, mesmo que disfarçado
de evolução, resgate de valores, empoderamento ou qualquer expressão cujo
objetivo não percebido é censurar, proibir, coibir comportamentos, palavras e
expressões há muito tempo em uso. Estarei sendo reacionário ao pensar assim?
Segundo li na Wikipédia, “Em ciência
política, reacionário pode ser definido como uma pessoa ou entidade
com opiniões políticas que favorecem o retorno a um estado político anterior da
sociedade. Como adjetivo, a palavra reacionário descreve pontos de
vista e políticas destinadas a restaurar um status quo do passado. Um
reacionário é literalmente alguém que reage contra algum desenvolvimento ou
mudança, ou se opõe a propostas de mudança na sociedade, o termo é normalmente
usado em associação ou mesmo no lugar de conservador, embora isso seja
bastante relativo”.
Essa definição me deixa meio puto, pois tudo
o que eu menos quero é “restaurar um
status quo do passado”. O que eu desejo é uma sociedade melhor, mais
equilibrada, mas esclarecida, menos fundamentalista. Se isso me empurra para
longe dos xiitas políticos ou religiosos, só lamento.
Continuando com a definição da
Wikipédia, “A palavra ‘reacionário’
é frequentemente usada no contexto do espectro político de esquerda e
direita, e é uma tradição na política da Direita (política). No uso
popular, é comumente usada para se referir a uma posição altamente tradicional,
oposta à mudança social ou política. No entanto, de acordo com o teórico
político Mark Lilla, um reacionário anseia por derrubar uma condição atual
de percebida decadência e recuperar um passado idealizado”.
Nesse caso. imagino que quem mais
desejaria “restaurar um status quo
do passado” e “recuperar um passado
idealizado” ou é o Donald Trump ou o Putin e os comunistas da Rússia
(e alguns bolsonaristas também, mas deixa pra lá). Então, para mim, reacionário
é quem recusa mudanças, é quem rejeita o novo. Nesse caso não sou reacionário,
só não aceito que o “novo” seja o “antigo” espelhado. Ou seja, os antigos
preconceitos reescritos no sentido inverso.
Mas, para terminar esse papo bobo (acho que
ficou uma bosta, mesmo sem ter relido o que escrevi), deixo uma provocação. O
Mark Twain foi brilhante (ele era brilhante!) ao dizer: “Prefiro o paraíso pelo clima, o inferno pela companhia”.
Parafraseando esse autor, diria que prefiro a Direita pela visão econômica e a
Esquerda pela visão social.
Lembrando-me da caretice, preconceitos
exagerados e fundamentalismo religioso de alguns amigos, parentes e conhecidos
de Direita, poderia dizer – para arregaçar de vez o texto e deixar todo mundo
puto e decepcionado comigo – que prefiro a Direita pela visão econômica e a
Esquerda pela companhia.
É aquela velha história: se o termo nada acrescenta para descrição e explicação, melhor evita-lo. Aplica-se aos termos "fascista", "comunista", etc etc e mais etc.
ResponderExcluirAcho que ninguém ficará decepcionado com seu texto. Diria que causará nos leitores o efeito reverso, inclusive.
Esse uso indiscriminado para rotular, ofender ou diminuir é que me incomoda, poisparece ou é mesmo falta de argumento de quem os atira na cara de alguém. Voltando aos "amigos de facebook (tenho andado afastado dessa rede), existe um grupo de radicais bolsominions que simplesmente ignora o meio termo, a nuance. Se o sujeito critica nosso "amado" presidente isso é motivo para que o acusaem de comunista, o que é a mais rematada idiotice. Nos amigos de esquerda mais entusiasmados acontece a mesma coisa. Isso me deixa de saco cheio. Mudando de assunto, vou dar um spoiler: hoje (mais precisamente à zero hora e um minuto) será publicada uma coleção de frases geniais de um autor americano. Creio que gostará muito (eu gostei).
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