quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

PERDIGOTOS, CUSPARADAS E ESCARROS


Brasileiro adora mesmo copiar alguém! Bastou o Juan Guaidó auto proclamar-se presidente da Venezuela, para um Zé Ruela qualquer fazer o mesmo no Brasil, confirmando a tese do Carlinhos Marx: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.

Para tornar ainda mais ridícula essa idiotice, o Zé Mané, ou melhor, Zé de Abreu, deixou-se fotografar com uma faixa verde e amarela. O problema é que ele fala cuspindo e cospe falando! Por isso, em vez de faixa, deveria usar babador. E caso ele continue com essa ideia de jerico, acho que ele deveria registrar um novo partido para concorrer às próchimas eleições. Tenho até um nome bacana para sugerir: PCE – Perdigotos, Cusparadas e Escarros. Porque de cusparada ele entende!




sábado, 23 de fevereiro de 2019

FOLHA MORTA - JAMELÃO


O cantor Jamelão morreu em 2008 (olhei na internet). Não sei precisar a data em que se apresentou em praça pública no boêmio bairro de Santa Tereza (ninho do Clube da Esquina e Sepultura). Provavelmente era ano de eleições (e nem preciso dizer mais nada). Já estava velhinho e intratável, pois não facilitou a vida de quem queria dele se aproximar. Mal humorado, impaciente e seco, mas a voz fenomenal continuava magnífica. Deve ter cantado seus maiores sucessos. Eu estava lá, babando, mas não me lembro se cantou “Folha Morta”, do Ari Barroso. Provavelmente, sim. Essa música, linda por si só, é irretocável na voz do velho mangueirense.

Às vezes, quando a barra pesa, a vontade que dá é ficar deitado na penumbra, coberto até o pescoço por uma colcha leve, totalmente em silêncio. Ou ouvindo “Folha Morta”. Olhaí.

Sei que zombam de mim
Oh Deus, como sou infeliz
Vivo à margem da vida
Sem amparo ou guarida
Oh Deus, como sou infeliz
(...)
Hoje sou folha morta
Que a corrente transporta
Oh Deus, como sou infeliz, infeliz
Eu queria um minuto apenas
Pra mostrar minhas penas
Oh Deus, como sou infeliz



terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

POÉTICA FRASE - AUTOR DESCONHECIDO


SEM TÍTULO - AUTOR ANÔNIMO


Como disse um arqueólogo-poeta, “Dúbios são os caminhos do fado”. E são mesmo, pois  não há como não estranhar o destino “quando a sorte te solta um cisne na noite”. E esse “cisne” (um belo cisne, diga-se) é um texto sem título e de autor anônimo que por sorte e por acaso encontrei na internet. Aí resolvi divulgá-lo para melhorar a qualidade do velho e alquebrado Blogson. Olhaí.

Me encontre em qualquer lugar que esteja
Na bruta ferida aberta
Vermelho vivo
Na sujeira debaixo das unhas
Dos tapetes
Ou dos livros
Resquícios de epitélio e ais

Me encontre na pele recém-ulcerada
Como seda rasgada
Ou na obscuridade de cada desejo
No fio da faca ou do pelo
No traçado que me desenha de fluido, sangue e suor

Me encontre
No barulho das ondas dos seus devaneios
Noutros lábios guardados por outros cílios (Se puder).


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

ERA SÓ UMA REUNIÃO DE EX-ALUNOS - 03


- Eu sou uma fraude!

- Fraudador você sempre aparentou ser, mas, fraude, nunca imaginei. Você usa peruca?

- Porra, lógico que não!

- Já sei! Você usa prótese no pau!

- Caralho, também não, idiota! Querem ou não ouvir minha história?

- Vai, faz mais uma lavação de roupa velha...

- Bom, como todos os que já falaram até agora, eu também fui um aluno medíocre. Eu queria ser calculista, mas não consegui estágio nessa área.

- Graças a Deus! Já pensou construir um prédio calculado por você? Eu não passaria nem perto!

- Se ficar me gozando eu paro de contar essa merda! Continuando: também não arranjei estágio em obra grande. Assim, depois de formado, eu cagava de medo de me contratarem para tocar uma obra, qualquer obra. Porque uma coisa é ser estagiário burro, outra coisa é ser engenheiro toupeira. Por isso mesmo, eu xerocava tudo o que aparecia pela frente. Mas tudo mesmo, até catálogos de equipamentos estrangeiros. E foi assim que eu acabei por entrar na área comercial, pois ninguém nunca quis me contratar para tocar obra ou para ser calculista.

- Só um aparte... Pessoal, vocês estão ouvindo memórias de alguém que esteve na pré-história da Lavajato.

- Claro que não, pois só trabalhei em empresa de merda, só em gatinha. Bem que eu gostaria de ter trabalhado em uma daquelas grandonas! Mas, voltando ao assunto principal, eu tinha muita vergonha de demonstrar minha ignorância, principalmente por ela ser real. Então, eu tentava emular tudo o que os colegas falavam ou faziam, tentava aprender por osmose o que eu nunca consegui realmente saber. Tudo o que eu fazia era repetir uma “receita de bolo” criada por quem entendia do que estava falando. Lembrando o Djavan, o que eu fazia eram tentativas de “aprender japonês em Braille”. E o pior é que os diversos chefes aceitavam, talvez por sentirem pena de mim – ou até eu cometer algum erro grosseiro. Aí a regra do pé na bunda era aplicada. E foi assim até que eu conseguisse um empreguinho público, onde a mediocridade é aceita sem muito problema.
Hoje, olhando para trás e vendo que eu poderia ter feito e não fiz, o que poderia ter sido e não fui, acabo entrando em depressão, acabo sentindo vergonha de mim. Essa deve ser a explicação de quase ter virado alcoólatra. Eu, infelizmente, sempre fui uma fraude.

- Pessoal, acho que deveríamos parar com esses depoimentos, pois está todo mundo agora com cara de luto. Essa não foi definitivamente uma boa ideia.

- Eu também gostaria de fazer meu depoimento, só para encerrar o assunto. Aliás, nem é depoimento, é um comentário sobre esta reunião..

- OK, manda lá.

- Vocês ainda não se deram conta de que estamos todos mortos? Vocês realmente acreditaram que um engenheiro padrão assumiria publicamente suas falhas e erros sem problemas? Nós estamos fisica e mentalmente mortos!

- Isso é besteira, você só bebeu mais que os outros!

- Engano seu! Você, Tonico, morreu de acidente um ano depois da formatura. Você, Wandick, morreu de infarto uns cinco anos depois.Você, Toninho, morreu de câncer há uns vinte anos. Já você, Luís - um aluno brilhante - suicidou-se. O Kênio tomou um tiro na cara. E você, Fred “Boca de Égua”, também morreu infartado. Vocês estão mortos! Só serviram para materializar meus pesadelos recorrentes, para eu expiar minha culpa.

Nesse momento, acordei assustado e sentei-me na cama, A boca estava seca, os lábios pareciam estar colados e a noite ainda demoraria muito a acabar. Mas sabia que não conseguiria dormir novamente.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

ERA SÓ UMA REUNIÃO DE EX-ALUNOS - 02


- Bom, eu fui um aluno relapso e medíocre, graças à minha imaturidade, preguiça e falta de responsabilidade. Como vocês se lembram, na nossa época não havia estágio obrigatório. Por isso, quando consegui meu primeiro e único estágio eu já estava no quarto ano. Mas eu não sabia literalmente nada de nada! A empresa enviou-me para uma obra em cidade da região metropolitana. No primeiro dia, depois andar a pé feito um condenado para chegar ao canteiro de obra, apresentei-me ao engenheiro, um sujeito recém-formado e com cara de poucos amigos. Disse-me que estava de saída para resolver algum pepino e que eu poderia ficar por ali, olhar os projetos, andar pela obra, etc. E que os serviços eram interrompidos às 17h30. Mas já passava das 14h00 quando consegui chegar até aquele fim de mundo.
Sem saber o que fazer, petrificado pelo medo de alguém me pedir uma orientação para algum problema técnico, fiquei paralisado sem fazer nada dentro daquele barracãozinho feito de tábuas, até o horário de saída dos operários. Pedi ao motorista do ônibus que transportava a peãozada uma carona até a portaria da empresa. Esqueci-me de dizer que a obra resumia-se à construção de algumas casas dentro da área da empresa, em um local distante das instalações industriais. Depois de ser deixado na portaria, descobri que só conseguiria pegar um ônibus de volta para casa lá pelas 19h00. Fiquei ali, sozinho na beira da rodovia, vendo a noite chegar, puto da vida, desesperado para voltar à civilização.

- Só isso?

- Calma, pô, me deixe molhar a garganta, pois o pior vem agora. Esse estágio teve a duração de apenas um mês, pois talvez de saco cheio com minha total inutilidade, avisou-me que iria me colocar à disposição de seu gerente.

- Mas você não fazia nada mesmo?

- Nada! O ônibus que eu pegava só saía às 12h30, demorava uma hora para chegar ao ponto onde descia. Depois, andava uns três quilômetros a pé em terreno acidentado, tipo trilha. Chegava pouco antes das três e saía às cinco e meia. Além disso, ficava apavorado de exibir minha ignorância absoluta. Lembro-me de um dia ter ido (por sugestão do engenheiro!) olhar o revestimento de azulejo que estava sendo executado em uma das casas. Coloquei o capacete branco (que identificava a "alta hierarquia da obra") e saí. Entrei na tal casa  em silêncio e fiquei fingindo que "analisava" o prumo da parede, como se entendesse alguma merda. O pedreiro ficou me olhando meio ressabiado, talvez esperando alguma reclamação ou orientação. Hoje eu penso que deve ter-se assustado com meu olhar vidrado, pois eu estava quase catatônico. E sempre que me lembro disso, sinto a maior vergonha.

- Rapaz, nunca imaginei que você era tão boçal assim!

- Pra você ver! E já que malhou meu infinito cagaço, agora é sua vez.



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

ERA SÓ UMA REUNIÃO DE EX-ALUNOS - 01



Eu nunca quis participar de reuniões anuais de ex-colegas. Logo depois de formado, fui convidado para umas duas ou três, mas depois de várias recusas, desistiram de me chamar. Para mim, tudo bem, pois sempre achei esses encontros um porre. Porque só vai quem está bem na fita, quem acabou de ganhar isso e aquilo. Ex-colega fodido não vai. Para quê? Para exibir suas dificuldades, seus fracassos, sua falta de grana ou desemprego? Não mesmo! Além do mais, nunca consegui criar vínculos sólidos de amizade com os colegas, pois, graças às muitas dependências que peguei, estava sempre em uma sala diferente, única forma de conciliar as matérias do semestre com as dependências que precisava concluir (acho que dá para imaginar o tipo de aluno que fui, concordam?).

Outro assunto que deve surgir nesses encontros são as lembranças de sacanagens com esse ou aquele professor (ou colega). Por mais paradoxal que seja - pois gosto de contar casos antigos - acho isso extremamente tedioso, coisa de gente saudosista. Afinal, uma coisa é registrar fatos e casos pitorescos do passado, outra é ficar salivando de saudade dos tempos idos. Por isso, o máximo que consigo é tentar imaginar os papos que rolam. Foi esse o motivo de tentar reproduzir o "lado negro" de uma dessas reuniões, quando alguém propõe que se contem casos de fracassos, medos, insucessos e fragilidades. Sinceramente, duvido que isso possa acontecer em um encontro de "doutores". Mesmo assim...


A reunião anual da turma de ex-colegas transcorria normalmente, com seu desfile previsível de egos anabolizados, relatos de viagens internacionais, carrões e sucesso profissional. Todos exibiam um pedantismo inexistente nos tempos de faculdade. Como tinham se formado há muito tempo, o numero de presentes diminuía a cada ano. Em certo momento, um deles fez uma proposta para tornar a reunião mais divertida.

- Que tal se cada um contasse uma história profissional que gostaria de ver reescrita, de nunca ter acontecido?

Olhar-se no espelho e admitir as próprias falhas e fracassos perante aquele grupo tão esnobe causou algum desconforto na maioria, com alguém logo reclamando:

- Eu não tenho nenhuma história desse tipo para contar. E se tivesse não contaria!
- Deixa de ser viado, conta logos os podres do passado!
- Já disse que não tenho! E já que esta reunião vai ficar esse "vale de lágrimas", vou aproveitar e me mandar mais cedo, pois tenho hoje um compromisso inadiável.

Abraços, cumprimentos e juras de "ano que vem estaremos aqui novamente" liberaram a saída do fujão, discretamente acompanhado por mais dois. E o silêncio instalou-se no meio do grupo.

- Quem começa?
- Já que a sugestão foi sua, pode começar.
- Conta aí, Fred!
- Bom, vocês sabem que eu fui o pior aluno da nossa turma, não é?
- O pior eu não sei, mas o mais escrotão, sim!

- Então... Eu tinha pouco tempo de formado quando me mandaram para uma obra no interior. A sorte é que por ser um contrato grande, havia mais engenheiros. Assim, se o bicho pegasse pro meu lado, eu tinha a quem recorrer. Um dia, um dos encarregados me procurou para saber o que fazer em determinado assunto da obra. Escutei o que ele me disse, não entendi porra nenhuma, mas dei nele o maior esporro: -"Se você, puta velha de construção que é, ainda não sabe como fazer, não sou eu que vou te ensinar"! Virei as costas e saí rapidamente dali. Me dei bem, não?

- O coitado do encarregado deve ter xingado umas dez gerações de sua família!
- Ah, ah, ah! Depois disso, ele passava longe de mim.
- Grande filho da puta, isso sim! Quem é o próximo agora?.

MINHA VIDA É UM ALGORITMO

Acredito estar perdendo minha capacidade de "delirar" de olhos abertos. "Mas deve ser da idade", como cantou a Marina Lima. Por isso, às vezes recorro a lembranças mais antigas para desencavar algum papo-cabeça. Como este, por exemplo. Tenho um amigo que, um dia, enquanto conversávamos fiado em sua casa, fez uma descrição interessantíssima de como enxergava a Vida e o ato de morrer – o que mexeu com minha imaginação.

Para ele, a vida seria como um caminho cercado que leva o gado ao matadouro, que iria se afunilando quanto mais se andasse. No início, as cercas estão tão distantes que ninguém se preocupa com a existência delas. À medida que passam os anos, a cerca vai se aproximando, se aproximando, de tal forma que, quando nos damos conta, não há mais como escapar do abate. E disse rindo que a solução era “meter coices na cerca, para ela se afastar um pouco”.

A imagem bem arquitetada me fascinou. Gostei tanto que até ampliei o conceito: quando somos crianças, nem sequer sabemos da existência de cercas. Olhamos para os lados enquanto caminhamos e não vemos limites na paisagem. Aos poucos, aumentando a idade, começamos a perceber algo na linha do horizonte.

Ontem, lembrando-me disso, fiquei pensando nas inúmeras variáveis que afetam a vida de cada um, a sucessão de escolhas e decisões que tomamos desde que nascemos. Daí veio a ideia de que a vida de cada um é como se fosse um algoritmo, uma equação matemática complexa e sofisticada, com um sem-número de elementos, variáveis, operações e incógnitas, que tentamos diariamente solucionar.

Alegoricamente falando, quando estamos ainda na infância, preocupamo-nos apenas com operações de soma, que nos dão alegria – e subtração, que nos provocam decepção e choro.

Chegando à adolescência, continuamos alegremente nas tarefas de somar e subtrair, mas incorporamos também as operações de multiplicar. Quando nos casamos e vêm os filhos, passamos também a trabalhar com divisão.

Em determinado ponto da vida, alguns começam a cogitar sobre as inúmeras variáveis e incógnitas – verdadeiros números complexos – que impedem o entendimento da equação. Nesse ponto, em um passado remoto, provavelmente foi imaginada a existência de deuses diversos, que explicariam as inúmeras questões existentes – origem da vida, origem do universo, doenças, sol, lua, fertilidade e todo tipo de situação que causava ansiedade, medo ou perplexidade nos nossos antepassados.

Não é demais imaginar que, para muitos, a equação estava resolvida. Outros, entretanto – talvez uma meia dúzia de gatos pingados – continuavam a exercer sua curiosidade, recusando uma solução mágica, tipo “hocus pocus”. A ciência que surgiu daí foi, devagarzinho, expulsando, reduzindo e empurrando a influência dos deuses e das religiões para mais longe, à medida que os fenômenos naturais iam sendo explicados e que muitas incógnitas iam sendo identificadas.

Mesmo assim, até hoje, quando ouvimos falar de conceitos cuja existência nem suspeitamos tal a complexidade de raciocínio envolvida, continuamos com várias incógnitas para identificar, para que a equação enfim seja solucionada – tal como no tempo de escola, quando o professor escrevia ao final de um teorema demonstrado: “c.q.d” (os mais pedantes usavam “q.e.d.”).

Hoje, ouvimos falar da “ilusão” da “dimensão” tempo, que só existiria porque existe um observador, ficamos perplexos com as informações sobre os limites do universo e sobre as partículas subatômicas, ficamos boquiabertos com as informações contidas nos genes e nas moléculas de DNA. Alguns se intrigam com a ideia do Big Bang ou do Big Crunch (a maioria nem sequer ouviu falar disso!), a respeito da idade do universo e coisas semelhantes, noções e ideias entendidas apenas por um punhado de “malucos”, gênios de mente brilhante e inquieta, mas coisas incompreensíveis para a maioria absoluta da população.

Tudo isso mexe com as posições de Deus na equação, usado para explicar incógnitas ainda não definidas. Os cristãos fundamentalistas são pródigos nesse uso. Já os católicos, mais sensatamente, comportam-se tal como disse alguém: “à medida que a Ciência avança, a Religião recua”. Para entender isso, dito sem crítica e sem ironia, basta lembrar Galileu, Giordano Bruno e outros.

Quando envelhecemos, mais aumenta nosso desejo de ver nossa equação resolvida. Afinal, a “cerca” vai se aproximando mais e mais... Com isso, surgem perguntas a respeito de algumas incógnitas que talvez nunca sejam respondidas: Qual o sentido da vida? Como e por que a vida surgiu? A vida seria apenas consequência de um capricho de moléculas de carbono delinquentes e sem mais o que fazer? O que há após a morte? Existe Céu, existe Inferno? Todas essas perguntas, volta e meia, provocam comichões na mente, que não consegue encontrar uma explicação que atenda à Razão – a não ser pela Fé.

Penso que quanto mais envelhecemos – quando aumenta a percepção de finitude da vida (jovem sabe que a vida é finita, mas nem se lembra disso – ainda bem), quando percebemos que a Vida não demora tanto a nos abandonar, o cérebro, acompanhando o cansaço do corpo, começa a silenciar as inquietações, a acalmar a busca pela identificação das incógnitas que ainda restam. A mente e o corpo começam apenas a contemplar a solução do problema, a esperar que se processe o resultado final da equação.

Que pode ser zero. Ou infinito...

sábado, 9 de fevereiro de 2019

TRINDADE


Você me enxerga, mas não me vê

Eu me vejo e não me enxergo

Você acredita que eu sou um

Eu penso que sou dois

Mas suspeito que seja três

Insaníssima trindade:

O que você crê que eu seja,

O que sei que sou

E o que não confesso nem a mim mesmo.



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

OS QUATRO ELEMENTOS

Alguns dos antigos filósofos gregos acreditavam que Água, Terra, Fogo e Ar eram os elementos básicos na constituição da matéria. Um dos meus amigos de Facebook compartilhou uma imagem que faz referência quase explícita a esse conceito. Gostei tanto da ideia que resolvi explicitá-la mais ainda (movido pelo impacto da tragédia do rompimento da barragem de Brumadinho). Olhaí.


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

O PÃO DO DR. TRAJANO


Uma das pessoas com quem mais gostei de trabalhar era um engenheiro aloprado, literalmente aloprado e engraçadíssimo, um sujeito que caminhava no limite da sanidade mental. Talvez por isso eu gostasse de trabalhar com ele, pois sempre me identifiquei com gente descompensada, excêntrica, imprevisível  e, obrigatoriamente, inteligente. Eu era seu subordinado e rolava de rir com as observações e casos bizarros que contava. Um desses casos é a história do pão do Dr. Trajano.

Segundo ele, o Dr. Trajano era um homem sistemático e obcecado com limpeza e higiene (Freud explicaria isso fácil, fácil). Por conta dessa obsessão, não aceitava que as balconistas da padaria embalassem o pão que comprava todo dia. Para evitar esse contato, levava de casa o saco de papel a ser utilizado e o entregava diretamente aos padeiros. Assim, tão logo o pão saia do forno, era separado, embalado e deixado à disposição do neurótico freguês. Bom, era isso que o Dr. Trajano acreditava acontecer. O que ele não sabia é que o pão tão zelosamente aguardado recebia dos padeiros um tratamento VIP antes de ser embalado.

- “Ô gente, olha o pão do Dr. Trajano!” A partir desse momento o pão era passado por várias mãos, esfregado na bunda, no saco, arremessado para lá e para cá, usado para fazer embaixadinhas, enfiado dentro da calça de algum funcionário mais sem noção, sofrendo todo tipo de sacanagem até ser cuidadosamente colocado no saco de papel trazido pelo cliente.

Obviamente, jamais saberei se essa esculhambação realmente aconteceu, embora creia que talvez possa ser verdade, pelo menos parcialmente. E digo isso, pois sou permanentemente tentado a acreditar que no universo das relações sociais e ciências humanas não existem verdades absolutas nem certezas definitivas. Para mim, os fundamentalistas da religião ou da política, os fanáticos, os radicais e todos que padecem da "Síndrome da Divindade Adquirida" (aqueles que imaginam que o mundo deve ser igual à sua imagem e semelhança) estão sempre sujeitos a "comprar o pão do Dr. Trajano". E o pior é achar que estão sempre certos!


O HÁBITO DA LEITURA



terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

A LONG AND WIDING ROAD


A minha obsessão me faz revisitar várias vezes um mesmo tema. Como agora.




LINGUAGEM DE SINAIS


Nos últimos anos surgiram duas novas igrejas no Brasil. Embora tenham seus próprios gurus, não são religiões tal como as conhecemos. Mesmo assim, por serem diametralmente diferentes, lembram muito os católicos e huguenotes franceses ou seus equivalentes irlandeses, pois cada um quer comer o fígado do outro. O que têm em comum é a idolatria irracional que devotam a seus messias, pois enxergam neles salvadores infalíveis. Vamos chamá-los de “bolsonaristas” e “lulistas”.

Mas eu não sou bolsonarista (nem lulista). Para ser sincero, acho um pé no saco os fieis mais exaltados (estimados em 90% de cada “congregação”), pois acredito que não precisamos de novos mitos, precisamos da Realidade, precisamos de pessoas reais.

Como tenho especial antipatia pelos lulistas, tenho mais amigos bolsonaristas. E os que conheço são pessoas tranquilas e gentis. Isso, claro, até alguém fazer uma crítica ao seu Messias ou à sua família. Aí, meu amigo, agem como se a unha encravada do dedinho do pé direito tivesse sido pisada. Ou se alguém tivesse citado suas mães de forma pouco elogiosa. Nesse caso, reagem colericamente ao sair em defesa de seu ídolo. E tentam, sem perceber, transformar o Mito da Direita na mesma coisa em que Lula (o “messias” da outra igreja) tentou se transformar à Esquerda, ou seja, em mito.

Por isso, só para sacanear, resolvi comparar os tipos de cumprimento usados por diferentes tribos urbanas com as saudações que poderiam ser utilizadas em larga escala nas novas igrejas. A esses "novos" gestos eu chamaria de “cumprimentos nos tempos da cólera”. Olhaí. 


E a essas novas igrejas e seus fieis radicais e chatos pra caramba, capazes de me deixar verde de vergonha ou vermelho de raiva, meu comentário final:



ESTRELA DE BELÉM, ESTRELA DE BELÉM!

  Na música “Ouro de Tolo” o Raul Seixas cantou estes versos: “Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado. Macaco, praia, ...