- Bom, eu fui um aluno relapso e medíocre, graças à minha imaturidade, preguiça e falta de responsabilidade. Como vocês se lembram, na nossa época não havia estágio obrigatório. Por isso, quando consegui meu primeiro e único estágio eu já estava no quarto ano. Mas eu não sabia literalmente nada de nada! A empresa enviou-me para uma obra em cidade da região metropolitana. No primeiro dia, depois andar a pé feito um condenado para chegar ao canteiro de obra, apresentei-me ao engenheiro, um sujeito recém-formado e com cara de poucos amigos. Disse-me que estava de saída para resolver algum pepino e que eu poderia ficar por ali, olhar os projetos, andar pela obra, etc. E que os serviços eram interrompidos às 17h30. Mas já passava das 14h00 quando consegui chegar até aquele fim de mundo.
Sem saber o que fazer, petrificado pelo medo de alguém me
pedir uma orientação para algum problema técnico, fiquei paralisado sem fazer
nada dentro daquele barracãozinho feito de tábuas, até o horário de saída dos
operários. Pedi ao motorista do ônibus que transportava a peãozada uma carona
até a portaria da empresa. Esqueci-me de dizer que a obra resumia-se à
construção de algumas casas dentro da área da empresa, em um local distante das
instalações industriais. Depois de ser deixado na portaria, descobri que só
conseguiria pegar um ônibus de volta para casa lá pelas 19h00. Fiquei ali,
sozinho na beira da rodovia, vendo a noite chegar, puto da vida, desesperado
para voltar à civilização.
- Só isso?
- Calma, pô, me deixe molhar a garganta, pois o pior vem
agora. Esse estágio teve a duração de apenas um mês, pois talvez de saco cheio
com minha total inutilidade, avisou-me que iria me colocar à disposição de seu
gerente.
- Mas você não fazia nada mesmo?
- Nada! O ônibus que eu pegava só saía às 12h30, demorava uma
hora para chegar ao ponto onde descia. Depois, andava uns três quilômetros a pé
em terreno acidentado, tipo trilha. Chegava pouco antes das três e saía às cinco
e meia. Além disso, ficava apavorado de exibir minha ignorância absoluta.
Lembro-me de um dia ter ido (por sugestão do engenheiro!) olhar o revestimento
de azulejo que estava sendo executado em uma das casas. Coloquei o capacete
branco (que identificava a "alta hierarquia da obra") e saí. Entrei
na tal casa em silêncio e fiquei fingindo que "analisava" o
prumo da parede, como se entendesse alguma merda. O pedreiro ficou me olhando
meio ressabiado, talvez esperando alguma reclamação ou orientação. Hoje eu
penso que deve ter-se assustado com meu olhar vidrado, pois eu estava quase
catatônico. E sempre que me lembro disso, sinto a maior vergonha.
- Rapaz, nunca imaginei que você era tão boçal assim!
- Pra você ver! E já que malhou meu infinito cagaço, agora é
sua vez.
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