sexta-feira, 27 de julho de 2018

SÓ UM CHUTE


Sempre gostei mais de gente doida que de pessoas “normais”. “Doida” não no sentido manicomial ou psiquiátrico, mas no sentido de alternativa, rebelde, independente, excêntrica, “esquisita”. Talvez o motivo disso seja que “boi preto reconhece boi preto”, como diz meu filho. Talvez ele tenha razão, pois as pessoas com quem mais gostei de conversar sempre eram as mais estranhas, desajustadas e "problemáticas".

Na infância, meu melhor amigo era um menino meio estranho, graças ao fato de ter batido a cabeça em um poste ao andar no estribo do bonde. Já adulto, criou caso com um segurança em uma exposição qualquer e morreu com um tiro na cara. Na adolescência o melhor amigo era um neurótico introvertido e arredio, irmão de um viciado em drogas injetáveis (no final da vida, esse irmão só conseguia injetar droga nos pés). E a lista é longa. O melhor chefe que tive e com quem mais me identifiquei era um sujeito brilhante que parecia viver no limite da normalidade, tão aloprado que era. Talvez por isso, pelo desprezo pelos padrões e "verdades" pré-estabelecidas, uma das palavras mais definidoras de minha personalidade seja a expressão “por quê?”.

Meu pai dizia que “só bobo e caititu andam em bando”. Mesmo sendo verdadeiramente bobo, nunca gostei de andar em bando ou manada nem de pensar de forma bitolada. Eu sei que “manada” está errado, pois sendo o caititu (Pecari tajacuum primo do porco (Sus domesticus), o coletivo correto seria “vara”, mas “andar em vara“ não é minha praia, pois não me chamo Lulu nem meu sobrenome é Santos (fraquinha!).

Qual o motivo de estar falando essa goma? A explicação é a série “a kick in the balls” ora em andamento. Em dia de depressão mais acentuada surgiu a ideia de fazer um desenho que brincasse com essa sensação. Inicialmente pensei em dois bonecos conversando sobre um terceiro com aparência de ter sido esticado no pau de arara. Mas não estava com paciência de fazer meus desenhos toscos. Por isso, pensei no non-sense de duas bolas conversando sobre uma terceira, toda esticada. O humor não era a tônica, pois o desenho apenas radiografava meu estado mental.

O segundo post da série ainda ficou na linha deprê, mas, como gostei de explorar o minimalismo das formas, saiu o terceiro post, já com a pretensão de exercitar a criatividade e tentar fazer humor (tão minimalista quanto as formas escolhidas).

E era aqui que eu queria chegar: eu tenho plena consciência que meus posts não tem nada de engraçado, de espetacular nem genial. Mas eu me divirto tanto ao fazê-los que acabam mesmo virando uma série temática (ou monotemática). E a graça que tento alcançar é fruto da associação improvável de objetos ou formas inanimados com situações, frases e expressões do cotidiano real.

Aliás, esse foi o motivo de ter adotado a palavra “cotidiano” para os primeiros posts. Como os personagens dessa série são bolas e sabendo que “balls” é o equivalente vulgar em inglês para “saco”, procurei no Google a tradução mais próxima para “um chute no saco” (“a kick in the balls”), que se tornou o título definitivo. Jogo de palavras típico das gracinhas Jotabê.

E já com as bolas (sem duplo sentido, por favor) como personagens, tentei imaginar todas as situações possíveis em que poderiam ser encontradas, criando frases e diálogos que desconstruíssem a origem real das imagens surgidas. Só não consegui criar um diálogo que envolvesse o satélite natural da Terra. Talvez a melhor explicação seja o fato de já viver sempre com a cabeça no mundo da lua (mais uma gracinha Jotabê).

2 comentários:

  1. Não se deprecie. Do número três em diante da série "um chute nas bolas", melhorou bastante.
    E falando em JB, percebi que são também as iniciais de Jair Bolsonaro.

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    1. Obrigado, Marreta. Pra você ver, até nisso meu nome se presta a trocadilhos. Só que, se ele pertence ou representa a turma da bala no Congresso, eu apresento a turma da(s) bola(s) no Blogson. Valeu!

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