Sempre gostei mais de gente doida que de
pessoas “normais”. “Doida” não no sentido manicomial ou psiquiátrico, mas no
sentido de alternativa, rebelde,
independente, excêntrica, “esquisita”. Talvez o motivo disso seja que “boi preto reconhece boi preto”, como diz
meu filho. Talvez ele tenha razão, pois as pessoas com quem mais gostei de
conversar sempre eram as mais estranhas, desajustadas e
"problemáticas".
Na infância, meu melhor amigo era um menino
meio estranho, graças ao fato de ter batido a cabeça em um poste ao andar no estribo do
bonde. Já adulto, criou caso com um segurança em uma exposição qualquer e
morreu com um tiro na cara. Na adolescência o melhor amigo era um neurótico
introvertido e arredio, irmão de um viciado em drogas injetáveis (no final da
vida, esse irmão só conseguia injetar droga nos pés). E a lista é longa. O
melhor chefe que tive e com quem mais me identifiquei era um sujeito brilhante
que parecia viver no limite da normalidade, tão aloprado que era. Talvez por
isso, pelo desprezo pelos padrões e "verdades" pré-estabelecidas, uma das
palavras mais definidoras de minha personalidade seja a expressão “por quê?”.
Meu pai dizia que “só bobo e caititu andam em bando”. Mesmo sendo verdadeiramente
bobo, nunca gostei de andar em bando ou manada nem de pensar de forma bitolada.
Eu sei que “manada” está errado, pois sendo o caititu (Pecari tajacu) um
primo do porco (Sus domesticus), o coletivo correto seria “vara”, mas “andar em vara“ não é minha praia, pois
não me chamo Lulu nem meu sobrenome é Santos (fraquinha!).
Qual o motivo de estar
falando essa goma? A explicação é a série “a
kick in the balls” ora em andamento. Em dia de depressão mais acentuada
surgiu a ideia de fazer um desenho que brincasse com essa sensação.
Inicialmente pensei em dois bonecos conversando sobre um terceiro com aparência
de ter sido esticado no pau de arara. Mas não estava com paciência de fazer
meus desenhos toscos. Por isso, pensei no non-sense de duas bolas conversando sobre uma terceira, toda
esticada. O humor não era a tônica, pois o desenho apenas radiografava meu
estado mental.
O segundo post da série
ainda ficou na linha deprê, mas, como gostei de explorar o minimalismo das
formas, saiu o terceiro post, já com a pretensão de exercitar a criatividade e tentar
fazer humor (tão minimalista quanto as formas escolhidas).
E era aqui que eu queria
chegar: eu tenho plena consciência que meus posts não tem nada de engraçado, de
espetacular nem genial. Mas eu me divirto tanto ao fazê-los que acabam mesmo
virando uma série temática (ou monotemática). E a graça que tento alcançar é
fruto da associação improvável de objetos ou formas inanimados com situações, frases e
expressões do cotidiano real.
Aliás, esse foi o motivo de
ter adotado a palavra “cotidiano” para os primeiros posts. Como os personagens
dessa série são bolas e sabendo que “balls” é o equivalente vulgar em inglês
para “saco”, procurei no Google a tradução mais próxima para “um chute no saco” (“a kick in the balls”), que se tornou o título definitivo. Jogo de
palavras típico das gracinhas Jotabê.
E já com as bolas (sem duplo
sentido, por favor) como personagens, tentei imaginar todas as situações
possíveis em que poderiam ser encontradas, criando frases e diálogos que
desconstruíssem a origem real das imagens surgidas. Só não consegui criar um diálogo
que envolvesse o satélite natural da Terra. Talvez a melhor explicação seja o
fato de já viver sempre com a cabeça no mundo da lua (mais uma gracinha
Jotabê).
Não se deprecie. Do número três em diante da série "um chute nas bolas", melhorou bastante.
ResponderExcluirE falando em JB, percebi que são também as iniciais de Jair Bolsonaro.
Obrigado, Marreta. Pra você ver, até nisso meu nome se presta a trocadilhos. Só que, se ele pertence ou representa a turma da bala no Congresso, eu apresento a turma da(s) bola(s) no Blogson. Valeu!
Excluir