Há muitos anos, eu e minha
mulher, após o almoço, tínhamos o costume de sair dando voltas de carro pelo
bairro onde moramos. Entrávamos em uma rua, íamos até o final, virávamos à
direita ou esquerda e ficávamos nisso até enjoar. Minha mulher dizia que era
para descansar a mente dos afazeres que acabara de concluir ou que a esperavam
na parte da tarde. Com quatro crianças, sem empregada (nunca gostou), a barra
era realmente pesada para ela.
Por isso, dávamos notícia de
tudo quanto era imóvel com placa de “vende-se”
ou “aluga-se”. Às vezes, fixávamos a
atenção em alguma casa que acreditávamos valer a pena ser comprada. Numa dessas
vezes, depois de alguma amiga ou amigo nos consultar sobre as “ofertas” do momento, resolvemos investigar
uma casa que estava vazia e muito machucada pelo abandono prolongado.
O primeiro passo foi tentar
descobrir quem eram os proprietários. Para isso, começamos a perguntar aos vizinhos
se os conheciam, como poderíamos falar com eles, etc. Naquela época, Santa Tereza
era um bairro com predominância de casas mais simples, habitadas pelas mesmas
famílias por várias gerações. Mesmo assim, tivemos dificuldade em identificar
os herdeiros, pois os antigos moradores tinham morrido há muito tempo. Em
compensação, conseguimos descobrir quem tomava conta do imóvel. “Tomar conta”, no caso, consistia apenas
em ter as chaves para pegar contas de IPTU e assemelhados ou evitar sua invasão
por moradores de rua, pois a casa era uma ruína só.
Muito bem. Identificado o “zelador”, pedimos que nos mostrasse a
casa por dentro, “pois tínhamos uma amiga
interessada, bla bla bla”. Apesar de demonstrar certa impaciência, aceitou
atender nosso pedido. Quando entramos no imóvel, tive a sensação que uma bomba
potente poderia ser uma boa solução para corrigir o estado da construção. Falando
mais claramente, a demolição integral e reconstrução do zero parecia ser a
coisa mais sensata a se fazer.
Antes, preciso dizer que
fomos informados de que “a casa estava em
processo de inventário e partilha, e que ainda demoraria um pouco para poder
ser vendida, bla bla bla”. Obviamente, nossa amiga (ou amigo) não se dispôs
a esperar. Mas um detalhe, um único e insignificante detalhe fez com que eu
nunca mais me esquecesse dessa casa. E esse detalhe estava no banheiro, surpreendentemente
o cômodo mais bem conservado da casa.
Era um banheiro grande,
espaçoso e, além dos previsíveis chuveiro, vaso e lavatório, possuía duas peças
em ferro fundido esmaltado: uma banheira com pés em forma de garra e... uma
bacia com diâmetro provável de 60 a 80 centímetros, com as mesmas características da
banheira: pés em forma de garra, ralo e entrada de água.
Perguntei ao “zelador” qual seria
a finalidade daquela “coisa” e ele
sabia! Disse-me ser uma “bacia para lavar
os pés antes de deitar”. Lembrando-me da escassez de água que tinha
afligido Belo Horizonte, achei que era realmente uma peça de utilidade
indiscutível. Fiquei tão encantado que cheguei a pensar em comprar o imóvel, só
para ficar com aquela relíquia para mim (para ser sincero, eu tenho a mania de
pensar coisas que não consigo realizar. Mas isso é outra história).
O fato é que nunca tinha
visto aquilo antes. A casa um dia foi vendida e demolida. Em seu lugar construíram
nova casa em estilo “colonioso”, sem nenhum charme especial. Nem consigo
imaginar o que pode ter sido feito com aquela bacia. Para ser sincero, embora
tenha procurado na internet, nunca mais consegui ver outra igual. Até hoje!
Graças à minha inclusão em
um grupo fechado do Facebook, composto por fãs (verdadeiros fanáticos) de fotos
antigas de BH, tive a oportunidade de ver uma foto dessa peça que tanto
fascínio causou em mim. Graças também à extrema gentileza de uma senhora desse
grupo que a fotografou, fiquei até mesmo sabendo o nome da “coisa”, hoje poética
e adequadamente transformada em canteiro de begônias em sua casa.
Querem saber o nome da
relíquia? Chama-se “Semicúpio”.
Segundo o dicionário, “semicúpio”
é um substantivo masculino e possui dois significados:
- banho
de imersão da parte inferior do corpo; banho de asseio, banho de assento.
- peça
sanitária apropriada para banho de assento (banheira, bacia etc.).
É por essas e outras que eu sempre digo: Facebook também é cultura! Olha o semicúpio aí, gente!
O nome semicúpio faz uma "ligeira" referência à finalidade, uma delas pelo menos, não?...
ResponderExcluirNão tem dúvida!
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