quinta-feira, 30 de março de 2017

TINHA UMA PEDRA, CAMÕES

Já falei da família de meu pai aqui nesta bagaça, mas talvez por esquecimento ou desinteresse, deixei passar dois pequenos detalhes que iluminam um pouco mais essas pessoas queridas.

Nos quatro posts que dediquei a essa família que viveu em um século só deles, mencionei o contraste – e essa é apenas minha opinião – entre a modernidade de sua educação formal, ainda no início do século XX, todos formados em faculdade, com seu comportamento arredio, tímido e introvertido de matutos nascidos no interior de Minas Gerais entre o final do século XIX e início do século XX. Daí a ideia de terem vivido no século 19,4 ou 20,3, por exemplo.

Pois bem, apesar da cultura humanista a que tiveram acesso, eram profundamente formalistas e conservadores quando se tratava de pintura e poesia. Minha tia Sinhá era uma pintora acadêmica bastante boa, qualidade que deixou de explorar quando os negócios da família foram para o brejo. Mas recusava-se a aceitar como arte a pintura moderna de Portinari, Picasso e todos que viraram pelo avesso o estilo com que se identificava. Lembro-me de tê-la ouvido contar a reação de espanto e consternação que algum intelectual que conhecia esboçou ao ouvi-la comentar de forma depreciativa (-"Deveras, Sinha?) os painéis de Portinari que estão na igrejinha da Pampulha, em BH.

Já com meu pai o problema eram as poesias modernas. Para ele, poesia tinha de ter métrica e rima. Sem isso, era prosa ou bobagem modernosa. Creio que tinha especial antipatia pelo poema “No Meio do Caminho”, de Carlos Drummond de Andrade.  Aquele negócio de “Nunca me esquecerei que no meio do caminho Tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho” era demais para ele.

Lembrei-me desses casos remexendo em coisas guardadas há mais tempo. Uma delas é um livro de sonetos de Camões, que ganhei de uma ex-nora. Como o livro tinha servido apenas para que ela fizesse algum trabalho escolar, perguntou-me se eu o queria. E aí, pimba.

Lembrando-me das rimas e métricas dos sonetos, redondilhas, e alexandrinos “d’antanho”, tão ao gosto de meu pai e de seus irmãos, resolvi encerrar este post com um soneto que achei no tal livro. Certamente teriam apreciado, pois o sujeito entendia muito do assunto.


Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

terça-feira, 28 de março de 2017

LAURA - CHARLIE PARKER

Essa música é tão linda que não tenho nenhum pudor de repeti-la aqui no blog. Na primeira vez, o link trazia um vídeo com Carly Simon, em uma versão cantada. O post de hoje é uma versão instrumental, mistura perfeita de uma música linda e atemporal com um instrumento musical de som maravilhoso. E o intérprete é uma das lendas do jazz, estilo que eu não manjo. Por isso, prefiro só curtir a música e sua interpretação, verdadeiro "biscoito fino", como diria Oswald de Andrade. Olhaí.



MUITO SINGULAR

Uma das melhores coisas que existem é pegar um fato ou teoria científica e usar isso para transformar uma bobagem qualquer em pseudo-ciência (para ser sincero, há coisas beeem melhores de fazer que isso). É o caso, por exemplo, do “design inteligente”. Pois muito bem, resolvi criar uma teoria dessas também.

O Big Bang, pelo que entendi (na verdade não entendi picles nenhuma), é uma “singularidade espaço-tempo”. Em outras palavras, a coisa seria assim: “no início do Big Bang, toda a matéria, toda a energia e todo o espaço que hoje observamos estavam comprimidos em uma área de volume zero e densidade infinita que, para os cosmólogos, recebe a denominação de singularidade”.

Essa é a teoria científica, OK? Agora, a teoria pseudo-científica: para mim, por não conseguirem uma explicação razoável para o Big Bang (o que havia antes, o que o causou?), os cientistas deram a ele o nome de “singularidade”. Sendo assim, já que ninguém (exceto os evangélicos) sabe como surgiu a Vida, minha sugestão é que também seja considerada uma Singularidade o exato instante em que foi criada a primeira proto-ameba ou coisa parecida, que se possa chamar de ser vivo.

"SWEET DREAMS" - O ELEMENTO JOTA

Ora veja o amor que não senti quando devia,
amores que bateram à porta, sopraram pela janela
e que eu deixei sair.

É a dor que me faz indócil companhia,
assistindo ao meu lado o passeio de todo amor que
eu nunca soube viver.

E eu que sempre fui crente da minha ignobilidade
e cética de qualquer destreza
já não me assombro com os fantasmas dos amores que desperdicei,
são também personagens da minha diuturna fantasia.
Porém não meus.

Talvez porque descubra que amo aquela dama que para tudo me segue;
amo a dor que me consome,
sofro pelo amor que me destrói.

E no solitário conforto, onde ressona o meu eu mais profundo,
sei que os sonhos, estes sim,
são apenas meus.

segunda-feira, 27 de março de 2017

CONTANDO REBITES

Seis meses depois de se aposentar, ele já estava inquieto pela total inatividade em que vivia. Por isso, quando o cunhado fez o convite para que o ajudasse a organizar o setor comercial da pequena construtora que lutava para fazer crescer, aceitou de bom grado. Fez apenas uma exigência: poder fazer o próprio horário de trabalho - e isso incluiria poder chegar mais tarde, só para evitar o trânsito maluco da hora do rush. Resolveu também ir de metrô, só para não ficar estressado com os motoboys que ficam barbarizando entre os carros. Aceitas essas condições, logo estabeleceu-se uma rotina prazerosa de trabalho para ele. Pelo menos, até aquele dia...
  

Assim que o metrô abre as portas, o aposentado entra no segundo vagão, escolhe o lugar onde sempre gosta de sentar, tira os óculos do bolso, abre o livro na página onde havia parado e mergulha na leitura, indiferente às pessoas ao redor. Tem os cabelos quase totalmente grisalhos, está ligeiramente obeso e apresenta a “barriga de chope”’ que todos os amigos de mesma faixa etária possuem. Veste-se informalmente com calça jeans, camisa polo e sapatênis, que são suas roupas prediletas.

Mesmo que não tenha nada a esconder e ainda que nunca ande com muito dinheiro no bolso, naquele dia sente-se observado. É uma sensação que já teve em outras situações, em outros lugares e que nunca soube explicar como isso acontece. Mas o incômodo de sentir-se vigiado é real, o que o faz tirar os olhos da leitura e olhar à sua volta. E lá está o motivo, bem à sua frente.

Sentada em um banco oposto ao seu, encontra-se uma mulher de meia idade, gordota, cabelos descuidados e começando a embranquecer, e o olhar de quem não é exatamente um modelo de normalidade. Parece já tê-la visto antes, mas volta à leitura do livro, lembrando-se do conselho do filho mais velho: -“o segredo é evitar contato visual com bêbado e gente doida, pois esse pessoal é muito pegajoso”.

Esboça um sorriso enquanto se lembra de sua juventude. Na época da faculdade, quando esperava o ônibus para voltar para casa depois das aulas, muitas vezes foi abordado por pessoas que pediam dinheiro exibindo nas mãos uma carteira profissional ensebada ou algum outro documento amarrotado, frequentemente embriagadas e com sinais nítidos de ter dormido em alguma calçada. Achava estranha a atração que exercia sobre essas pessoas - até mesmo quando havia mais gente no ponto de ônibus. Talvez fosse pelo fato de sempre olhar as pessoas com alguma curiosidade.

Lembrou-se de uma abordagem que foi particularmente divertida, quando um sujeito magro e alto aproximou-se e pediu cinquenta centavos, explicando com toda dignidade: -“não vou mentir não, eu quero é para a cachaça”. Como só tinha mesmo o dinheiro da passagem, não teve como atender ao pedido do cachaceiro, ainda que o achasse merecedor, só pela sinceridade demonstrada. Estava nesse devaneio enquanto tentava achar o ponto do livro onde tinha parado a leitura, quando ouviu a pergunta:

- Aconteceu alguma coisa, algum problema com você?

Olhou na direção de onde tinha partido a voz. Era a mulher sentada à sua frente, olhando fixamente para ele, com uma expressão que lhe pareceu misturar preocupação e censura. Tentou cortar o contato visual, mas foi impedido por outra pergunta:

- Porque você não veio ontem?
- Eu não entendi o que a senhora disse. O barulho...
- Eu perguntei se aconteceu alguma coisa com você, pois não veio ontem.
- Desculpe-me, mas a senhora deve estar me confundindo com outra pessoa, pois nem a conheço.

Demonstrando impaciência, a mulher eleva a voz.

- É claro que você me conhece! E não o estou confundindo com ninguém!
- A senhora deve estar enganada. Sem querer ofender, nunca a vi mais gorda!
- Não estou preocupada se o senhor me acha gorda ou magra, nova ou velha, mas eu o conheço muito bem!

Um diálogo surreal assim não podia estar acontecendo, pensou o aposentado. Tentou suavizar as palavras, até para que os demais passageiros parassem de olhar para ele, com risinhos e sorrisos disfarçados.

- Peço desculpas se a ofendi. O que eu quis dizer e estou enfatizando é que não a conheço ou, se já fomos apresentados alguma vez, infelizmente não consigo me lembrar quando nem onde.
- Você me conhece aqui mesmo do metrô. Todo dia, neste horário, você embarca na segunda estação depois da minha, escolhe sempre o assento defronte ao meu, tira os óculos do bolso, abre o livro e começa a ler. Está sempre vestido de calça jeans, camisa de malha com gola polo e calça sapatênis. Marrom. Como vê, eu sei tudo sobre você. Ah, e desce na estação antes da minha.

Era uma situação estranhíssima e potencialmente fora de controle. Até mesmo pela falsa intimidade da forma de tratamento que ela empregava. Estaria ele sendo objeto de uma paquera enrustida e silenciosa de uma velhota feia e gorda? Ficou tentado a pensar que em vez de “objeto”, o certo seria considerar-se “vítima”, mas recusou a avaliação preconceituosa. Estava imaginando como poderia acabar com aquele circo constrangedor e grotesco, quando a mulher atacou de novo, com a voz um pouco mais alterada:

- Quando eu percebi que você tinha um comportamento metódico e organizado, sempre repetindo os mesmos gestos, eu fiquei feliz. Aliás, mais que feliz, fiquei aliviada, me identifiquei com seus gestos. Antes de você aparecer, eu passava o tempo contando os bancos e os rebites do vagão. Você neutralizou essa minha fissura, essa ânsia. Por isso é que eu perguntei o que aconteceu, pois fiquei preocupada quando não apareceu ontem.

Era demais! Aturar bêbados e loucos mansos por alguns minutos em um ponto de ônibus era suportável, mas servir de terapia para uma mulher provavelmente psicótica, portadora de TOC e atitudes francamente desequilibradas durante todo o percurso feito diariamente no metrô, seria mais do que estava disposto a aceitar. Aquilo precisava acabar. E de forma definitiva.

Tentou sorrir de forma cúmplice para ela até que o metrô parasse na próxima estação, não importando qual fosse. Quando a porta se abriu, saiu rapidamente do vagão, sem olhar para trás, mas não sem antes ouvir a doida gritando:

- “Volta, você desceu na estação errada!”

Aliviado, pega um táxi e vai para casa, de onde liga para o cunhado. Conta rapidamente o acontecido e termina a conversa, dizendo:

- Sinto muito, mas depois de hoje decidi parar de trabalhar definitivamente. Simplesmente não dou mais conta nem estou a fim de aguentar coisas desse tipo. Depois a gente se fala mais.

domingo, 26 de março de 2017

MAIS EMBAIXO QUE O PRÉ-SAL

Recentemente, li na internet duas notícias de fazer cair o queixo (claro, para quem tem queixo, que não é o meu caso). Na verdade, trata-se apenas de uma mesma notícia, divulgada por dois veículos diferentes. Achei a primeira no portal G1, que publicou isto em sua edição do dia 08/03/2017:
“Odebrecht pagou R$ 10,5 bilhões em propina em 9 anos, diz ex-funcionário
Revelação foi feita à Justiça Eleitoral. Valor incluiu caixa 2 para campanhas eleitorais e propina para garantir obras”.

Um dia antes, em 07/03/2017 o site politica.estadao.com.br divulgou esta outra:
“'Departamento da propina' da Odebrecht movimentou US$ 3,3 bi entre 2006 e 2014
Hilberto Mascarenhas, um dos responsáveis pelo 'departamento de propina' da empreiteira, detalhou os pagamentos com recursos ilegais da empresa”

R$10,5 bilhões! É muita, muita grana. Nessas horas, eu sempre me lembro de um texto do Rui Barbosa, aquele que diz que “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

Grande Rui, grande cabeção! De tanto ver prosperar as grandes construtoras de obras públicas, de tanto ver seus nomes citados na Operação Lavajato, eu chego a desanimar-me do futuro do país e a ter vergonha de ser brasileiro. Sinceramente, eu penso que se um dia algum maluco resolver escrever a “História da Corrupção no Brasil”, poderá aproveitar os dados pesquisados e escrever simultaneamente uma “História das Obras Públicas Brasileiras”, pois estará quase que automaticamente descrevendo a relação simbiótica entre empreiteiros de obras públicas e toda sorte de “autoridades”. E é obra para dez volumes, no mínimo.

Mas, você já se perguntou qual o impacto do pagamento de propina ou o que isso representa no sobrefaturamento de uma obra pública? Não? Vou te dar uma dica, recorrendo à Matemática (vou fazer umas continhas) e algum bom senso. Mas, antes, preciso deixar claro que é apenas um exercício para não deixar o cérebro parado. Além disso, usarei não a Odebrecht, mas uma empreiteira hipotética – ou um grupo delas – para fazer minhas ilações. Utilizarei apenas o valor da propina que foi noticiado, mas deixo claro que não conheço ninguém da Odebrecht nem nunca trabalhei lá. Bora lá.


Só para simplificar, admitamos que uma propina alegremente cobrada e paga represente cinco por cento do valor de uma obra pública. É muito? É pouco? Sinceramente, imagino que seja uma taxa talvez modesta, pois ao longo de minha vida profissional ouvi falar de 2%, 5%, 10%, 15%, tendo chegado ao paroxismo de 20 ou 30% na era PC Farias. Seria isso verdade? Não sei, sinceramente, pois não atuava nessa área, mas engenheiros são pessoas que gostam de contar vantagem, gente muito fofoqueira.

Então, voltando aos nossos modestos 5% de propina paga, podemos estimar o valor contratado a partir de uma regra de três simples. Se R$10,5 bilhões correspondessem a 5% do valor total de uma carteira de obras contratadas,  100% corresponderia a... Se você ainda consegue fazer essa conta, descobrirá que esses 100% equivaleriam a contratos no valor de R$210,0 bilhões (uma merreca!).

Vamos agora para o senso comum: alguém, em sã consciência, aceitaria “molhar a mão” de uma “autoridade” tendo como contrapartida apenas um contrato que já começa deficitário? Deficitário? Claro, pois se uma empreiteira apresenta uma proposta justa e sem “gordura” nenhuma, tirar 5% desse preço suado seria o mesmo que cortar na própria “carne”. Isso é particularmente verdade no universo das pequenas construtoras. Ficar com apenas 95% de um contrato significaria exatamente cortar a própria carne, pois pequenas empresas que ganham uma licitação de obra com porte compatível à sua capacidade de executá-la, já tiraram toda a “gordura” porventura existente em sua proposta. Como dizia um ex-colega, “já ralou o cu nas ostras” para vencer os concorrentes.

- “Nunca perdi dinheiro por NÃO fazer uma obra”, era a frase que o presidente de uma empresa em que trabalhei gostava de repetir. Obviamente, essa reflexão surgiu por ter perdido dinheiro em virtude de um orçamento errado ou otimista demais. Assim, para prevenir esse problema, o mais lógico seria embutir no preço ofertado a propina previamente conhecida ou cobrada.

Ainda recém-formado, fiquei sabendo que a modestíssima empresa onde eu trabalhava aumentava em 2% o valor de sua proposta, sempre que entrava em licitações promovidas em um município da grande BH, pois essa era a taxa exigida pelo então prefeito. Detalhe: nunca mais ganhou nenhuma, pois sempre aparecia alguma “gatinha” que desconhecia o apetite do alcaide. Sabia de nada a inocente! A novata podia ganhar a licitação, mas só receberia suas faturas em dia se pagasse o pedágio já conhecido pelas demais. Corte na carne.

Se a coisa parasse só nisso, já teríamos uma obra com sobrepreço provocado apenas pela fome dos corruptos. Então, se até as micro-construtoras tomam essa “vacina”, porque as maiorzinhas e as gigantonas não tomariam? Me engana, que eu gosto.

Agora, viaje comigo e tente pensar com a cabeça de um presidente ou diretor de empreiteira. “Se eu tenho que pagar 5% a esse filho da puta só para viabilizar a assinatura do contrato e receber as faturas em dia, porque eu não subo um pouco mais meu preço, dou uma engordada nele? Assim, todo mundo sai ganhando. Até o valor dos 5% fica maior!

Está claro que ele não fala sozinho. Nesse caso, um interlocutor (de máxima confiança) poderia comentar que está tudo muito bom, está tudo muito bem, mas realmente agindo assim, o resultado seria perder a licitação. A menos que se conseguisse fraudar e alterar as condições do edital... Já viu que é mole fazer isso quando corruptos e corruptores são “amiguinhos”, não é mesmo?

Então, voltando à nossa hipótese inicial, imaginemos que o dono, presidente, diretor ou lobista de uma empreiteira tenha um apetite mais acentuado, uma “goela larga”, seja “fominha” ou apenas com ética zero. Ele poderá pensar (e certamente pensará) que se é obrigado a pagar 5% para o corrupto filho da puta, sua construtora poderá muito bem engordar seu preço em 10, 15% ou até mais. Afinal, “já está tudo combinado mesmo”...

Aí, já que é para “estragar a lavoura”, adotemos um aumento (modesto) de 20% na proposta da empresa. Nesse caso, imaginando que os contratos da nossa empreiteira genérica tivessem essa “vacina”, o preço JUSTO seria encontrado dividindo-se a merreca de R$210,0 bilhões por 1,20. O preço assim obtido seria igual a R$175,0 bilhões. O que se pode extrair disso? Olhaí:

Preço justo para os serviços:                             R$175,0 bilhões
Valor dos contratos “anabolizados”:                   R$210,0 bilhões
Propina paga:                                                     R$  10,5 bilhões
“Troco” embolsado pela empreiteira hipotética: R$  24,5 bilhões

Ficou escandalizado? Sinceramente, excluído o valor da propina já admitido, eu penso que os porcentuais utilizados são até conservadores. E se você se lembrar dos nomes e porte das diversas empreiteiras envolvidas na Lavajato, perceberá que o buraco é bem mais embaixo, mais fundo que as jazidas de petróleo do Pré-Sal.

quinta-feira, 23 de março de 2017

ACERTO DE CONTAS

Um dos sentimentos mais dolorosos que existem é a sensação de ser ou de ter sido enganado por alguém. Infelizmente, eu sou um especialista nessa área. Talvez por isso, acordei mais cedo que o normal, com uma grande sensação de tristeza. Com bastante frequência, nos últimos tempos tenho acordado com essa tristeza e a sensação de ter sido enganado, de ter-me enganado outra vez.

Hoje essa tristeza foi provocada pela compra de um produto que você nunca conseguiu entregar. Eu devia ter desconfiado que você nunca conseguiria cumprir as promessas feitas. Fechado o negócio, assinados os papeis (que assinei sem ler nenhum), percebi ou fiquei com a sensação de ter sido manipulado, enganado. Tudo isso graças a um comportamento que tenho sempre que simpatizo com alguém. E você é, sempre foi essa pessoa. Talvez eu esteja enganado, talvez eu seja e continue a ser eternamente apenas um sujeito bobo que não tem amigos e, por isso, transforme qualquer qualquer pessoa que me dê atenção, que pareça ser gente boa em “amigo de infância”.

Acredito que foi isso que aconteceu, daí a minha tristeza, pois eu ACEITEI sem questionar tudo o que disse e ofereceu. Hoje eu acordo com a sensação de estar fragmentado e mal colado, como se me visse refletido em um espelho todo trincado  Mas o erro foi meu. Vendedores, especialmente os talentosos, têm alma de predador, de caçador, de pescador. Observam, analisam, cevam e capturam a presa de forma despreocupada e calculada, pois essa é sua sina, sua tragédia. Cabe ao comprador analisar, refletir, questionar e até recusar o que fugiu das conversas iniciais. 

Mas o errado, volto a dizer, o principal errado sou eu. Durante nossas conversas (sempre boas e divertidas, devo admitir), eu me esqueci de que estávamos e sempre estivemos em polos opostos. Você sempre assumiu o papel de "Vendedor" enquanto eu vestia a pele de “Comprador”, alheio a todos os indícios de que não deveria confiar em você. Afinal, você era muito novo e inexperiente, não tinha estrutura nenhuma para garantir a entrega do que oferecia. 

Como confiar em alguém assim? Honestamente, você acha mesmo que eu deveria ter confiado? Insensato! Porque foram sonhos, sonhos foi o que comprei de você, acreditando que bastava isso para que conseguisse realizá-los. Ingênuo!

O velho coloca sobre o criado mudo o porta-retrato com sua foto de juventude, já amarelecida pelo tempo em que ficou exposta à luminosidade. Levanta-se do pequeno sofá de apenas um lugar que fica ao lado da cama, caminha com alguma dificuldade até o banheiro e olha-se no espelho, também ele velho, manchado e faltando um pedaço em um dos cantos.
- Como eu envelheci!

domingo, 19 de março de 2017

"O PASSARINHO DO RELÓGIO ESTÁ MALUCO"

Tenho acordado tantas vezes durante a noite que vou acabar descolando um “bico” (boa essa!) para trabalhar como um relógio cuco. Só que em vez de ficar esgoelando “cuco, cuco, cuco” tal como faz aquele passarinho mala, a cada vez que acordar, vou exclamar “que cu, que cu, que cu”!

A vantagem é que poderei ficar conhecido como “Seu Cuco”. Assim, quando alguém me perguntar se eu conheço o “Seu Cuco”, mineiramente responderei:

- “Seu Cuco é eu”!

COMENTANDO AS RECENTES - 035

Depois de ler na internet que “por conta da operação ‘Carne Fraca’ o secretário executivo do Ministério da Agricultura Eumar Novacki falou que o mais prudente seria evitar o consumo principalmente de salsichas e mortadelas”, pensei com meus borbotões:

- Agora ferrou! Mais um golpe dos coxinhas contra os mortadelas!

Mas era apenas um momento pessoal de miolo mole, pois ao continuar a leitura, descobri que “de acordo com o ministério, o esquema fraudou mortadela, salsicha e carne de aves”. Aí desencanei, pois coxinhas e mortadelas estão igualmente fritos nessa história mal-cheirosa. Papelão!

sábado, 18 de março de 2017

REELIN AND ROCKIN - CHUCK BERRY

Morreu hoje uma lenda do rock, o velho e bom Chuck Berry. Para mim ele é o pai do rock and roll. E a mãe seria o Little Richard. Como acontece normalmente, os homens em geral vivem menos. Para homenagear esse sujeito que alegrou minha juventude com suas músicas contagiantes, resolvi mover para a data de hoje um post que saiu originalmente em 05/08/2016. A partir daqui, o texto é o originalmente postado. Vê aí.


Como já disse antes, minha vida sempre foi marcada pela batida do rock, do qual gostei desde a primeira vez em que ouvi esse ritmo, ainda na infância (minha e do rock). Para mim, o pai do rock é o Chuck Berry (a mãe é o Little Richard). Em 2009, quando ele se apresentou em BH, achei que não valia a pena ir vê-lo, pois o cara já estava com 83 anos. Sem se preocupar com isso, uma sobrinha de minha mulher foi ao show e saiu extasiada, tal a energia do "JB Goode" (Johnny B. Goode). Fazer o que, não é mesmo?

Pois bem, não pretendo publicar mais nada na seção “Reverência” deste blog. Por isso, se todo início tem um final, nada melhor que finalizar com uma música composta em 1958, bem no início de minha vida desgovernada. A diferença é que a versão que escolhi foi tocada (e gravada) em 1972, durante uma temporada de shows em Londres. Sete minutos de pura safadeza não explícita, mas totalmente sugerida. O velho e bom Chuck estava com 46 anos, mais esperto e sacana que a plateia de jovens que o assistia.

Para quem quiser ver essa apresentação, o link está no final do texto. A letra traduzida foi obtida no fascículo dedicado ao roqueiro (fazia parte  da coleção “Rock - A História e a Glória”). Essa tradução (muito boa, por sinal) está em cima da gravação que saiu neste vinil:


Olha o link:


Olha a tradução:
Às vezes eu acho que vou, mas aí acho que não vou
Às vezes eu acho que vou, mas aí acho que não vou
Às vezes eu faço mas aí acho que não faço

Olhei no relógio, e era quase uma
Falei: vem cá, boneca, vamos nos divertir

Refrão repetido a cada "olhada no relógio"
Ficamos girando, filha
Girando & balançando & requebrando até o dia raiar

Olhei no relógio, eram quinze pras duas
Ela disse que não era mas eu sabia que era sim

Olhei no relógio, e eram quinze pras três
Ela disse "Espera um minuto, Chuck eu vou..."
Traz uma coca aí (1)                       ,

Olhei no relógio, eram quase quatro horas
Aí ela me virou e disse "faz isso outra vez"

Olhei no relógio e eram quinze pras cinco
Eu tava mais morto que vivo, pô!

Olhei no relógio, eram cinco e quinze
Rodando que nem um mustang com tração nas quatro rodas

Olhei no relógio, eram quinze pras seis
Uuuuuui, finalmente fiquei pronto

Olhei no relógio, eram seis e pouco
Pô, eu voltei firme que nem uma mistura de cimento

Olhei no relógio, eram sete e quinze
Foi quando rodopiamos e subimos pro céu (2)

Olhei no relógio, eram quinze pras oito
Sabe, ela deu uma.mexidinha e me fez ficar todo esticado

Olhei no relógio, eram quinze pra nove
Ela disse “ai, Chuck querido, é gostoso demais

Olhei no relógio, eram quinze pras dez
Sabe que ela me chamou de volta e me obrigou a fazer outra vez?

Olhei no relógio, eram onze e meia
Aí ela pegou, me xingou um palavrão, sabem por quê? Ora, não vou contar por que!

Olhei no relógio, eram doze em ponto
Começamos a cavar que nem uma velha escavadeira

Sarramos na cozinha, sarramos no corredor
Sujou um pouco no meu dedo então limpei na parede
E giramos & balançamos & requebramos até o dia raiar

(1) a rima óbvia era pee, urinar ... (brincadeirinhas)
(2) heaven, céu, é uma das poucas palavras em inglês que rimam com seven, sete.

sexta-feira, 17 de março de 2017

COMENTANDO AS RECENTES - 034 (CARNE FRACA)

(ESTE É O 900º POST DO BLOGSON!!!)

Como todo mundo sabe, quando algum defeito é detectado em algum produto, que pode ser carro, eletro ou coisa parecida, o fabricante ou distribuidor faz uma convocação pública para que esse produto lhe seja levado de volta, para substituição ou reparo da peça ou produto defeituoso. A isso dão o nome de Recall (Jotabê também é cultura!).

Agora, com a interdição de três frigoríficos pelo Ministério da Agricultura após denúncias de irregularidades divulgadas pela Polícia Federal na operação "Carne Fraca", minha sugestão é que essas empresas façam também uma convocação pública para substituição dos produtos “carne fraca”.

Poderiam até dar a isso o nome de Re Cow. Acho que ficaria bacana.

SAIU NO FEICIBUQUE - 025

Para matar o tempo, postei no Facebook uma foto tirada no dia de meu casamento. Lá estou eu no altar, magro igual a um espeto, sorridente, mas com cara de assustado, na posição “esperando a noiva entrar”. O maior defeito da fotografia é o noivo, ou melhor, o terno do noivo. Aí completei o post com esta frase:

"Moda" é tudo o que você lamenta ter usado um dia, ao se ver em uma foto antiga.

Para minha surpresa, um porrilhão de pessoas curtiu, comentou e, principalmente, riu da desgraça alheia. Por conta dessas reações, contei o caso da compra desse terno de tão má lembrança. Como esse texto é parte de um post já divulgado aqui no Blogson, servirá hoje apenas para apresentação da "foto do noivo", devidamente “tratada” (tem até óculos!), para preservar um pouco a privacidade.

"Um irmão de minha mãe trabalhava no “Rei das Casimiras”, uma loja bacana que existia na Av. Afonso Pena. O dono da loja era um descendente de libaneses, chamado Ralim (?). Esse sujeito era uma figuraça. Alinhadíssimo, estava sempre de terno, sempre impecável.

Logo no início do nosso namoro, minha mulher foi com uma colega de serviço para comprar um tecido para me dar de presente. O sobrenome dessa colega era Nacif e, claro, também era descendente de libaneses. Escolheram o tecido e o pedido com os dados da compra foi preenchido. Quando já iam pagar, o Ralim interveio, dizendo algo assim:

- Você não pode ir pagando assim, sem nem pechinchar, sem pedir desconto!

Minha mulher e a colega devem ter ficado meio roxas de sem graça. Não sei se ele já conhecia essa moça ou se ficou sabendo de sua ascendência ali na hora. O fato é que achou um absurdo que ela não tivesse orientado a colega na arte da pechincha. As duas estavam no horário de almoço, super corrido, e estavam loucas para voltar ao trabalho. E ele lá, discutindo qual o preço que ela queria pagar, essas coisas.

Quando meu irmão se formou (1973), eu mandei fazer um terno sob medida para ir ao baile. Comprei o tecido com tio Tôto e um alfaiate muito bom, seu conhecido, fez o terno. Em 1974 foi minha formatura. Não tive dúvida, mandei fazer outro. Os dois ternos ficaram excelentes, embora o estilo hoje seja ridículo, pois as calças eram tipo 'boca de sino' (ou pantalona) e com cintura bem alta (toureiro light). No ano seguinte (1975), eu me casei. Como o casamento civil era de manhã e o religioso à noite, resolvi fazer outro terno. Usaria o de minha formatura no casamento civil e o novo, no religioso.

O procedimento seria o mesmo, mas fui atropelado pelo Ralim. Não sei por que, ele resolveu me atender e ajudar a escolher o tecido.

- Você vai fazer a calça e o colete com este tecido cinza claro. A camisa você fará com este outro aqui, um cinza ainda mais claro. Agora, para o paletó você usará este aqui, quadriculado de cinza e branco.

Devo ter protestado meio sem jeito e dito que gostava de cores lisas, sóbrias. Não adiantou.

- Rapaz, isso é a última moda, você vai ficar elegantíssimo!

E o mané aqui acabou concordando. Todas as vezes que vejo as fotos de nosso casamento, fico meio puto de ter aceitado aquela sugestão. O terno ficou uma bosta de feio! Mas o turco era "boa gente".

Olhaí o "bonitão da bala chita". Saca só o bigode, a calça "boca de sino" e, principalmente, o paletó XADREZ!!!!!!!!!!!


quarta-feira, 15 de março de 2017

JOTABÊ FASHION RIDES AGAIN

Eu sou da opinião de que o que é ruim sempre pode descer para um nível mais baixo, certo? Muito bem, aí vai a versão "nutella" da camiseta. E em duas tonalidades diferentes!


JOTABÊ FASHION

Até agora não entendi muito bem esse papo de "raiz versus nutella". Mesmo assim, resolvi dar minha contribuição aos que curtem o lado "raiz" da vida. E a forma que encontrei foi adventurar pelo mundo da moda. Quem sabe não estará acontecendo agora o advento de uma marca multimilionária e de sucesso legalático? Afinal, preciso trocar minha Ferrari!

Olhaí a camiseta "raiz". Simples, careta e quadrada, como toda raiz que se preze.


sábado, 11 de março de 2017

O QUIZ QUE EU QUIS POSTAR NO FACEBOOK

Aviso aos 2,3 leitores do Blogson:
Este post é só uma versão simplificada do "QUIZ? QUIZÉRA!" que tentei colocar no Facebook. Como o quadrinho ficou ilegível, vou tentar divulgá-lo aqui no blog, para ver se a leitura fica mais fácil.


Quiz, quiz, quiz! Estou de saco cheio de tanto quiz que vejo por aí. O pior de tudo é que eu nem sabia o que significa “quiz”! Fui procurar no Google, o pai dos muito burros, e descobri que “quiz” é apenas um questionariozinho de merda, um estrangeirismo, um testezinho metido a besta. Aí fiquei mais puto ainda. Tão puto que resolvi criar um também. Mas como sou um pouco menos burro que minha cara de retardado faz crer, resolvi criar também um nome novo para meu testículo (diminutivo sintético de teste, entendeu?).

Como ia dizendo quando fui interrompido por mim mesmo, resolvi criar um nome de impacto para meu pequeno teste. O nome gringo é “quiz”? O meu, muito mais chique, seria o “quiz do Zé”, ou quiZé. Que acabou virando “quiZéra!”. Maneiro! Por que acento agudo no “E”? Problema meu, pois esse teste foi criado e bolado pelo Zé, que sou eu, captou?

Agora, falando sério, criar um perfil no Facebook permitiu-me observar a paixão avassaladora que algumas pessoas manifestam quando o assunto são os acontecimentos políticos dos últimos anos no Brasil. Hoje, o embate Direita vs. Esquerda consegue provocar mais reações e comentários extremados que um clássico do futebol mineiro, um jogo decisivo entre Atlético e Cruzeiro, por exemplo. E a vantagem é que ainda tem “juiz”, só pra gente poder ofender a mãe dele.

Para mim, essa é uma descoberta incômoda e difícil de aceitar, não porque duvide, mas por não concordar com essa polarização exacerbada. Os sentimentos que esse tipo de radicalismo me provocam são surpresa, raiva, desprezo, consternação e tristeza, nunca de aprovação.

Pois bem, depois de fuçar a internet à procura de subsídios para embasar minha visão, fiz um listão onde estabeleço minha identificação com as ideias e “bandeiras” da Esquerda ou da Direita. Para minha surpresa, descobri ter um perfil ligeiramente mais de Direita que de Esquerda, na base de 58% a 42%. Mesmo assim, continuo me considerando de Centro, “Independente” ou, no máximo, de centro-direita.

Por tudo isso e a partir das coisas que fui encontrando na internet, resolvi fazer um questionário para identificar o grau de polarização de cada um. Está claro que embora reflita minhas próprias convicções, isso é apenas uma brincadeira, um “quiz”, pois não sou cientista político nem sociólogo nem porra nenhuma ligada ao estudo dessa coisa chatíssima chamada “política”.

Mas vamos às instruções de uso: por exemplo, se alguém gosta tanto do Bolsonaro ao ponto de chamá-lo de “mito”, nem precisa fazer o teste, pois seu perfil é de extrema-direita. Já se alguém acha a Jandira Feghali o máximo, fica a dúvida, pois não se sabe se a pessoa é de extrema esquerda ou de extremo mau gosto, porque ela é feia pra caramba.

E o quiZéra é facinho: as bandeiras e temas prediletos da Direita estão coloridos de “bege coxinha”, enquanto os da Esquerda apresentam um lindo “vermelho mortadela”. Se você se identifica com determinado tema, você marca “x” ou “1” na coluna na qual ele mais se adapta. Exemplo: “direito ao aborto”: se você concorda, marque 1 na coluna “E”. Se não concorda, marque “1” na coluna “D”.

Fazendo isso com cada um dos 24 temas e somando o total de cada coluna, você saberá sua mistura “coxinha x mortadela”. E se você conseguir 24 pontos em apenas uma única coluna (qualquer das duas), você terá direito ao troféu virtual “Anta Batizada”. Tá esperando o que para se divertir? Só não me venha contar seus resultados, pois não tenho o menor saco para essas coisas. Vê aí.


quarta-feira, 8 de março de 2017

DÚVIDA

Impulsos,
Elétricos.

Ondas,
Cerebrais.

Sinapses
Em frenesi.

Em qual ingrediente
Misterioso
Está guardada
A poesia?

segunda-feira, 6 de março de 2017

QUIZ? QUIZÉRA!

No final do post “Meu nome é JB!” eu prometi apresentar uma “lista de supermercado” com minhas preferências ideológicas. Pois bem, depois de fuçar a internet à procura de subsídios para embasar minha visão, fiz um listão onde estabeleço minha identificação com as ideias e “bandeiras” da Esquerda ou da Direita. Para minha surpresa, descobri ter um perfil mais de Direita que de Esquerda, na proporção 65% vs. 35%. Mesmo assim, continuo me considerando de Centro - ou “independente”.

Criar um perfil no Facebook permitiu-me observar a paixão extremada de algumas pessoas quando o assunto são os acontecimentos políticos dos últimos anos no Brasil. O embate Direita vs. Esquerda consegue provocar mais reações e comentários extremados que um clássico do futebol mineiro, um jogo decisivo entre Atlético e Cruzeiro, por exemplo. Para mim, essa é uma descoberta incômoda e difícil de aceitar, não porque duvide, mas por não concordar com a polarização exacerbada. Os sentimentos que esse radicalismo me provocam são surpresa, raiva, desprezo, consternação e tristeza, nunca de aprovação. 

Em um discurso que fez como paraninfo de um curso de comunicação, o publicitário Nizan Guanaes fez uma citação do livro do Apocalipse, ao dizer “seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito”. Essas palavras podem estar corretas, acho mesmo que devemos procurar ser “frios” ou “quentes”, jamais “mornos” em nossas convicções, em nosso dia-a-dia, mas não entendo nem aceito que devamos ser “escaldantes” ou “gelados”, pois crenças, opiniões e convicções não são sinônimos de certezas.

Toda essa conversa foi motivada por um fato surpreendente que acompanhei no Facebook. “Coxinhas” e “mortadelas” começaram a debater e comentar um vídeo da Marilena Chauí, filósofa e professora universitária, em que fala (mal) “sobre a ideologia neoliberal e tece uma visão sobre como a ideia de meritocracia é construída e assimilada especialmente por jovens prestes a ingressar no mercado de trabalho” (texto de apresentação do vídeo).

A coisa fluiu normalmente com comentários contra e a favor. A cara do facebook, em resumo. Cansei daquilo e fui fazer alguma coisa mais útil. Mais tarde tentei localizar o mesmo post para saber como tinha evoluído a conversa. Procurei, procurei, mas concluí que tinha sido excluído por quem o postou. A surpresa aconteceu quando a mesma pessoa postou o vídeo outra vez, mas sem nenhum comentário.

Isso me fez tirar uma conclusão (que pode ser equivocada): se você apenas “curte” ou comenta um tema político (ou outro qualquer), dá para perceber a “silhueta” ideológica do seu perfil, dá para inferir que suas preferências, sua visão de mundo e seu estilo são de uma pessoa moderada, tipo centro-esquerda ou centro-direita. Se você compartilha algum post, você se mostra um pouco mais polarizado. Mas se alguém cria ou replica algum post mais agressivo e, ainda por cima, faz comentários passionais, mais parciais e com afirmações genéricas, maliciosas ou tendenciosas, então é um radical legítimo, tanto faz ser de direita ou de esquerda. E sinto desprezo por isso, mesmo que não despreze a pessoa que age assim.

Por tudo isso e a partir das coisas que fui encontrando na internet, resolvi fazer um questionário para identificar o grau de polarização de cada um. Está claro que, embora reflita bem minhas convicções, isso é apenas uma brincadeira, um “quiz”, pois não sou cientista político nem sociólogo nem porra nenhuma ligada ao estudo dessa coisa chatíssima chamada “política”. E como “quiz” é apenas mais um modismo, resolvi batizar meu questionário de “quizéra!” (afinal, meu nome é Jotabê). Vê aí.

ITEM
TEMA
POSIÇÃO
DIREITA
ESQUERDA
1
ADOÇÃO DE PRISÃO PERPÉTUA NO BRASIL
Totalmente a favor. Há crimes e criminosos que merecem esse tratamento.
1

2
CASAMENTO GAY
Totalmente a favor! Que problema há nisso? Além do mais, o país é laico.

1
3
COMPORTAMENTO POLITICAMENTE CORRETO
"RADICALMENTE" contra! Quem defende esse tipo de coisa pratica um preconceito reverso. Quando eu estava ainda no ensino fundamental aprendi que mameluco(a) era o filho de índio(a) com branca(o), cafuzo(a) era o filho de índio(a) com preto(o) e que mulato(a) tinha como pais um(a) branco com um(a) negra(o). Hoje a coisa ficou complicada, pois não se pode dizer "mulato(a)". Além disso, os descendentes (ou não) de antigos escravos devem ser chamados de "afro-americanos". Aí eu me pergunto como os tediosamente corretos se referem aos africanos de cor preta. Deveriam chamá-los de "afro-africanos"? E como devem ser chamados os branquelos da África do Sul, por exemplo? Sinceramente, não tenho saco para esse tipo de fundamentalismo. Aliás, sou CONTRA qualquer tipo de fundamentalismo, de radicalismo.
1

4
COTAS SOCIAIS E RACIAIS
Totalmente contra, pois atropela o mérito individual dos que não têm direito a essa mamata. Mesmo que os defensores de sua existência pensem que "se essa pessoa se opõe à política de cotas indiferente ao nosso passado escravocrata, indiferente ao fato de que os negros no Brasil, em média, ganham apenas 57% do que ganham os brancos, e se não lhe importa que 68% das mortes violentas no país atingem apenas os negros, então é claro que tal pessoa defende uma bandeira conservadora, típica da direita". Fala isso para o Joaquim Barbosa!
1

5
DEFESA DOS DIREITOS DE GRUPOS MINORITÁRIOS E VULNERÁVEIS
Sou favorável a direitos e oportunidades fundamentais iguais para todo mundo: homem ou mulher, rico ou pobre, preto ou branco, hetero ou gay, velho ou novo e por aí vai. Mas não aceito que desiguais sejam tratados como iguais só para que se promova a "justiça social". Inteligente é diferente de "burro", trabalhador é diferente de preguiçoso, honesto é diferente de ladrão, estudioso é diferente de malandro. Para melhor entender meu pensamento, ler a "parábola do semeador".

1
6
DISCIPLINA FISCAL MONETARISTA
Totalmente a favor. Só se pode gastar o que se arrecada, não dá para fazer gracinhas com inovações heterodoxas tão amadas pela Dilma e Mantega.
1

7
ESTADO MÍNIMO
Não é papel de o Estado gerir empresas nem indústrias. "O Estado deve ser limitado a atuar apenas nas áreas em que sua presença é considerada necessária: segurança, saúde, educação e assistência social". Lembrando que a educação e a saúde precisam ter qualidade.
1

8
ESTATIZAÇÃO E CONTROLE DA ECONOMIA PELO ESTADO
Radicalmente contra! Isso pode ser bom para Cuba, Coréia do Norte e países que “amam” seus habitantes. Xô, comunismo!
1

9
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
Essa é uma maluquice que não aceito em nenhuma hipótese. Para mim (não sou advogado), só há duas hipóteses para qualquer tipo de crime: absolvição ou condenação através de julgamento. Pouco importa quanto tempo tenha se passado entre o crime e o julgamento. Não dá para aceitar chicanas, firulas e procrastinações. Resumindo, cagou, pagou.
1

10
EXTREMA DIREITA
Totalmente contra

1
11
EXTREMA ESQUERDA
Totalmente contra
1

12
FLEXIBILIZAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO
Totalmente a favor. Com a crescente automatização e extinção de profissões, precisamos de "trabalho", não necessariamente de "carteira assinada". Dentro da linha "quem sabe de mim sou eu"
1

13
IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS
Totalmente a favor. Mas acho que também deveriam ser estimuladas doações a museus e universidades, a exemplo do que ocorre nos EUA.

1
14
INTERVENÇÃO MILITAR
Totalmente contra! Só maluco pensa em idiotices desse tipo.

1
15
LEGALIZAÇÃO DO DIREITO À EUTANÁSIA
Totalmente a favor, nos casos de sofrimento extremo e impossibilidade de cura.

1
16
LEGALIZAÇÃO DO DIREITO AO ABORTO
Totalmente a favor, observadas as práticas de países civilizados. Além do mais, o Brasil é um pais laico. Devem ser respeitados e reconhecidos "os direitos da mulher sobre seu próprio corpo e por determinar seu próprio destino (ou seja, ser ou não ser mãe naquele momento de sua vida)". Aliás, devem ser respeitados os direitos de qualquer um sobre seu próprio  corpo, independente de gênero.

1
17
LIBERALISMO ECONÔMICO
Totalmente a favor! "o liberalismo econômico é identificado com ideias como a economia de mercado, pouca intervenção do Estado na economia e a máxima de que o indivíduo deve ter a liberdade de fazer negócios e construir seu próprio patrimônio, sem maiores obstruções. Também é contra qualquer arranjo em que o Estado favoreça arbitrariamente certos grupos empresariais, criando oligopólios e afins".
1

18
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Totalmente a favor! Não aceito mordaça em hipótese nenhuma. Também serve a expressão "não gostou, me processe".
1

19
LIBERDADE DE IMPRENSA
Totalmente a favor! É dever da imprensa noticiar o que acontece (se possível, da forma mais isenta).
1

20
LIBERDADE INDIVIDUAL
Que "cada pessoa faça o que bem entender com sua vida, desde que não fira a liberdade de outras pessoas". As pessoas devem ser livres para fazer suas escolhas pessoais e profissionais. E a colher o resultado disso depois.
1

21
NACIONALISMO
Totalmente contra, tanto faz ser de direita ou esquerda.
1
1
22
PRIVATIZAÇÃO DE EMPRESAS PÚBLICAS
Em linhas gerais, totalmente a favor. "a economia deve ser livremente determinada pelas forças de mercado, com a mínima intervenção possível do Estado, visto na maior parte das vezes como danoso".
1

23
REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
Totalmente a favor. Sem entrar no mérito da situação inaceitável e odiosa das cadeias e penitenciárias brasileiras, acho que os critérios existentes em países ocidentais mais desenvolvidos poderiam ser adotados aqui. Precisamos parar com a ideia de sempre tentar reinventar a roda. Já basta terem inventado a tomada elétrica brasileira.
1

24
REFORMA AGRÁRIA
A favor, desde que sejam utilizadas terras públicas. Ou que a desapropriação de propriedades particulares se faça a preço de mercado.

1
25
REGULAMENTAÇÃO DO USO DE DROGAS
Pessoalmente, sou contra o uso de qualquer tipo de droga, seja ela lícita ou ilícita. Mas acredito que vale a pena regulamentar e taxar essa coisa.

1
26
RESPEITO AO DIREITO DE PROPRIEDADE
Totalmente a favor. E contra qualquer tipo de ocupação ilegal, mesmo que os defensores dessa prática utilizem argumentos como este: "todos devem ter acesso à terra e ao trabalho (...) é injustificável a concentração de 49% das nossas terras agricultáveis em mãos de apenas 1% de proprietários (IBGE), e nem todos proprietários brasileiros". E daí? Se uma propriedade foi adquirida LEGALMENTE, pouco me importa se o dono é estrangeiro ou se comprou só para especular. Pagou pelo imóvel? Está dentro da lei? É dele, caramba!
1

27
VALORIZAÇÃO E DEFESA DO MÉRITO
Totalmente a favor, e nos moldes de Cingapura! "cada cidadão deve ser recompensado pela sua contribuição pessoal ao bem estar da sociedade. É por isso que existem patrimônios e remunerações desiguais: cada um tem méritos diferentes perante a sociedade. Por isso, é necessário que os salários sejam determinados com liberdade (no máximo sendo aceito o salário mínimo)."
1



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MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4