Entre 1995 e 1997 trabalhei
como terceirizado na URBEL, empresa
municipal dedicada à urbanização de vilas e favelas. Foi uma época de baixos
salários e grande crescimento pessoal, pois tive a oportunidade de conhecer a
miséria quase absoluta e as condições mais desumanas e insalubres que alguém
pode suportar. Um dos engenheiros fiscais com quem trabalhei já tinha sido
diretor desse órgão em administrações passadas e era uma figuraça, sempre sorridente
e de bem com a vida. Para ele, respeitadas as condições topográficas limite, as
obras de urbanização deveriam sempre privilegiar a construção de ruas, mesmo
que a inclinação do terreno praticamente inviabilizasse sua utilização como
tal.
Um dia, fui visitar uma vila
onde deveria ser construída uma escada de concreto para uso dos moradores. O
fiscal da obra era ele. Quando cheguei, uma “rua” já tinha sido rasgada com
trator, obrigando a uma série de adequações e mudanças no projeto executivo.
Comecei a ensaiar um esporro pela alteração não autorizada e fora de projeto,
quando me interrompeu: “- O que essa gente quer e precisa é de rua para acesso
de ambulâncias, entregadores de gás, entrega de móveis, mudança, esse tipo de
coisa. Olha como vai ficar legal”. Acabei por concordar com o “bom samaritano”,
mas saí desse órgão antes de ver a obra acabada.
Em outra ocasião, olhando os
barracos que iam sendo construídos na encosta do morro onde existia uma favela
antiga, comentou que seu sonho seria conseguir a doação de tintas de várias
cores, só para que os moradores acabassem com aquela paisagem cor de tijolo.
Achei graça na história e pensei que causaria um efeito parecido com as bandeirinhas
multicoloridas do Volpi.
Recentemente, assisti no Facebook
a um vídeo sobre Santorini, cidade grega construída na encosta de um morro
muito íngreme. Lembrei na hora do sonho de meu ex-colega, pois o que via
lembrava uma favela dos morros de BH ou do Rio, só que limpinha, branquinha,
com becos pavimentados e cheia de turistas encantados com a paisagem. Aí fui buscar mais informações na internet e
achei isso: “Santorini é uma ilha no
sul do mar Egeu, a cerca de 200
quilômetros a sudeste da Grécia continental. É a maior ilha de um pequeno arquipélago circular que leva o mesmo nome e é o
resto de uma caldeira vulcânica.
O conjunto de ilhas tem uma área de aproximadamente 73 quilômetros quadrados e
uma população estimada em 2011 em 15.550 habitantes”.
Busquei também informações
sobre favelas do Rio e BH. Acabei escolhendo o morro da Mangueira, pela
semelhança da foto encontrada com uma de Santorini. Segundo dados encontrados na
internet, Mangueira, hoje convertida em bairro, ocupa uma área total de 79,81ha
e sua população em 2010 era de 17.835 habitantes.
Eu sei que os conceitos
urbanísticos alternativos e excêntricos imaginados por meu ex-colega certamente
não acabariam com a miséria e nem (provavelmente) com a criminalidade, mas que
ficaria bem bacana uma favela brasileira alla Santorini, não se discute. Era mesmo um engenheiro sonhador esse meu
ex-colega. Grande Olavo!
SANTORINI - GRÉCIA
MORRO DA MANGUEIRA - RIO
FAVELA DO CAFEZAL - BH
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