domingo, 5 de março de 2017

OLHA SANTORINI AÍ, GENTE!

Entre 1995 e 1997 trabalhei como terceirizado na URBEL, empresa municipal dedicada à urbanização de vilas e favelas. Foi uma época de baixos salários e grande crescimento pessoal, pois tive a oportunidade de conhecer a miséria quase absoluta e as condições mais desumanas e insalubres que alguém pode suportar. Um dos engenheiros fiscais com quem trabalhei já tinha sido diretor desse órgão em administrações passadas e era uma figuraça, sempre sorridente e de bem com a vida. Para ele, respeitadas as condições topográficas limite, as obras de urbanização deveriam sempre privilegiar a construção de ruas, mesmo que a inclinação do terreno praticamente inviabilizasse sua utilização como tal.

Um dia, fui visitar uma vila onde deveria ser construída uma escada de concreto para uso dos moradores. O fiscal da obra era ele. Quando cheguei, uma “rua” já tinha sido rasgada com trator, obrigando a uma série de adequações e mudanças no projeto executivo. Comecei a ensaiar um esporro pela alteração não autorizada e fora de projeto, quando me interrompeu: “- O que essa gente quer e precisa é de rua para acesso de ambulâncias, entregadores de gás, entrega de móveis, mudança, esse tipo de coisa. Olha como vai ficar legal”. Acabei por concordar com o “bom samaritano”, mas saí desse órgão antes de ver a obra acabada.

Em outra ocasião, olhando os barracos que iam sendo construídos na encosta do morro onde existia uma favela antiga, comentou que seu sonho seria conseguir a doação de tintas de várias cores, só para que os moradores acabassem com aquela paisagem cor de tijolo. Achei graça na história e pensei que causaria um efeito parecido com as bandeirinhas multicoloridas do Volpi.

Recentemente, assisti no Facebook a um vídeo sobre Santorini, cidade grega construída na encosta de um morro muito íngreme. Lembrei na hora do sonho de meu ex-colega, pois o que via lembrava uma favela dos morros de BH ou do Rio, só que limpinha, branquinha, com becos pavimentados e cheia de turistas encantados com a paisagem.  Aí fui buscar mais informações na internet e achei isso: “Santorini é uma ilha no sul do mar Egeu, a cerca de 200 quilômetros a sudeste da Grécia continental. É a maior ilha de um pequeno arquipélago circular que leva o mesmo nome e é o resto de uma caldeira vulcânica. O conjunto de ilhas tem uma área de aproximadamente 73 quilômetros quadrados e uma população estimada em 2011 em 15.550 habitantes”.

Busquei também informações sobre favelas do Rio e BH. Acabei escolhendo o morro da Mangueira, pela semelhança da foto encontrada com uma de Santorini. Segundo dados encontrados na internet, Mangueira, hoje convertida em bairro, ocupa uma área total de 79,81ha e sua população em 2010 era de 17.835 habitantes.

Eu sei que os conceitos urbanísticos alternativos e excêntricos imaginados por meu ex-colega certamente não acabariam com a miséria e nem (provavelmente) com a criminalidade, mas que ficaria bem bacana uma favela brasileira alla Santorini, não se discute. Era mesmo um engenheiro sonhador esse meu ex-colega. Grande Olavo!

SANTORINI - GRÉCIA

MORRO DA MANGUEIRA - RIO

FAVELA DO CAFEZAL - BH


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