sábado, 6 de setembro de 2025

BOM MESMO

  
Encerrando as homenagens ao Veríssimo.
 
Tem uma crônica do Paulo Mendes Campos em que ele conta de um amigo que sofria de pressão alta e era obrigado a fazer uma dieta rigorosa. Certa vez, no meio de uma conversa animada de um grupo, durante a qual mantivera um silêncio triste, ele suspirou fundo e declarou:
- Vocês ficam ai dizendo que bom mesmo é mulher. Bom mesmo é sal!
O que realmente diferencia os estágios da experiência humana nesta Terra é o que o homem, a cada idade, considera bom mesmo. Não apenas bom. Melhor do que tudo. Bom MESMO.
Um recém-nascido, se pudesse participar articuladamente de uma conversa com homens de outras idades, ouviria pacientemente a opinião de cada um sobre as melhores coisas do mundo e no fim decretaria:
- Conversa. Bom mesmo é mãe.
Depois de uma certa idade, a escolha do melhor de tudo passa a ser mais difícil. A infância é um viveiro de prazeres. Como comparar, por exemplo, o orgulho de um pião bem lançado, o volume voluptuoso de uma bola de gude daquelas boas entre os dedos, o cheiro da terra úmida e o cheiro de caderno novo?
- Bom mesmo é o cheiro de Vick VapoRub.
Mas acho que, tirando-se uma média das opiniões de pré-adolescentes normais brasileiros, se chegaria fatalmente à conclusão de que nesta fase bom mesmo, melhor do que tudo, melhor até do que fazer xixi na piscina, é passe de calcanhar que dá certo.
Mais tarde a gente se sente na obrigação de pensar que bom mesmo é mulher (ou prima, que é parecido com mulher), mas no fundo ainda acha que bom mesmo é acordar na segunda-feira com febre e não precisar ir à aula.
Depois, sim, vem a fase em que não tem conversa. Bom mesmo é sexo!
Esta fase dura geralmente até o fim da vida, mesmo quando o sexo precisa disputar a preferência com outras coisas boas (“Pra mim é sexo em primeiro e romance policial em segundo, mas longe”). Quando alguém diz que bom mesmo é outra coisa, está sendo exemplarmente honesto ou desconcertantemente original.
- Bom mesmo é figada com queijo.
- Melhor do que sexo?
- Bom... Cada coisa na sua hora.
Com a chamada idade madura, embora persista o consenso de que nada se iguala ao prazer, mesmo teórico, do sexo, as necessidades do conforto e os pequenos prazeres da vida prática vão se impondo.
- Meu filho, eu sei que você aí, tão cheio de vida e de entusiasmo, não vai compreender isto. Mas tome nota do que eu digo porque um dia você concordará comigo: bom mesmo é escada rolante.
E esta é a trajetória do homem e seu gosto inconstante sobre a Terra, do colo da mãe, que parece que nada, jamais, substituirá, à descoberta final de que uma boa poltrona reclinável, se não é igual, é parecido. E que bom, mas bom MESMO, é nunca mais ser obrigado a ir a lugar nenhum, mesmo sem febre.

Grande e insubstituível Veríssimo! Para encerrar, só posso dizer que bom mesmo é leite gelado com  Toddy. Claro, depois do sexo.

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

EVIDENTE

 
Vidente é quem vê o invisível. E quem ouve o que é inaudível? Ouvidora? Ouvidente?
 
Mensagem telepática enviada pelo advogado do ex-ministro da defesa no governo passado para os advogados de defesa do ex-presidente:

“Segura aí na broxa que eu vou tirar a escada!”

FRASES DO VERÍSSIMO

 

Mais uma homenagem a meu ídolo Luis Fernando Veríssimo. E uma frase mereceu ser colocada em destaque.

Eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, completamente livre, é a que não tem medo do ridículo.

A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final.

É "de esquerda" ser a favor do aborto e contra a pena de morte, enquanto direitistas defendem o direito do feto à vida, porque é sagrada, e o direito do Estado de matá-lo se ele der errado.

Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data.

A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo?

No Brasil o fundo do poço é apenas uma etapa.

Só acredito naquilo que posso tocar. Não acredito, por exemplo, em Luiza Brunet.

Quando o casamento parecia a caminho de se tornar obsoleto, substituído pela coabitação sem nenhum significado maior, chegam os gays para acabar com essa pouca-vergonha.

Muitas mulheres consideram os homens perfeitamente dispensáveis no mundo, a não ser naquelas profissões reconhecidamente masculinas, como as de costureiro, cozinheiro, cabeleireiro, decorador de interiores e estivador.

Brasil: esse estranho país de corruptos sem corruptores.

Nunca usei bombacha, não gosto de chimarrão e nem de me lembrar da última vez que subi num cavalo. Aliás, o cavalo também não gosta.

Com esse negócio de clonagem, já estou me sentindo um disco de vinil.

Você é o seu sexo. Todo o seu corpo é um órgão sexual, com exceção talvez das clavículas.

Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.

O futuro era muito melhor antigamente.

Os tristes acham que o vento geme; Os alegres acham que ele canta.

O mundo não é ruim, só está mal frequentado.

Resignemo-nos à ignorância, que é a forma mais cômoda de sabedoria.

Você só sabe até onde pode ir quando já foi.

Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido.

Desenvolvi uma mente defensiva como um condomínio fechado. Uma mente com guarita, que abate qualquer inimigo na porteira.

Mas, como em tudo na vida, no amor também é preciso moderação.

Ironia tem que ser entendida como ironia, senão não é ironia.

Não sei para onde caminha a humanidade. Mas, quando souber, vou para o outro lado.

O outono é a única estação civilizada. A primavera é descontrole glandular da Natureza. O inverno é o preço que a gente paga para ter o outono, e por isso está perdoado. O verão é uma indignidade.

Passamos a vida inteira nos preparando para nossa morte e quando ela vem não podemos assistir.

A gente não faz aniversários. Os aniversários é que vão fazendo a gente. E depois, pouco a pouco, nos desfazendo.

Nosso dilema continua sendo que só nos livramos da morte livrando-nos do corpo e só nos livramos do corpo morrendo.

Ninguém é o que pensa que é, muito menos o que diz que é. Precisamos da complicação para nos definir. Ou seja: ninguém é nada sozinho, somos o nosso comportamento com o outro.

Ninguém é o que parece ou o que aparece. O essencial não há quem enxergue.

Nada como uma boa conversa para se encontrar a solução de qualquer coisa, mesmo a insanidade.

Escrevi uma vez que era um cético que só acreditava no que pudesse tocar: não acreditava na Luiza Brunet, por exemplo. Cruzei com a Luiza Brunet num dos camarotes deste Carnaval. Ela me cobrou a frase, e disse que eu podia tocá-la para me convencer da sua existência. Toquei-a. Não me convenci. Não pode existir mulher tão bonita e tão simpática ao mesmo tempo. Vou precisar de mais provas.

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

ALMAS GÊMEAS

 
Sabe aquele momento feliz em que você descobre que há gente que pensa como você – e que ainda ganha dinheiro com isso?
 
Hoje fui ao supermercado fazer algumas compras – e quando eu digo “algumas” é por já estar “medindo a água com o fubá”, controlando os gastos. Mostarda era um desses itens. Como não gosto desse sabor, estava preocupado apenas com o preço.
 
Mas tudo mudou ao ver um autêntico trocadilho jotabélico impresso no rótulo: "mostarda mas não falha...". Como eu poderia resistir a isso? Acho que vou até mandar uma mensagem para o fabricante rasgando os maiores elogios ao produto. Olhaí.

BANZÉ!

Esta postagem inaugura a fase genérica do blog. Não tenho mais nenhum compromisso ou preocupação com qualidade e relevância. Agora, o que der na telha publicar, será publicado. Este texto estava na lixeira do blog, pois tive vergonha de publicá-lo. Agora, vivendo a fase do foda-se, resolvi resgatá-lo (vai ser difícil me adaptar e aceitar esta nova fase!).


Meu filho está lendo o livro “Os Doze Trabalhos de Hércules” para a Bia e a Cacá. Só por diversão, tive a ideia de mostrar para elas o desenho de um centauro que tivesse a minha cara. E fiz esse pedido ao ChatGPT, acrescentando as seguintes instruções: “Eu tenho um nevo pigmentado e cabeludo no lado esquerdo do rosto e estou obeso (IMC 31,3). O retrato que escolhi para te inspirar é este”.
 
Por imaginar que não pegaria bem um centauro glabro, anexei esta foto de três  anos atrás, quando ainda estava com barba:

 
 
E o “produto” entregue foi este:
 
 
 
Parecia até que ele/eu estava segurando uma manta de gordura. É obvio que tinha de reclamar, e escrevi: “Não tão gordo!
 
E a IA filha da puta refez o desenho, mas mostrando um jotabê sorridente, com olhos puxadinhos e com cara de japonês!
 
De onde ela tirou essa ideia? Ninguém pediu um centauro japonês! Só faltou escrever “Banzai!” - ou “BanZé!”. Olhaí:
 


  

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

JOGUEI MINHA BÚSSOLA FORA

  

Este texto vem sendo escrito e reescrito e sua publicação vem sendo protelada há muito tempo, obedecendo aos ciclos de depressão e alegria. Alguém mais atento talvez perceba o sentimento predominante no momento em que cada trecho foi escrito ou reescrito. Mas hoje decidi chutar este balde enferrujado, justamente por estar muito triste, cansado e deprimido, com vontade de sumir, de estar morto. Por isso, joguei minha bússola fora, entortei as pernas de meu compasso, quebrei em dois meu metro de madeira e dei marteladas na balança. Em outras palavras, não tenho mais sentido nem direção a seguir.

Há muito tempo eu vinha maturando a ideia de desembarcar do Blogson, deixando-o à deriva, sem piloto, comandante ou âncora. Para mim, já não fazia sentido continuar postando se a inspiração e o desejo tinham chegado a zero. Cheguei até a rascunhar uma despedida para o dia em que decidisse, de vez, chutar o balde.

Mas aconteceu o inesperado: ao submeter esse rascunho ao ChatGPT para conferir se estava tudo certo – sem erros gramaticais ou de concordância –, fui surpreendido por um comentário dele. E o mais curioso é que isso veio de uma IA:

“Talvez você não precise abandonar o blog – só se libertar da obrigação de mantê-lo como antes.
Permita-se postar quando e o que quiser, sem meta, sem compromisso e sem a necessidade de ser sempre autoral. Pode ser uma frase solta, uma música, um link, um texto de outra pessoa ou até uma lista de compras.
O blog pode deixar de ser um dever e voltar a ser um prazer. Sem a pressão de agradar ou impressionar, você escreve e publica apenas quando sentir vontade, nem que seja raramente. O importante é que ele continue sendo um espaço seu, mas sem te escravizar.”

E aí eu relaxei. Mandei chamar o cabo corneteiro para tocar o toque de “foda-se” e decidi que continuarei postando textos de terceiros, links de música, listas de compras, frases sem sentido ou qualquer coisa que me der na telha – sem me preocupar em agradar ou impressionar ninguém. Apenas pelo desejo de postar, sem data e sem assunto.

E, para quem tiver curiosidade, aqui está o rascunho da "despedida que não houve”, sem formatação:

Acho que chegou o momento (um dia chegaria!) de “passar a bola” para os blogueiros mais novos e (ins)pirados. Creio não ter mais nada a dizer e, principalmente, nenhuma vontade de dizer. Talvez a angústia provocada por problemas familiares tenha contribuído para isso, mas o fato é que parecem ter sido drenadas a inspiração e a vontade de escrever alguma coisa minimamente atraente. Isso me entristece, mas sei ter-me transformado em um burocrata do blog, um "blogocrata" preocupado apenas em cumprir a rotina de postar quase diariamente. Onze anos foi tempo suficiente para publicar 3.243 posts até hoje  sem contar os excluídos. Se isso foi bom ou ruim, só posso dizer que sim, foi bom, muito bom, pois exorcizei demônios antigos, descobri alguns novos, fiz autoterapia (blogoterapia) e me diverti bastante. Mas agora isso acabou, pois não encontro diversão nas coisas que retiro do cérebro a conta-gotas. Nada mais natural portanto que eu "passe o bastão" para blogueiros mais jovens e inspirados. Continuarei a ler os blogs que acompanho, e talvez este post não seja um adeus definitivo, talvez só um "até logo" ou "até um dia". Mesmo assim meu sincero e eterno agradecimento a todos os leitores atuais e aos que se afastaram. A alegria que seus comentários me proporcionaram é indizível.

E já que vou continuar, talvez devesse mudar o mote “o blog da solidão ampliada” para “o blog da irrelevância ampliada”. Mas vou deixar como está, mesmo que o blog seja a partir de agora um Blogson Crusoe genérico, irrelevante e vira-lata. Ué, mas isso ele já era antes!


BOM MESMO

    Encerrando as homenagens ao Veríssimo.   Tem uma crônica do Paulo Mendes Campos em que ele conta de um amigo que sofria de pressão alta ...