terça-feira, 5 de novembro de 2024

ANIME-SE, JOTABÊ!

 
Fiquei muito feliz depois de publicar o primeiro e-book com 60 poesias escritas ao longo de 10 anos de blog, pois tinha passado de blogueiro para escritor publicado. E eu já diria: grandes merdas! Mas o que dá para perceber é que a escolha de sessenta poemas escritos em dez anos mostra que eu não tenho vocação para poeta.
 
Depois disso, animado com a experiência, publiquei mais três e-books: contos e crônicas, textos de humor e desenhos. Nesse ponto eu disse ter saciado meu desejo de ver as tranqueiras que escrevo no formato de livro, uma vaidade idiota. O problema é que eu estava me enganando. Como eu não tenho nenhum caráter, sou geminiano e meio bipolar, creio que um dos “gêmeos” reclamou por não ter sido consultado e disse que precisávamos publicar mais livros. OK!
 
Assim, mais dois foram publicados - as histórias do meu ex-colega Pintão e a “segunda escolha” dos desenhos não aproveitados. Acabou? Que nada! Tudo parecia normal até que o gêmeo mala, apresentando comportamento de viciado em drogas, cismou que “nós” precisávamos de mais e-books. E aí veio a loucura: resolvi transformar em novos e-books o que for minimamente aproveitável dentre os mais de três mil posts já publicados.
 
Foi aí que eu me dei conta do imenso programa de índio em que eu tinha me envolvido. Se você pegar 3.000 posts e tirar deles os que já foram utilizados nos primeiros e-books, excluir as reproduções de obras de outros autores, os links de música, os posts malhando os políticos da vez e suas politicalhas, além de desconsiderar os textos indexados ao marcador memória, ainda sobra um porrilhão de posts a examinar e selecionar.
 
A ideia era repetir a estrutura inicial pensada quando o blog foi criado. Na fase pré-blog eu imaginava apenas cinco marcadores (Falando Sério, Papo Cabeça, Sem Noção, Diálogos de Spamtar e Memória). Depois, de acordo com a “necessidade”, foram sendo incorporados mais alguns até chegar aos dezoito marcadores atuais.
 
Por isso, pensei em publicar mais cinco e-books: Falando Sério, Papo Cabeça, Sem Noção, Diálogos de Spantar e a “terceira escolha” dos desenhos. Mas, pela facilidade, acabei incluindo mais um com a sobra da sobra dos poemas e crônicas (não acreditem nas minhas promessas!). Essas decisões trouxeram consigo uma missão quase impossível: "apenas|" reler e selecionar os melhores textos entre as mais de 1.200 (mil e duzentas!) páginas em formato A4. Isso dará um volume que eu nem consigo imaginar. Que roubada!
 
Eu estava pensando em publicar maisa uns seis ou sete e-books e agora estou sem saber o que fazer. Dois novos e-books já estão prontos, faltando apenas escrever uma apresentação, escolher uma capa e neutralizar a vergonha que estou sentindo com a recente maluquice. Quando terminar tudo isso eu já deverei estar com mais de 100 anos. E quantos volumes poderão ser publicados? Só Deus sabe, pois sou um pai amoroso e não quero deixar ninguém "desamparado". O jeito é voltar para a seleção. Anime-se, Jotabê!

domingo, 3 de novembro de 2024

REFLEXÕES DOMINICAIS COM PH < 7


A miséria é triste, as guerras são trágicas, as dores precisam ser aliviadas, a fome precisa ser mitigada, as perdas nos abatem e machucam, mas nada é tão deprimente quanto as fotos do encontro de antigos colegas passados quarenta anos depois da formatura.

 

Sabe por que algumas pessoas de extrema direita não se importam em divulgar as fake news mais escabrosas? Porque não têm vergonha na cara. Podem ficar brancos de susto, amarelos de falta de graça, verdes de ódio, azuis de cianose, mas vermelhos de vergonha, nunca.

sábado, 2 de novembro de 2024

FINADOS

Hoje é Dia de Finados, data em que minha mulher sempre fez questão de ir ao Cemitério do Bonfim, onde estão sepultados seus pais, tios, primos, amigos e conhecidos. Levava diversos vasos de flores, parava em frente às sepulturas, rezava e deixava um ou dois em cada uma. Mas neste ano, seu irmão mais velho morreu e foi cremado.
 
Refletindo sobre esta data e seu significado, percebo que o ritual de visitar cada túmulo e rezar por aqueles que ali repousam ajuda a manter viva a memória de cada um e a relembrar os momentos que compartilhamos.
 
No entanto, com a cremação, é preciso reinventar o ritual, criar uma nova forma de homenagem. E, por isso, me vieram à mente os versos de Ronaldo Bastos para a música de Beto Guedes:
 
"Dói de tanto medir a distância,
Saber que não vou te tocar
Além da lembrança.
A tua falta é sol sem calor."

 


ANFÓTERO É INSETO?

 
Se você é ou foi daquela turma que senta no fundão da sala e fica só atazanando os colegas e os infelizes professores que não suportam mais dar aula só para as aranhas (bem entendido, aqueles aracnídeos que tecem suas teias na junção das paredes com o teto da sala), nem preciso perguntar se já ouviram falar em pH. Os mais inteligentes dirão que pH é “sigla” para “Paulo Henrique” ou “Pepeca Hipnótica”.
 
Mas se você é daquelas ou daqueles alunos considerados CDF, que em linguagem culta significa “Cu De Ferro”, se você é daqueles Caxias que o resto da sala execra e despreza até o dia da próxima prova (ainda se fazem provas nos colégios?), talvez já tenha ouvido falar de pH e, numa hipótese remotíssima, que pH “corresponde ao potencial hidrogeniônico de uma solução” (cara, eu acho que o Sergey Brin e o Larry Page deviam me dar uma participação acionária no Google, tantas são as vezes que eu consulto esse brinquedinho criado por eles!).
 
Segundo texto googlado, o pH “é determinado pela concentração de íons de hidrogênio (H+) e serve para medir o grau de acidez, neutralidade ou alcalinidade de determinada solução”.
 
Cara, isso é muita cultura! Acho que se eu fizesse Enem hoje eu fechava a prova de química. Mas meu propósito não é ficar cascateando sobre assuntos que estudei há mais 50 anos (verdade!).
 
Minha intenção é registrar uma descoberta que fiz sobre o velho Blogson a partir de um comentário do titular do blog “Crônicas do Edu” (https://ascronicasdoedu.blogspot.com/). O blogueiro Eduardo (que coincidência!) disse que o velho Blogson Crusoe tem “muito humor ácido e básico”.
 
Apesar do tom elogioso, fiquei encucado com isso. Como pode alguma coisa ser ácida e básica ao mesmo tempo? E o ChatGPT me respondeu. Segundo essa IA, “uma substância pode apresentar características ácidas e básicas ao mesmo tempo, dependendo do contexto químico e do ambiente em que se encontra. Essas substâncias são chamadas de anfóteras”.
 
Estou passaado! (com a mão apoiada na boca) Eu sempre soube que o velho blog da solidão ampliada tinha sustança, que era sustancioso, mas jamais imaginei que fosse anfótero (parece nome de inseto!). Refletindo sobre isso, vejo que o blogueiro Edu tem razão: mesmo que minhas críticas possam ser ácidas, o humor sempre foi de quinta série, básico, portanto. Anfótero, heim? Quem diria!

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

AO ZÉMEIER AÍ!


Minha mulher me mandou via zap uma informação que me deixou surpreso e, lógico, todo felizão. Descobri que a OMS - Organização Mundial de Saúde fez nova reclassificação de faixas etárias, transformando-me de idoso para homem de meia-idade. Vou reclamar disso? De jeito nenhum! Agora poderei responder altivamente às provocações que gente sem educação gosta de me fazer.
 
Quando disserem que estou com o andar oscilante, capengando, direi que meu caminhar tem ritmo, tem swing, charme. Se criticarem minha perda de audição, responderei que tenho alma de roqueiro e que gosto é de som alto, no talo. Se entre risos de deboche disserem que estou ficando careca, direi despreocupadamente que calvície não vai pra frente, só para trás.
 
E se lamentarem por eu estar enxergando pouco, retrucarei explicando que só me interessam os grandes cenários, a visão de coisas grandes, grandiosas e impactantes. Se algum amigo ou parente comentar que estou esquecendo tudo, até mesmo deixar uma torneira aberta por duas horas, carinhosamente responderei que minha memória é seletiva, não se prendendo a detalhes insignificantes.
 
Mas, finalmente, se algum conhecido filhadaputa disser que devo estar com principio de Alzheimer, olharei nos olhos desse insolente e perguntarei com olímpico desprezo:
– Quem é você?

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

O FARMACÊUTICO E ELE - DEZSÖ KOSZTOLÁNYI

 
Para minha surpresa, meu filho mais velho leu o texto “Para sempre cordial” e deve tê-lo mostrado para minha nora. Por conta disso ela me enviou pelo zap um conto com este comentário: Não sei explicar direito, foi uma sensação. Sensação de que vc iria gostar de ler, que faria seu tipo de leitura. Eu gostei bastante desse livro inteiro, tem ótimos contos. E, enquanto lia, achei que vc poderia gostar do livro. Mas resolvi te mandar um conto só. O personagem que conta os contos, Kornél Esti, seria uma pessoa que poderia ter passado por sua vida, ou pela de algum amigo seu.
 
Lendo o conto eu percebi o motivo talvez inconsciente de tê-lo recebido: o personagem teve uma atitude semelhante às que algumas vezes eu tive com desconhecidos que me pareceram fragilizados emocionalmente. E este é o motivo de publicar aqui no velho Blogson este simpatissíssimo texto. Lêaí.
 


 
O FARMACÊUTICO E ELE
 
Numa noite quente de primavera, Esti passava o tempo diante da vitrine de uma farmácia da periferia. Ficou tomado por uma tristeza aguda, pois a vitrine era paupérrima. Isso tocou tão fundo sua frágil alma que por um longo tempo não conseguiu sair dali.
 
Nas livrarias da periferia geralmente se vendem lápis, borrachas, canetas, e nas farmácias, escovas de dente, pincel para barba, cremes para o rosto. Tantos artigos de beleza se avolumam nesses lugares, como se o verdadeiro problema da humanidade nem fosse a doença, as muitas enfermidades, mas a feiura.
 
Essa pequena farmácia, com o seu luminoso que acendia e apagava a cada segundo, oferecia dois artigos, obviamente produzidos pelo próprio farmacêutico. Um era assim repetido pelo luminoso: Xerxes acaba até com a tosse mais tenaz. O outro gritava para a escuridão: Pó Aphrodite contra o suor das palmas da mão, pés e axilas.
 
Mas os fregueses não se apresentavam. No interior da farmácia estava sentado atônito um pequeno homem, modesto, de roupa cinza, cabelos cinzentos. Estava tão abatido como um suicida imediatamente antes de cometer o seu ato.
 
Esti se compadeceu e entrou.
 
— Desculpe — murmurou e olhou em volta. — Será que poderia conseguir aqui algo contra tosse?
 
— Claro — sorriu afavelmente o farmacêutico —, claro, por favor.
 
— Só que — cortou sua fala e levantou o seu dedo — minha tosse não é de hoje. Ano passado tive um forte resfriado e, desde lá, não importa o que faça, não passa. É uma tosse maligna — como é que posso me expressar? —, persistentemente — procurava a palavra correta, até encontrá-la —, tenaz.
 
— Xerxes — disse o farmacêutico —, Xerxes — e saltou em direção a uma prateleira, e já colocou debaixo do seu nariz o pó mágico empacotado numa elegante caixa.
 
— Isso resolve?
 
— Até a tosse mais tenaz — respondeu de pronto, enquanto lá fora o luminoso dizia o mesmo. — A embalagem menor ou a maior?
 
— Talvez a maior.
 
— Não deseja outra coisa? — perguntou o farmacêutico, enquanto embrulhava a mercadoria num papel cor-de-rosa.
 
— Não — respondeu Esti preventivamente, porque tinha uma enorme experiência em representar essas cenas artísticas. — Obrigado.
 
Pagou, dirigindo-se para a saída.
 
Ao colocar sua mão na maçaneta, parecia empacar, hesitar. Voltou-se. O farmacêutico se aproximou:
 
— Em que mais posso ajudá-lo?
 
— Isto é — gaguejou e calou-se em seguida. — Minha mão…
 
— Ah, sim — disse instantaneamente o farmacêutico — Aphrodite, com certeza, Aphrodite.
 
— E tem ação eficaz?
 
— Eu garanto.
 
— Porém…
 
— Para o pé também — disse confidencialmente, abaixando sua voz —, para aquilo também.
 
Agora a tensão dramática chegara ao auge. Esti se portava como quem ainda não conseguiu se decidir pela compra, tomado por dúvidas, e tem um segredo familiar tão obscuro, fatal, que até agora não confessou para ninguém. O farmacêutico procurava auxiliá-lo. Segredou algo no seu ouvido. Esti desistiu de resistir, humilhado, acenou afirmativamente com a cabeça. Mandou embrulhar esse produto também.
 
Fora, na rua, parou diante da vitrine. Mas não era isso que observava, mas o farmacêutico. Este, de repente, ficou elétrico, depois de encontrar um exemplar cobaia da sofrida humanidade, que miraculosamente personificava todas aquelas desejáveis qualidades de que ele necessitava. Com desenvoltura caminhava para lá e para cá. Provavelmente novos planos brotavam no seu cérebro. Acendeu um charuto.
 
Enquanto caminhava pela ponte, Esti discretamente jogou as duas caixas no Danúbio. E pensou o seguinte:
 
— Prolonguei sua vida pelo menos por um mês. Como não consigo consolar a mim mesmo, de agora em diante vou consolar os outros. Deve-se devolver a todos a fé na vida. Para que sigam vivendo. Um professor me advertiu de não deixar passar um só dia sem fazer algo de bom. Sempre dizia que só esse tipo de homem dorme tranquilo. Bem, será que hoje conseguirei dormir sem tomar alguma pílula?…
 

NADA A COMENTAR

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