sábado, 18 de outubro de 2025

VALOR AGREGADO

Algum tempo atrás, a revista Veja trouxe esta informação: quando o papa João Paulo II veio ao Brasil em 1980, a porcentagem de católicos declarados era de 89% da população; em 2013, essa porcentagem caiu para 64%. Segundo essa revista, a previsão é que em 2030 os evangélicos (bem entendido, todos os fiéis das várias denominações) ultrapassem os católicos.

Fiquei pensando nessas coisas e cheguei a uma simples conclusão. Não é a fé que está em jogo, o problema é de estratégia mercadológica. Se víssemos as vertentes católica e evangélica como duas redes varejistas concorrentes, tipo Casas Bahia e Magazine Luisa, teríamos a seguinte situação:

As duas redes oferecem o mesmo “produto” – no caso, Deus (embora uma delas goste de alardear que seu produto é melhor, com frases como “o meu Deus...”). Ora, se o produto é igual, é preciso avaliar as condições comerciais de cada “loja”.

Por exemplo, as condições de pagamento: as lojas católicas aceitam qualquer merreca ou até nada mesmo. Já na concorrência, até onde sei, o pagamento mínimo é de 10% da renda do “freguês” (o trocadilho não foi intencional. Escapou-se-me.). Ponto para a rede católica.

Os vendedores da concorrência poderiam dizer que as lojas católicas trabalham com um tipo de venda casada que eles não fazem. Imagino até o argumento:
- Vê se pode, lá neles, para levar o pacote completo da Santíssima Trindade nesse preço, só se levar também Nossa Senhora e um montão de santos.
- Ah, não! Aí fica muito caro!
Mas não creio que seja esse o motivo do crescimento das vendas dos evangélicos.

Bom, o que sobra então é a publicidade e o valor agregado (odeio esta expressão) que cada rede consegue impor ao seu produto.

Se compararmos as campanhas publicitárias das duas redes, a diferença é gritante (muitas vezes, no sentido literal). A rede católica praticamente não tem publicidade; a concorrência, no entanto, utiliza a mídia de forma maciça em suas várias opções (até ônibus). E enquanto a rede católica fazia “opção preferencial pelos pobres”, a rede evangélica prometia mundos e fundos (de investimento, talvez) aos consumidores, ciente do sentimento expresso pelo “filósofo” e carnavalesco Joãozinho Trinta quando disse que "Pobre gosta de luxo! Quem gosta de pobreza é intelectual"!

O único valor agregado plausível são os milagres. Aí é que está o grande diferencial. Pode parecer que as duas redes agregam o mesmo valor a seu produto, mas há diferenças de qualidade e quantidade.

A rede católica oferece milagres sofisticados e raros, qualitativamente bem acabados, mas quase inatingíveis. Para o sujeito conseguir um milagre, tem que ter excelente cadastro. E contar ainda com a intervenção de algum santo. E são exigidos muitos formulários, há muita burocracia.

Já na rede evangélica (pelo menos em algumas denominações) rola a maior esculhambação. Quantidade é o que não falta (mesmo que a qualidade seja até risível). É “milagre” a rodo, todo dia. Tem pastor (perdão, eu queria dizer vendedor) que até deveria se chamar Apracur (“Apracur é pra curar...”), de tão fodão que o cara é, pois cura até AIDS!

Há ainda um aspecto que sempre chamou minha atenção: se você ouvir os clientes e vendedores (na verdade, “vendilhões do templo”) de algumas denominações evangélicas, vai notar que falam sempre em progresso e cura materiais, nunca em cura e progresso espiritual. Talvez por isso é que a rede evangélica cresceu tanto: parece que o sujeito muda de igreja para se dar bem na vida, só isso.

Ou ainda: é como se os "migrantes" tivessem se cansado do modelo antigo e estivessem à procura de um modelo novo, mais bonito, com novas funcionalidades. Por isso, fica a pergunta final:

Para esse pessoal que trocou o catolicismo por uma dessas novas versões de igreja evangélica, Deus lembra ou não lembra um novo modelo de eletrodoméstico?

(29-06-2014)

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

O MUNDO JÁ ACABOU

 
Por estar muito agitado e depois de uma noite mal dormida, resolvi tentar criar um texto de ficção, uma ficção doentia, pervertida, um pesadelo de inspiração quase pornográfica. Não sei se conseguirei, mas vamos imaginar o seguinte:
 
- uma modelo ainda jovem, personalidade de televisão, resolve entrar no mundo da prostituição e a fazer filmes pornográficos. Triste, não?
- o pai dessa modelo resolve também explorar seus dotes “artísticos” ao fazer filmes de sexo explícito, nem sempre com mulheres. Como é que é?
- o filho da modelo se encarrega de filmar (!!!) as cenas de sexo explícito da própria mãe e, depois, do avô. Não, isso é delírio, nunca acontecerá tanta perversão!
 
Sentindo-me nauseado, tentei imaginar noticias sobre essa família e saiu isto:
 
- A modelo foi ao hospital por causa de dores pélvicas intensas, que surgiram após a gravação de um conteúdo adulto com oito homens. 
- Após gravar pornô gay e ir parar no proctologista, o pai da modelo quebra o silêncio em pronunciamento enigmático: ‘Conexões…’
 
Confesso que estava enojado e surpreso com minha capacidade de imaginar tamanha perversão, mas ainda tentei imaginar mais uma notícia:
 
- O filho da puta, ou melhor, da modelo – depois de ter filmado algumas vezes(!!!) as peripécias sexuais da mãe, disse que iria filmar o avô, esclarecendo que o pai da puta assumiria o papel de passivo(!!!!)
 
Honestamente, creio não conseguir escrever um texto ficcional tão bukowskiano. Mas depois me lembrei de onde fui buscar inspiração para tanta piração. E sabe onde foi? Na internet, pois essas notícias são REAIS, com personagens reais, membros de uma mesma família!!!!! E que família!
 
Estas três notícias coletadas na internet dão a pista de que Deus e a Pátria provavelmente ficariam muito constrangidos ao ser associados a essa família na expressão “Deus, Pátria e Família”.
 
Como dizia a mãe de um apresentador de telejornal, “o mundo já acabou e ninguém notou”. E eu completaria: já não se fazem mais prostitutas como antigamente!
 

SE LIGA, MANÉ!

O post de hoje foi escrito como carta endereçada a um jovem. Acabei desistindo de entregá-la, pois o destinatário não é meu filho. Mas guardei. Hoje, relendo o texto que escrevi, percebi que ele é meio papo-cabeça, tem algumas lembranças de infância, misturado com papo sério. Ou seja, é bem a cara do Blogson. Por isso, como este blog é meu e eu faço dele o que bem entender, resolvi postá-lo na seção Falando Sério. E criei um título, coisa que não tinha antes.
 
Se algum jovem quiser vestir a carapuça, tudo bem. Se nem conseguir entender direito o que leu, tudo bem também. Como disse uma vez o Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF, não estou nem aí. Mas, pela pertinência do assunto e para dar alguma elegância ao texto, acrescentei um trecho da letra da música “Samba da Benção”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, que não existia na carta original.
 
Feito essa gente que anda por aí brincando com a vida
Cuidado, companheiro! A vida é pra valer. E não se engane não, é uma só
Duas mesmo que é bom ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo”
 

Vou começar essa “conversa” lembrando uma música que diz assim: “nada sei desta vida, nunca saberei”. Você pode perguntar por que estou escrevendo isso, mas a resposta é muito simples: porque eu me preocupo com as pessoas de quem gosto.
 
Eu já disse algumas vezes aos meus filhos que não sou exemplo de vida para ninguém, pois, sempre vivi frivolamente, de forma amadorística, displicente, irresponsável. E tem um papo aí que diz que se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia. Então, não vou tentar dar conselhos, vou contar um pouco da minha história, para ver se você encontra alguma sintonia.
 
Eu morava na casa de minha avó materna, em um bairro de classe média baixa, perto de dois campos de futebol de várzea. Quando fui autorizado a sair sozinho de casa, era para lá que me dirigia. A meninada da redondeza também ia para lá, que era o lugar ideal para se jogar “finca” e bolinha de gude, soltar papagaio e, naturalmente, jogar futebol.
 
Sendo muito tímido e inseguro, era às vezes alvo de gozações e ameaças dos meus “amigos”. Afinal, a partir dos seis, sete anos, eles já vagabundeavam por ali sozinhos, livres, o dia todo. Ou seja, eles tinham quatro anos a mais de malandragem que eu e não tinham hora para voltar pra casa. E isso fazia enorme diferença, pois eram craques nas peladas disputadas com bolas de plástico ou borracha (bola de couro era muito difícil de encontrar naquele lugar de gente muito pobre).
 
Um dia meu irmão ganhou de presente uma bola de couro, pequena, fodidinha, mas de couro. A partir daí sempre éramos convidados a jogar futebol. Para equilibrar, meu irmão ficava em um time e eu no outro (éramos pernas de pau). Normalmente, me empurravam para o gol, para não atrapalhar. Mas bastava algum menino de fora chegar com outra bola de couro, que os times eram imediatamente refeitos e a bola devolvida ao meu irmão. Como ele não iria mais jogar (pois teria que tomar conta de sua bola), eu era tirado do time, coisa que me deixava puto. A partir de algum tempo, passei a não ligar para futebol.
 
A médio prazo isso foi até bom, pois fez com que eu progressivamente me afastasse dessa molecada. Como morávamos na parte mais pobre do bairro, meus companheiros eram igualmente pobres, filhos de gente humilde, pobre e sem estudo. Muitos desses “amigos” eram repetentes, outros pararam de estudar ainda no ensino básico ou logo após sua conclusão.
 
Como morei lá até me casar, pude ver em que se transformaram: um virou fotógrafo de batizados e casamentos, outro enlouqueceu, um foi morto no início da adolescência, vários se tornaram apenas desocupados, encostados nas portas dos bares. Nenhum continuou os estudos, nenhum fez faculdade.
 
Que eu quero dizer com isso? Que eu dei sorte de ter me afastado dos meus antigos companheiros de infância. Senão, a chance de ficar igual a eles seria muito grande. Tem um ditado aí que diz “diga-me com quem você anda que eu te direi quem você é”. Talvez seja verdade. Mas eu prefiro pensar na frase de um antigo treinador, que dizia “junte-se aos bons que em breve poderá ser um deles”.
 
Acho que é por aí. E sabe por quê? Porque eu era muito tímido, inseguro e mané. Mas eu queria passar a imagem de descolado, de fodão, de esperto. Então, eu ficava tentando ser parecido com os caras que eu admirava. E eu admirava os “ricos”, pois eu era pobre pra caralho. Mas tinha uns “ricos” de quem devia ter ficado longe, pois quase virei maconheiro ou alcoólatra.
 
Lembrando-me dessas coisas, eu vejo o quanto fui vacilão e quantas cagadas eu dei. Ao ponto de, um dia, meu irmão ter que arrombar a porta do banheiro lá de casa para me tirar, desacordado, quase em coma alcoólica. Já viu a merda que foi, né?
 
Hoje eu vejo (e pra mim já é tarde) que fiz muitas escolhas merda sem pensar muito, sem pensar o que eu REALMENTE queria ser e fazer. Eu fui sendo levado e o termo é esse mesmo, EU FUI SENDO LEVADO pela vida afora. Só não me dei mal totalmente porque meu irmão mais velho me colava o saco e perguntava se eu queria ser só um merda na vida. Depois, conheci minha Amada, que me ajudou a entrar mais um pouco nos eixos. Mas poderia estar bem melhor se só tivesse feito escolhas boas, poderia dar a ela muito mais conforto do que eu consegui dar.
 
Que conclusão eu posso tirar de tudo isso? Que todo mundo faz escolhas o tempo todo, cada um escolhe o que quer para a sua vida. O problema é quando você não consegue enxergar um pouco mais à frente, o problema é quando seus amigos são babacas ou fracassados ou radicais ou sem noção ou piores que você - ou tudo isso junto (a repetição do "ou” foi proposital, para dar ênfase). Aí, se você não tiver um rumo SEU, você corre o risco de jogar fora, de desperdiçar as suas qualidades e sua inteligência. E adotar o rumo deles.
 
Jorge Paulo Lemann, o sujeito mais rico do Brasil atualmente, disse o seguinte: “pense alto, queira o melhor, pois o trabalho para conseguir isso é quase o mesmo de você pensar pequeno”.
 
E eu acrescentaria: Mas tem que ralar, estudar e se preparar, pois, a menos que o cara seja um gênio, inteligentíssimo (e a maioria das pessoas não é), as oportunidades de progresso e riqueza neste século XXI são canalizadas para aqueles que metem a cara nos estudos, até se formar na universidade.
 
Isso não é uma verdade absoluta, lógico, mas, hoje, as chances de ganhar excelentes salários surgem majoritariamente para quem se dedicou a estudar – e estudar muito. E quanto menos educação formal as pessoas têm, mais terão que se contentar com trabalhos pouco qualificados (que sempre foram pouco remunerados – e continuarão sendo). É isso.

17/07/2014

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

CONNOISSEUR

 


CEGUEIRA AFETIVA – AUTOR DESCONHECIDO

  
Recebi hoje pelo zap de um amigo mega culto este artigo. Na hora, já me lembrei do Lula e do Trump, tão apaixonadas as reações que esses líderes provocam em quem os apoia ou odeia. Não sei o nome do autor nem onde foi publicado, mas espero que gostem.
 
É curioso observar como o julgamento humano se molda menos pela razão do que pelo afeto. Defendemos com unhas e dentes aqueles de quem gostamos, ainda que os fatos se imponham em sentido contrário. Os defeitos são relativizados, os deslizes compreendidos e as virtudes exaltadas. Mas basta uma divergência ou decepção para que o mesmo indivíduo, antes admirável, passe a ser visto como hipócrita, incompetente ou desonesto. De repente, tudo o que fazia de bom se torna “mera obrigação”.
Esse fenômeno não se restringe às relações pessoais. Ele aparece com igual intensidade na política, campo em que paixões substituem ideias e identidades se sobrepõem a argumentos. É impressionante a facilidade com que se ama ou odeia um líder, sem espaço para matizes. Para alguns, ele é um visionário injustiçado; para outros, um oportunista perigoso. Nada do que faça — de bom ou de mau — muda o julgamento prévio.
Trata-se de um mecanismo mental bem conhecido. O chamado viés de confirmação nos leva a aceitar sem esforço tudo o que corrobora nossas crenças e a rejeitar, com igual vigor, o que as contraria. A razão, nesse contexto, atua como serva da emoção: não pesa os fatos, apenas os justifica. Quando uma informação ameaça abalar nossas certezas, entra em cena a dissonância cognitiva, conceito proposto por Leon Festinger. Diante do desconforto de admitir que podemos estar errados, o cérebro prefere reinterpretar a realidade. Se o líder em quem confiamos falha, é culpa dos assessores, da imprensa, do sistema. Se o adversário acerta, foi por sorte ou conveniência. Assim, preservamos nossa coerência interna, mesmo à custa da verdade.
Mas há uma camada ainda mais profunda: a herança de nosso tribalismo ancestral. Durante milhares de anos, viver em pequenos grupos exigia lealdade cega e desconfiança do “outro”. Questionar o chefe ou simpatizar com o inimigo podia significar exclusão — e, portanto, risco de morte. Nosso cérebro, forjado nesse ambiente, ainda reage emocionalmente como se cada discordância fosse uma ameaça existencial. Continuamos defendendo nossa tribo — familiar, ideológica ou partidária — como se a sobrevivência dependesse disso.
As redes sociais apenas ampliaram esse instinto. Elas nos cercam de opiniões semelhantes às nossas e nos protegem de qualquer pensamento dissonante. Os algoritmos oferecem conforto ideológico e reforçam a convicção de que “nós” estamos certos e “eles” estão errados. O resultado é a polarização afetiva: deixamos de discutir ideias e passamos a odiar pessoas. O debate se transforma em guerra moral, onde o adversário deixa de ser um cidadão que pensa diferente para se tornar um inimigo que precisa ser derrotado.
Talvez a única forma de escapar dessa cegueira afetiva seja praticar um tipo de humildade intelectual — a disposição de reconhecer que podemos estar errados, de que nossos afetos e preconceitos distorcem a realidade mais do que gostaríamos de admitir. A razão, afinal, é uma conquista frágil, sempre sob o risco de ser derrubada por uma emoção disfarçada de convicção.
E, enquanto continuarmos julgando os líderes — ou quem quer que seja — pelo que sentimos em relação a eles, e não pelo que fazem, continuaremos a viver como nossos ancestrais das cavernas: cada um com a sua tribo, o seu totem e a sua verdade inabalável.

terça-feira, 14 de outubro de 2025

MANJA O UNIVERSO?

 
Manja o Universo? Pois é. Sabia que graças ao Telescópio Espacial Hubble, as estimativas mais recentes sugerem a existência de pelo menos 2 trilhões de galáxias no universo observável? Bom, né?
 
E agora, sabe quantas estrelas existem em apenas uma galáxia? De 100 a 400 bilhões. É mole? Se você multiplicar a quantidade de galáxias pelo número de estrelas de cada uma poderá ter até vertigem. Mas vamos baixar um pouco a bola.
 
Sabe o Sol, essa bola amarela que serve para secar as roupas nos varais e deixar as meninas gostosas ainda mais gostosas quando se bronzeiam na praia? Pois bem, essa almôndega incandescente não passa de uma estrela de tamanho médio ou, mesmo, uma "estrela anã amarela".
 
Vamos continuar só mais um pouquinho: a Terra, “a nave nossa irmã” é o terceiro planeta (lindo!) a partir do Sol. Então, vamos fazer um resumo: a Terra é o terceiro planeta de uma estrela insignificante, uma dos duzentos bilhões de estrelas de uma dos mais de dois trilhões de galáxias do Universo. Uau! Quanta importância a Terra tem!
 
E para concluir toda essa astronomia, informo que moro em uma cidade localizada no hemisfério sul do globo terrestre, com as coordenadas geográficas de aproximadamente 19° 55′ 00″ de latitude sul e 43° 56′ 00″ de longitude oeste. Pois é, esse é o ponto do Universo onde eu me escondo.
 
E sabe por que eu disse tudo isso? Porque eu não dou a mínima sempre achei estranha essa preocupação das pessoas com as "cercas embandeiradas que separam quintais", como tão bem cantou o Raul Seixas. O sempre ferino Millôr Fernandes disse que “patriotismo é aquilo que se põe no bolso, quando se toma o poder”.

Em outras palavras, as palavras pátria e patriotismo pouco ou nada significam para mim, nunca significaram. Aliás, nem para mim nem para os moradores de rua, aquele pessoal que dorme ao relento tendo apenas um papelão para servir de colchão.
 
Que significa “pátria” para eles? Consegue imaginar um coitado desses dizendo “a minha pátria”? O país, o estado, a cidade, o bairro ou até mesmo a rua onde se mora é outra história, tem significado físico, geográfico.

Pois é, toda esta gororoba serviu como introdução para uma entrevista concedida pelo filósofo Clóvis de Barros ao Alt Tabet, do Canal UOL. Seus comentários iluminaram tanto minha ignorância que eu não resisti ao desejo de publicar trechos do texto que encontrei na internet. Olhaí.
 
 
“A ideia de 'pátria acima de tudo', frequentemente exaltada em discursos políticos, carrega um vazio conceitual e serve para manter privilégios e desigualdades”, afirmou Clóvis de Barros no Alt Tabet, do Canal UOL.
 
"Estando a pátria acima de tudo, nós começamos a nos perguntar o que será que essa história de pátria quer dizer? Será que a pátria é o Estado? Será que a pátria é a nação? E aí você começa a perceber que a ideia de pátria, ela tem uma presença poética muito grande, mas ela tem um certo vazio conceitual. E aí é preocupante, por quê? Porque você coloca nisso o que você quiser", explicou o filósofo.
 
Para ele, ao se evocar a noção de pátria, uma palavra de significado fluido, o que se preserva, na prática, são desigualdades históricas.
 
“Dado que a pátria Brasil existe, pelo menos desde a sua independência, você poderia imaginar que o patriotismo faz uma defesa de valores, de crenças, de convicções que existam há bastante tempo. Portanto, é uma espécie de homenagem ao que sempre existiu, homenagem ao passado, homenagem às coisas como elas sempre foram. Pois então, seria interessante observar o que é que sempre foi. E o que a sociedade brasileira sempre foi? Desigual. Elitista. Cheia de privilégios. Discriminatória”.
 
Segundo Clóvis, preservar essa visão beneficia quem sempre esteve em posição de vantagem. 
 
"Para os que têm e sempre tiveram, ou digamos, para o grupo que sempre contou com os famosos 90% de toda riqueza, os 5% que sempre tiveram os 90% da riqueza, nada mais adequado do que conservar as coisas como elas sempre foram", pontuou.
 
O filósofo acrescenta ainda que a mentalidade individualista contribui para a manutenção desse cenário. 
 
"Não há uma consciência de transformação em grupo. O que há é uma consciência de obtenção de privilégios pessoal".
 
“Brasil é 10ª economia, mas não tem 10ª educação; por quê?”
 
O desenvolvimento econômico do Brasil não se reflete em avanços proporcionais na educação, avalia o filósofo Clóvis de Barros Filho.
Embora o Brasil ocupe atualmente a 10ª posição econômica global, o país ainda enfrenta desigualdades profundas no acesso à educação de qualidade e à produção de conhecimento.
 
“A décima economia do mundo não tem a décima educação do mundo, não tem a décima universidade do mundo, não tem a décima produção de conhecimento do mundo, não tem a décima produção de ciência do mundo, aqui é só soja, certo? Grana tem, então acaba ficando com uma aparência de estábulo de ouro”.

O texto de minha autoria foi escrito no início de setembro (provavelmente depois do dia sete) e motivado pela forma que os partidários do ex-presidente têm de se expressar.

domingo, 12 de outubro de 2025

FELIZ DIA DAS CRIANÇAS!

Feliz Dia das Crianças!
 
Dia das crianças tímidas, superprotegidas, invejosas, inseguras, neuróticas, depressivas, cruéis, vítimas de bullying, analfabetas, pobres, famintas, deficientes, amputadas, com doença terminal, abandonadas, espancadas, ladras, viciadas, abusadas sexualmente e suicidas. E a todas as outras.
 
Que a vida lhe seja leve. E que se não tiverem muitos motivos para se alegrar, que pelo menos tenham poucos para se entristecer. Como a criança da foto. 



VALOR AGREGADO

Algum tempo atrás, a revista Veja trouxe esta informação: quando o papa João Paulo II veio ao Brasil em 1980, a porcentagem de católicos d...