(Dando um refresco nas memórias familiares. Mas elas voltam!)
Se você acredita que uma internação em
hospital é período propício à reflexão sobre os tomates em que pisou ao longo
da vida, ou adequado para tirar um cochilo no intervalo entre a hora do café e
aquele almoço horroroso que te faz ter saudade de um jantar à luz de velas no
Maxim’s de Paris – ou de um podrão com bastante maionese comprado no trailer da
esquina, lamento dizer que está mais distante da realidade que sua chance de
ganhar uma medalha de ouro na prova de salto com vara em uma olimpíada (e o problema pode nem estar na sua vara).
Na verdade, um quarto de hospital é um dos
lugares mais badalados e movimentados que você poderia imaginar. Pouco importa se você é o/a
paciente ou o/a acompanhante. Sabe aquele cochilinho depois do almoço? Esquece!
Quem está internado dorme como quem está pescando na hora do trabalho, ou
babando na camisa enquanto o chefe resolve definir as novas diretrizes para o setor.
E não há exagero no que digo (na verdade, não digo nada, eu só escrevo),
pois tenho experiência sobre isso, duramente adquirida durante recente
internação de minha mulher. Duvida?
Fiz uma lista de todas as interrupções de
sono a que fui submetido ao longo de 24 horas. Numa boa: se alguém
precisasse de um culpado para confessar o roubo das joias francesas do Louvre,
nem precisaria me apertar. Bastaria me mostrar um travesseiro e eu confessaria
tudo, salivando igual cachorro faminto à espera de um pedacinho de carne do churrasco que está acontecendo em cima da laje.
Parece que estou enrolando? Claro qu estou, senão o
texto ficaria muito pequeno. Mas deixemos de prolegômenos (palavra chique demais!) e
passemos ao dia a dia de uma internação.
Tudo se inicia às cinco ou seis da manhã,
quando a porta do quarto se abre e a luz é acesa por alguém dizendo “bom dia”.
Mede-se a pressão, a frequência cardíaca, o índice de saturação de oxigênio.
Você se ajeita para continuar a dormir, mas
parece que há um sistema ou alguém que diz algo como: “pode ir agora, eles já voltaram a
dormir”. E aí a roda anda. Sem me preocupar com a cronologia das aberturas e fechamentos de porta, o sono/cochilo é interrompido por:
Administração de remédios previstos para a
meia-noite
Administração de remédios previstos para as dezoito horas
Administração de remédios previstos para as doze horas
Administração de remédios previstos para as seis horas
Alguém perguntando se o acompanhante também almoçará
Alguém perguntando se o acompanhante também jantará
Almoço
Apresentação da enfermeira de plantão
Café da manhã
Café da tarde
Chá noturno com biscoitos para o/a paciente (o acompanhante não tem direito)
Chegada da equipe de banho e troca de roupa de cama
Coleta de sangue
Entrega de roupa de cama limpa
Entrevisita do geriatra
Entrevista da nutricionista
Exercícios com o fisioterapeuta
Jantar
Medição da glicemia à tarde
Medição da glicemia em jejum
Medição da pressão, frequência cardíaca e índice de saturação de oxigênio feita à tarde ou noite
Recolhimento da bandeja do café da tarde
Recolhimento das garrafas do café da manhã
Troca do cesto de lixo e limpeza do banheiro
Visita do médico plantonista
Em cada uma dessas situações, é uma porta que
se abre e se fecha.
Fora as visitas que chegam conversando mais que papagaios enlouquecidos.
Fora o barulho das mensagens de zap chegando ou das chamadas de telefone. Uma loucura!
E tem gente que acha que internação é momento
de tranquilidade!
Administração de remédios previstos para as dezoito horas
Administração de remédios previstos para as doze horas
Administração de remédios previstos para as seis horas
Alguém perguntando se o acompanhante também almoçará
Alguém perguntando se o acompanhante também jantará
Almoço
Apresentação da enfermeira de plantão
Café da manhã
Café da tarde
Chá noturno com biscoitos para o/a paciente (o acompanhante não tem direito)
Chegada da equipe de banho e troca de roupa de cama
Coleta de sangue
Entrega de roupa de cama limpa
Entrevisita do geriatra
Entrevista da nutricionista
Exercícios com o fisioterapeuta
Jantar
Medição da glicemia à tarde
Medição da glicemia em jejum
Medição da pressão, frequência cardíaca e índice de saturação de oxigênio feita à tarde ou noite
Recolhimento da bandeja do café da tarde
Recolhimento das garrafas do café da manhã
Troca do cesto de lixo e limpeza do banheiro
Visita do médico plantonista
Fora as visitas que chegam conversando mais que papagaios enlouquecidos.
Fora o barulho das mensagens de zap chegando ou das chamadas de telefone. Uma loucura!


