Tenho andado com um nível de stress e
esgotamento mental tão elevados que tudo tem tomado uma dimensão diferente do
que aconteceria em épocas mais amenas. Por isso, ao ler um comentário
ironizando e duvidando de meu comportamento “moderado”, não consegui deixar de
ficar aborrecido, pois estou na linha da letra do Chico: “qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d’água”.
Mas sou um cara educado, pouco afeito a
“entrar em bola dividida”. Por isso, resolvi (re)escrever esta reflexão,
lembrando a frase equivocadamente atribuída a Voltaire: “Não concordo com uma
palavras do que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las".
E é aqui que começa a reflexão.
“A virtude está no meio do justo equilíbrio
entre os extremos”. Quem disse isso foi Aristóteles, “o ser humano mais
importante que já viveu”, na opinião do filósofo britânico John Sellars.
Alguém aí notou que estou falando de
moderação e bom senso, de equilíbrio e respeito à diversidade de opiniões? Pois
é. Sempre me causam perplexidade os comportamentos viscerais, as certezas absolutas
e as verdades imutáveis. Eu sei que o mundo ideal seria mais simples se fosse
como um sistema binário onde só existissem “sim” ou “não”, “zero” ou “um”. Mas
o mundo não obedece à mesma lógica usada na construção de computadores. Além
dos previsíveis “sim” e “não”, o mundo real abriga também o “talvez”, o
“nenhuma das opções apresentadas”. Como
disse o Vinicius de Moraes, “a vida não é
brincadeira, amigo”. A política e as ideologias surgidas mostram exatamente
isso: não há certezas absolutas.
Talvez o leitor ou leitora com os olhos já fechando
de sono se pergunte onde quero chegar com esta gororoba sem sal, mas vou agora subir um
pouco o tom. Sempre fico puto, triste, ofendido ou decepcionado quando
ridicularizam minha postura moderada, quando me acusam de "duplipensar"
ou duvidam da minha isenção com base apenas na própria visão estreita.
Para começo de conversa (na verdade, já estou
no meio dela), Não sou personagem orwelliano para ficar duplipensando. O que eu
sou é cartesiano, penso em módulos, não misturo conceitos. Quando eu digo que
vejo pontos positivos tanto na ideologia de direita quanto na de esquerda, isso
não significa que aprovo as duas visões sobre um mesmo assunto ou tema. Já fiz
até um check-list, um quiz para
avaliar o perfil ideológico dos leitores. Quem se interessar em conhecer, o
link é este:
https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2017/03/o-quiz-que-eu-quis-postar-no-facebook_11.html
Maaasss, voltando à minha
doutrinação/pregação, repetirei pela milésima vez que me considero de centro. E
me orgulho disso. A título ou guisa de piada, diriria que sou radicalmente moderado. O significado deste posicionamento é odiar igualmente tanto a extrema esquerda quanto a extrema direita.
Já li em algum lugar que a moderação política, entendida como
a busca por equilíbrio e ponderação, não é um defeito. Pelo contrário, é uma
virtude essencial para o funcionamento de uma democracia. A moderação permite o
diálogo entre perspectivas opostas, promovendo a compreensão e a construção de
consensos.
Infelizmente, a a prática política atual está marcada pela
polarização. Assumir uma postura moderada exige inteligência e até coragem, pois implica questionar as próprias convicções e buscar
entendimento em meio a opiniões divergentes. Para mim, essa abordagem favoreceria um ambiente político mais saudável, centrado na resolução de problemas e no bem
comum, e não na imposição dessa ou daquela ideologia.
Isso não significa falta de princípios ou
indecisão. Pelo contrário, o significado disso é conseguir reconhecer a
complexidade dos problemas sociais e suas múltiplas perspectivas, evitando
extremos que geram divisão e conflito. Assim, a moderação política contribui
para a estabilidade e a eficácia das instituições democráticas.
Na época de eleições muitas vezes eu me vi
diante da pior situação para quem se recusa a anular o voto ou abster-se de
votar: dois candidatos disputando a mesma vaga e eu tendo severas restrições a
ambos. Mesmo assim, sempre procurei escolher o menos pior entre o ruim e o
péssimo. Aparentemente isso não entra na cabeça dos bitolados ou extremistas radicais, provocando críticas e até ofensas quando defendo em quem votei, não
por ser bom, mas por ser justamente o menos pior.
Para encerrar esta gororoba, alimentei o ChatGPT
com minhas ideias e pedi para escrever um texto sobre essa situação. E saiu isto
(e eu, obviamente, assino embaixo):
Há
momentos em que a vida não nos concede o luxo da neutralidade. Diante de uma
encruzilhada, não há espaço para "nenhuma das respostas". É sim ou
não. Escolher ou ser escolhido.
A
política, especialmente em eleições polarizadas, expõe esse dilema com
crueldade. Quando há apenas dois candidatos e severas restrições a ambos, a
abstenção pode parecer uma saída honrada, mas é, na prática, um voto indireto
para quem menos nos agrada. Entre o ruim e o menos pior, a escolha não é sobre
entusiasmo, mas sobre danos minimizados.
Os que
compreendem isso sabem que a realidade não pede perfeição, pede decisão.
Preferências ideais são um luxo; na arena política, trabalha-se com o possível.
No fim, quem entende essa lógica não vota com paixão, mas com consciência –
ciente de que, mesmo na falta de um bom caminho, há sempre um que leva a um
desastre menor.
E para aqueles que já me chamaram de isentão, deixo um recado
final, escrito com uma elegância fleuma próprias da realeza britânica: isentão é a
puta que pariu! (e não pretendo mais perder meu tempo com debates de "soma zero"). Fui.