terça-feira, 3 de junho de 2025

É PAPO FIRME!

 
Há um ditado naval que é assim: “Qualquer porto numa tempestade” (“Any port in a storm”). Mesmo não sendo entendido nas artes náuticas, imagino que o significado expandido disso é que em caso de tempestade, por segurança, um navio atraca em qualquer porto. Acho sensata a decisão, mesmo sendo eu quase um marinheiro de primeira viagem.
 
Na verdade, já que meu sobrenome – Botelho – foi tirado pelos mareantes da época de Cabral de uma planta bulbosa que fica flutuando ao sabor das marés, acabei entendendo um pouco de navegação de cabotagem, ou melhor, de cabotinagem, pois sempre soube não ter condições de levar o Blogson para águas mais profundas nem nunca imaginei conseguir navegar nas águas tempestuosas do mar oceano.
 
Por isso, vivendo um momento de calmaria criativa, tão mais paradoxal por desejar ter uma tempestade cerebral (sem AVC, por favor), resolvi atracar no mesmo porto do dono do blog “As Crônicas do Edu”, que publicou um divertido texto sobre palavras em desuso, quase da época das grandes navegações portuguesas (hoje estou me sentindo muito narval, ou melhor, naval!).
 
Maaaassss, para não ficar parecendo plágio, resolvi atacar só as gírias utilizadas quando eu tinha uns quatorze anos, época da Jovem Guarda. Quer embarcar nesta canoa, neste diálogo retrô? Então, levantar âncoras! – ou recolher a poita!
 

- E aí, bicho? Tudo bem? Tá com uma cara de quem ganhou no milhar...

- Pois é, você precisa ver o broto mais lindo do mundo com quem estou saindo!

- Você?

- Ela disse que me acha um pão!

- Não? Você? Você é muito feio! Ela deve estar mais interessada em se exibir no seu carango novo.

- Você está é com inveja, morou? Essa garota é papo firme, gosta de tudo que eu falo, gosta de gíria e muito embalo!

- Também deve gostar desse seu cabelo “liso” à custa das toucas feitas com as meias da sua mãe, né?

- Não enche, pô, meu cabelo é barra-limpa!

 - E onde você a conheceu?

- Numa festa de arromba a que eu fui outro dia.

- Já entendi tudo: você está gamado por ela!

- Ainda não, mas ela é uma brasa, mora?

- Olha, bicho, só vou te dar uma dica: quando ela disser que você é um pão, lembre-se que ou o pão é fresco ou é murcho. Papo firme!

- Você está é com dor de cotovelo!


GLOSSÁRIO RETRÔ:

Na minha opinião septuaginta, “moda” é tudo o que um dia você lamentará de ter seguido, ao ver uma foto antiga de corpo inteiro ou se lembrar de gírias que usou na juventude.

Barra-Limpa: alguém íntegro e autêntico, gente boa

Bicho: brother, mano, cara

Brasa: alguém muito atraente e descolado, totalmente demais

Broto: jovem atraente, tanto garoto quanto garota

Carango: carro bom, símbolo de status, um porsche da vida

Embalo: festa vibrante, com muita gente, animação e algumas ilegalidades

Festa de Arromba: festa animada, grandiosa e muito legal, que gera grande empolgação e alegria, com todo mundo bêbado

Gamado: apaixonado, vidrado em alguém

Mora?, Morou?: entende? Sacou?

Pão: homem bonito, jotabê

Papo Firme: pessoa boa de conversa, que não hesita em falar na lata, que tem uma atitude confiante e direta

segunda-feira, 2 de junho de 2025

DEFINIÇÕES MILLÔRIANAS


 
Enquanto o próximo post ainda está gratinando no forno, opiniões do Millôr Fernandes que agradarão a uns e decepcionarão a outros só para passar o tempo
 
CAPITALISMO / COMUNISMO
O motivo por que o capitalismo tem resistido apesar de acuado por todos os lados é ele caminhar sem esforço na direção natural. Enquanto o socialismo, redistributivo, e por isso utópico, é um tampão numa panela de pressão que explode ao menor descuido (deu sopa o agricultor planta três batatas escondidas, pra si próprio), o capitalismo marcha na direção do egoísmo, do individualismo, da auto-satisfação predatória. Isto é, do instinto humano.
 
CAPITALISMO / SOCIALISMO
O socialismo é impossível por partir do pressuposto falso de que todos os homens valem o mesmo: na hora da partilha é o que se sabe. O capitalismo é impossível porque defende o pega-pra-capar: um homem pode valer um milhão de vezes mais do que outro. Acredito que o limite matemático sensato (há que estabelecer algum limite) entre a absoluta igualdade e a absoluta desigualdade é o fator (número) 10. Nenhum homem pode ter um valor de mercado que lhe permita valer mais de dez vezes outro homem. Isso admitindo-se que o fator 1 (básico) dê pro essencial.

domingo, 1 de junho de 2025

DOMINGADAS

Recebi de meu filho, via zap:








Sensacionalista: Após Lula afirmar que "Deus deixou o sertão sem água" já prevendo que ele seria presidente, a Secretaria de Comunicação do governo tomou uma medida drástica para evitar improvisos presidenciais. Um microfone inteligente aplicará um choque de 220 volts sempre que Lula se afastar do roteiro.

O equipamento será conectado a uma inteligência artificial que comparará, em tempo real, o discurso com o texto original do teleprompter. Frases inesperadas ou comparações divinas ativarão o sistema imediatamente.

“Antes não tínhamos tecnologia para isso, pois Lula improvisa tanto que nenhuma bateria aguentaria tantos choques”, explicou um técnico da Secom. “Mas, com baterias modernas de carros elétricos, finalmente é possível.”



sábado, 31 de maio de 2025

PRECISAR, NÃO PRECISAVA.

Sempre que sobra um tempinho (quase nunca sobra), corro ao computador para continuar a leitura do livro MILLÔR DEFINITIVO – a Bíblia do Caos, um calhamaço de 588 páginas (estou na 112ª), uma seleção de (respire fundo!) “Pensamentos, Preceitos, Máximas, Raciocínios, Considerações, Ponderações, Devaneios, Elucubrações, Cismas, Disparates, Ideias, Introspecções, Tresvarios, Obsessões, Meditações, Apotegmas, Despropósitos, Apodos, Desvarios, Descocos, Cogitações, Plácitos, Ditos, Sandices, Especulações, Conceitos, Gnomas, Motes, Proposições, Argumentos, Filactérios, Reflexões, Escólios, Conclusões, Aforismos, Absurdos, Memórias, Estultilóquios, Alogias, Despautérios, Aquelas, Insultos, Necedades, Dislates, Paradoxos, Prótases, Singularidades, Miopias, Estultícias, Silogismos, Tergiversações, Enormidades, Paranoias, Leviandades, Imprudências, Incoerências, Desabafos, Galimatias, Heresias, Hidrofobias e Dizidelas” escritas em mais de cinquenta anos de carreira (o livro foi lançado em 1994).
 
Para mim, Millôr Fernandes e Luís Fernando Veríssimo formam a santíssima trindade do humor impresso do Brasil – mesmo que eu não saiba quem ocupa o terceiro vértice desse triângulo. Além de humorista de altíssima qualidade, o cara foi também desenhista, dramaturgo, escritor, poeta, tradutor e jornalista ao longo de mais de sete décadas de produção intelectual. Escreveu uma porrada de livros, traduziu porrilhões de peças de teatro, etc., etc.
 
Na introdução do livro que estou lendo, o Millôr assim o definiu: “Foi um livro difícil. Tomou exatamente cinquenta anos para ser feito. Começando em jornal antes de completar 14 anos, desde cedo, sem que soubesse por que, chamado humorista, o autor escreveu e desenhou ininterruptamente em periódicos sem periodicidade definida, e em publicações semanais e jornais diários”.
 
O levantamento, classificação, ordenação e revisão de todo o vastíssimo material disponível chegou a 13.000 tópicos em uma primeira seleção. Esse material foi reduzido pelo próprio Millôr para os 5.142 tópicos publicados nesse livro. Segundo ele, “foi cortado tudo o que lhe pareceu ingênuo, tolo, gracinha, injusto – mesmo quanto a instituições – ou de duvidosa originalidade. Este, aliás, o tópico sobre o qual, porque passados tantos anos, o autor teve mais indecisões”.
 
E é aí que eu queria chegar. Ainda que não tenha atingido nem a metade do livro, percebi haver nele uma autoindulgência muito grande – que me fez pensar nos quatorze e-books lançados por mim e que vivem clamando por revisão e eliminação do “ingênuo, tolo, gracinha, injusto ou de duvidosa originalidade” que me permiti publicar.
 
Obviamente, não estou me comparando com o Millôr, pois isso seria mais que presunção, seria puro delírio, mas o que já li me deixou ou causou uma gama de sentimentos conflitantes – encantamento, surpresa, decepção e outros de que não me lembro.
 
Há frases, textos e reflexões geniais misturadas com outras já publicadas em outros livros, piadas muito jotabélicas (sinônimo de ruins), bilhetes para editores, frases sem graça nenhuma, trecho de discurso de paraninfo, comentários com data de validade vencida, críticas antigas a políticos de que quase ninguém se lembra mais (Jânio Quadros, José “Sir Ney”, Itamar Franco, Fernando Collor e por aí), como se ele estivesse obcecado em que as gerações mais novas soubessem como ele sempre foi engraçado, mordaz, crítico, irônico.
 
E foi essa aparente ânsia de tudo ou quase tudo republicar que me fez pensar na autoindulgência de um gênio que não precisava disso para ser incensado e louvado. Mais ou menos como o Jotabê do Blogson Crusoe.
  

sexta-feira, 30 de maio de 2025

EU, VOCÊ E A BARATA

 
Hoje pela manhã, saindo de casa para comprar pão, deparei-me com uma barata vadia – uma autêntica planetária americana – a andar sem destino pelo piso da garagem. Ao perceber minha movimentação, a cascuda escondeu-se atrás de um vaso, tentando não ser notada nem inseticidada, mas fingi não tê-la visto.
 
Desde que fiquei sabendo do desaparecimento progressivo dos pardais, resolvi fazer minha parte para preservar os que fazem ninho no beiral de nossa casa e deixam suas “lembranças” no chão logo abaixo. Em outras palavras, não me importo mais com o cocozinho dos pardais nem os espanto com jatos de água. Também não mato com inseticida as baratas que ousam aparecer e que podem servir de alimento para eles. Duro é ter de usar o chinelo e ouvir aquele plaft repulsivo, que me obriga a lavar a sola da havaiana antes de voltar para dentro de casa.
 
Pois bem, enquanto espantava com jato de água a barata para fora do portão, fiquei pensando em quanto tempo deve ter sido gasto para ela adquirir suas características e propriedades atuais, sendo uma delas a capacidade de provocar reações histéricas na maioria das mulheres e de alguns homens ao dar com uma delas sassaricando por prateleiras e armários. Por absoluta falta de coisa melhor para pensar, consultei a Wikipédia – a mãe dos muito burros – e anotei estes dados de suma importância, que todos deveriam conhecer antes de morrer:
 
Sabe quando surgiu o L.U.C.A.? Se você nem consegue imaginar de que estou falando, sugiro procurar no Blogson a fabulosa e hilariante história em quadrinhos “A Gaiola dos Lucas”. L.U.C.A significa “Last Universal Common Ancestor”, que em linguagem de gente pode ser entendido como o último ancestral comum a partir do qual todos os seres vivos surgiram. Em outras palavras, eu, você e a barata temos o mesmo tatatatatatatatar...avô. Pois bem, esse nosso avôzinho surgiu há 3,4 bilhões de anos. Do que aconteceu depois disso eu não faço ideia, apenas descobri que seus descendentes peixes surgiram há 530 milhões de anos; os insetos – incluindo os ancestrais do pernilongo e da barata – começaram a encher o saco há 480 milhões de anos, os répteis há 310 milhões, os mamíferos há 220 milhões e as aves há “apenas” 150 milhões de anos.
 
Agora, diga para mim, você consegue imaginar o que significam intervalos de tempo tão gigantescos? Você consegue internalizar uma passagem de tempo tão estupefaciente? Vou te dizer que por mais que eu sinta atração por números, valores, quantidades, não consigo avaliar nem ter a mínima ideia do que significam tempo medido em milhões de anos nem distâncias medidas em anos-luz. A minha limitação intelectual permite apenas que eu trate de forma teórica conceitos que nunca conseguirei realmente vivenciar.
 
Neste ponto, sinto inveja dos membros da tribo amazônica Pirahã, que não sabem contar nem têm palavras para indicar números precisos tipo “um”, “dois” ou “três”. Essa tribo avalia quantidades com termos que indicam “pouco”, “alguns” e “muitos”.  E acho que é assim que passarei a me comportar. Quando alguém perguntar quantos anos completarei no próximo dia sete de junho, apenas responderei:
- Muitos.

terça-feira, 27 de maio de 2025

A MOTHER JOAN'S HOUSE

 
Se uma imagem vale mais que mil palavras, quantas valerão oito imagens? Um dicionário inteiro? Uma enciclopédia ilustrada? Ou, talvez... um manual de etiqueta e boa educação?
 
As primeiras imagens mostram os parlamentos de oito países. Em todas elas, os congressistas aparecem ordeira e respeitosamente sentados. Bem diferente da zona que se vê nas sessões do Congresso brasileiro, onde cada "paralamentar" parece competir para ver quem demonstra mais falta de educação, menos verniz civilizatório. Talvez por acharem que ali é a casa da mãe joana.


segunda-feira, 26 de maio de 2025

PROCURANDO INSPIRAÇÃO? ACHOU!

A propósito de minha recorrente e atualíssima falta de inspiração para publicar temas interessantes, o dono do blog As Crônicas do Edu fez um comentário provocativo ao dizer que “só a IA não vai sofrer de tal falta de inspiração, porque é artificial...ou será que não?

Não deu outra. Acessei o ChatGPT e fiz este pedido:
“poderia sugerir temas engraçados para eu escrever uma crônica?”
 
As sugestões (e comentários relacionados a elas) foram tão boas que não resisiti à tentação de transformá-las em mais um post. E a culpa disso, claro, foi do Edu.
 

O ChatGPT disse:
Claro! Aqui vão 15 sugestões de temas engraçados para crônicas, com um toque de ironia, absurdo ou cotidiano exagerado — depende do seu estilo:
  
COTIDIANO EXAGERADO
1- A guerra silenciosa da geladeira contra a dieta
(Ela conspira à noite. Você jura que ouviu o requeijão te chamar.)

2- A arte de enrolar cabos de fone de ouvido — e falhar miseravelmente
(Você começa com paciência... termina com um nó impossível da mecânica quântica.)

3- Como sobreviver a um grupo de WhatsApp de família sem virar monge tibetano
(Figurinhas da Tia Lúcia, correntes do Tio Zé, fake news e bom dia com glitter.)
  

SITUAÇÕES SOCIAIS
4- Manual do introvertido para festas de aniversário alheias
(Fuja discretamente depois do “Parabéns” ou vire um vaso decorativo.)

5- Encontro com ex em fila de banco: um suspense psicológico
(E ainda faltam 34 senhas para você ser atendido.)

6- A epopeia de fingir que entendeu uma piada ruim e ainda rir com entusiasmo
(É preciso mais talento que atuar em Hollywood.)
 
 
TECNOLOGIA E MODERNIDADE
7- Diário de um idoso digital tentando entender emojis
(O dia em que mandou uma berinjela achando que era beringela mesmo.)

8- A Alexa está me espionando (e talvez me julgando)
(Ela ouviu você cantando Benito di Paula no chuveiro.)
  

FAMÍLIA E RELACIONAMENTOS
9- Como discutir com o cônjuge sem usar a expressão “como sempre”
(Spoiler: impossível.)

10- Conselhos amorosos de quem está solteiro há décadas
(“Não se iluda com flores, isso dá formiga.”)
 

TEMAS ABSURDOS
11- Reunião do sindicato dos travesseiros velhos
(Estão em greve até que você os aposente com dignidade.)

12- Meu cachorro é mais popular que eu nas redes sociais
(E ele nem tenta.)
 

AUTOIRONIA E REFLEXÕES
13- Ser adulto é pagar boleto e discutir se compensa fritar ou pedir pelo app
(Spoiler: o app vence. Sempre.)

14- O dilema moral de jogar fora a embalagem que “ainda dá pra usar”
(Não, aquele potinho de sorvete nunca mais verá sorvete.)

15- Como fracassar com estilo em todas as metas de ano novo
(Inclusive a de escrever uma crônica por semana.)

  

É PAPO FIRME!

  Há um ditado naval que é assim: “Qualquer porto numa tempestade” (“Any port in a storm”). Mesmo não sendo entendido nas artes náuticas, im...