Blogson Crusoe
O blog da solidão ampliada
quinta-feira, 26 de junho de 2025
SPOILER DE ENVELHECIMENTO
terça-feira, 24 de junho de 2025
ISTO É LÁ COM SANTO ANTÔNIO
A de que eu mais gosto foi composta por Lamartine Babo, um compositor e letrista inspirado, autor de mais de 400 composições, incluindo sambas, valsas, marchinhas, fox-trotes, marchas-ranchos, canções para festas juninas e Natal, e hinos de diversos times de futebol cariocas. E é a letra de uma dessas músicas que resolvi publicar aqui neste blog jurássico para celebrar esses festejos tão caros a tantas pessoas e comunidades. No final, se alguém se interessar em ouvi-la em uma gravação de 1934, basta clicar no link.
ISTO É LÁ COM SANTO ANTÔNIO
Eu pedi numa oração
Ao querido São João
Que me desse um matrimônio
São João disse que não!
São João disse que não!
Isto é lá com Santo Antônio!
Eu pedi numa oração
Ao querido São João
Que me desse um matrimônio
Matrimônio! Matrimônio!
Isto é lá com Santo Antônio!
Implorei a São João
Desse ao menos um cartão
Que eu levava a Santo Antônio
São João ficou zangado
São João só dá cartão
Com direito a batizado
Implorei a São João
Desse ao menos um cartão
Que eu levava a Santo Antônio
Matrimônio! Matrimônio!
Isso é lá com Santo Antônio!
São João não me atendendo
A São Pedro fui correndo
Nos portões do paraíso
Disse o velho num sorriso
Minha gente, eu sou chaveiro
Nunca fui casamenteiro!
São João não me atendendo
A São Pedro fui correndo
Nos portões do paraíso
Matrimônio! Matrimônio!
Isso é lá com Santo Antônio!
domingo, 22 de junho de 2025
MR. STRANGE LOVE
- Você viu o que o Donald fez?
- Quem, o Pato?
- Não o puto. O tramp ordenou o bombardeio de instalações nucleares no
Irã!
- E por que ele fez isso?
- Bom, ele é aliado de Israel, que está em guerra com o país dos
aiatolás.
- Eu, se fosse ele, transformava Israel no quinquagésimo primeiro estado norte-americano.
- Ficou doido?
- Olha só: primeiro pegaram o Havaí, depois anexaram Porto Rico como uma
espécie de protetorado americano.
- E agora o tramp quis transformar o Canadá em mais um estado americano!
- Então? Nada mais natural que transformar Israel no 51º estado
norte-americano!
- Eu acho que é mais fácil Israel anexar os Estados Unidos!
- Só se os americanos fizerem um desconto bom.
- Eitcha!
Dr.
Strangelove é um filme de 1964, uma comédia de humor negro em que um general
americano enlouquece e tenta começar uma guerra nuclear com a União
Soviética. A cena final do filme é hilária,
mas não vou dar spoiler. Quem quiser que corra atrás. O título completo desse
clássico já diz tudo: “Dr. Strangelove ou: Como Aprendi a Parar de Me Preocupar
e Amar a Bomba”
COM A ALMA LEVE
Já disse mil vezes que sou monoglota, que só sei falar português. Talvez por isso – ou apesar disso – sou literalmente fascinado pelo som de outras línguas, chegando até a identificar a sonoridade dos vários sotaques (mesmo sem saber de onde vêm) da língua inglesa. Mas nunca disse sentir-me atraído pelo vocabulário pouco conhecido que a língua portuguesa pode apresentar em outros países lusófonos.
- Bombos – São tambores grandes usados em festas populares. Os grupos de bombos animam as ruas com batidas fortes e ritmadas, geralmente durante as procissões ou desfiles.
- Grelhador – Grelha ou churrasqueira. É o utensílio onde se assam as febras, sardinhas, pimentos, etc., durante os arraiais.
- Manjerico – É uma planta aromática (uma variedade de manjericão) típica das festas de Santo António. Em Portugal, é tradição oferecer manjericos com um cravo de papel e uma quadra popular (um pequeno poema). Representa amor e sorte.
- Pimentos – Pimentões (no português do Brasil). Costumam ser assados junto com as febras ou sardinhas e fazem parte da refeição típica das festas.
sábado, 21 de junho de 2025
DELÍRIOS E PESADELOS
Tenho tido muitos pesadelos ultimamente – pesadelos que me fazem acordar triste, deprimido. E o pior é que guardam uma semelhança muito grande entre si. Sempre trazem a sensação de abandono, censura, de rejeição. Os ambientes não correspondem a nenhum lugar que conheci, são mal iluminados e há poucos móveis, como se estivessem sendo desocupados.
– Mas, Senhor... fostes Vós mesmo que os criastes!
– Não te pedi opinião! Mandei te chamar para acabar com os maus.
– Não seria melhor acabar com a maldade humana?
– Não! Se fosse isso, teria que extinguir toda a humanidade.
– É verdade... Seria um trabalhão – com o perdão da má palavra – dos diabos. Além disso, não haveria espadas de fogo suficientes.
– Pois é. Mas me lembrei da Revolução Francesa, quando milhares de pessoas foram guilhotinadas. Acho que a guilhotina é um bom instrumento para acabar com a nobreza da maldade e do crime.
– E quando posso começar?
– Já. Mas vamos definir uma ordem: primeiro os reis do tráfico, depois os príncipes da corrupção, os duques do feminicídio, os marqueses da pedofilia e, por fim, os condes e barões da mentira, da maldade e da crueldade humanas.
– Boa!
– Eu não trabalho mais nessa merda!
Mas o gosto amargo – que algum gaiato definiu como “gosto de fundo de gaiola” ou “de cabo de guarda-chuva” – permaneceu na boca. Já era hora de levantar.
sexta-feira, 20 de junho de 2025
DIFÍCIL, MUITO DIFÍCIL!
Em outubro de 2013 um bando de ativistas de uma tal “Frente de Libertação Animal” invadiu um instituto de pesquisas para “libertar” uma penca de cães da raça beagle que eram usados como cobaias (com isso, inviabilizaram as pesquisas que estavam em andamento). A notícia me deixou tão boquiaberto que achei que merecia uma charge ironizando esse comportamento fundamentalista e radical. Infelizmente, o ChatGPT não existia ainda naquela época. Contentei-me então em descrever a charge imaginada no post “Let It Beagles” (eu gostava de trocadilhos).
Lembrando-me disso, resolvi pedir a essa IA para gerar uma imagem da piada antiga, só pelo prazer de ver o resultado. Para isso, dei a seguinte instrução:
Faça um desenho caricato no estilo da HQ “Calvin and Hobes”, em preto e branco, com esta situação: o cenário mostra um túmulo meio escavado e uma lápide tombada ao lado, onde está escrito John Lennon (também pode ser George Harrison). Dentro do buraco, segurando o cabo de uma pá, encontra-se um sujeito de meia idade muito magro, meio calvo e com a barba por fazer. Olha com cara apalermada para outro sujeito do lado de fora do buraco, que está enfurecido. O balão do homem com raiva traz esta frase:
EU TE FALEI PARA LIBERTAR OS BEAGLES!!!!!!!!!
A imagem foi gerada, mas nunca deveria ter mencionado a deliciosa dupla Calvin e Haroldo, pois o homem enfurecido com a atitude do ativista retardado virou o Calvin. Ocevê!
Corrigi o texto e tentei mais uma vez, mas o resultado ficou pior, sem a ingenuidade de traços do primeiro. Não vou incluir nenhum desses desenhos no post antigo, mas fica o registro gráfico da piada imaginada. Ô coisa difícil! Olhaí.
quinta-feira, 19 de junho de 2025
SÍNDROME DE CARÊNCIA DE PROTAGONISMO – MARCELO DUARTE LINS
Anos atrás, depois de ser apresentado a ele, dizia que ele era meu melhor – ou mais caro – inimigo, porque a saída da meninada acontecia exatamente em frente à minha casa, com todos os previsíveis inconvenientes que isso provocava: ovos explodidos no nosso portão, farinha de trigo espalhada no passeio, correria, gritaria e todo tipo de traquinagem que adolescentes fazem na saída das aulas.
Um dia o colégio fechou e deixei de encontrar meu “inimigo” com a frequência anterior. Mas o sentimento de amizade que tenho por ele permaneceu. E um dia nos tornamos “amigos de facebook”.
Mesmo que à distância, isso permitiu um estreitamento do contato, pois sempre publica seus poemas e textos de terceiros que fogem à banalidade tão comum nessa rede.
Hoje, já com mais de 80 anos, publicou um texto que sintetiza – ou simboliza – sua vida e a de todos que envelheceram e se aposentaram (lembraram de algum blogueiro?). Espero que gostem.
Um dia você é chamado de “doutor”, “comandante” ou seja lá qual for o título de autoridade civil ou militar.
No outro, é só o seu Fulano da caminhada matinal, a dona Cicrana do pilates das nove, a voz que o neto chama para ajeitar o Wi-Fi.
E tudo bem.
Durante anos — décadas, talvez — você construiu, decidiu, liderou.
Resolveu problemas que pareciam montanhas.
Carregou a casa, a empresa, o Estado — o mundo, quem sabe — nas costas.
Teve horário, metas, gente que dependia de você.
Chamavam, você respondia. Ordenava, e o mundo obedecia. Ou quase.
Mas enquanto o mundo obedecia, havia um outro mundo que crescia — e que, muitas vezes, você mal viu crescer.
Filhos que aprenderam a andar, falar, sofrer e se virar sem você.
No fundo, você prometia a si mesmo que um dia compensaria o tempo.
Esse dia chegou. E, para sua surpresa, não é mais com os filhos — é com os netos.
Agora, o crachá foi entregue, o e-mail corporativo desativado, a agenda virou um caderno de aniversários e exames de rotina.
Um clique silencioso no botão “sair”.
E então começa o verdadeiro login: o da vida que existia por trás da função.
No início, é estranho.
Acordar sem pressa.
Almoçar sem o celular à mesa.
Não precisar provar nada a ninguém.
Parece perda.
Mas, com o tempo, a gente descobre que é ganho.
É quando o ego — aquele bicho barulhento e faminto — finalmente vai dormir mais cedo.
As vaidades começam a se despentear.
E o poder, coitado, vira uma piada interna entre lembranças e ironias.
Há uma liberdade secreta — e quase sagrada — em deixar de ser importante.
Depois que os holofotes se apagam e as salas esvaziam, sobra um silêncio que assusta no início, mas logo revela algo raro: a chance de ser inteiro sem precisar ser centro.
É nesse intervalo entre a grandeza e o anonimato que mora uma liberdade que poucos aceitam — a de não precisar provar mais nada.
Ser ex-presidente, ex-artista da moda, ex-chefe temido ou ex-qualquer-coisa relevante exige mais do que currículo.
Exige maturidade para suportar o eco do próprio nome dito cada vez menos.
Há quem aceite essa travessia com dignidade, transformando passado em legado e presente em sossego.
E há quem se agarre a qualquer manchete, a qualquer aplauso residual, como quem se recusa a apagar as luzes do palco mesmo quando a plateia já foi embora.
Que a vida pregressa sirva de boas lembranças, orgulho e referências — não de prisão.
Viver de glórias passadas é confortável, mas perigoso.
Morar no passado é correr o risco de se tornar o próprio fantasma do metrô no filme Ghost — aquela alma inquieta, presa entre estações, que assombra os outros no vagão porque não consegue aceitar que o tempo passou.
Há dignidade em reconhecer a importância que se teve.
Mas há ainda mais liberdade em não precisar provar isso o tempo todo.
Nesse novo tempo, surgem outras rotinas: o café sem pressa, a leitura sem prazo, a escuta sem interrupção.
Aparece uma nova importância — mais discreta, mas muito mais verdadeira.
Porque já não importa o que você faz.
Importa quem você é.
Agora, você é o dono do cachorro Weiss e da gata Menina Chanel.
E as pessoas da praça nem sabem seu nome — quanto mais o que você já foi.
E não faz falta.
As ilusões do “ser alguém na vida” se dissolvem como espuma.
E o que sobra é a essência:
O prazer de uma conversa boa.
A alegria de ensinar sem cobrar.
O tempo de ouvir mais do que falar.
A leveza de não ser mais “necessário” — e descobrir que isso é liberdade, não desprezo.
Talvez o que antes era ausência agora vire presença.
A pressa que te levou embora dos aniversários dos filhos cede lugar à calma de montar quebra-cabeças com os netos.
O conselho que você não deu aos 17, você agora sussurra aos 7 — com voz mais mansa, com menos urgência, com mais amor.
Os netos não são só a continuação da linhagem: são a chance de acertar com mais ternura onde antes só houve esforço e intenção.
A verdadeira grandeza talvez esteja em saber sair de cena. E permanecer inteiro.
Quem já foi importante, se souber deixar de ser, talvez descubra que o anonimato é só outra forma de liberdade — menos barulhenta, mas muito mais leve.
Alguns chamam de aposentadoria.
Outros, de desaceleração.
Mas talvez seja apenas o início da verdadeira vida adulta: aquela em que você vive, enfim, para si mesmo — sem script, sem performance, sem palco.
E é nesse silêncio do “já fui” que se escuta, pela primeira vez, o que você sempre foi.
Sem cargo, sem salário, sem plateia.
Só sabedoria.
E paz.
Porque a verdadeira importância pode estar, agora, em ter o tempo inteiro para fazer coisas simples que levam à felicidade:
Brincar com um neto.
Passear com o cachorro.
Conversar com velhos amigos.
Sentar à mesa com quem sempre esteve por perto — mesmo quando o mundo exigia que você estivesse longe.
É a liberdade de quem já foi importante.
E, enfim, aprendeu a ser presente.
SPOILER DE ENVELHECIMENTO
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