Para mim, que cada vez mais tenho menos certeza sobre mais coisas, a pior das crenças que alguém pode ter é a que afeta negativamente quem as tem, quem nelas crê. Algumas crenças religiosas são o pior exemplo disso. Sem estabelecer escala de valores, poderia citar a proibição de transfusão de sangue em quem dela necessita, a preferência pelo tratamento espiritual ou xamânico em vez da medicina convencional, a recusa à vacinação, a crença na “terra prometida” etc.
As crenças ideológicas também padecem desse mal. Li recentemente, no site da BBC, uma reportagem sobre o conflito surgido na colônia japonesa do Brasil logo após o fim da Segunda Guerra, entre aqueles que aceitavam o fato de o Japão ter-se rendido e os que se recusavam a acreditar nisso. Transcrevo um trecho:
Dez meses após o fim das hostilidades no Pacífico, a colônia japonesa no Brasil permanece em pé de guerra, desta vez interna.
De um lado estão os kachigumi, que não admitem a derrota – e têm apoio ou simpatia de 80% da comunidade –, e, de outro, os makegumi, que aceitam a vitória aliada.
Sociedades secretas, entre as quais se destaca a Liga do Caminho dos Súditos (Shindo Renmei), recorrem à intimidação e ao assassinato contra os adversários.
Situação ainda mais triste – ou louca – é a de um soldado japonês que, sem aceitar o fim da guerra, ficou escondido na selva durante trinta anos. Só depôs as armas depois de receber a ordem da boca de seu antigo comandante. Vestia o uniforme e portava rifle e espada (além de granadas, cartuchos de munição e uma adaga que sua mãe lhe dera na década de 1940).
Mas não quero me meter a teorizar ou filosofar sobre isso sem ter formação adequada. Sou engenheiro, não sociólogo, antropólogo, psicólogo ou qualquer outro “ólogo”.
O tema deste post é minha irritação e desprezo pelas pessoas que vestem roupas que eu chamaria de “ideológicas”: verde e amarelo para a gangue conservadora ou bolsonarista, vermelho e branco para a moçada da esquerda.
Para mim, esse pessoal possui uma crença que não permite críticas, reavaliações nem moderação. Ou talvez lhes falte uma visão mais pragmática, mercadológica.
Pode haver cinismo ou preconceito (um preconceito do bem) no que vou dizer, mas toda vez que vejo gente de verde e amarelo ou vermelho PT tenho quase vontade de vomitar, tão grande é a rejeição que sinto pelas crenças "pétreas" e valores defendidos por esses radicais.
Outro dia, depois de ver uma foto do Lula vestindo uma camisa vermelha de mangas compridas durante a COP30, pensei comigo: “Que sujeito burro! E esse é o cara que quer se reeleger?”. A explicação é simples: desde criança, com aversão ou medo do comunismo (mesmo sem saber de que se tratava), eu sempre odiei bandeiras e roupas vermelhas (hoje, só tolero o vermelho vivo de uma Ferrari conversível). E a camisa do Lula não é uma roupa cerimonial como as batinas dos padres, é uma roupa ideológica.Além disso, camisa "social" (de mangas compridas) fora da calça é feia demais (acho que seria bom para ele um personal stylist de direita).
Da mesma forma, quando vejo idiotas vestidos de verde e amarelo fazendo manifestações pedindo anistia para velhinhos delinquentes, sinto a mesma rejeição – por associar essa cambada aos tempos sombrios dos generais-presidentes.
Eu acredito ou tenho a impressão de que a maioria dos eleitores é formada por gente moderada. Por isso, se alguém almeja ser eleito para algum cargo de maior expressão (presidente, governador, prefeito), precisa tornar-se mais palatável para a maioria, não pode ficar servindo de eco apenas para seu gueto. E vestir-se só com as cores aprovadas ou aplaudidas pelo "gueto" pode ser um tiro no pé. Eu aceito e aprovo tanto algumas das bandeiras da esquerda quanto algumas da direita, mas não suporto radicalismos e crenças imutáveis, lembrando ainda que vivo em um país oficialmente laico.
Pensando nisso tudo, imaginei roupas que demonstrassem a moderação de quem as veste. Pedi então ao ChatGPT para criar camisetas de malha e uma camisa de mangas compridas misturando, em partes iguais, as cores verde, branco, amarelo e vermelho.
Para mim o ideal seria um tecido discreto tal como os utilizados nos kilts escoceses ou utilizando a técnica do pontilhismo (mas isso a IA nunca conseguiu fazer de forma decente). Como o resultado estava muito ruim (falta ao ChatGPT bom gosto e criatividade fashion), acrescentei ao pedido a ordem para usar a técnica de pintura do artista Jackson Pollock (Blogson Crusoe também é cultura!) – e saíram estas imagens. Quem as vestir estará mostrando sua moderação e equilíbrio ideológicos – mesmo que possa espantar quem olha a exuberância amazônica da padronagem. Olhaí.
Falando no caso dos japoneses, tem um livro do Fernando de Moraes, "Corações Sujos" que conta um caso desses. Não lembro se era sobre esse grupo que você citou.
ResponderExcluirQuanto ao estilo "neutro", achei ruim para uma camisa, meio psicodélico - talvez caísse bem em hippies dos anos 70.
Minha intenção era mostrar um teccido neutro mesmo, feito pontos de cores alternadas, mas isso a IA nunca conseguiu.
Excluir“Que sujeito burro! E esse é o cara que quer se reeleger?”
ResponderExcluirE o ladrão irá se reeleger, senhor.
E de novo com sua ajuda e beneplácito,senhor.
Que orgulho, senhor.
Você nem imagina minha felicidade em imaginar seu ídolo na papuda!
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