sábado, 28 de junho de 2025

O GARANHINHO

 
Um dia, na sala de espera de uma clínica de urologia, tive a oportunidade de conversar com um sujeito mais falante do que eu. Tinha a língua solta e nenhum filtro. Se não matraqueasse tanto ninguém notaria sua presença e aparência insignificante: baixinho, magrinho, feioso e ali na casa dos oitenta anos.
 
Sentado a meu lado enquanto esperava ser chamado e sem que eu lhe perguntasse nada, começou a desfiar suas reminiscências. Disse-me que tinha trabalhado a vida toda como representante comercial de laboratórios farmacêuticos. Não sei se por opção própria ou por circunstância, concentrou sua atividade na região mais pobre do estado.
 
Como todo representante da área, carregava sempre um arsenal de amostras grátis para distribuir a médicos como estratégia de divulgação. Mas, pelo que entendi, essas amostras também serviam para seduzir as mulheres humildes de quem se aproximava.
 
Segundo suas estimativas e apesar de casado, já teria feito sexo com mais de cinco mil mulheres. E não era nada seletivo, pois bastava ser do sexo feminino para que qualquer uma passasse por sua cama nas pensões baratas onde dormia. Nova ou velha, branca, parda ou preta, magra ou gorda, alta ou magra, feia ou bonita, casada, solteira ou viúva – e até prostitutas, o que importava para ele era a quantidade, não necessariamente a “qualidade”.
 
Mesmo não fazendo questão de disfarçar minha incredulidade, comentei já ter lido noticias tristes sobre meninas muito jovens que se prostituem para levar alimento para suas casas.
- Tem demais! – respondeu de imediato, e emendou com um caso:
 
- Um dia eu estava tomando café num posto de gasolina, depois de abastecer o carro, quando se aproximou uma menina muito magra, roupa surrada, cabelos despenteados, aparentando ter no máximo uns doze anos. Me pediu um cigarro.
- Menina, você já está fumando com essa idade? – perguntei.
 
Ela rebateu na hora:
- Eu não sou menina, eu sou é mulé!
Fez uma pausa e comentou comigo:
- Pense bem, uma prostitutazinha de doze anos!
 
Não resisti e o provoquei:
- E você, o garanhão das estradas, não fez nada?
- Não. Aquela eu mandei embora. Tinha a idade da minha filha mais velha.
 
Lembrando-me hoje dessa conversa, fiquei brincando com as palavras. Pela quantidade de mulheres que dizia ter conquistado, seria mesmo um garanhão. Mas pela estatura física e, principalmente, pela insignificância da aparência e comportamento desprezível, talvez fosse mais apropriado chamá-lo de “garanhinho”.
 
Cinco mil mulheres? Acho um número improvável e fantasioso, parecendo mais um caso de pescador. Mas... e se for verdade?

 

 

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