Um dia, na sala de espera de uma clínica de
urologia, tive a oportunidade de conversar com um sujeito mais falante do que
eu. Tinha a língua solta e nenhum filtro. Se não matraqueasse tanto ninguém notaria sua presença e aparência insignificante:
baixinho, magrinho, feioso e ali na casa dos oitenta anos.
Sentado a meu lado enquanto esperava ser
chamado e sem que eu lhe perguntasse nada, começou a desfiar suas
reminiscências. Disse-me que tinha trabalhado a vida toda como representante
comercial de laboratórios farmacêuticos. Não sei se por opção própria ou por
circunstância, concentrou sua atividade na região mais pobre do estado.
Como todo representante da área, carregava
sempre um arsenal de amostras grátis para distribuir a médicos como estratégia
de divulgação. Mas, pelo que entendi, essas amostras também serviam para seduzir
as mulheres humildes de quem se aproximava.
Segundo suas estimativas e apesar de casado, já
teria feito sexo com mais de cinco mil mulheres. E não era nada seletivo, pois
bastava ser do sexo feminino para que qualquer uma passasse por sua cama nas
pensões baratas onde dormia. Nova ou velha, branca, parda ou preta, magra ou
gorda, alta ou magra, feia ou bonita, casada, solteira ou viúva – e até
prostitutas, o que importava para ele era a quantidade, não necessariamente a “qualidade”.
Mesmo não fazendo questão de disfarçar minha
incredulidade, comentei já ter lido noticias tristes sobre meninas muito jovens que se
prostituem para levar alimento para suas casas.
- Tem
demais! – respondeu de imediato, e emendou com um caso:
- Um
dia eu estava tomando café num posto de gasolina, depois de abastecer o carro,
quando se aproximou uma menina muito magra, roupa surrada, cabelos despenteados,
aparentando ter no máximo uns doze anos. Me pediu um cigarro.
-
Menina, você já está fumando com essa idade? – perguntei.
Ela rebateu na hora:
- Eu
não sou menina, eu sou é mulé!
Fez uma pausa e comentou comigo:
- Pense bem, uma prostitutazinha de doze
anos!
Não resisti e o provoquei:
- E
você, o garanhão das estradas, não fez nada?
- Não.
Aquela eu mandei embora. Tinha a idade da minha filha mais velha.
Lembrando-me hoje dessa conversa, fiquei
brincando com as palavras. Pela quantidade de mulheres que dizia ter
conquistado, seria mesmo um garanhão. Mas pela estatura física e,
principalmente, pela insignificância da aparência e comportamento desprezível, talvez fosse mais apropriado
chamá-lo de “garanhinho”.
Cinco mil mulheres? Acho um número improvável
e fantasioso, parecendo mais um caso de pescador. Mas... e se for verdade?
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