segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

O SONHO ACABOU

EXÉRCITO DE BRANCALEONE

“Quando a estupidez é considerada patriotismo, não é seguro ser inteligente”. (autor desconhecido)

Este post era só de despedida e fechamento do blog, mas depois dos acontecimentos mais que deploráveis em Brasília e ainda mais lamentáveis por existir pessoas que aplaudem e aplaudiram o vandalismo descontrolado de uma escória criminosa, resolvi deixar também registrada minha revolta e desprezo por todos os que concordaram, não se importaram, ou até aplaudiram essa inadmissível tentativa de golpe.
 
Depois de noticiada na mídia a intenção de bolsonaristas de fechar refinarias e a utilização de caminhoneiros para bloquear estradas, ficou claro para mim que uma operação de guerra havia sido planejada e financiada por uma minoria endinheirada e com apoio de estrategistas. Ou seja, um grupo de golpistas (que precisa ser identificado, preso e punido) resolveu criar um exército de Brancaleone para que as Forças Armadas se dispusessem a intervir e melar um governo democraticamente eleito.
 
Um exército trapalhão formado por idiotas, lunáticos, vândalos e mercenários, dividido em três “armas”: “infantaria”, a turba de vândalos que viajou para Brasília; “cavalaria”, os caminhoneiros que fechariam as estradas e “engenharia" ou "artilharia”, a gangue que bloquearia as refinarias.Em uma guerra de verdade os comandantes sempre ficam obviamente a salvo para acompanhar, planejar e conduzir as operações, jamais ou quase nunca na "frente de batalha", jamais deixando o cuzinho à mostra. Esse pessoal precisa ser identificado e punido, muito bem punido, para parar de brincar de “Comandos em Ação”!"

Como símbolo e recordação desta época triste sugiro buscar no Youtube uma lindíssima música apropriadamente intitulada “Stormy Weather” (“Clima Tempestuoso” ou “Tempo de Tempestade”), interpretada por Etta James. Para facilitar, o link é este: https://www.youtube.com/watch?v=et7SReenr_s

O SONHO ACABOU
O sonho acabou. Não foi o Gilberto Gil nem um dono da confeitaria que disse isso. Sou eu que estou dizendo.
 
13 amigos e amigas virtuais (eram 15, mas dois, mais "sensíveis", resolveram abandonar o blog), mais de 146 mil visualizações, 2.620 postagens, mais de 4.700 comentários (metade disso, provavelmente, correspondente às minhas respostas). Bacana, não? Oito anos e meio de muita diversão, piração, angústias, insights, raiva, decepção e alegrias, tempo em que este blog transformou-se em "blogoterapia", palanque para criticar os políticos mais em evidência, "sitting comedy" de má qualidade (o oposto de stand up comedy), galeria de desenhos de jardim de infância, palco para todo tipo de exibicionismo jotabélico, idiossincrasias e neuroses mal ou nunca curadas.
 
Esse é o retrato do Blogson Crusoe. Mas acho que já deu. Não tenho mais vontade nem estômago (talvez no sentido literal, só um exame que estou postergando dirá) para continuar a brincar de blogueiro ou ficar me explicando ou contestando opiniões contrárias à minha forma de ver a vida, pois, por mais que alguns não acreditem, eu sou uma pessoa moderada e a favor da conciliação, da “abertura de portas”, sempre na torcida a favor do Bem, sempre contra todo tipo de radicalismo.
 
Também não tenho mais vontade de ficar usando linguagem coloquial e gírias mal aprendidas para esconder minha ignorância e falta de cultura. Cansei de buscar inspiração, de tentar garimpar assuntos interessantes ou pequenas lembranças ainda não registradas. Sinto-me incapaz de fazer novas piadas de quinta série (acho que fui reprovado) ou de escrever uma crônica minimamente bem humorada. Resumindo, acho que já deu mesmo.
 
Como disse antes, foram muitas as emoções vivenciadas nesses oito anos de vida. Mas a partir de hoje o Jotabê vestirá seu pijaminha de unicórnio cor de rosa, calçará suas pantufas e voltará a ser apenas o José Botelho, um idoso triste, deprimido e solitário, mas com ódio eterno ao cloroquínico ex-presidente (e aos baderneiros e terroristas de extrema direita que ontem, dia 08/01, além de vandalizar prédios públicos e bens histórico-culturais em Brasília, ainda barbarizaram este post que já estava pronto, pois não queria criar um post apenas para fazer meu desabafo contra os bolsonaristas idiotas (a grande maioria).
 
Voltando ao texto original eu já estava acalentando a ideia de fechar o Blogson há muito tempo (este texto começou a ser escrito ainda antes do Natal, mas fui enrolando sempre procrastinando, sempre adiando o xeque-mate, algo parecido com um relacionamento que terminou mas que você demora a aceitar), pois eu ainda pretendia publicar (e publiquei) oito posts já prontos (mesmo que fossem uma merda), pois detesto jogar fora o que escrevi.
 
Mas agora não há mais nada no estoque. Por isso, vou utilizar a “cláusula pétrea” que descrevi no post “Uma Cláusula Pétrea” para fechar o Blogson, pois agora tenho certeza do que realmente quero. Em outras palavras, nunca mais postarei nada neste blog da solidão ampliada. Este é o fim real e definitivo do Blogson, pois "nunca mais" é para sempre.
 
Mesmo assim, deixo para os amigos e amigas virtuais (inclusive para os que optaram por deixar de ser e até mesmo para os que talvez tenham aplaudido o vandalismo em Brasília) meu coração eternamente grato pelo que representaram para mim e para o Blogson nesses oito anos.
 
Fui, ou melhor, fomos.

domingo, 8 de janeiro de 2023

NÃO QUERIA ESTAR VIVENDO NEM ESCREVENDO ISSO!


O post de hoje seria apenas a resultante da união de dois textos escritos por gente equilibrada. (acreditem, existem pessoas assim!). O primeiro é a transcrição de uma imagem que recebi de um dos meus filhos, provavelmente extraída de alguma rede social. O autor é conservador (então, não há perigo de ser lido). O segundo texto merece uma abordagem mais detalhada, pois seria publicado isoladamente. Por razões pessoais (que logo serão conhecidas) eu resolvi transformá-lo na parte final deste post. 

Mas a invasão de Brasília por uma escória de extrema direita, terroristas que entraram e barbarizaram os prédios do Palácio do Planalto, STF e Congresso Nacional me obrigam a fazer uma última condenação à barbárie descontrolada, mal contida e mal reprimida, praticada por gente que é tudo, menos avôzinhos aposentados e avozinhas fofinhas, doces e dóceis. Não são! São, volto a repetir, uma escória que não se importa em viver sob ditaduras e regimes autoritários - desde que sejam de direita, de extrema direita. Esse vandalismo só prova que democracia é um artigo de que nunca ouviram falar ou que nunca lhes interessou. Cem ônibus cheios de gado bolsonarista não surgiram do nada. Quem contratou, quem fretou? Foram planejados e financiados por uma minoria endinheirada e ainda mais radical. E me ocorre uma pergunta: o que é pior, "ladrões" que roubam dinheiro público ou "ladrões" que tentam roubar a democracia e a liberdade de todo um país? Já vi várias e lamentáveis manifestações nas redes sociais apoiando esse atentado à democracia, à Constituição Federal e ao povo brasileiro. Sabe o que são esses apoiadores? Babacas, idiotas irrecuperáveis, gente de quem eu quero distância - física ou virtual. Entrei novamente no facebook só para excluir definitivamente a "amizade" com quem publicou alguma coisa em favor dessa escória de baderneiros e terroristas. Antes só que mal acompanhado, concordam? Mas chega, pois meu fígado não aguenta mais, já estou muito nauseado com toda essa baderna e não quero falar mais nada. E estou tão puto que já dou o spoiler definitivo: amanhã sairá o último post deste blog. E agora os textos que eu tão ingenuamente quis apenas reproduzir.

 
UTILIDADE PÚBLICA (paulocruzphi – modo de criação)
Se você descobriu que era “de direita”, que era “conservador(a)” de 2018 pra cá; se correu pra assinar Brasil Paralelo, se inscreveu em todos os canais de Youtube de apoio ao Bolsonaro, começou a se informar de política ouvindo a Jovem Pan – e fez isso desde então; se acha que toda a mídia é vendida – a ponto de ver uma notícia de qualquer veículo e desqualificar a notícia de imediato; se comprou cursos de trumpatriotas da Flórida, se acredita que o Brasil pode virar uma Venezuela – sem entender  que, na maioria dos lugares, nunca deixou de ser –,  se acha que a esquerda toda é demoníaca e precisa ser “fuzilada” (as aspas vocês sabem de quem são), entenda: VOCÊ FOI DOUTRINADO.
 
Aproveite a ressaca dessa derrota e vá estudar sério. Saia um pouco daqui, pare de acreditar no Eduardo Bananinha e nesses Kim Paias da vida, e vá aos livros de autores SÉRIOS, consagrados pela tradição conservadora (como Burke, Scruton, Sowell, Kirk, João Camillo, Nabuco, Rebouças, Cairú, etc.). Deixe de ser manipulado por projetos de poder e seja livre. Se precisar de dicas, tô por aqui. De nada.
 
 
 
CARTA AO LULA
Quando a senadora Simone Tebet (minha candidata preferencial à presidência) declarou seu apoio no segundo turno ao ainda candidato Lula, teria comentado que estaria “pagando um alto preço político” por isso. Eu não pagarei nada – até por não ter nenhuma grana para pagar o que quer que seja –, mas terei de suportar quatro anos com petistas falando abobrinhas nos meios de comunicação. Pelo menos isso ou até mesmo injeção na testa é melhor que suportar mais quatro anos de (des)governo do chorão.
Por isso, ao ler um artigo no portal UOL em forma de carta destinada ao Lula e publicado no dia de sua posse, vi que tudo o que eu gostaria de dizer ao novo presidente estava dito na carta do colunista Jamil Chade. A consequência imediata foi um copycola para o velho Blogson. Olhaí.
 
 
Senhor presidente,
Sobrevivemos ao momento mais ameaçador de nossa jovem democracia e vencemos sem disparar um só tiro. Um homem pequeno, repugnante, violento, cruel, ignorante e irresponsável fugiu, deixando órfãos milhares de seguidores que foram fraudados por uma estratégia que usou a mentira como instrumento de poder.
Agora, temos a obrigação de reinventar o futuro, em nome daqueles que padeceram sob um governo negacionista e de tantos outros que, em suas lágrimas, viram sonhos serem esmagados. Temos a obrigação de reinventar a nossa democracia, quem somos no mundo e nossa identidade nacional múltipla, diversa e inclusiva.
A realidade, presidente, é que a partir de agora os olhos do mundo estão focados no senhor.
Aos brasileiros, sua presidência tem pela frente a tarefa hercúlea de ter de restabelecer a confiança nas instituições, de pacificar famílias, de dar sentido à função pública, de resgatar a dignidade de milhões de famintos.
Ao mundo, sua gestão terá de provar que a Amazônia não fica na periferia do Brasil. Mas sim no centro do poder, das prioridades e do projeto de nação. Dela depende, em muitos aspectos, a sobrevivência não apenas de uma democracia. Mas de nossa existência no planeta.
Ao mundo, que carece de liderança, sua presidência terá de provar que somos um parceiro confiável, que combatemos a corrupção e o crime, que somos parte das soluções para as crises do planeta. E não parte dos problemas.
Sua posse será marcada por um número inédito de delegações estrangeiras. Mas não tenha a ilusão de que isso é uma chancela pessoal apenas ao senhor. Sua vitória - e agora sua posse - eram passos fundamentais para que as democracias ocidentais pudessem dar uma resposta ao movimento de extrema direita, que ganha terreno, invade famílias, cultos, escolas, torcidas de futebol e todos os aspectos da sociedade.
 
Prezado Lula,
Por tudo isso, considero que o senhor assume o mandato mais importante da história da democracia brasileira. Talvez essa seja a última chance que temos de desmontar um movimento bárbaro que fincou raízes profundas e armadas no Brasil.
Um eventual fracasso de sua gestão dará força e uma narrativa de legitimidade a grupos que não acreditam na democracia como pacto social.
Bolsonaro fugiu. Mas o bolsonarismo se instalou em nosso país. Ganhou assentos importantes no Senado e nos estados. E, com a ajuda da flexibilização de certas leis, abriram nas consciências armas um espaço real para o ódio.
Não há consenso sobre seu nome, as urnas mostraram isso. Muitos brasileiros não teriam votado no senhor se não fosse por uma necessidade urgente de impedir a implosão de nossa democracia. Isso sem contar com a outra metade do país que não votou pelo senhor.
Portanto, não haverá período de trégua, um silêncio de 100 dias ou uma suposta lua de mel. Como imprensa, estamos aqui para fiscalizar, cobrar e questionar. Mas também para reconhecer que decisões tomadas por sua equipe merecem ser aplaudidas: uma Funai verdadeiramente indígena, a volta da participação de mulheres em postos ministeriais, a busca por uma diversidade, uma liderança real em temas de direitos humanos, cientistas renomados responsáveis pela Saúde, ambientalistas nos cargos adequados, vozes do movimento negro no esforço de democratização.
Somos hoje uma nação violentada, uma república profanada e temos o ódio normalizado como instrumento político. O mandato de quatro anos do governo de Jair Bolsonaro termina com uma característica típica dos mandatários medíocres: a covardia.
Desejar o inferno para esse imoral não resolverá nossos problemas. Temos de desejar Justiça. Para que quem mate morra de medo. Para determinar, como bem colocou o argentino Julio Strassera, que o sadismo não é uma orientação política. É perversão moral.
 
Presidente,
A tarefa de retirar o país de um fosso, da depressão e do esgotamento é enorme. Muitos acreditam que o senhor não tem direito de errar. A cobrança é exagerada? Talvez. Mas o que está em jogo definirá nossa geração. No Brasil e no mundo.
 
Boa sorte, feliz ano novo e saudações democráticas.
Jamil

UMA CLÁUSULA PÉTREA

 
Outrora eu era daqui, e hoje regresso estrangeiro,
Forasteiro do que vejo e ouço, velho de mim.
Já vi tudo, ainda o que nunca vi, nem o que nunca verei.
Eu reinei no que nunca fui. (Fernando Pessoa)
 
Aqueles que acessam o blog há muito tempo já estão de saco cheio de me ver recontar a origem do Blogson Crusoe. Paciência. Eu sou bastante repetitivo, mas talvez esta possa ser a última. O que (não) importa saber é que este blog teve sua infância despreocupada (mesmo que solitária), uma adolescência entusiasmada, uma fase adulta adulta e uma decadência galopante (mas sem nenhuma elegância, pois não me chamo Lobão).
 
A bem da verdade, essas fases se alternaram e se misturaram ao longo de toda a vida do blog, em total desacordo com a linha da vida de uma pessoa do mundo real. Essa alternância desenfreada de fases talvez seja a explicação para uma piada de quinta série ser antecedida por um texto mais reflexivo e melanchólico e sucedida por uma poesia ou um dezénho minimalista e de humor mínimo.
 
Nunca houve regras rígidas neste blog da solidão (cada vez mais) ampliada, com apenas duas exceções. A primeira foi minha permanente intenção e objetivo de sempre tentar divertir e/ou encantar os leitores. A segunda foi o registro da verdade mais absoluta, “duela a quien duela”, como diria o Collor.
 
Ultimamente, graças à decadência, à minha erosão física e mental, há total falta de assuntos relevantes e a consequente abundância de repetições, frescuras e lamúrias. Se houvesse pelo menos um mínimo de humor de qualidade eu poderia repetir o Lobão dizendo que o blog enfrenta uma décadence avec elegance, mas não. O Blogson está derretendo mais que o permafrost, mais que as geleiras do Polo Sul. E esse derretimento está pondo à mostra as canelas finas que o sustentam. Por isso, mais uma vez (já deve ser a terceira ou quarta vez), o velho Blogson está caminhando para fazer seu balanço final. Por mais que isso me Doha, ou melhor, me doa.
 
Desde 2014 o Blogson foi minha diversão mais constante, meu brinquedo diário, meu pau de arara mais torturante, o absorvente de toda minha atenção. Por culpa dele parei de tocar violão e ouvir música, diminuí a leitura, passei a dormir mal, a ter crises severas de depressão. Um dos maiores motivos foi a crescente falta de inspiração.
 
Talvez a atmosfera tóxica que envenenou e dividiu as pessoas deste país tenha contribuído com a maior parcela de culpa, por me tornar uma pessoa preocupada, ansiosa, amarga e triste. O curioso é que quem me conhece no mundo real nem se dá conta disso, pois tento me manter como o gente boa, o simpaticão, o inofensivo criador de piadas idiotas e trocadilhos infames.
 
Na prática, entretanto, e graças em grande parte ao blog, a esse tamagotchi do bem e do mal, acabei me transformando em um Dom Quijote moderno, um cavaleiro da triste figura de quem foi retirado o cavalo, restando apenas a triste figura.
 
 
Não sei se já perceberam (os que ainda estão acordados) que estou enrolando, enrolando, escrevendo abobrinhas sem nenhum brilho ou graça. Mas o assunto é o fim do blog, ou melhor, a aposentadoria do blogueiro. Afinal, o blog e ele parecem ter cumprido sua missão (que nunca houve), pois os bezerros de ouro foram derretidos, fizeram churrasco com as vacas sagradas, botaram as certezas absolutas para correr, tiraram da penumbra a hipocrisia alheia (só a alheia!), denunciaram as meias verdades e as mentiras inteiras, enfim: promoveram uma faxina de tirar bicho nas próprias convicções. Nesse tempo as lembranças ficaram cada vez mais desbotadas e a inspiração comprou passagem só de ida.
 
Por isso, acho que não há mais nada ou quase nada a fazer ou dizer. Na verdade, tenho sentido uma inadequação e uma insatisfação crescentes, é como se eu tentasse usar uma roupa que já não me serve mais. O defeito nem está na roupa, está em mim. Não sei quando acontecerá o desenlace, talvez demore um pouco, talvez aconteça progressivamente ou com uma única "pancada", mas sinto que está chegando, como os ventos que prenunciam uma tempestade (isto ficou muito ridículo!). 
 
Por oscilação de humor, depressão ou o que quer que seja, já tentei acabar com o blog mais de uma vez, mas acabei tendo recaídas e voltei, um processo muito constrangedor para qualquer pessoa, ainda mais se essa pessoa for um senhor idoso. Mas hoje encontrei a solução definitiva, escondida em uma "cláusula pétrea" pessoal, a expressão "nunca mais". Para mim, quando essa expressão é dita ou utilizada significa que a decisão tomada é "para sempre", não dá para voltar atrás.
 
Assim, quando eu escrever em algum post que nunca mais haverá novas publicações no blog, podem acreditar e ter certeza de que esse dia marcará o fim real do blog. Por enquanto, o blog ainda segue respirando. Com auxílio de máscara de oxigênio, mas respira.
 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

NÃO TENHO MAIS SACO PARA ISSO!

 PARE O MUNDO QUE EU QUERO DESCER!
Já percebi que estou ficando cada vez mais fragilizado emocionalmente. Séries ou filmes na TV, por exemplo, se tiverem drama e sofrimento mental eu me recuso a assistir. Se eu já estou achando o mundo, a Vida, uma merda, para que mais sofrimento (mesmo que fictício)? Outra coisa que me apavora e preocupa é que tipo de mundo minhas netinhas viverão quando estiverem com 20 anos.
 
Mesmo que não espere a compreensão dos radicais (e não estou nem aí), um dos motivos para me recusar eternamente a votar no chorão foi a percepção de que sua reeleição representava uma ameaça ao futuro climático do planeta, justamente pelo desmatamento desenfreado da Amazônia. Para mim, o roubo do futuro é muito pior que um eventual roubo no presente (se é que me entendem).
 
 
NOTÍCIAS POPULARES
Deu no noticiário de vários jornais: Marido imobiliza esposa para vizinho estuprá-la na virada do ano em SP. Filho da mulher chamou a polícia e os dois foram presos.
 
Esta notícia é tão absurda, tão indicadora da volta da barbárie, que só posso tentar fazer uma piada para impedir a náusea: O marido e o vizinho provavelmente pra lá de bêbados, devem ter cantado assim: “Vira, vira vira, virou!”
 
 
NÃO ADIANTA BUFAR!
Existem palavras com uma capacidade tão grande de provocar alucinações e confusão mental em pessoas emocionalmente mais frágeis, que se fossem medicamentos seriam classificados como “tarja preta” e teriam sua receita retida nas farmácias. Comunismo e democracia, por exemplo, são duas dessas.
 
Pessoas de má fé utilizam as palavras comunismo e comunista para semear o medo entre a população mais conservadora. Já democracia tem o efeito inverso. Regimes e líderes autoritários, ditatoriais adoram declarar-se democratas e a favor da democracia. E aí a vontade é dizer "me engana que eu gosto!"
 
Esta conversa fiada serve como introdução a uma piada que outro dia alguém me contou. Uma ótima piada, talvez a melhor do ano passado. Alguém teria dito ou escrito que “os comunistas não são patriotas, pois o comunismo é internacional”.
 
Eu já comecei a rir do uso das palavras “comunista” e “comunismo”, que funcionam como rótulos perfeitos para quaisquer tipos de “males” e "ameaças" à sociedade e às crenças ou valores de muita gente, especialmente se forem mais idosos ou com uma situação financeira tranquila. Votou no Lula? Comunista. É a favor do aborto? Comunista. É a favor da “ideologia de gênero” (o que quer que isso signifique)? Comunista. E por aí vai.
 
Mas, voltando à frase, fiquei encantado com a “inteligência” ou má fé de quem a formulou. Por isso, bateu a vontade de identificar "comunistas" ocultos dentre as pessoas de bem. Afinal, todo cuidado é pouco!
 
E fiquei pensando que se o Cristianismo tem seguidores em todas as partes do mundo (mais internacional, impossível!), então todos os cristãos são comunistas. Foda!
 
Comunistas também são os principais controladores das montadoras de automóveis, das empresas de exploração e refino de petróleo e de todas as multinacionais. 
 
Outro exemplo: sempre ouço dizer (e concordo) que o Capital não tem pátria (nem ideologia). Nesse caso, seguindo o raciocínio da piada e ainda que isso soe estranho, os bilionários capitalistas são comunistas – mesmo que o Warren Buffett bufe contrariado.
 
Piadinha mais sem graça, sô!
 
 
DITADOS POPULARES
Existem duas máximas (ou ditados) em linguagem chula que dizem quase a mesma coisa:
"Pimenta no cu dos outros é refresco" e "Se o cu não é meu, pau nele". Lembrei-me disso pela notícia que acabei de ler:
 
Gasto de milhões com lubrificante sexual causa polêmica na Argentina
Programa 'Haceme tuyo' (faça-me seu, em tradução livre do espanhol) gastou 500 milhões de pesos argentinos (R$ 15 milhões) na compra do produto.
 
Aqui no Brasil, em abril de 2022, quando o imbroxável estava em pleno gozo de seu mandato presidencial, saiu a notícia de que o Exército fez um gasto de R$ 3,5 milhões na compra de próteses penianas.
 
Isso só prova uma coisa: independente do fato de um governo ser de direita ou de esquerda, qualquer despesa pouco convencional ou supérflua será sempre enfiada no cu da população.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

GEMININIÑAS - 16

 
Os pais da Lelê e da Lulu decidiram passar a virada do ano na casa do “Tio Dani”. Para otimizar os preparativos para a festa, decidiram que enquanto a mãe desse banho e o jantar das menininhas o pai passaria a roupa a ser usada no dia.
 
(Palavras da mãe): Acontece que a Lulu demorou a ir para o banho, pois quis ficar “ajudando" o papai a passar o ferro na roupa. Por isso, fui dar o banho da Lelê primeiro. E quando terminei, fui buscar a Lulu. Quando me viu, ela me contou com o maior orgulho:
 
- Mamãe, seu vestido está ferradinho!
- É, Lu? Papai ferrou ele todo? (com aquele riso discreto e esculachante para o marido. Aquele já havia sido eleito, por unanimidade, o melhor trocadilho da história).
 - Sim, mamãe! É para ele ferrar o meu também?
- Não, Lu, melhor não.  O seu não precisa.
 
 
 
Sem tempo para encomendar alguma sobremesa, os pais da Lelê e da Lulu compraram alguns potes de sorvete para levar para a festa na casa do “Tio Dani”. Todos os netinhos do "Vovô Cucu" queriam mas não puderam tomar um pouco do “sorvete da virada”, motivo de grande contrariedade e irritação para todas as crianças. Por isso, no dia seguinte, o “Vovô Cucu" comprou sorvete para a criançada matar a vontade. Foi quando a Lelê se manifestou:
 
- Vovô Cucu, eu posso tomar um pouco do seu sorvete? Eu deixei o meu lá na casa do “Tio Dani”!

 

ERA UMA VEZ...

Recentemente, para criar um espaço maior para as netinhas brincar, resolvemos cobrir com pedra São Tomé um canteiro onde só havia mato. Dentre as pedras entregues uma chamou minha atenção, pois tinha a “impressão digital” de uma folhagem de prováveis milhões de anos atrás. Fiquei encantado com a imagem preservada e resolvi criar uma historinha para entreter as menininhas. Parece que elas gostaram, pois a Lulu pediu: “Conta de novo”. 
 
Depois da terceira vez contando a mesma história (cada vez com mais detalhes “empolgantes”) e como o Blogson já está mesmo em fase terminal, resolvi guardar na blogoteca o texto da historinha imaginada. Os leitores e leitoras podem achar uma merda, piegas ou o que quiserem, mas estou pouco me lixando. Meu negócio é memória, preservação da memória desimportante, mas não menos digna, não menos saborosa. Olhaí.
 
 
Há muito, muito, muito, muito tempo não existiam ainda galinhas nem porquinhos nem cachorrinhos. Ah, e nem vaquinhas, zebrinhas ou gatinhos. Só existiam dinossaurões, dinossauros, dinossaurinhos e lagartixas do tamanho de um carro. E baratas também. As plantas eram árvores muito grandes, mais ou menos grandes e plantinhas.
 
Havia um dinossaurinho que gostava muito de comer plantinhas, mas ele era muito pequeno e tinha de viver escondido, pois tinha medo dos dinossaurões. Seu nome era Dininho (nome escolhido por votação).
 
Um dia ele estava comendo sua salada de plantinhas (nhoc nhoc nhoc) quando ouviu o barulho de um dinossaurão por perto. A terra até tremia com as pezadas que ele dava no chão ao andar (mãos batendo alternadamente na mesa). Dininho precisava se esconder rapidinho, mas aquela saladinha estava tão boa!
 
Foi aí que ele teve a ideia de cobrir suas plantinhas com uma pedra para comer depois que o dinossaurão fosse embora.
 
O dinossaurão estava com fome, doido para comer algum dinossaurinho e ficou rugindo (ROARR!!!!) enquanto olhava para ver se encontrava algum. Como não achou nenhum, foi embora.
 
O Dininho saiu da toca, olhou pra cá, olhou pra lá, ficou escutando para ver se o dinossaurão ainda estava por perto. Quando viu que não tinha mais perigo, resolveu continuar a comer sua saladinha deliciosa (tinha alface, brócolis, tomate, beterraba, só faltou um salzinho e azeite).
 
O resto da história, eu não sei, mas acho que ele não conseguiu se lembrar do lugar onde tinha escondido sua plantinha deliciosa. Levantava uma pedra aqui e nada, levantava outra e nada também (as mãos e pés das menininhas fazendo às vezes de pedras). E ele nunca mais encontrou a saladinha escondida. Mas não ficou com fome, pois como era muito esperto logo encontrou outras plantinhas deliciosas.
 
Muito, muito, muito, muito tempo se passou, os dinossaurões, os dinossauros e os dinossaurinhos sumiram, surgiram as galinhas e também os porquinhos, as vaquinhas, as zebrinhas, os cachorrinhos e os gatinhos. Mas ninguém nunca mais achou a saladinha do Dininho, que foi ficando sequinha, sequinha e esmagada pela areia, até que tudo virou pedra.
 
Um dia a vovó e o vovô compraram umas pedras para colocar no chão e olha só o que encontraram: não era mais a plantinha perdida do Dininho, mas o retrato dela! Olha como ela era bonitinha:



 



quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

ACORDA, DISSONANTE!

Dissonância em acordes musicais é tudo de bom e tem a cara da bossa nova, mas dissonância cognitiva é bem a cara da ultra direita rancorosa. E não há nada de bom nisso.


terça-feira, 3 de janeiro de 2023

BSCS

 
Terminei o post "PSSC" falando das novidades (para mim, pelo menos) nas áreas de física, biologia e química ensinadas no Colégio de Aplicação, mas havia a mesma “pegada” nas outras matérias. Em português tivemos aulas de interpretação de textos com a análise exaustiva de textos como o poema Ismália, de Alphonsus de Guimaraens (aqui sou obrigado a fazer um parêntese: esse negócio de análise literária desde sempre me lembrou a tentativa de tirar leite de pedra).
 
Em matemática encaramos as pedreiras de trigonometria, análise combinatória, limites e derivadas, e por aí afora. Detalhe: perguntei a meus filhos se chegaram a estudar esses assuntos e a resposta foi unânime: "Não".

E o “defeito” é que você poderia ser reprovado em uma ou mais matérias e obrigado a repetir o ano (que absurdo!). Mesmo que no “glorioso Afonso Arinos” a repetência também pudesse acontecer, chama atenção o fato de que uma escola pública tivesse esse nível de excelência curricular. Seria o Aplicação uma ilha de qualidade em um mar de escolas medíocres? Eu era pobre e tomava dois ônibus para chegar à escola, mas contaria o fato de ser ela uma escola pública em plena zona sul da cidade, com alunos majoritariamente oriundos de famílias mais abonadas? 
 
Só sei que o Colégio de Aplicação acabou e em algum momento a “magia” se desfez. Ou teria sido progressivamente?
 
Quando meus filhos estavam na idade escolar, em algum momento e por falta de grana (quem mandou ter quatro filhos?) tive de retirá-los da escola particular caríssima  em que estudavam, matricular os dois mais velhos em um colégio militar onde só estudavam filhos de policiais militares (ganharam bolsa arranjada por um conhecido influente) e os dois filhos mais novos em uma escola municipal próxima de nossa casa, pois naquela época as melhores escolas já eram particulares (e caras pra burro).
 
Engoli a flagrante perda de status e fui levando a vida, mas o que era ruim piorou ainda mais, com o advento da “escola plural”, que me fez ter um diálogo mais ou menos assim com o diretor da escola municipal:
 
- Estou impressionado com a escola plural, pois esse modelo inseriu definitivamente o ensino na modernidade do mundo virtual!
- Ah, é? (cara de desconfiado)
- Claro, pois os professores fingem que ensinam, os alunos fingem que aprendem e os pais fingem que acreditam!
- Ahah (sorriso amarelo e provável vontade de me dar um murro na cara)
 
Só sei que graças ao ensino oferecido nas duas escolas públicas meus filhos tiveram de “ralar o cu nas ostras” para passar no vestibular. Assim mesmo, só um conseguiu ser aprovado na UFMG (passou na quarta tentativa depois de estudar pra caralho!).
 
Por tudo isso que já foi dito, acho inconcebível a piora da qualidade do ensino público e a leniência com a indisciplina e violência que invadiram as escolas, mas acho também uma idiotice o endeusamento dos colégios militares. O que eles têm de bom? Um uniforme em que alunos e alunas usam um ridículo quepe de soldado raso? Disciplina, aulas de moral e cívica? Eu tive aulas de “Educação Moral e Cívica”, substituída depois por “Organização Social e Política Brasileira (OSPB)”. Sabe quando? Em plena ditadura militar e sempre achei uma bosta inútil.
 
Para mim, o ensino dispensa ideologia (ou deveria dispensar). O que se deveria buscar é qualidade. E, vamos falar sério, com ênfase em matérias que possam ajudar o país a deslanchar tecnologicamente. De que adianta estudar filosofia e importar traquitanas eletrônicas ou vacinas desenvolvidas em outros países?
 
Mas, como disse no início, sou apenas uma anta velha com (desin)formação na área de Exatas, sem condições nem autoridade para opinar nesses baratos de ensino. Mesmo assim, acho que a meta de qualquer ministro da Educação deveria ser conseguir equiparar o ensino praticado no Brasil ao que é oferecido nos melhores países dessa área – Cingapura, Noruega, Coreia do Sul, etc.
 
Claro que não seria uma tarefa de curto prazo. O ideal seria começar no ensino fundamental. Aí sim, disciplina e civilidade poderiam ser ensinadas, cobradas e estimuladas, pois como poderia dizer o Compadre Washington, “pau que cresce torto nunca se endireita”.
 
Para finalizar este comentário inútil, mais uma lembrança: logo depois de terminar o curso de Letras minha mulher começou a lecionar português (embora o sonho fosse Francês, retirado da grade curricular). Cu de ferro até mandar parar, foi escolhida paraninfa de duas turmas quando tinha apenas 25 anos.
 
Disse ela que no final do ano o “Conselho de classe” se reunia para examinar a situação de alunos mais problemáticos. Um dos professores, desprezando o resultado das provas, usava o seguinte bordão: “não passou com você, não passou comigo”. E quis que minha mulher reprovasse o mais “delinquente”. Ela recusou-se dizendo que o aluno tinha feito uma ótima prova de português e que jamais o reprovaria apenas por ser o escrotão da sala (ela não usou esta palavra).
 
Esse caso comprova alguma coisa, mas cansei de escrever abobrinhas. O que posso repetir é que o sonho de qualquer governante, de qualquer autoridade da área de Educação, de qualquer pai ou mãe deveria ser a busca e cobrança da máxima qualidade do ensino praticado no país, independente da escola ser pública ou particular. E que a busca dessa excelência começasse ainda no primeiro ano de ingresso à escola. Como? Sei lá, talvez com uma política de estímulo e cobrança tanto para alunos quanto para professores.

Resumindo: foda-se a ideologia, o que eu quero é a qualidade do ensino praticado em Cingapura. Ou no Colégio de Aplicação da UFMG!!!!

 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

CLICHÊ DAS SEITAS

 Encontrei no site Metrópoles um vídeo que mostra uma manada de idiotas na entrada da casa do ex-vice-presidente Mourão depois de seu último pronunciamento, onde critica o silêncio e a inação de “alguém” contra os acampamentos na porta dos quartéis. Fiquei tão impressionado com o que vi que mandei o link para minha mulher e meus quatro filhos, com apenas uma palavra: “Assustador”.
 
Meu filho mais velho foi preciso no comentário: “a dissonância cognitiva está espancando esse povo há algum tempo, mas é o clichê das seitas: os que não aceitam a realidade se radicalizam ainda mais”.
 
Aí pensei em compartilhar esse vídeo com quem acessa este blog, pois os malucos que aparecem vociferando as sandices mais delirantes são o tipo de gente que me fez votar com convicção no Lula e me alegrar ao vê-lo eleito. 

PSSC

 
Meu raivoso amigo virtual Marreta escreveu em seu blog "A Marreta do Azarão" um longo manifesto denunciando e condenando as práticas educacionais hoje em vigor. Falou com conhecimento de causa, pois é professor. Obviamente embrulhou tudo no papel ideológico de sua preferência. Sem problema! Por não ter formação nem informação sobre esse assunto, prefiro me abster de fazer comentários irrelevantes ou equivocados. Mas eu sou uma anta velha e sem rumo e resolvi contar sobre o ensino que se praticava quando eu era só uma anta jovem e sem rumo, ou melhor, um adolescente sem rumo.
 
Depois de me formar na quarta série do “grupo escolar”, fui matriculado em um colégio particular decadente (pois tinha saído do centro da cidade e mudado para o bairro de classe média baixa onde eu morava). Embora destinasse o turno da manhã apenas ao sexo masculino e o da tarde exclusivamente às meninas, era considerado um colégio "boate", pois o ensino era meia boca. A título de exemplo, nunca conseguimos chegar ao final do livro de português e nem nunca aprendemos como extrair uma raiz cúbica. Apesar disso, fomos (como todos os demais colégios) obrigados a desfilar na parada de sete de setembro de 1964 ou 1965. E nem preciso comentar o motivo.
 
Em 1965, ao me formar no curso “ginasial”, surgiu o dilema: onde fazer o curso colegial? Creio que nesse colégio o segundo grau só existia no turno da noite. O problema foi solucionado por uma providencial caxumba, que me deixou de molho na cama, sem poder fazer nada a não ser estudar. Com isso, consegui uma vaga no excelente “Colégio de Aplicação da Faculdade de Filosofia da UFMG”. Para os íntimos, apenas “Aplicação”.
 
A mudança foi brutal: se no glorioso Afonso Arinos eu estudava apenas na véspera das provas, foi necessário ralar muito para conseguir passar para o segundo ano colegial do Aplicação. Esse colégio era um balão de ensaio para teste das novidades pedagógicas e tecnológicas ensinadas na Faculdade de Filosofia (daí o nome “colégio de aplicação”).

Uma das novidades era o direcionamento dos alunos segundo seu interesse, já no início do segundo ano. Três eram as áreas oferecidas: CiEx (Ciências Exatas), CiBi (Ciências Biológicas) e CiSo (Ciências Sociais). Assim, esperava-se dos alunos um melhor aproveitamento do ensino. Havia também dois ou três laboratórios especializados. Lembro-me do cheiro absurdamente nauseabundo que um dia invadiu todo o colégio, proveniente de um caldo de baratas, que estavam sendo cozidas para estudo microscópico de parasitas ou coisa semelhante. 
 
Aliás, o laboratório de biologia era permanentemente fedorento, devido ao "combo" (xixi de rato, ração, serragem, etc.) relacionado aos camundongos brancos que seriam dissecados pelos alunos. A única vez em que tive o desprazer de participar de uma aula prática para ver o coração de um camundongo batendo não foi uma experiência muito "exitosa" (detesto esta palavra!), pois matamos o bichinho com uma overdose de éter ou coisa parecida. Assim, meu grupo ficou só pentelhando o que outros grupos menos rudes faziam.

Outra novidade foi a adoção de livros de física, biologia e química traduzidos do inglês. Eram livros impressos em papel couchê, cheios de imagens de ótima resolução e... quase nenhuma fórmula. O que se aprendia nesses livros eram conceitos teóricos sem a decoreba de fórmulas. Lembro-me um exercício sobre “ordem de grandeza”, onde se pedia a quantidade de bolinhas de ping-pong necessárias para encher o Maracanã.

Um dos professores de química era um entusiasta de experiências impactantes no laboratório. Seu guarda-pó mais que furado de ácido era prova disso e fazia pensar que os buracos estavam unidos por  frações de tecido. Um dia avisou que faria uma mistura que liberaria um gás letal, mas assim que o gás começou a surgir jogou tudo na pia, para alívio dos assustados alunos presentes.

Nas aulas teóricas ouvimos falar de moléculas de DNA, adenina, timina, RNA, de orbitais e da ordem de entrada dos eletrons nos subníveis s, p, d, f, palavras estranhas que estavam relacionadas a todo tipo de novidade que alunos de segundo grau poderiam assimilar. Outra curiosidade eram os títulos desses livros: PSSC para o livro de física, BSCS para o de biologia e CBA para o de química.

Procurei na internet o significado dessas siglas e encontrei o seguinte: PSSC: ''Physical Science Study Committee”; BSCS: “Biological Sciences Curriculum Study” e CBA: “Chemical Bond Approach”. Eram livros iguais aos utilizados pelos gringos, era o país curvando-se à excelência técnica buscada e praticada nos Estados Unidos! 

Segundo um texto que encontrei na internet (parcialmente transcrito a seguir),  
O PSSC é um projeto de ensino de física desenvolvido na década de 1950 pelo MIT e posteriormente trazido ao Brasil em 1962 por meio do IBCC-UNESCO com apoio do MEC.(...)
 
O projeto PSSC foi elaborado nos EUA, e teve abrangência Nacional, sendo que contou com colaboração de mais de 600 professores e pesquisadores de diversas instituições (PSSC - Apêndice 3),em torno de 20 por cento dos professores de ensino médio segundo a AAPT (American Association of Physics Teachers).(...)

O PSSC tem como proposta abordar os conteúdos físicos de uma maneira menos abstrata que os livros da época, tentando expor exemplos mais conceituais e menos matematizados, com isso buscando despertar o interesse dos jovens para a área da física. Além disso é um dos primeiros materiais pedagógicos que buscam dar o suporte total ao professor desde o conteúdo até a parte experimental.(...)
 
No Brasil o PSSC chega através do IBECC ( Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura) , que segundo Abrantes(2010), foi criado como Comissão Nacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de atuar em projetos naquelas áreas. Nesse contexto o PSSC foi importado e traduzido, bem como outros materiais já mencionados, produzidos nos EUA como produto dos mesmos investimentos.
 
E acho que por hoje chega, pois este post é um textão sobre assunto que talvez não interesse a ninguém. Por isso, continuarei no “próximo número”.

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4