Outrora
eu era daqui, e hoje regresso estrangeiro,
Forasteiro
do que vejo e ouço, velho de mim.
Já vi
tudo, ainda o que nunca vi, nem o que nunca verei.
Eu
reinei no que nunca fui. (Fernando Pessoa)
Aqueles que acessam o blog há muito tempo já
estão de saco cheio de me ver recontar a origem do Blogson Crusoe. Paciência.
Eu sou bastante repetitivo, mas talvez esta possa ser a última. O que (não)
importa saber é que este blog teve sua infância despreocupada (mesmo que
solitária), uma adolescência entusiasmada, uma fase adulta adulta e uma decadência galopante
(mas sem nenhuma elegância, pois não me chamo Lobão).
A bem da verdade, essas fases se alternaram e
se misturaram ao longo de toda a vida do blog, em total desacordo com a linha
da vida de uma pessoa do mundo real. Essa alternância desenfreada de fases
talvez seja a explicação para uma piada de quinta série ser antecedida por um
texto mais reflexivo e melanchólico e sucedida por uma poesia ou
um dezénho minimalista e de humor mínimo.
Nunca houve regras rígidas neste blog da
solidão (cada vez mais) ampliada, com apenas duas exceções. A primeira foi
minha permanente intenção e objetivo de sempre tentar divertir e/ou encantar os
leitores. A segunda foi o registro da verdade mais absoluta, “duela a
quien duela”, como diria o Collor.
Ultimamente, graças à decadência, à minha
erosão física e mental, há total falta de assuntos relevantes e a consequente
abundância de repetições, frescuras e lamúrias. Se houvesse pelo menos um
mínimo de humor de qualidade eu poderia repetir o Lobão dizendo que o blog
enfrenta uma décadence avec elegance,
mas não. O Blogson está derretendo mais que o permafrost, mais que as
geleiras do Polo Sul. E esse derretimento está pondo à mostra as canelas finas
que o sustentam. Por isso, mais uma vez (já deve ser a terceira ou quarta vez),
o velho Blogson está caminhando para fazer seu balanço final. Por mais que isso
me Doha, ou melhor, me doa.
Desde 2014 o Blogson foi minha diversão mais
constante, meu brinquedo diário, meu pau de arara mais torturante, o absorvente
de toda minha atenção. Por culpa dele parei de tocar violão e ouvir música,
diminuí a leitura, passei a dormir mal, a ter crises severas de depressão. Um
dos maiores motivos foi a crescente falta de inspiração.
Talvez a atmosfera tóxica que envenenou e
dividiu as pessoas deste país tenha contribuído com a maior parcela de culpa,
por me tornar uma pessoa preocupada, ansiosa, amarga e triste. O curioso é que
quem me conhece no mundo real nem se dá conta disso, pois tento me manter como
o gente boa, o simpaticão, o inofensivo criador de piadas idiotas e trocadilhos
infames.
Na prática, entretanto, e graças em grande
parte ao blog, a esse tamagotchi do bem e do mal, acabei me
transformando em um Dom Quijote moderno, um cavaleiro da triste
figura de quem foi retirado o cavalo, restando apenas a triste figura.
Não sei se já perceberam (os que ainda estão
acordados) que estou enrolando, enrolando, escrevendo abobrinhas sem nenhum
brilho ou graça. Mas o assunto é o fim do blog, ou melhor, a aposentadoria do
blogueiro. Afinal, o blog e ele parecem ter cumprido sua missão (que nunca
houve), pois os bezerros de ouro foram derretidos, fizeram churrasco com as
vacas sagradas, botaram as certezas absolutas para correr, tiraram da penumbra
a hipocrisia alheia (só a alheia!), denunciaram as meias verdades e as mentiras
inteiras, enfim: promoveram uma faxina de tirar bicho nas próprias convicções.
Nesse tempo as lembranças ficaram cada vez mais desbotadas e a inspiração
comprou passagem só de ida.
Por isso, acho que não há mais nada ou quase
nada a fazer ou dizer. Na verdade, tenho sentido uma inadequação e uma
insatisfação crescentes, é como se eu tentasse usar uma roupa que já não me
serve mais. O defeito nem está na roupa, está em mim. Não sei quando
acontecerá o desenlace, talvez demore um pouco, talvez aconteça progressivamente
ou com uma única "pancada", mas sinto que está chegando, como os
ventos que prenunciam uma tempestade (isto ficou muito ridículo!).
Por oscilação de humor, depressão ou o que
quer que seja, já tentei acabar com o blog mais de uma vez, mas acabei tendo
recaídas e voltei, um processo muito constrangedor para qualquer pessoa, ainda
mais se essa pessoa for um senhor idoso. Mas hoje encontrei a solução
definitiva, escondida em uma "cláusula pétrea" pessoal, a
expressão "nunca mais". Para mim, quando essa expressão é dita
ou utilizada significa que a decisão tomada é "para sempre", não dá
para voltar atrás.
Assim, quando eu escrever em algum post
que nunca mais haverá novas publicações no blog, podem acreditar e
ter certeza de que esse dia marcará o fim real do blog. Por enquanto, o blog
ainda segue respirando. Com auxílio de máscara de oxigênio, mas respira.
Eu matei o Blogson umas três vezes e o ressuscitei outro tanto, mas nunca pensei em apagá-lo da internet. Criei na mente a iamgem de um navio sem tripulação, abandonado no mar da internet (eu tenho mania de ser melodramático). Desta vez estou pensando em acabar com ele e deixá-lo à deriva como nas vezes anteriores, mas o uso da "cláusula pétrea" me impedirá de ressuscitá-lo. E o motivo é o fato de não ter mais inspiração nenhuma. Sinto vontade de postar alguma coisa, mas não sei o quê. E isso me irrita e angustia. Spoiler para você: talvez eu alimente um dos blogs desativados com postagens copiadas do Blogson que sejam atemporais ou minimamente interessantes, porque o Blogson está parecendo uma mamucha de laranja, não sai mais caldo nenhum. mas volto a lembrar: o "blog da solidão ampliada" continuará a existir na blogosfera, mas a solidão será agora total, pois o blog não sairá de mim, eu é que sairei do blog, entendeu? Mas vou pensar no que disse. Além disso, continuo pensando nos livros digitais, pois quero deixar minha "pegada na Terra". Abraços.
ResponderExcluirO blog não será apagado da blogosfera, só não será mais alimentado (pois o alimento acabou!). Talvez os melhores e mais atemporais posts publicados sejam republicados em outro blog. É basicamente o que acontecerá. Espero que a angústia da "folha em branco" acabe, pois não haverá mais folhas a preencher..
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