terça-feira, 3 de janeiro de 2023

BSCS

 
Terminei o post "PSSC" falando das novidades (para mim, pelo menos) nas áreas de física, biologia e química ensinadas no Colégio de Aplicação, mas havia a mesma “pegada” nas outras matérias. Em português tivemos aulas de interpretação de textos com a análise exaustiva de textos como o poema Ismália, de Alphonsus de Guimaraens (aqui sou obrigado a fazer um parêntese: esse negócio de análise literária desde sempre me lembrou a tentativa de tirar leite de pedra).
 
Em matemática encaramos as pedreiras de trigonometria, análise combinatória, limites e derivadas, e por aí afora. Detalhe: perguntei a meus filhos se chegaram a estudar esses assuntos e a resposta foi unânime: "Não".

E o “defeito” é que você poderia ser reprovado em uma ou mais matérias e obrigado a repetir o ano (que absurdo!). Mesmo que no “glorioso Afonso Arinos” a repetência também pudesse acontecer, chama atenção o fato de que uma escola pública tivesse esse nível de excelência curricular. Seria o Aplicação uma ilha de qualidade em um mar de escolas medíocres? Eu era pobre e tomava dois ônibus para chegar à escola, mas contaria o fato de ser ela uma escola pública em plena zona sul da cidade, com alunos majoritariamente oriundos de famílias mais abonadas? 
 
Só sei que o Colégio de Aplicação acabou e em algum momento a “magia” se desfez. Ou teria sido progressivamente?
 
Quando meus filhos estavam na idade escolar, em algum momento e por falta de grana (quem mandou ter quatro filhos?) tive de retirá-los da escola particular caríssima  em que estudavam, matricular os dois mais velhos em um colégio militar onde só estudavam filhos de policiais militares (ganharam bolsa arranjada por um conhecido influente) e os dois filhos mais novos em uma escola municipal próxima de nossa casa, pois naquela época as melhores escolas já eram particulares (e caras pra burro).
 
Engoli a flagrante perda de status e fui levando a vida, mas o que era ruim piorou ainda mais, com o advento da “escola plural”, que me fez ter um diálogo mais ou menos assim com o diretor da escola municipal:
 
- Estou impressionado com a escola plural, pois esse modelo inseriu definitivamente o ensino na modernidade do mundo virtual!
- Ah, é? (cara de desconfiado)
- Claro, pois os professores fingem que ensinam, os alunos fingem que aprendem e os pais fingem que acreditam!
- Ahah (sorriso amarelo e provável vontade de me dar um murro na cara)
 
Só sei que graças ao ensino oferecido nas duas escolas públicas meus filhos tiveram de “ralar o cu nas ostras” para passar no vestibular. Assim mesmo, só um conseguiu ser aprovado na UFMG (passou na quarta tentativa depois de estudar pra caralho!).
 
Por tudo isso que já foi dito, acho inconcebível a piora da qualidade do ensino público e a leniência com a indisciplina e violência que invadiram as escolas, mas acho também uma idiotice o endeusamento dos colégios militares. O que eles têm de bom? Um uniforme em que alunos e alunas usam um ridículo quepe de soldado raso? Disciplina, aulas de moral e cívica? Eu tive aulas de “Educação Moral e Cívica”, substituída depois por “Organização Social e Política Brasileira (OSPB)”. Sabe quando? Em plena ditadura militar e sempre achei uma bosta inútil.
 
Para mim, o ensino dispensa ideologia (ou deveria dispensar). O que se deveria buscar é qualidade. E, vamos falar sério, com ênfase em matérias que possam ajudar o país a deslanchar tecnologicamente. De que adianta estudar filosofia e importar traquitanas eletrônicas ou vacinas desenvolvidas em outros países?
 
Mas, como disse no início, sou apenas uma anta velha com (desin)formação na área de Exatas, sem condições nem autoridade para opinar nesses baratos de ensino. Mesmo assim, acho que a meta de qualquer ministro da Educação deveria ser conseguir equiparar o ensino praticado no Brasil ao que é oferecido nos melhores países dessa área – Cingapura, Noruega, Coreia do Sul, etc.
 
Claro que não seria uma tarefa de curto prazo. O ideal seria começar no ensino fundamental. Aí sim, disciplina e civilidade poderiam ser ensinadas, cobradas e estimuladas, pois como poderia dizer o Compadre Washington, “pau que cresce torto nunca se endireita”.
 
Para finalizar este comentário inútil, mais uma lembrança: logo depois de terminar o curso de Letras minha mulher começou a lecionar português (embora o sonho fosse Francês, retirado da grade curricular). Cu de ferro até mandar parar, foi escolhida paraninfa de duas turmas quando tinha apenas 25 anos.
 
Disse ela que no final do ano o “Conselho de classe” se reunia para examinar a situação de alunos mais problemáticos. Um dos professores, desprezando o resultado das provas, usava o seguinte bordão: “não passou com você, não passou comigo”. E quis que minha mulher reprovasse o mais “delinquente”. Ela recusou-se dizendo que o aluno tinha feito uma ótima prova de português e que jamais o reprovaria apenas por ser o escrotão da sala (ela não usou esta palavra).
 
Esse caso comprova alguma coisa, mas cansei de escrever abobrinhas. O que posso repetir é que o sonho de qualquer governante, de qualquer autoridade da área de Educação, de qualquer pai ou mãe deveria ser a busca e cobrança da máxima qualidade do ensino praticado no país, independente da escola ser pública ou particular. E que a busca dessa excelência começasse ainda no primeiro ano de ingresso à escola. Como? Sei lá, talvez com uma política de estímulo e cobrança tanto para alunos quanto para professores.

Resumindo: foda-se a ideologia, o que eu quero é a qualidade do ensino praticado em Cingapura. Ou no Colégio de Aplicação da UFMG!!!!

 

2 comentários:

  1. Eu penso que muitas pessoas acreditam ser o militarismo a panaceia para todos os males. Quando eu era adolescente havia disciplina até no "glorioso Afonso Arinos", não havia a selvageria que foi se instalando nos colégios (especialmente os públicos). Aluno fazia zona era suspenso e pronto. Não precisava de ser colégio militar para isso acontecer. Por isso eu acredito que essa super valorização dos colégios militares é uma coisa meio sem sentido

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  2. Fique tranquilo, eu li seu comentário. Antes, até tinha feito uma ironia, dizendo que concordávamos em discordar das convicções do outro. Eu sou da paz.

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