sábado, 8 de outubro de 2022

RUINS DA CABEÇA

 
Tenho a impressão de que quando devidamente adubada por um momento histórico incomum, a língua sempre sofre um acréscimo de novas palavras, neologismos, resignificação de palavras antigas. Por ser um apreciador do bom uso da língua, Jotabê resolveu pesquisar as novidades e velhidades da LPB – Língua Popular Brasileira. E o vocábulo que mais tem ganhado sinônimos é a palavra “comunista”.
 
Mas, porém, todavia, contudo, antes de entrar na seção “Enriqueça Seu Vocabulário”, resolvi enriquecer meus inexistentes conhecimentos políticos, pois sou uma cavalgadura nesse assunto. Por já saber o que é uma dita mole, a primeira pergunta que fiz ao Oráculo Google foi: “O que é uma ditadura?”, e o Oracle respondeu, inundando-me de informações:
 
"Ditadura é uma forma de governo em que uma pessoa ou um pequeno grupo possui poder absoluto sem limitações constitucionais efetivas. Basicamente, existem dois tipos de ditaduras comuns hoje: as militares e as socialistas.

As ditaduras militares ocorrem quando as forças militares tomam o poder, normalmente com o uso de seu próprio arsenal bélico. O motivo para haver tantas ditaduras militares na história é justamente a força que tal segmento do Estado possui. Isso aconteceu no Brasil. De 1964 até 1985, perdurou a conhecida ditadura militar brasileira. Esse período ficou caracterizado por ser um regime violento, controlador e antidemocrático (...) O segundo tipo de ditadura pode ser definido como as que se autodenominam socialistas. Essas ditaduras estão mais alinhadas com os discursos de esquerda, enquanto as ditas militares são mais caracterizadas com o pensamento de direita. Cabe ressaltar que a maioria dessas ditaduras socialistas foi controlada por pessoas associadas aos militares, como aconteceu com a União Soviética de Josef Stalin (1922 a 1953) e Cuba de Fidel Castro (1959 a 2011).
Assim como é comum em uma ditadura, esses regimes usaram de violência e controle estatal para se manter no poder (...) Algumas características gerais de ditaduras são:

- Violência e controle intenso do Estado para com os cidadãos;
- Censura e fim das liberdades civis;
- Supressão e controle dos outros poderes, legislativo e judiciário;
- Restrição na atuação da imprensa;
- Não permissão de eleições democráticas".
 
Nesse momento precisei tomar um leite com toddy para recuperar o fôlego, pois concluí que qualquer ditadura é e sempre será uma merda, mesmo aquelas que estão ainda no nascedouro, que estão só na semente. Aí voltei ao Oracle e perguntei: quantas ditaduras existem atualmente no mundo? E o Google respondeu:
 
Atualmente, segundo o relatório da Freedom House, o mundo conta com 49 ditaduras, sendo 18 na África Subsaariana, 12 no Oriente Médio e Norte da África, 8  na Ásia-Pacífico, 7 na Eurásia, 3 nas Américas, e apenas 1 na Europa. Para chegar nessa conclusão, a Freedom House utiliza uma combinação de dados fornecidas por governos, ONGs, pesquisas, contato com locais, etc., que ainda passam por uma análise feita por um conjunto de consultores e especialistas, com o intuito de ratificar os dados e, posteriormente, definir a situação do país analisado. Os principais tópicos observados são os referentes aos direitos políticos – como o processo eleitoral e o pluralismo político, por exemplo – e as liberdades civis – referentes a liberdades de expressão e crença, por exemplo (...) os países considerados como ditaduras, ou não livres, são aqueles que apresentam eleições em processos não democráticos, ou nem existem eleições, assim como países em que atuam no controle das liberdades civis de seus cidadãos. Atualmente, existem 3 ditaduras atuantes nas Américas, sendo elas: Venezuela, guiada por Nicolas Maduro, sucessor de Hugo Chávez; Cuba, liderada por Miguel Díaz-Canel, sucessor de Fidel Castro; Nicarágua com Daniel Ortega como comandante. Cabe ressaltar que esses países são aliados, pois todos compartilham dos mesmos ideais socialistas.
 
Nesse momento apresentei meu terceiro desejo (pensando bem, creio que três desejos é coisa inventada pelo gênio da lâmpada do Aladim): quantos países comunistas existem no mundo?
 
O Google, já de saco cheio das minhas perguntas pueris, lascou:
 
Existem 5 países comunistas no mundo atual. China, Vietnã, Laos, Coreia do Norte e Cuba”.
 
Ao receber essa informação, comecei a conversar com as paredes, com o liquidificador, com a sopeira de porcelana inglesa que a vovó ganhou da baronesa e todo tipo de objeto inanimado que encontrava pela frente (porque nenhuma viva alma me escuta mesmo – e não estou interessado em saber o que as mortas almas têm a me dizer!). E mesmo sem nenhum martelo e pregos na mão, comecei a pregar:
 
“Pera aí, (além de serem apresentadas sem aspas) essas informações estão equivocadas ou muito otimistas! A minha pesquisa da LPB – Língua Popular Brasileira indicou a existência dos mais diversos sinônimos para “comunista”, como pode ser visto na relação a seguir (há mais, muito mais!):
 
Rede Globo, Bill Gates, George Soros (o banqueiro bilionário), Papa Francisco, ministros do STF, Leonardo di Caprio, Anitta, The Economist, ecologistas, ambientalistas, petistas, qualquer pessoa que utilize a palavra “bioma”, qualquer pessoa que se preocupe com o desmatamento da floresta amazônica, (especialmente o ilegal), qualquer pessoa que se preocupe com o aquecimento global, qualquer pessoa que rejeite todo tipo de autoritarismo e fundamentalismo, eleitores do Lula, qualquer pessoa que rejeite, condene ou critique o Bolsonaro”.
 
Nesse ponto comecei a delirar (talvez por culpa do quarto copo seguido de leite com toddy que acabara de emborcar):
 
“Por isso, pode-se dizer que o comunismo ateu está solidamente instalado não só nos cinco países citados pelo Google, mas no Brasil também, pois 67% dos eleitores aptos recusaram-se a dar seu voto para o Cavalão. Bando de comunistas filhos da puta!
 
Com os olhos meio esgazeados e com a boca ainda espumando um pouco, o delírio foi passando, passando e eu percebi que os novos sinônimos estão sendo criados por gente ignorante ou maliciosa ou do mal mais cristalino e destilado. Lembrando um samba antigo, quem cria esse tipo de coisa “bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente na fé”.
 
Mas continuo cabreiro com quem tenta desqualificar o STF, faz frequentes ameaças veladas ou explícitas ao processo eleitoral de que participa e diz "jogar dentro das quatro linhas", mas está sempre sinalizando que tudo o que realmente quer é "chutar a bola pro mato". Aí fica difícil!

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