MARCO ZERO

 
Não sou analista político nem estatístico para fazer prognósticos a partir de pesquisas eleitorais. Também não tenho costume de dar spoilers, até por não saber de porra nenhuma. Mas hoje resolvi antecipar o resultado do segundo turno. O Bolsonaro será reeleito. Não estou brincando! E cheguei a essa conclusão depois de ouvir uma gravação inimaginável apenas seis meses atrás.
 
Nessa gravação uma mulher totalmente histérica dirige-se aos gritos para o padre que celebrava uma missa em uma igreja católica (que vergonha, meu Deus!), uivando estas palavras:
 
- O SENHOR NÃO VAI FALAR DE MARIELLE FRANCO DENTRO DESTA IGREJA! ELA ERA HOMOSSEXUAL! O SENHOR NÃO VAI FALAR DE MARIELLE FRANCO DENTRO DESTA IGREJA CATÓLICA! O SENHOR NÃO VAI FALAR DE MARIELLE FRANCO DENTRO DESTA IGREJA CATÓLICA! ELA ERA HOMOSSEXUAL E FILIADA AO PSOL! O SENHOR NÃO VAI FALAR DE MARIELLE FRANCO DENTRO DESTA IGREJA!
 
Do lado dela uma idiota, provavelmente puxa-saco da louca, pergunta em voz mais baixa para o padre:
 
- O senhor também é a favor do aborto? O senhor também é a favor do aborto? O senhor também é a favor do aborto?
 
Para mim, esse episódio é o marco zero da volta da barbárie, tão horrorizado, tão estarrecido, tão chocado fiquei ao ouvir essa gravação. Fiquei imaginando que os cidadãos romanos tiveram sentimentos semelhantes quando os bárbaros invadiram e saquearam Roma, provocando o fim do Império Romano do Ocidente.
 
Na verdade os bárbaros fizeram mais que isso, pois acabaram com um estilo de vida e uma cultura humanista que vinha lá dos gregos, mergulhando a Europa na Idade Média, no obscurantismo e toda sorte de horrores daquele período. Para suavizar oi comentário, diria que os bárbaros, além de saquear Roma devem também ter passado o saco nas romanas.
 
Voltando à seriedade, o Bolsonaro conseguiu libertar a barbárie que estava escondida nas “caixas de pandora” individuais de muita gente. Como imaginar que uma carola tivesse a coragem de dirigir-se assim a um padre?
 
Numa boa, se eu fosse ele, punha a mão na cabeça da doida e começava a fazer um ritual de exorcismo, bem ao estilo do que é feito em algumas igrejas pentecostais:
 
- Sai, Satanás, sai desse corpo que não te pertence! Eu te ordeno que saias! E ainda metia no meio umas frases em latim para dar mais credibilidade. E, se pudesse, levava a histérica até a porta da igreja e dava nela um pé na bunda.
 
Coisa de louco, meu! É por esse clima tão brilhantemente criado e incentivado pelo Bolsonaro e suas falanges que eu realmente acredito que ele será o próximo presidente eleito. E se não for, ainda assim ele será o vencedor (i)moral da disputa. E tem gente que o apoia e que votará nele!!!!!!!!!!!!
 
Por essas e outras, pela angústia, pelo aperto (real) que sinto no peito, resolvi dar um tempo no blog. Ainda serão publicados um cartoon que resolvi republicar e uma crônica depressiva do Rubem Braga. Depois disso, mais nada. Aproveitarei para ler um livro que ganhei de presente, um calhamaço de mais de quinhentas páginas. Nem comentários (raríssimos) responderei, pois espero ficar off line até o final de outubro. Ou até 02 de novembro, dia de Finados, dia ideal para sepultar minha esperança em um país melhor.

CONTRA!

Odiei cada dia dos onze anos trabalhados no meu último emprego, uma empresa pública. Provavelmente odiarei também cada dia dos próximos quatro anos, qualquer que seja o presidente eleito. Isso talvez acabe definitivamente com minha saúde física e mental. Fazer o que, não é mesmo?

Não faz muito tempo, uma pessoa que desconheço e por quem tenho zero simpatia me chamou de isentão, coisa que me deixou muito puto. Para os radicais, qualquer tentativa de moderação e comportamento minimamente civilizado é sinônimo de falta de caráter, de fraqueza ideológica e idiotices desse tipo. Pois bem, depois de ouvir a gravação da louca da igreja católica, resolvi tomar uma posição definitiva, resolvi votar contra.
 
Votarei contra o Flávio Bolsonaro, o Carlos Bolsonaro, o Eduardo Bolsonaro, o Simon Weintraub e o Ricardo Salles. Votarei também contra a Damares, contra o Véio da Havan, contra o Sérgio Reis, contra o Malafaia, contra a Regina Duarte, contra a Carla Zambelli, contra o Steve Bannon, contra o pastor Milton Ribeiro, contra o astronauta Marcos Pontes e contra todos os terraplanistas, negacionistas, anti-vacinas, fundamentalistas religiosos e contra a banalização da barbárie. Fui claro?