sexta-feira, 27 de agosto de 2021

REUNIÃO ANUAL DA TURMA DE 1975

Esta é a compilação das três partes de um "conto" publicado em 2019 sob o título "Era só uma reunião de ex-alunos". Mesmo que vire textão, a leitura fica mais consistente, sem descontinuidade. Lógico, para quem se interessar em (re)ler as quatro páginas da versão integral. E, naturalmente, mais uma picaretagem jotabélica para suprir a falta de novas postagens. Olhaí.
 
 
Eu nunca quis participar de reuniões anuais de ex-colegas. Logo depois de formado, fui convidado para umas duas ou três, mas depois de recusar todas, desistiram de me chamar. Para mim, tudo bem, pois sempre achei esses encontros um porre. Porque só vai quem está bem na fita, quem acabou de ganhar isso e aquilo. Ex-colega fodido não vai. Para quê? Para exibir suas dificuldades, seus fracassos, sua falta de grana ou desemprego? Não mesmo! Além do mais, nunca consegui criar vínculos sólidos de amizade com os colegas, pois, graças às muitas dependências que peguei, estava sempre em uma sala diferente, única forma de conciliar as matérias do semestre com as dependências que precisava concluir (acho que dá para imaginar o tipo de aluno que fui, concordam?).
 
Outro assunto que deve surgir nesses encontros são as lembranças de sacanagens com esse ou aquele professor (ou colega). Por mais paradoxal que seja - pois gosto de contar casos antigos - acho isso extremamente tedioso, coisa de gente saudosista. Afinal, uma coisa é registrar fatos e casos pitorescos do passado, outra é ficar salivando de saudade dos tempos idos. Por isso, o máximo que consigo é tentar imaginar os papos que rolam. Foi esse o motivo de tentar reproduzir o "lado negro" de uma dessas reuniões, quando alguém propõe que se contem casos de fracassos, medos, insucessos e fragilidades. Sinceramente, duvido que isso possa acontecer em um encontro de "doutores". Mesmo assim...
 
 
A reunião anual da turma de ex-colegas transcorria normalmente, com seu desfile previsível de egos anabolizados, relatos de viagens internacionais, carrões e sucesso profissional. Todos exibiam um pedantismo inexistente nos tempos de faculdade. Como tinham se formado há muito tempo, o numero de presentes diminuía a cada ano. Em certo momento, um deles fez uma proposta para tornar a reunião mais divertida.
 
- Que tal se cada um contasse uma história profissional que gostaria de ver reescrita, de nunca ter acontecido?
 
Olhar-se no espelho e admitir as próprias falhas e fracassos perante aquele grupo tão esnobe causou algum desconforto na maioria, com alguém logo reclamando:
 
- Eu não tenho nenhuma história desse tipo para contar. E se tivesse não contaria!
 
- Deixa de ser viado, conta logos os podres do passado!
 
- Já disse que não tenho! E já que esta reunião vai ficar esse "vale de lágrimas", vou aproveitar e me mandar mais cedo, pois tenho hoje um compromisso inadiável.
 
Abraços, cumprimentos e juras de "ano que vem estaremos aqui novamente" liberaram a saída do fujão, discretamente acompanhado por mais dois. E o silêncio instalou-se no meio do grupo.
 
- Quem começa?
 
- Já que a sugestão foi sua, pode começar.
 
- Conta aí, Fred!
- Bom, vocês sabem que eu fui o pior aluno da nossa turma, não é?
 
- O pior eu não sei, mas o mais escrotão, sim!
 
- Então... Eu tinha pouco tempo de formado quando me mandaram para uma obra no interior. A sorte é que por ser um contrato grande, havia mais engenheiros. Assim, se o bicho pegasse pro meu lado, eu tinha a quem recorrer. Um dia, um dos encarregados me procurou para saber o que fazer em determinado assunto da obra. Escutei o que ele me disse, não entendi merda nenhuma, mas dei nele o maior esporro: -"Se você, puta velha de construção que é, ainda não sabe como fazer, não sou eu que vou te ensinar"! Virei as costas e saí rapidamente dali. Me dei bem, não?
 
- O coitado do encarregado deve ter xingado umas dez gerações de sua família!
 
- Ah, ah, ah! Depois disso, ele passava longe de mim.
 
- Grande filho da puta, isso sim! Quem é o próximo agora?
 
 
- Bom, eu fui um aluno relapso e medíocre, graças à minha imaturidade, preguiça e falta de responsabilidade. Como vocês se lembram, na nossa época não havia estágio obrigatório. Por isso, quando consegui meu primeiro e único estágio eu já estava no quarto ano. Mas eu não sabia literalmente nada de nada! A empresa enviou-me para uma obra em cidade da região metropolitana. No primeiro dia, depois andar a pé feito um condenado para chegar ao canteiro de obra, apresentei-me ao engenheiro, um sujeito recém-formado e com cara de poucos amigos. Disse-me que estava de saída para resolver algum pepino e que eu poderia ficar por ali, olhar os projetos, andar pela obra, etc. E que os serviços eram interrompidos às 17h30. Mas já passava das 14h00 quando consegui chegar até aquele fim de mundo.
 
Sem saber o que fazer, petrificado pelo medo de alguém me pedir uma orientação para algum problema técnico, fiquei paralisado sem fazer nada dentro daquele barracãozinho feito de tábuas, até o horário de saída dos operários. Pedi ao motorista do ônibus que transportava a peãozada uma carona até a portaria da empresa. Esqueci-me de dizer que a obra resumia-se à construção de algumas casas dentro da área da empresa, em um local distante das instalações industriais. Depois de ser deixado na portaria, descobri que só conseguiria pegar um ônibus de volta para casa lá pelas 19h00. Fiquei ali, sozinho na beira da rodovia, vendo a noite chegar, puto da vida, desesperado para voltar à civilização.
 
- Só isso?
 
- Calma, pô, me deixe molhar a garganta, pois o pior vem agora. Esse estágio teve a duração de apenas um mês, pois talvez de saco cheio com minha total inutilidade, avisou-me que iria me colocar à disposição de seu gerente.
 
- Mas você não fazia nada mesmo?
 
- Nada! O ônibus que eu pegava só saía da rodoviária às 12h30, demorava uma hora para chegar ao ponto onde eu tinha de descer. Depois, andava uns três quilômetros a pé em terreno acidentado, tipo trilha. Chegava pouco antes das três e saía às cinco e meia. Além disso, ficava apavorado de exibir minha ignorância absoluta. Lembro-me de um dia ter ido (por sugestão do engenheiro!) olhar o revestimento de azulejo que estava sendo executado em uma das casas. Coloquei o capacete branco (que identificava a "alta hierarquia da obra") e saí. Entrei na tal casa  em silêncio e fiquei fingindo que "analisava" o prumo da parede, como se entendesse alguma merda. O pedreiro ficou me olhando meio ressabiado, talvez esperando alguma reclamação ou orientação. Hoje eu penso que deve ter-se assustado com meu olhar vidrado, pois eu estava quase catatônico. E sempre que me lembro disso, sinto a maior vergonha.
 
- Rapaz, nunca imaginei que você era tão boçal assim!
 
- Pra você ver! E já que malhou meu infinito cagaço, agora é sua vez.
 
 
- Eu sou uma fraude!
 
- Fraudador você sempre aparentou ser, mas, fraude, nunca imaginei. Você usa peruca?
 
- Porra, lógico que não!
 
- Já sei! Você usa prótese no pau!
 
- Caralho, também não, idiota! Querem ou não ouvir minha história?
 
- Vai, faz mais uma lavação de roupa velha...
 
- Bom, como todos os que já falaram até agora, eu também fui um aluno medíocre. Eu queria ser calculista, mas não consegui estágio nessa área.
 
- Graças a Deus! Já pensou construir um prédio calculado por você? Eu não passaria nem perto!
 
- Se ficar me gozando eu paro de contar essa merda! Continuando: também não arranjei estágio em obra grande. Assim, depois de formado, eu cagava de medo de me contratarem para tocar uma obra, qualquer obra. Porque uma coisa é ser estagiário burro, outra coisa é ser engenheiro toupeira. Por isso mesmo, eu xerocava tudo o que aparecia pela frente. Mas tudo mesmo, até catálogos de equipamentos estrangeiros. E foi assim que eu acabei por entrar na área comercial, pois ninguém nunca quis me contratar para tocar obra ou para ser calculista.
 
- Só um aparte... Pessoal, vocês estão ouvindo memórias de alguém que esteve na pré-história da Lavajato.
 
- Claro que não, pois só trabalhei em empresa de merda, só em gatinha. Bem que eu gostaria de ter trabalhado em uma daquelas grandonas! Mas, voltando ao assunto principal, eu tinha muita vergonha de demonstrar minha ignorância, principalmente por ela ser real. Então, eu tentava emular tudo o que os colegas falavam ou faziam, tentava aprender por osmose o que eu nunca consegui realmente saber. Tudo o que eu fazia era repetir uma “receita de bolo” criada por quem entendia do que estava falando. Lembrando o Djavan, o que eu fazia eram tentativas de “aprender japonês em Braille”. E o pior é que os diversos chefes aceitavam, talvez por sentirem pena de mim – ou até eu cometer algum erro grosseiro. Aí a regra do pé na bunda era aplicada. E foi assim até que eu conseguisse um empreguinho público, onde a mediocridade é aceita sem muito problema. Hoje, olhando para trás e vendo que eu poderia ter feito e não fiz, o que poderia ter sido e não fui, acabo entrando em depressão, acabo sentindo vergonha de mim. Essa deve ser a explicação de quase ter virado alcoólatra. Eu, infelizmente, sempre fui uma fraude.
 
 
- Pessoal, acho que deveríamos parar com esses depoimentos, pois está todo mundo agora com cara de luto. Essa não foi definitivamente uma boa ideia.
 
- Eu também gostaria de fazer meu depoimento, só para encerrar o assunto. Aliás, nem é depoimento, é um comentário sobre esta reunião.
 
- OK, manda lá.
 
 
- Vocês ainda não se deram conta de que estamos todos mortos? Vocês realmente acreditaram que um engenheiro padrão assumiria publicamente suas falhas e erros sem problemas? Nós estamos fisica e mentalmente mortos!
 
- Isso é besteira, você só bebeu mais que os outros!
 
- Engano seu! Você, Tonico, morreu de acidente um ano depois da formatura. Você, Wandick, morreu de infarto uns cinco anos depois.Você, Toninho, morreu de câncer há uns vinte anos. Já você, Luís - um aluno brilhante - suicidou-se. O Kênio tomou um tiro na cara. E você, Fred “Boca de Égua”, também morreu infartado. Vocês estão mortos! Só serviram para materializar meus pesadelos recorrentes, para eu expiar minha culpa.
 
Nesse momento, acordei assustado e sentei-me na cama, A boca estava seca, os lábios pareciam estar colados e a noite ainda demoraria muito a acabar. Mas sabia que não conseguiria dormir novamente.
 

terça-feira, 24 de agosto de 2021

DESANIVERSÁRIOS - A MARRETA DO AZARÃO

 
Como todos os leitores do Blogson já sabem, o titular absoluto do blog "A Marreta do Azarão" é meu amigo virtual há uma penca de anos. Ele é muito bom em ironia, sacanagens e putaria, destiladas com frequência nos textos que publica. Mas também é muito bom em poemas elegantes e bem transados, recheados de ideias, imagens e expressões que muitas vezes pegam o leitor de surpresa, tornando sua leitura extremamente prazerosa. Como é o caso do poema transcrito a seguir. Quem mais imaginaria a existência de um “cacau albino” ou de chá servido em cartola? Só mesmo o Marreta ou o Chapeleiro Louco da história de Alice. Mas esqueça tudo o que eu acabei de dizer e apenas aproveite a beleza do poema (seu título original é “Aceitas uma Cartola de Chá? De Camomila ou de Psilocybe? Ou, ainda, de Bebida Púrpura?”).
 
Lembro do seu aniversário,
Sei que você se lembra do meu.
 
Mas são os nossos desaniversários,
Festejados sem festa juntos,
As datas que mais comemoro.
 
São as fotografias não tiradas
Do não soprar de nossas velinhas
Que ocupam
E que se aninham
Nos porta-retratos que não tenho
Sobre a mesa de centro,
Sobre o criado-mudo,
Na estante, ao lado de um Bukowski.
Porém,
Inevitavelmente
Registradas internamente em minhas pálpebras,
Reveladas sempre que fecho os olhos para dormir,
Ou para sonhar
(E ai daquele que pensa que uma coisa é sinônimo da outra, ou mesmo, até, aparentadas e consanguíneas).
 
São os presentes nunca dados ou recebidos
Que guardo ocultos
Nos fundos falsos das minhas gavetas;
E que as perfumam de café e de cacau albino
E que espantam as traças e as baratas
E os meus remorsos por toda a beleza que deixei ser roubada de mim.

 

sábado, 21 de agosto de 2021

UNI DUNI TÊ

Eu já estava até pensando em requerer minha aposentadoria, em gozar minhas férias-prêmio, em aderir à demissão incentivada, a me afastar para tratamento de saúde, a apresentar atestado médico, a ficar de licença não remunerada, a vestir o pijama, mas tive de mudar os planos graças às peraltices e traquinagens recentes de três moleques, dois deles jovens guardas, ou melhor, oriundos da Jovem Guarda e o terceiro só brega mesmo. Pelo comportamento irresponsável penso que deveriam levar um pito, ser postos de castigo e tratados como crianças delinquentes. Como fiquei sem saber a quem malhar primeiro,  decidi escolher usando o método infantil uni duni tê salamê minguê. como os três são músicos, você pode escolher uma apresentação solo, em dupla ou até em trio. Foi assim que eu falei deles no Facebook. Não entendeu? Sigam-me os bons:

 
UNI - UM BERRANTE PARA CHAMAR O GADO


 
 
DUNI - UMA DUPLA DE BASBAQUES
 


 
TÊ - NÃO CONFUNDIR COM O TRIO PARADA DURA




sábado, 14 de agosto de 2021

HUMOR BRITÂNICO PARA INICIANTES

Mesmo que ultimamente eu não esteja encontrando muitos motivos para rir, sou e sempre fui um “devoto” do humor, talvez por entender que é um sinal de vida inteligente de quem o criou. E por conta dessa devoção sempre me sinto atraído por tudo relacionado ao assunto, até mesmo por textos que o expliquem.
 
Já faz algum tempo que descobrimos no canal Film&Arts o “Show de Graham Norton”, um talk show produzido na Inglaterra, com quatro ou cinco convidados em cada programa. O apresentador, uma espécie de Jô Soares magro, extrai com seu senso de humor afiado os casos mais bizarros ou hilários dos convidados. E esse é o segredo do programa, o humor inesperado e às vezes desconcertante dos comentários divertidos feitos pelo apresentador ou por seus convidados.
 
Justamente por essa pegada do programa, resolvi pesquisar na internet alguma coisa sobre o “humor inglês”. E descobri um texto curto que resolvi transcrever, só para provocar um de meus doze amigos virtuais. Mais de uma vez, depois de ler no Blogson algum texto autodepreciativo ou melancolicamente irônico, meu amigo virtual Scant reagiu como um zeloso e severo “coach de otimismo”. Já me recomendou yoga, vitaminas, leituras diversas, muitas trepadas e todo tipo de coisa que pudesse me levar a uma visão mais positiva da vida, da minha vida.
 
Pois bem, agora eu posso tentar me esquivar de suas orientações sempre bem intencionadas, dizendo que não sou tão depressivo assim, pois o que eu faço mesmo é humor inglês. Olhaí, meu caro Scant:
 
Um guia sobre humor britânico para iniciantes
A abordagem única do humor britânico pode parecer desconcertante a princípio. Pesando na autodepreciação, no sarcasmo quase indetectável e no humor seco, o humor da Grã-Bretanha pode parecer um idioma totalmente novo. Mas não tenha medo, reunimos um guia para iniciantes para que você possa entendê-lo (e usá-lo!).
 
Rir de si mesmo
A chave para entender o humor britânico é saber não se levar muito a sério. O humor padrão é destacar as próprias falhas. Desprezando as falhas a fim de parecer mais humilde, acessível e relacionável. Não há espaço para egos no humor britânico. Encontros constrangedores, falta de jeito e momentos embaraçosos são materiais de autodepreciação bem estabelecidos.
Exemplos: “Eu realmente não sou muito bom em comédia de auto-depreciação". “Parece que me vesti no escuro esta manhã!” “Sou péssimo em cozinhar, poderia queimar água”.
 
Espere, eles estavam brincando?
Combine a autodepreciação com uma dose de sarcasmo discreto e você terá os principais ingredientes do humor britânico. Sarcasmo e ironia fazem parte do DNA britânico. Eles são produzidos com um timing considerado perfeito e quase sempre com um humor seco que deixa o ouvinte questionando se era realmente uma piada (ou não?).
Pode ser difícil identificar o sarcasmo em um novo idioma e uma nova cultura, e na Grã-Bretanha as pistas habituais são a hipérbole (exagero) e a ênfase excessiva nos adjetivos que são enfatizados ainda menos, dificultando a compreensão. Felizmente, o sarcasmo é usado com tanta frequência no dia-a-dia que, em breve, você será profissional em detectá-lo. Certifique-se de usar o tom, o contexto e as pistas não verbais, como o sorriso orgulhoso que se espalha pelo rosto de quem fala (os britânicos lutam para esconder sua satisfação com um comentário sarcástico perfeitamente cronometrado) como um guia.
Exemplos: “Ah, então você sabe como atender o telefone?” “Adoro quando meu trem está atrasado.” “Gosto muito do quão alto você toca sua música.”
 
Não leve a sério o que dizemos
Os britânicos são famosos por serem muito, muito educados, mas um sinal infalível de que um britânico gosta de você é se ele o ofender com prazer com comentários ocasionais e espirituosos. Essas não são declarações mesquinhas, mas uma troca fantasiosa de brigas verbais com um rosto sorridente e sem desculpas. Pode ser usado para esclarecer as diferenças com novos amigos, na tentativa de estimular uma conversa.
Um aspecto vital para se dominar o humor britânico é julgar o que as pessoas com quem você está acham engraçado. Um comentário direto nem sempre é apropriado. É tudo uma questão de aprimorar seu humor para se adequar à ocasião e ao local.
Exemplos: “Como você nunca viu Frozen?! O que há de errado com você ?!” “Não posso ser amigo de alguém que não bebe chá!” “Não posso ser visto em público com um torcedor do Manchester United!”
 
Britânicos encontram humor em quase tudo
Os britânicos usam o humor para aliviar até os momentos mais infelizes. Existem poucos assuntos sobre os quais eles não brincam. Não é usado para chocar ou ofender, mas sim porque os britânicos usam a risada como uma forma de medicamento quando a vida os derruba. O infortúnio e o fracasso são comuns na comédia britânica – desde que as piadas sejam de bom gosto. Na maioria das culturas, há tempo e lugar para o humor. Na Grã-Bretanha, este não é o caso.
Exemplo: “Eu tropecei e caí na frente de todos, mas pelo menos não me envergonhei!”
 
Apesar da reputação da Grã-Bretanha como um lugar bastante sério, o humor é realmente o cenário padrão do país – estamos sempre procurando melhorar nosso dia com uma pitada de risada.
 
Pois é. Depois de ler esse texto senti-me muito aliviado, pois descobri que além da minha seriedade e finesse também exibo regularmente meu humor à moda inglesa, fruto talvez da minha educação britânica, como já disse algum dia. Porque, apesar do meu jeito meio rude, minha educação é tão britânica quanto a do príncipe Charles. Na verdade, estudamos em colégios "tipo" gêmeos, só que ele na Inglaterra e eu, no velho e bom Colégio Afonso Arinos.

  

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Ô GENTE!

Não é raro surgir uma "chamada" na televisão de canais abertos, uma interrupção da programação normal para divulgação de uma notícia extraordinária,  dizendo "Congresso Urgente!" ou "Brasília Urgente!" O dia de hoje merece mais uma “chamada" assim: “Brasília? Ô gente!” Tá bom, o trocadilho é muito ridículo, mas não mais que os acontecimentos da terra plana (planalto, entendeu?). Só para registro, além de um depoimento cheio de silêncios e mentiras de um coronel na CPI da Covid, uma "tanqueata" no dia da votação da PEC do voto impresso. Meu fígado não aguenta tudo isso!



domingo, 8 de agosto de 2021

DIA DOS FILHOS

 
Meus filhos têm um nível de inteligência que eu admiro muito. Isso poderia ser conversa de pai indulgente, coruja, mas têm mesmo. Essa inteligência se manifesta de formas diferentes em cada um deles. A criatividade e um senso de humor super apurado e até desconcertante são dois dos pontos em comum. Em um deles a inteligência emocional extravaza, outro tem um QI perto da genialidade e por aí vai.
 
Um deles, talvez por não ter filhos resolveu gastar um pouco de suas horas de lazer fazendo um desenho por dia. Há mais de seis meses que está nessa batida. Assim, ele que já desenhava bem para caramba, está com a mão calibradíssima. Por isso enviou-me uma mensagem contendo duas imagens,um retrato de alguma atriz ou celebridade antiga e o desenho em que tentou reproduzir a foto. O resultado ficou tão fabuloso que me estimulou a tentar fazer alguma coisa semelhante. Escolhi a foto de uma escultura incrível que alguém me enviou e tentei reproduzi-la. Nem preciso dizer que meu desenho ficou a anos-luz da qualidade obtida por meu filho.
 
E por que estou dizendo estas abobrinhas? Porque hoje é Dia dos Pais. Embora eu siga o exemplo de nosso presidente e cague para as convenções sociais, o fato é que meus filhos sempre me fizeram entender o sentido real de Felicidade, uma felicidade que eu nunca fiz por merecer, até por ser um anti-pai, um exemplo a nunca ser seguido.  E este é o motivo deste post, sintetizado no desenho mal acabado que consegui fazer: ainda que nunca tenha sido um exemplo de pai para meus filhos, eles sempre me motivaram e inspiraram a tentar ser uma pessoa um pouco melhor, mesmo ficando a quilômetros de distância de onde sempre estiveram. Por isso, no dia dos pais, só posso desejar a todo mundo que ainda lê esta bagaça um feliz dia para os filhos.



DIA DO FÃ

 
Já publiquei est texto antes, mas sinto que preciso republicá-lo (antes tarde que nunca, já dizia o Barrichello).
 
Sempre que o Dia dos Pais vai se aproximando eu me sinto um pouco constrangido, pois, embora hoje eu tenha quatro netinhas, não tenho filhos no sentido corriqueiro do termo. O que eu sou mesmo é fã, pois nunca fui um bom pai nem exemplo de nada (mau exemplo, talvez). Em compensação, são eles que me servem de exemplo com sua bondade, integridade, retidão de caráter e generosidade. Claro está ter sido minha mulher a responsável amorosa e dedicada (põe amorosa e dedicada nisso!) por eles serem hoje as pessoas incríveis que são.
 
Por isso, lamento que já exista um "Dia do Fã", comemorado no dia 19 de março. Pra mim, não tem nada a ver! No duro, no duro, o Dia do Fã eu comemoro mesmo é no Dia dos Pais. Porque, se como pai eu nunca fui grandes coisas, como admirador de meus filhos eu sou presidente do fã-clube.
 

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

MAIS OLIMPIADAS

A cada quatro anos, mesmo não tendo perfil de atleta como nosso presidente (morro de inveja!), fico tomado de grande emoção com o início de mais uma versão dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Aliás, o máximo que consigo ter é pé de atleta, uma infecção fúngica na pele dos pés causada por um dermatófito, como qualquer consulta ao Google pode informar.
 
Como disse, é fato notório que nosso presidente tem perfil de atleta. Por isso, imagino que fique babando a cada vitória, a cada medalha conquistada por brasileiros nas Olimpíadas de Tóquio. Há tantos esportes, tantas provas, tantas modalidades que a bem da verdade a maioria das pessoas desconhece  e nem se interessa em conhecer (badminton, por exemplo: existiria uma versão goodminton?).

Talvez por isso, talvez estimulado pela imensa variedade de esportes em disputa, nosso presidente está ameaçando (“ameaçando” é apenas figura de linguagem, entendeu?) disputar uma modalidade radical de esporte que parece atraí-lo muito, um tipo de disputa fora das quatro linhas.
 
Pelo que entendi, esse esporte seria uma espécie de sumô invertido (invertido mas hetero), uma exibição de força bruta. Também é bom que se diga que se não foi inventado pelo presidente, alguns praticantes dessa modalidade que mais se destacaram no passado parecem ser seus ídolos. Mas é um esporte muito violento, cheio de caneladas, dedo no olho, chute na bunda, etc. Talvez por sua característica de briga de rua, de turma, de gangue, por desconsiderar regras, normas e regulamentos não foi nem será adotado em nenhuma olimpíada.
 
Se eu fosse o presidente nem pensaria em praticar esse esporte, pois a reputação daqueles que o praticam fica para sempre manchada. Mas acho que ele merece uma medalha olímpica pelo "conjunto da obra", mais condizente com sua idade, uma medalha que honre seu perfil de atleta, uma medalha de atletismo, na modalidade Revezamento. Revezamento de ministros, claro.


Por sua obsessão permanente pela adoção do voto impresso, pelo uso do mimeógrafo a álcool e pela volta do Orkut (ele adora uma rede social), o Bolsonaro bem que merecia  ser condecorado com uma medalha olímpica na modalidade “Luta contra as urnas eletrônicas”(afinal, estamos em plena época dos Jogos Olímpicos de Tóquio e precisamos aproveitar sua visibilidade na mídia). Pensando bem, acho até que merecia patrocinar a criação de novas disputas, uma espécie de Jogos Olímpicos de TOC. As primeiras que me ocorreram foram “Tiro no próprio pé” e “Esgrima com ministros do TSE”. Alguém aí sugere mais alguma?





terça-feira, 3 de agosto de 2021

AS OLIMPIADAS DE J.B.

 
Estamos em pleno período das Olimpíadas de Tóquio, evento que provoca as maiores demonstrações prévias de ufanismo por parte do enólogo Galvão Bueno, que previu (ou preferiu acreditar) que o Brasil ganhará 26 medalhas. Tanto otimismo assim só se compara às avaliações iniciais sobre a gravidade da pandemia feitas pelo J.B. ou pelo Osmar (en)Terra (“É só uma gripezinha” ou “A Gripe suína, H1N1, matou 2 pessoas a cada dia no Brasil em 2019. Este número, deve ser maior que as mortes que acontecerão pelo coronavírus aqui.”).
 
Como ensinou Cartola, a dura realidade acaba por “reduzir as ilusões a pó”, tanto em relação ao quadro de medalhas olímpicas quanto em relação à Covid. Mas não para todo mundo. Talvez por ignorância, burrice, má fé ou incapacidade de mudar de opinião, de reavaliar crenças e preconceitos, alguns continuam a agir como donos exclusivos da verdade, da sua verdade. Demostram seu desprezo olímpico pelas mais elementares normas de saúde pública preconizadas para esta época de pandemia, teimando em se exibir como verdadeiros atletas do negacionismo.
 
Um desses parece ser nosso incomível presidente. Mas uma coisa precisa ser dita: é comovente ver seu esforço para estimular as pessoas a praticar atividades físicas. Como quando, por exemplo, mesmo de terno, resolve fazer flexões de braço com um dos joelhos apoiado no chão (providencialmente oculto pelo paletó aberto). Nesses momentos, pouco se importando de pagar mico e de ser ridicularizado às escondidas até por seus puxa-sacos exibe a “pescoçada”, uma nova forma de praticar o exercício observada até pelo filho 01: “Pagando 10 flexões e o Jair Messias Bolsonaro pescoçando! rs #oquevaleéaintenção #10peloBrasil”.

Por isso, por seu imbroxável e imorrível perfil de atleta, acho estranho e até injusto que nunca tenha participado de nenhuma olimpíada. E como estamos torcendo para que nossos atletas conquistem alguma medalha, qualquer medalha, creio que este seria o momento de nosso presidente ganhar algumas nos esportes em que mais se tem destacado. A seguir, algumas sugestões de premiação ao nosso atleta-mor (porque ele merece!) que apresentei ao COF - Comitê Olímpico do Facebook:



domingo, 1 de agosto de 2021

CUECA

Às vezes eu vejo publicações tão engraçadas nas redes sociais que sempre achei uma pena deixar que se perdessem na internet sem compartilhá-las com os amigos do Blogson. Aí resolvi mudar. Esta é a primeira, pois foi muito além do que eu jamais conseguiria imaginar (morri de inveja, pois a realidade ganhou de sete a um da imaginação). 



 

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4