Como todos os leitores do Blogson já sabem, o titular absoluto do blog "A Marreta do Azarão" é meu amigo virtual há uma penca de anos. Ele é muito bom em ironia, sacanagens e putaria, destiladas com frequência nos textos que publica. Mas também é muito bom em poemas elegantes e bem transados, recheados de ideias, imagens e expressões que muitas vezes pegam o leitor de surpresa, tornando sua leitura extremamente prazerosa. Como é o caso do poema transcrito a seguir. Quem mais imaginaria a existência de um “cacau albino” ou de chá servido em cartola? Só mesmo o Marreta ou o Chapeleiro Louco da história de Alice. Mas esqueça tudo o que eu acabei de dizer e apenas aproveite a beleza do poema (seu título original é “Aceitas uma Cartola de Chá? De Camomila ou de Psilocybe? Ou, ainda, de Bebida Púrpura?”).
Sei que você se lembra do meu.
Mas são os nossos desaniversários,
Festejados sem festa juntos,
As datas que mais comemoro.
São as fotografias não tiradas
Do não soprar de nossas velinhas
Que ocupam
E que se aninham
Nos porta-retratos que não tenho
Sobre a mesa de centro,
Sobre o criado-mudo,
Na estante, ao lado de um Bukowski.
Porém,
Inevitavelmente
Registradas internamente em minhas pálpebras,
Reveladas sempre que fecho os olhos para dormir,
Ou para sonhar
(E ai daquele que pensa que uma coisa é sinônimo da outra, ou mesmo, até, aparentadas e consanguíneas).
São os presentes nunca dados ou recebidos
Que guardo ocultos
Nos fundos falsos das minhas gavetas;
E que as perfumam de café e de cacau albino
E que espantam as traças e as baratas
E os meus remorsos por toda a beleza que deixei ser roubada de mim.
Rapaz, valeu pela laudatória introdução (no bom sentido, claro, sem viadagem).
ResponderExcluirVocê merece introduções até maiores que essa!
ExcluirHá! Há! Há!
ExcluirXeque-mate, meu velho!!!!