terça-feira, 25 de setembro de 2018

PERDI A VONTADE DE COMER DOCES...


Perdi a vontade de comer doces...


Os doces fálicos são presença habitual das Romarias de Amarante e estão ligados ao culto a S.Gonçalo, o santo padroeiro do concelho. Há vários nomes para este doce amarantino. Doces fálicos é o que melhor o designa com palavras meigas. Mas há mais, e menos óbvios. No final, o vocábulo que o popularizou foi mesmo este que destacamos – Colhões de São Gonçalo, ou, em alternativa, Caralhinhos.

Engane-se quem vê a origem destes doces no passado recente da região, como uma brincadeirinha de mau gosto das pastelarias da cidade. Engane-se também quem procura a origem no culto a São Gonçalo, que aqui passou grande parte da sua vida, porque, ainda que antigo, não vai suficientemente longe na explicação.

Para chegarmos à verdadeira justificação, é preciso ir a um tempo mais brumoso, pré-Cristão, e influenciador do que depois se viria a tornar na devoção amarantina ao seu padroeiro.

A verdade é que Gonçalo (que é beato, a atribuição de santo veio do povo e não da igreja) foi conhecido pelos casamentos que ajudou a realizar. E essa história foi fundamental para que se passasse a ter a imagem do santo como substituta de antigos ritos ligados à fecundidade.

A sua fama de casamenteiro – como aconteceu com Santo António – veio mesmo a calhar, numa de fundir o pagão com o cristianismo entretanto institucionalizado.

Ficou assim ligado a prestações religiosas antigas, de culto à fecundidade da terra. Salva velhinhas da viuvez, ajudando-as a casar novamente. Ajuda a impotência dos homens, que lhe rezavam a pedir solução. As solteiras roçam os seus corpos no túmulo do santo numa de se tornarem férteis ou arranjarem marido.

E começaram a honrá-lo com um símbolo tão antigo quanto a existência humana, o falo, que aqui é feito com a originalidade da doçaria tradicional, e ao qual passámos a apelidar, muito graficamente, de caralhinhos ou colhões ou ainda quilhõezinhos de São Gonçalo.

E rezam as velhas a São Gonçalo:

“São Gonçalo de Amarante
Casamenteiro das velhas
Porque não casais as novas
Que mal vos fizeram elas?

São Gonçalo de Amarante
Casai-me que bem podeis
Já tenho teias de aranha
Naquilo que vós sabeis“

2 comentários:

  1. Há! Há! Há!
    Muito boa, essa reza das velhas, "já tenho teias de aranha naquilo que bem sabeis". Parece coisa do Bocage, ou do Gregório de Matos, o famoso Boca do Inferno.
    Mas só cá entre nós, JB : vai dizer que nunca deu uma provadinha no doce do São Gonçalo?
    E se essa sua postagem se espalha pela comunidade LGBTXWYZ, São Sebastião, que detém o atual posto de padroeiro da viadada, perde o título.

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    Respostas
    1. Rapaz, de um doce assim "dou às de Vila Diogo"! O mais engraçado nesta história é que foi minha mulher que recebeu a receita ("Receitas de Portugal") através do Facebook. Não tive dúvida, compartilhei e copiei para o blog. No Facebook houve um "silêncio" quase absoluto. Apesar de alguns "amigos" gays, ninguém se animou a dizer que cairia de boca. Acho meus "amigos" um pouco "pundonorosos" demais.

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