Perdi
a vontade de comer doces...
Os doces fálicos são presença
habitual das Romarias de Amarante e estão ligados ao culto a S.Gonçalo, o santo
padroeiro do concelho. Há vários nomes para este doce amarantino. Doces fálicos
é o que melhor o designa com palavras meigas. Mas há mais, e menos óbvios. No
final, o vocábulo que o popularizou foi mesmo este que destacamos – Colhões de
São Gonçalo, ou, em alternativa, Caralhinhos.
Engane-se quem vê a origem destes
doces no passado recente da região, como uma brincadeirinha de mau gosto das
pastelarias da cidade. Engane-se também quem procura a origem no culto a São
Gonçalo, que aqui passou grande parte da sua vida, porque, ainda que antigo,
não vai suficientemente longe na explicação.
Para chegarmos à verdadeira
justificação, é preciso ir a um tempo mais brumoso, pré-Cristão, e
influenciador do que depois se viria a tornar na devoção amarantina ao seu
padroeiro.
A verdade é que Gonçalo (que é
beato, a atribuição de santo veio do povo e não da igreja) foi conhecido pelos
casamentos que ajudou a realizar. E essa história foi fundamental para que se
passasse a ter a imagem do santo como substituta de antigos ritos ligados à
fecundidade.
A sua fama de casamenteiro – como
aconteceu com Santo António – veio mesmo a calhar, numa de fundir o pagão com o
cristianismo entretanto institucionalizado.
Ficou assim ligado a prestações
religiosas antigas, de culto à fecundidade da terra. Salva velhinhas da viuvez,
ajudando-as a casar novamente. Ajuda a impotência dos homens, que lhe rezavam a
pedir solução. As solteiras roçam os seus corpos no túmulo do santo numa de se
tornarem férteis ou arranjarem marido.
E começaram a honrá-lo com um
símbolo tão antigo quanto a existência humana, o falo, que aqui é feito com a
originalidade da doçaria tradicional, e ao qual passámos a apelidar, muito
graficamente, de caralhinhos ou colhões ou ainda quilhõezinhos de São Gonçalo.
E rezam as velhas a São Gonçalo:
“São Gonçalo de Amarante
Casamenteiro das velhas
Porque não casais as novas
Que mal vos fizeram elas?
São Gonçalo de Amarante
Casai-me que bem podeis
Já tenho teias de aranha
Naquilo que vós sabeis“
Há! Há! Há!
ResponderExcluirMuito boa, essa reza das velhas, "já tenho teias de aranha naquilo que bem sabeis". Parece coisa do Bocage, ou do Gregório de Matos, o famoso Boca do Inferno.
Mas só cá entre nós, JB : vai dizer que nunca deu uma provadinha no doce do São Gonçalo?
E se essa sua postagem se espalha pela comunidade LGBTXWYZ, São Sebastião, que detém o atual posto de padroeiro da viadada, perde o título.
Rapaz, de um doce assim "dou às de Vila Diogo"! O mais engraçado nesta história é que foi minha mulher que recebeu a receita ("Receitas de Portugal") através do Facebook. Não tive dúvida, compartilhei e copiei para o blog. No Facebook houve um "silêncio" quase absoluto. Apesar de alguns "amigos" gays, ninguém se animou a dizer que cairia de boca. Acho meus "amigos" um pouco "pundonorosos" demais.
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