segunda-feira, 9 de abril de 2018

UM AUTISTA NO FACEBOOK


IMPORTANTE:
Este post foi originalmente publicado no dia 02 de abril. Por uma infeliz coincidência, fazia referência a um comportamento meio autista que acredito ter, em plena Semana de Conscientização do Autismo(!) - fato que ignorava. Fiquei super constrangido com a coincidência, pois poderia dar a impressão de querer me aproveitar desse evento. Por isso, removi o post, que volta hoje ligeiramente repaginado.

Já disse umas mil vezes que o Blogson funciona ou funcionou como uma terapia onde fui me descobrindo ou talvez criando uma realidade alternativa que imagino ter existido para mim. Em outras palavras, posso ter descrito uma falsa realidade. Descobri também que tenho sérios atritos com a língua portuguesa (pelo menos em sua versão mais culta), tenho vícios de linguagem, de estilo e uso obsessivo e desnecessário de palavras e expressões que fariam o Graciliano Ramos (um amante da concisão) espumar de ódio, tais como "assim", "então", "muito bem" e todo tipo de recurso cuja função é apenas disfarçar a pouca habilidade com as palavras.

Antes de continuar,  preciso deixar claro que tenho o máximo respeito pelas pessoas que sofrem de algum distúrbio mental, justamente por acreditar ser uma dessas. Porque a parte paradoxalmente mais divertida para mim foi descobrir que eu era (sou) um pouco mais que apenas neurótico. A mais nova cisma foi a de que talvez eu seja um pouco autista. Mas a explicação ficará para o final.

Pedindo desculpas pela auto-citação, tracei este perfil para mim em um post de 2014: "Embora não seja profissional da área, já identifiquei neurose não curada (não tinha mais grana para pagar o psicanalista), transtorno obsessivo compulsivo leve, depressão moderada, antipatia pelo PT (opa, isso não é distúrbio mental, é só bom senso!), um pouco de transtorno bipolar (o antigo maníaco-depressivo), uma pitada de síndrome do pânico (acho que não tenho mais), algumas fobias, medo generalizado e 100 kg de ansiedade. 
Embora na época tenha discordado, um colega me disse uma vez que eu era sociopata. Só não briguei com ele porque uma das minhas duas personalidades não quis. Mas, se vacilar, até espinhela caída eu devo ter".

Recentemente, graças ao assassinato da vereadora carioca, a internet pegou fogo. O que eu li de besteiras contra e a favor da coitada, não está no gibi (eu gosto desta expressão). E o fogo não se apagava, pois sempre voltavam os mesmos posts, compartilhados por pessoas distintas. Comecei a ficar de saco cheio dessa paranoia e publiquei esta frase (hoje estou na base da auto-citação): Se quiser saber mais da maldade humana, crie um perfil em alguma rede social (e adicione muitos "amigos").

Mas como o Facebook lembra uma avalanche ou rio caudaloso e cheio de corredeiras, aonde os posts dos "amigos" vão sendo "empurrados" pelos mais recentes, numa roda viva desgraçada, quase ninguém leu. E se leu, fingiu-se de morto. E a intolerância e rancor continuaram comendo soltos. Aí, meu fígado deu aquela azedada e eu publiquei esta "catilinária":

Vocês que curtem e compartilham posts desse tipo precisam parar de fazer disputa de assassinados! Não há essa de "o meu é melhor que o seu"! Aliás, é de uma caretice e uma crueldade sem tamanho ficar comparando cor de pele, preferência sexual, etc. de pessoas que foram ASSASSINADAS! Que tal crescer um pouco? Orações, rezas e passes nunca curarão intolerância e - por que não dizer? - ignorância.

Uma das pessoas reagiu asperamente (mesmo que com alguma elegância). Fiquei matutando sobre minha explosão, tão agressiva quanto a resposta e resolvi dar um tempo nessa rede. Poderia simplesmente ter-me calado, desconectado, qualquer coisa. Mas, como sou um sujeito que explica tudo, resolvi dar mais um puxão coletivo de orelhas e escrevi este texto:

Tenho 129 “amigos de Facebook”, o que para mim é muita coisa. Como sou aposentado e neurótico assumido, acesso o Face várias (eu disse VÁRIAS) vezes por dia. Talvez por isso venho formando um perfil psicológico desse pessoal, a partir do que curtem ou compartilham (não, não precisam pensar que eu sou um algoritmo humano que sai tabulando tudo o que vê). E o que tenho observado é reconfortante em alguns casos e surpreendente (para pior ou para melhor) nos demais.
O perfil reconfortante pertence às pessoas que conheço pessoalmente, trago carinhosamente no coração e são exatamente como sempre imaginei que fossem: minha mulher e filhos, além dos amigos e amigas queridas, como a Andreia e a Ludmila, por exemplo.
O perfil surpreendente é formado pelos amigos com quem tenho pouco ou nenhum contato e que modificaram o status (ou estatura) ou avaliação que fazia deles. Alguns se revelaram infinitamente melhores do que eu já os considerava (caso do Ivan, por exemplo). Ou ilustríssimos desconhecidos como os músicos Marcelo e Ausier, que sempre demonstram ponderação, bom humor e moderação nos comentários que fazem.
Mas há um reduzido grupo que se apequenou no meu conceito (mesmo que eu continue gostando deles!), graças a um comportamento de barragem que se rompe, tsunami ou terremoto, pois postam, compartilham ou comentam coisas, fake news e textos rancorosos e cheios de ódio que me fazem ficar arrepiado de decepção ou pena. E fico me perguntando (sem saber a resposta) como pode alguém ter tanta intolerância e preconceito no coração. Por estar ultimamente me comportando da mesma forma que condeno e deploro, resolvi ficar em “silêncio obsequioso” por algum tempo (para criar fôlego e não ficar pior).

E agora a explicação: pelas neuroses, frustrações, medos, fobias, complexo de inferioridade ou até mesmo "espinhela caída", sempre tive problemas de relacionamento com o "mundo exterior". Para superar isso, criei um personagem que sempre fez o maior sucesso: gente fina, simpaticão, alegre e ridículo, mas mais falso que nota de três reais.

Refletindo sobre isso, acredito sinceramente que essa dificuldade de interação real com as pessoas seja um comportamento meio autista. Por isso, atualmente, já que estou em "silêncio obsequioso", vejo tudo o que os "amigos de facebook” postam, mas não respondo nada nem faço mais nenhum comentário. Curiosamente isso tem sido bom para mim e me deixado mais calmo, menos estressado. Eu, um autista no Facebook.

ATUALIZAÇÃO:
Depois de ver na televisão o final da missa celebrada para Dona Marisa (a menos lembrada em todo o espetáculo circense que foi apresentado), não resisti e publiquei no Facebook:

Acabou o silêncio obsequioso! Afinal, não sou bispo emérito, menos ainda de Blumenau. Mas não farei comentários nem ficarei debatendo com meus amigos. Meu negócio agora é me divertir. E “curtir”. “Deixa a vida me levar”...

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