quarta-feira, 11 de abril de 2018

A VIOLEIRA - TOM JOBIM / CHICO BUARQUE


Em BH existe uma rádio FM que só toca música brasileira. Chama-se “Rádio Inconfidência” ou “Brasileiríssima”. Como gosto muito de música estrangeira, fico alternando as estações enquanto dirijo. Outro dia ouvi na “Brasileiríssima” uma música com letra divertidíssima, cantada por uma voz feminina que não consegui identificar. Tentei memorizar algum trecho para procurar depois no Google. Tomei o maior susto ao descobrir que era uma composição da dupla Tom Jobim & Chico Buarque.

A música não tem nada de especial, mas a letra... Preciso nunca esquecer que o Chico é foda! Posso detestar, contestar, rejeitar ou desprezar suas convicções políticas, mas como letrista ele é imbatível. E resolvi partilhar com os escassos visitantes do Blogson o prazer de ler essa letra e ouvir a música.

Descobri no Youtube várias interpretações, mas queria uma sonoridade nordestina, uma coisa meio forró. Nessa linha, a melhor interpretação é da Elba Ramalho. Mas não é ao vivo. Por isso, escolhi mais um vídeo de uma cantora desconhecida (para mim), que é legal, apesar da roupa horrenda. Lê aí.

Desde menina
Caprichosa e nordestina
Que eu sabia, a minha sina
Era no Rio vir morar
Em Araripe
Topei com o chofer dum jipe
Que descia pra Sergipe
Pro Serviço Militar

Esse maluco
Me largou em Pernambuco
Quando um cara de trabuco
Me pediu pra namorar
Mais adiante
Num estado interessante
Um caixeiro viajante
Me levou pra Macapá

Uma cigana revelou que a minha sorte
Era ficar naquele Norte
E eu não queria acreditar
Juntei os trapos com um velho marinheiro
Viajei no seu cargueiro
Que encalhou no Ceará

Voltei pro Crato
E fui fazer artesanato
De barro bom e barato
Pra mode economizar
Eu era um broto
E também fiz muito garoto
Um mais bem feito que o outro
Eles só faltam falar

Juntei a prole e me atirei no São Francisco
Enfrentei raio, corisco
Correnteza e coisa-má
Inda arrumei com um artista em Pirapora
Mais um filho e vim-me embora
Cá no Rio vim parar

Ver Ipanema
Foi que nem beber jurema
Que cenário de cinema
Que poema à beira-mar
E não tem tira
Nem doutor, nem ziguizira
Quero ver quem é que tira
Nós aqui desse lugar

Será verdade
Que eu cheguei nessa cidade
Pra primeira autoridade
Resolver me escorraçar?
Com a tralha inteira
Remontar a Mantiqueira
Até chegar na corredeira
O São Francisco me levar

Me distrair
Nos braços de um barqueiro sonso
Despencar na Paulo Afonso
No oceano me afogar
Perder os filhos
Em Fernando de Noronha
E voltar morta de vergonha
Pro sertão de Quixadá

Tem cabimento
Depois de tanto tormento
Me casar com algum sargento
E todo sonho desmanchar?
Não tem carranca
Nem trator, nem alavanca
Quero ver quem é que arranca
Nós aqui desse lugar



Um comentário:

  1. Essa eu conhecia, mas não me lembrava. E concordo com você, o "homem" Chico é desprezível; o letrista, imbatível!

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