Em BH existe uma
rádio FM que só toca música brasileira. Chama-se “Rádio Inconfidência” ou “Brasileiríssima”.
Como gosto muito de música estrangeira, fico alternando as estações enquanto
dirijo. Outro dia ouvi na “Brasileiríssima”
uma música com letra divertidíssima, cantada por uma voz feminina que não
consegui identificar. Tentei memorizar algum trecho para procurar depois no
Google. Tomei o maior susto ao descobrir que era uma composição da dupla Tom
Jobim & Chico Buarque.
A música não tem nada de especial, mas a letra...
Preciso nunca esquecer que o Chico é foda! Posso detestar, contestar, rejeitar
ou desprezar suas convicções políticas, mas como letrista ele é imbatível. E
resolvi partilhar com os escassos visitantes do Blogson o prazer de ler essa
letra e ouvir a música.
Descobri no Youtube várias interpretações, mas queria uma sonoridade nordestina, uma coisa meio forró. Nessa linha, a melhor interpretação é da Elba Ramalho. Mas não é ao vivo. Por isso, escolhi mais um vídeo de uma cantora desconhecida (para mim), que é legal, apesar da roupa horrenda. Lê aí.
Desde menina
Caprichosa e
nordestina
Que eu sabia, a
minha sina
Era no Rio vir
morar
Em Araripe
Topei com o chofer
dum jipe
Que descia pra
Sergipe
Pro Serviço
Militar
Esse maluco
Me largou em
Pernambuco
Quando um cara de
trabuco
Me pediu pra
namorar
Mais adiante
Num estado
interessante
Um caixeiro
viajante
Me levou pra
Macapá
Uma cigana revelou
que a minha sorte
Era ficar naquele
Norte
E eu não queria
acreditar
Juntei os trapos
com um velho marinheiro
Viajei no seu
cargueiro
Que encalhou no
Ceará
Voltei pro Crato
E fui fazer
artesanato
De barro bom e
barato
Pra mode
economizar
Eu era um broto
E também fiz muito
garoto
Um mais bem feito
que o outro
Eles só faltam
falar
Juntei a prole e
me atirei no São Francisco
Enfrentei raio,
corisco
Correnteza e
coisa-má
Inda arrumei com
um artista em Pirapora
Mais um filho e
vim-me embora
Cá no Rio vim
parar
Ver Ipanema
Foi que nem beber
jurema
Que cenário de
cinema
Que poema à
beira-mar
E não tem tira
Nem doutor, nem
ziguizira
Quero ver quem é
que tira
Nós aqui desse
lugar
Será verdade
Que eu cheguei
nessa cidade
Pra primeira
autoridade
Resolver me
escorraçar?
Com a tralha
inteira
Remontar a
Mantiqueira
Até chegar na
corredeira
O São Francisco me
levar
Me distrair
Nos braços de um
barqueiro sonso
Despencar na Paulo
Afonso
No oceano me
afogar
Perder os filhos
Em Fernando de
Noronha
E voltar morta de
vergonha
Pro sertão de
Quixadá
Tem cabimento
Depois de tanto
tormento
Me casar com algum
sargento
E todo sonho
desmanchar?
Não tem carranca
Nem trator, nem
alavanca
Quero ver quem é
que arranca
Nós aqui desse
lugar
Essa eu conhecia, mas não me lembrava. E concordo com você, o "homem" Chico é desprezível; o letrista, imbatível!
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