Às vezes eu penso que o Facebook é uma arena,
um octógono de MMA, onde se encontram os piores sentimentos, a agressividade
mais descontrolada, intolerância e preconceito em estado puro, sem diluição,
tantas as barbaridades e comentários que pessoas aparentemente
"normais" são capazes de fazer. Isso, claro, sem contar as constantes
agressões à língua portuguesa.
Tudo isso, dependendo do assunto ou
destempero dos comentários que leio me assusta, amedronta ou enfurece. Fico me
perguntando por que continuo a manter meu perfil nessa rede infestada de
trogloditas radicais, mas ainda não descobri a resposta. Talvez, no fundo, eu
seja igual a eles, aos "amigos de facebook" que azedam meu fígado.
Talvez seja isso. E aí me lembro da história do Oscar Wilde, tão adequada a
releituras e adaptações aos dias atuais.
Os 2,3 leitores desta bagaça estão carecas de
saber (espero que só no sentido figurado) que “O Retrato de Dorian Gray” é a história de um jovem e seu retrato
“mágico”. Ultra sinteticamente falando, quanto mais devassidão, perversão e
crimes o jovem cometia, mais seu retrato pintado ia refletindo isso, ficando
cada vez mais grotesca a imagem, embora ele continuasse com seu rosto
angelical. Essa história tem-me feito pensar em uma analogia ou semelhança com
a internet e, mais particularmente, com o Facebook.
Pensem bem: na vida real, nossos amigos,
conhecidos e parentes são geralmente amistosos, contidos, educados (nem todos,
nem todos!). Entretanto, basta criar e acessar seu perfil no Facebook ou outra
mídia, para a coisa mudar. Alguns se revelam extremamente passionais e
radicais, outros demonstram ser egocêntricos e fúteis e há até aqueles que
exibem uma estupidez ou ingenuidade excessiva, surpreendente, visceral.
Ou seja, no dia-a-dia, no mundo real, todo
mundo comporta-se de forma mais ou menos civilizada, amistosa, com um mínimo de
elegância e autocontrole. Enquanto isso, seus comentários e posts
compartilhados no Facebook e outras redes parecem revelar sua verdadeira face,
"retratos" que assustam e desapontam quem os vê.
De tudo isso fica uma constatação: se quiser
saber mais da maldade humana, crie um perfil em alguma rede social (e
adicione muitos "amigos").
Eu escrevi este texto para postar no
Facebook, mesmo que tudo isso já tenha sido dito antes na mídia, com muito mais
profundidade e elegância. E eu me pergunto: não estarei sendo apenas e
gratuitamente agressivo como as pessoas que critico? E mais: alguém está
interessado nisso?
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