domingo, 14 de novembro de 2021

OBRIGADO, ZULU

 


Podem me chamar de imbecil, idiota, ridículo, calhorda, canalha, sem caráter, imaturo, infantilizado, senil, bunda mole, débil mental ou o que quiserem. Humildemente concordarei com todos, darei minha cara a tapa, minha mão à palmatória, pois reconheço a falta de vergonha na cara, pois estou mais uma vez provando o remédio amargo do arrependimento. Tenho uma cunhada que vivia dizendo a expressão maldita “nunca mais”“Nunca mais eu faço isso”, “nunca mais eu falo com ela”, etc. Eu tentava corrigi-la perguntando se esse “nunca mais” era para valer e ela me dizia que era só um desabafo. Como um guru, um conselheiro espiritual, um xamã eu lhe dizia para nunca dizer “nunca” e completava: “Cumpra o que prometeu ou não diga ‘nunca’”. Um sábio! Mas pimenta só é refresco no cu dos outros, concordam? Pois é...
 
Se você, caro leitor, está lendo esta goma é óbvio que sabe que o Blogson ressuscitou (pela terceira ou quarta vez!). Mas carece perguntar: POR QUÊ? Bom, talvez seja uma reação em cadeia que fugiu ao controle do cientista que a provocou. Depois que a ansiedade provocada pela necessidade neurótica de publicar qualquer coisa no velho Blogson passou, depois que o sono ficou melhor, comecei a sentir os sintomas que sentia ao final de um período de férias prolongado: um tédio desgraçado, uma vontade de voltar a trabalhar. A mesma coisa estava acontecendo nos últimos dias, pois descobri que a monotonia pode ser tão estressante quanto a adrenalina despejada no organismo pela necessidade de postar alguma coisa, qualquer coisa.
 
Tentei mudar o foco ao planejar a criação de blogs especializados, setoriais, a ser alimentados com o material extraído do Blogson. Um já nasceu, totalmente dedicado aos magníficos versos que publiquei no blog. O nome desse primogênito é “Os Versos que Eu Fiz”. O próximo, ainda em gestação é “Eu Não Sei DeZénhar” (original, não?).
 
Mas, voltando ao velho Blogson cuja morte matada fiz tanta questão de apregoar, a coisa complicou. E o estopim, acreditem se quiser, foi a morte por eutanásia do Zulu, um cachorro sem noção que estava morando aqui em casa há oito ou nove anos, desde quando seu dono e meu filho perguntou se podia deixá-lo “por uns tempos”, pois estavam de mudança para outra cidade e para um apartamento. Compraram o Zulu quase recém-nascido uns quatro anos antes, tinham por ele um carinho enorme, mas levá-lo era impossível. E assim ele foi incorporado à rotina da casa – comeu a sandália do pintor, destruiu uns dois espanadores, estraçalhou roupas, etc. Mas envelheceu, provavelmente sofreu um AVC, começou a dar sinais de desorientação, aparentemente perdeu o olfato e parte da visão, tudo isso em não mais que uma semana. Foi internado em uma clínica com a pressão a 20, com fortes dores abdominais, sem força para erguer-se sobre as patas e sem conseguir evacuar. O quadro se agravou ainda mais e a solução foi sacrificá-lo, depois de quatro dias internado.
 
Mesmo que eu não brincasse com ele, às vezes fazia um cafuné em suas orelhas depois de alimentá-lo. Por isso, quando foi decidido que precisava ser sacrificado para acabar com seu sofrimento incurável, resolvi me despedir dele. Fui até a clínica e o encontrei prostrado sobre uma manta no chão do consultório. Perguntei à veterinária quando ocorreria sua eutanásia e ela me disse: “Agora”. Abaixei-me perto dele, passei a mão em suas costas, fiz carinho em suas orelhas e encostei minha mão em seu focinho para que ele me reconhecesse, mas não esboçou a menor reação. Dei um tapinha em suas costas e saí
 
Desde esse dia sempre penso nele, em suas correrias desabaladas no quintal, no seu jeito bizarro de se esfregar no corredor da casa enquanto andava, no seu pavor de foguetes, na sua carência afetiva. E esse episódio, essas lembranças foram o gatilho, o botão do detonador que explodiu minhas certezas eternas, minha visão limitada e egocêntrica, pois descobri que gostava dele, de seus ruídos enquanto dormia ou, quando acordado, emitia sons que lembravam um gato desafinado. E fiquei pensando no blog.
 
Qual a necessidade de fazer a eutanásia do Blogson se a “doença” quem tinha era eu? Por que não deixá-lo formalmente vivo em vez de declarar sua morte artificial (pela terceira ou quarta vez)? Por que não buscar a serenidade de apenas publicar alguma coisa quando tivesse vontade ou assunto? O Blogson Crusoe sempre foi mais ou menos como o Zulu – fiquei incomodado muitas vezes, preocupado outro tanto, puto da vida uma centena de vezes mas sempre me diverti com sua interação, com a interação dos eventuais leitores que se animaram a comentar alguma coisa.
 
Por isso, a partir de agora, o Blogson ressuscitou. Podem malhar à vontade, podem rir de mim, podem dizer o que quiserem. Entretanto, para não passar muita vergonha, os dois últimos posts publicados serão removidos, pois não tem sentido falar em “fim”, “nunca mais” e fazer exatamente o contrário. Mas não serão apagados, serão apenas reprogramados para 2030 (sei lá, pode ser que eu precise deles de novo, de forma definitivamente definitiva, não é mesmo?). E continuarei com o “projeto” “Os filhos do Blogson”. Então é isso. Obrigado, Zulu, sentirei sua falta. Deixa a vida me levar...

4 comentários:

  1. Eu venho as vezes até aqui saindo do blog do Marreta. Gosto bastante das postagens.
    Eu, também, fazia igual sua cunhada. Algumas promessas cumpri, outras o "nunca mais" durou pouco tempo.
    Interessante a história do seu cachorro. Ele chegou e, sem que percebessem, ocupou um espaço. Meus pêsames pela perda, se é que essas palavras se aplicam a um cão.

    Abraços.

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    1. Obrigado pelo comentário, Matheus. Eu não tive chance de ter um cachorro na infância, talvez por isso meu conato como Zulu fosse ,ais "protocolar", mas foi ele que me ensinou que cachorro sonha e... peida. Coisa de louco!

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  2. Lamento pelo Zulu. Tenho duas gatas que já são umas senhorinhas, fizeram 14 anos esse mês; são mais velhas que meu filho; sei que temos pouco tempo com elas; elas não sabem; sorte delas.
    Quanto à "volta" do Blogson,sua relação com o blog é a mesma que a minha com a cerveja : aguento, no máximo, um mês longe.
    Quanto à volta do Blogson, sim, rirei, estou rindo agora.
    E direi : eu te disse, eu te disse.
    Bem-vindo de volta, meu velho.
    Espero que tenha aproveitado bem o seu mês sabático. Mas eu sei que não. Foi angustiante, fala a verdade.

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    1. O Zulu viveu doze ou treze anos, talvez vivesse um pouco mais, mas já era um velhinho, pois a idade humana equivalente seria oitenta anos. Quanto ao blog sabia que riria. O mês sabático foi bom no início e um porre no final. A vantagem é que eu resolvi criar "blogs degustação". Quer piadinha? Vai ter um blog dedicado só a isso. Quer contos e crônicas? Idem. Será uma viagem turística pelo blog sem precisar molhar os pés.

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