quarta-feira, 26 de junho de 2019

ESSA DROGA É UMA PIADA, ESTA PIADA É UMA DROGA!


Ao saber que um sargento da Aeronáutica foi preso na Espanha, acusado de transportar 39 kg de cocaína em um avião da FAB, fiquei pensando onde a droga teria sido encontrada. Está claro que só pode ter sido no nariz do avião!

Depois, comentando essa notícia com um amigo, ele disse estranhar o peso da droga encontrada. Por que 39, por que não 40 kg? Onde estaria esse quilo faltante? Para mim, não falta nada. O que pode ter acontecido é que devido à pressa, o pó deve ter sido embarcado às carreiras.


E para finalizar, um daqueles “diálogos de spamtar”:

- Descobriram drogas sendo transportadas no avião da FAB. 39 kg de cocaína e 80 kg de sargento.
- Não entendi o "sargento".É droga nova?
- Não. A droga principal é ver um militar da Aeronáutica traficando.
-Ah, bom!


Resumindo o sentimento real que uma notícia desse tipo provoca, só mesmo usando uma frase do Ziraldo: “Só dói quando eu rio”.


domingo, 16 de junho de 2019

NÃO TREMA NA LINGUIÇA


Depois de lamentar a eutanásia do Blogson Crusoe, meu amigo virtual Marreta do Azarão encantou-se tanto com o Lingüiça de Jotabê ("o", artigo definido masculino singular) que cometeu em seu blog um simpaticíssimo post com o título "New Kid on the Blog", em que celebra a penetração (ou entrada) do Lingüiça no universo virtual. O problema é que louvou o fato de o blog exibir um trema em seu nome.

Por isso, preciso fazer uma correção tardia (como normalmente acontece com as correções). Eu sempre escrevo os posts em Word, formato, passo corretor e transponho para o blog. O problema desta vez é que fui atropelado pelo filho da puta desse editor de textos, que, aproveitando-se de minha ingenuidade e ignorância abissal, lascou um trema na palavra linguiça. Com a maior boa fé aceitei esse atestado de analfabetismo disfuncional e inaugurei o "new blog".

O Marreta, severo guardião que é do português castiço, da moral e dos bons costumes, divertiu-se com minha linguiça tremada (é bom deixar claro que a diversão ficou no plano puramente intelectual) e alertou para a extinção dos dois pontos deitados. Não tinha como não corrigir, obviamente (o texto, pelo menos).

Mas o Marreta precipitou-se em seus louvores, pois ele não sabe o que o espera no Lingüiça (sinceramente, essa conversa está meio estranha). Como não terá textos e desenhos de outros autores que o enriqueçam, o Lingüiça só poderá exibir seu estilo bagaceira, demonstrando que mesmo que seja carne da mesma carne, nunca deixará de ser o parente pobre do rico Blogson Crusoe.

E um esclarecimento final: mesmo adorando o jogo de palavras contido no título do post do Marreta ("New Kid on the Blog", para quem lê e não entende bem as palavras), preciso dizer que Jotabê não é "new" e foge a léguas de qualquer tipo de "kid" que não sejam suas netas, pois pedofilia é crime.

Jotabê é velho pra caralho, pois já fez 69 (e, por favor, que ninguém pergunte se ainda faz) e acha que pedofilia deveria ser punida com castração. Por isso, deixo claro que uma boa definição para o Lingüiça é: "No kids, old blog".



Em tempo: antes que me acusem de plágio, preciso registrar que em BH existe (ou existia) um bloco de carnaval de rua cujo nome é (ou era) "Trema na Linguiça". Fui.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

DECLARAÇÃO DE FINS


Este é o primeiro post do Linguiça no Fumeiro, publicado sete dias após a segunda morte do Blogson Crusoe. Como se vê, a síndrome de abstinência estava pegando.


Depois da morte do velho Blogson, fiquei desacorçoado (boa palavra essa!), inquieto, sem saber o que fazer. Talvez pela força do hábito, às vezes tinha vontade de escrever alguma coisa, mas não tinha lugar. Tentei investir no Facebook, mas a cada frase ou imagem provocativa que postava, em vez de só reações de riso, recebia comentários seríssimos, contestando ou aprovando o que eu havia dito só por diversão.

Talvez isso só aconteça comigo, pois a maioria dos meus 145 “amigos de facebook”  é formada de gente mais velha (jovem gosta é de Instagram), chegando a lembrar uma igreja evangélica: só gente carola, careta e fundamentalista. O problema é que eu gosto de gente doida, descompensada, criativa, divertida.

Por isso, depois da missa de sétimo dia do Blogson, resolvi criar um novo blog (mentira, já pensava nisso há muito tempo), pois ressuscitar o blog pela segunda vez demonstraria uma imensa falta de caráter (que, aliás, não tenho mesmo) e serviria de motivo para piadas. Pensei em um blog gourmet, com o melhor do velho blog da solidão ampliada, mas isso me engessaria e impediria que eu postasse coisas novas (sou muito formalista!).

Resolvi então criar um blog ao estilo do Blogson, mas sem a preocupação das postagens frequentes e sem o “auxílio luxuoso” de outros autores. Em outras palavras, o Linguiça será um blog cem por cento autoral, mesmo que essa porcentagem não se reflita na qualidade dos posts. Significa apenas que os textos, desenhos e melodias de outros autores que enriqueciam o Blogson não serão encontrados aqui. Ou seja, o novo blog será uma espécie de primo ou irmão mais pobre do falecido.

O próximo passo foi imaginar um título bem idiota. E surgiram “Secos e Noiados”, “Assados e Pedidos”, “Presunto Karma” e “Linguiça no Fumeiro” (devia estar com fome). Acabei escolhendo “Linguiça no Fumeiro”, lembrança de um caso contado por meu pai e que eu nunca mais consegui lembrar na íntegra. Assim, o velho Blogson e o novo blog serão como aquelas salsichas ou linguiças emendadas: a carne é a mesma, a fabricação é a mesma, a merda é a mesma. O que muda é o fato de serem independentes uma da outra.

Obviamente, todo blog que se preza precisa ter uma Declaração de Princípios, especialmente em seu princípio. Entretanto, como estou muito velho, achei melhor fazer uma Declaração de Fins. Ei-lalá.

“No princípio era o Verbo...”

Não faço distinção entre Esquerda ou Direita nem tenho saco para comportamento politicamente correto. Meu negócio é tentar divertir (ou irritar) os milhões de leitores que acessarão este blog diariamente - e a mim mesmo (ou melhor, a nós mesmos, pois, como sou geminiano, tenho dupla personalidade).

Tenho uma predileção especial pela ironia, pelo deboche e pelo humor. Para mim, antídotos para a falta de sentido da Vida. Por isso, tudo o que vier à minha mente e for registrado em algum post deste blog terá essa marca. Sempre darei preferência a posts irônicos, debochados e "bem" humorados. Podem ser de crítica aos costumes, aos políticos ou aos fundamentalistas religiosos. E serão sempre autorais. E se der vontade ou muita ansiedade, copiarei algum post do velho Blogson (graças à minha ansiedade congênita, desconfio que haverá plágio quase todo dia).

sexta-feira, 7 de junho de 2019

UM CONSELHO DE BUKOWSKI

Este é um post tão especial que imaginei mais de um título para ele (e, até mesmo, não colocar nenhum): "Agora, chega!", "A ficha caiu", "Cansei", "De saco cheio", "Rua sem saída", "Fim da linha", "Carta de despedida" (acabei de dar um spoiler) e, finalmente, "Um conselho de Bukowski".

Ora - direis - por que "um conselho de Bukowski”? Certo perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto, que é um dos melhores conselhos que se poderia dar a alguém. Mesmo não apreciando seus poemas pelo excesso de obscenidade e vulgaridade neles contidos (sou caretão, entende?), não há como não seguir essas suas palavras:

“Não sejas como muitos escritores, não sejas como milhares de pessoas que se consideram escritores, não sejas chato nem aborrecido e pedante, não te consumas com auto-devoção. As bibliotecas de todo o mundo têm bocejado até adormecer com os da tua espécie. Não sejas mais um. Não o faças”.

Além dos títulos, fiz também várias tentativas (algumas, bastante patéticas e ridículas) para escrevê-lo, cada uma com estados de espírito e intenções diferentes (até mesmo antagônicas). Por isso, resolvi juntar todos os rascunhos, esboços e anotações iniciais que fiz, para concluir este post (alguns estão restritos a uma única linha apenas). Bora lá:

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Que eu posso dizer sem ficar muito piegas? Tenho 68 anos, sou um homem idoso que finge ou brinca de ter mente jovem, de ser espirituoso, antenado, culto e original. Talvez por isso, consegui empanturrar o blog com mais de 1500 posts, verdadeiros monumentos da presunção e mediocridade. Se, dentre esse universo eu conseguir tirar cinco ou quatro, talvez três ou dois ou até mesmo apenas um que realmente tenha algum valor, terá valido a pena manter o blog “positivo e operante” até hoje. Segundo o Drummond, “As obras-primas devem ter sido geradas por acaso; a produção voluntária não vai além da mediocridade”.

Mas não é isso que realmente importa. O que faz a diferença é que não tenho mais nada para dizer de minimamente interessante, divertido, criativo ou comovente. Nem paciência para ficar tentando! A sensação presente é a de ser um burocrata que - mesmo esquecido em um canto da sala que fica depois do arquivo morto - se arrasta ao fim do dia para marcar seu cartão de ponto. E, convenhamos, é bizarro um cara de 68 anos manter um blog só para fazer gracinhas para um público inexistente. Mas deixo claro que fico feliz e surpreso com a quantidade de visualizações alcançadas até hoje, ainda que anabolizada pelos acessos (e excessos) esporádicos dos robôs do Google.

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Acho que vou deixar este post sem título nenhum.

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Não sei como escrever uma carta de despedida. Se eu morrer até os setenta anos, será um alívio, pois não quero que meus filhos e netas sintam vergonha de mim, da minha infantilidade, da minha inadequação emocional.

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Quando tinha apenas vinte anos, o Vinicius de Moraes escreveu o belíssimo poema "Velhice", onde faz uma projeção do que poderia vir a ser. A seguir, um extrato do original.

Virá o dia em que eu hei de ser um velho experiente
Olhando as coisas através de uma filosofia sensata
E lendo os clássicos com a afeição que a minha mocidade não permite.
Nesse dia Deus talvez tenha entrado definitivamente em meu espírito
Ou talvez tenha saído definitivamente dele.
(...)Serei um velho, não terei mocidade, nem sexo, nem vida
Só terei uma experiência extraordinária.
Fecharei minha alma a todos e a tudo
Passará por mim muito longe o ruído da vida e do mundo
Só o ruído do coração doente me avisará de uns restos de vida em mim.
(...) Serei um corpo sem mocidade, inútil, vazio
Cheio de irritação para com a vida
Cheio de irritação para comigo mesmo.
O eterno velho que nada é, nada vale, nada teve
O velho cujo único valor é ser o cadáver de uma mocidade criadora.

Lindo, não? Até onde imagino, ele ficou bem distante dessa "receita". Para mim, entretanto, ela é perfeita. Em outras palavras, "esse cara sou eu". E isso tem-me incomodado. Hoje, assumida a velhice de forma definitiva, vejo uma grande inadequação no fato de um idoso de 68 anos ter um blog onde age e escreve como se fosse adolescente.

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O que acaba primeiro - os sonhos, um blog ou a vida? Para mim, no meu caso, a ordem é exatamente esta: primeiro vão-se os sonhos; a partir daí, o blog é abandonado. E a vida, até quando Deus quiser. Estava pensando sobre isso, sobre dois blogs que acompanhava. Um, simplesmente desapareceu; o outro emudeceu (deve ter erro de gramática nesta frase, mas fica assim mesmo).

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Tenho tido tão pouca inspiração que nem consigo escrever uma carta de despedida decente. Aliás, estou sem saco nenhum para ficar pensando em "velhidades". Por isso, a partir de agora, aproveito um texto que surgiu há mais tempo. Antes, porém, um verso escrito pelo poeta Torquato Neto:

Adeus, vou pra não voltar e onde quer que eu vá, sei que vou sozinho

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Este texto foi escrito já faz algum tempo. Por ser um texto depressivo (como a maioria dos recentemente postados), ficou hibernando um pouco. Não o escreveria hoje, pois meu punho está doendo e estou sem muita paciência para ficar choramingando (como na maioria dos recentemente postados). Mesmo assim, chancelo - com algumas reservas - tudo o que foi escrito antes.

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Este é um post sem título. Também não está indexado a nenhuma das "seções" do blog. A razão para esta escolha encontra-se no final do texto. O que importa agora é saber que ao longo do tempo em que os mais de 1500 posts foram sendo publicados, uma imagem de mim mesmo, fragmentada, mas cada vez mais incômoda, foi se formando. Cada post acrescentava um fragmento ao mosaico que surgia. Pouco importa se os temas eram lançados nessa ou naquela "seção", se contavam casos da infância ou piadas imbecis, pois cada novo pedaço traía a origem única, encharcada de desesperança, solidão, ironia ou desespero, raiva, medo ou depressão. Qualquer que fosse o sentimento predominante, o GPS apontava sempre as mesmas coordenadas.

O que sei é que esse mosaico foi revelando uma personalidade só levemente percebida por mim (e até mesmo negada): uma pessoa egocêntrica, vaidosa, invejosa, neurótica, um pouco sádica, presunçosa, mesquinha, insegura, pedante, rancorosa, falsa (muito falsa), desprovida de compaixão, fútil, imatura e medrosa (muito medrosa). E, principalmente, ridícula e infantil.

Não é nada agradável descobrir isso de alguém, ainda mais se esse alguém é você mesmo. Talvez eu tenha passado toda a minha vida tentando não ser assim ou escondendo esse lado degradado. Talvez seja esse o motivo de ter citado tantas vezes o retrato de Dorian Gray (mesmo sem nunca ter lido o livro), o personagem Mr. Hyde (d'O médico e o monstro) e de achar que o Poema em Linha Reta traça meu perfil de modo fiel.

Minha vida hoje está uma merda, tenho sentido medo de tudo, um medo tão abrangente que faz com que eu tenha vontade de estar morto, mesmo que não pense em me matar (pelo menos, não ainda). Não sinto graça mais em nada, tenho uma melancolia permanente, não tenho vontade de fazer nada e tenho medo de que os fragmentos que faltam para completar meu mosaico apenas tornem mais agudo esse sentimento. Perdi a inspiração até para falar idiotices. Por isso, tomei a decisão de dar um tempo no velho Blogson. Hoje, sinceramente, espero que esse tempo seja infinito.

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Tenho sessenta e oito anos, descobri que tenho esteatose hepática (gordura visceral que pode levar à cirrose hepática ou a um transplante) e “ateromatose carotideana e em artéria vertebral esquerda” (sabe lá Deus o que isso significa). Então, não posso ficar com cara de paisagem, acreditando que tenho "todo o tempo do mundo". Não tenho. Além disso, está faltando tesão, nada mais me interessa. Este blog foi diversão e frustração, espelho ou holofote, um palanque para meus desabafos, um touro metálico aquecido onde eu entrava para urrar minha dor existencial. Depois de hoje, não quero mais fazer isso, pois ficam cada vez mais risíveis esses desabafos. Por esse motivo e diante de tudo o que falei, resolvi dar um tempo no blog.

Mais uma vez, agradeço a cada um dos leitores que fizeram algum tipo de comentário (especialmente à “J” – que sumiu e ao “Marreta” - que resistiu até hoje). Agradeço também aos que nunca fizeram nenhum comentário, pois todos contribuíram para muitos momentos felizes que vivi. Também lamento que o "Ozymandias Realista" tenha começado a seguir o blog só agora, em seu ocaso.

Como não pretendo remover o Blogson, que ele fique “à deriva”, flutuando sem rumo e sem combustível no oceano poluído da internet. Podem fazer o que quiserem (ou não) com os posts. Os comentários que porventura surgirem serão publicados em algum momento, mas não necessariamente respondidos.

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Esta é uma “carta de despedida” endereçada a todos que acessaram o Blogson Crusoe desde sua criação. Agradeço a todos que comentaram algum post e também aos que nunca comentaram nada, pois o simples fato de acessar o blog sempre foi motivo de muita alegria para mim. Agradeço especialmente ao titular do “A Marreta do Azarão” e à titular do desaparecido “Elemento Jota”, responsáveis pela quase totalidade dos comentários feitos.

Mas, por que uma carta de despedida? Porque o blog transformou-se em uma droga viciante – ou fui eu que me tornei um drogadicto do blog (um blogadicto, talvez). E quando eu comparo o blog a uma droga eu me refiro à sua semelhança com as drogas que causam dependência no usuário. O início é sempre bom, agradável e divertido. Com o passar do tempo, pode acontecer desse usuário resolver abandonar o vício, mas aí é que o bicho pega. E é isso que tem acontecido com o blog: longe me fazer bem, tem-me feito muito mal.

Obviamente a razão disso é o esgotamento da criatividade e do que fazer. Cada novo post tem saído pior que o anterior, mais espaçado, de parto mais difícil. Por isso, eu preciso voltar para o mundo real (mesmo que esse mundo seja um porre). E o problema é que não sei como desligar essa merda, essa obsessão doentia. Assim, só vejo uma solução: dar um tempo, paralisar a ânsia de postar coisas "novas" sobre meu umbigo que não interessam a ninguém. Se der vontade de voltar, volto. Se não der, não deu.

A título de encerramento, transcrevo uma frase grafitada que encontrei recentemente: Eu finjo que sou artista e a sociedade que é crítica de arte”. A partir de agora não finjo mais. See you later alligator! (preciso urgente inventar alguma coisa para fazer)





NOTAS "POST MORTEM":
Depois da morte do velho Blogson, fiquei agitado, inquieto, sem saber o que fazer. Talvez pela força do hábito, às vezes tinha vontade de escrever alguma coisa, mas não tinha mais um lugar para isso. Tentei investir no Facebook, mas a cada tentativa de fazer humor ou a cada imagem provocativa que postava, em vez de reações de riso, recebia comentários seríssimos, contestando ou aprovando o que eu havia dito só por diversão.

Por isso, depois da “missa de sétimo dia” do Blogson, decidi que precisava criar novo blog, pois ressuscitar o blog pela segunda vez demonstraria uma imensa falta de caráter (que, aliás, não tenho mesmo) e serviria de motivo para piadas.


Resolvi então criar o “Lingüiça no Fumeiro”, um blog ao estilo do Blogson, mas sem a preocupação das postagens frequentes e sem o “auxílio luxuoso” de outros autores. Em outras palavras, o Lingüiça será (é) um blog cem por cento autoral, mesmo que essa porcentagem não se reflita na qualidade dos posts. Significa apenas que os textos, desenhos e melodias de outros autores que enriqueciam o Blogson não serão encontrados no novo blog. Ou seja, Lingüiça será uma espécie de primo ou irmão mais pobre do falecido.







quinta-feira, 6 de junho de 2019

PARA ENTREGA DO PONTO

Este é o penúltimo post do Blogson, uma espécie de vistoria final para entrega do ponto. É um pacote de informações que eu curto fazer e que pode servir para que outros blogueiros comparem os números de seus blogs com o anêmico blog da solidão ampliada (mas acho que ninguém é tão idiota assim). Olhaí.

Ao longo dos cinco anos de existência do blog foram publicados 1.581 textos e/ou desenhos. Desses, 277 são textos de outros autores ou links comentados de músicas que eu curto. Não deixa de ser "notável" o fato de ter havido um surto de "criatividade" nos últimos dias, período final do blog. Isso lembra aquelas despedidas em aeroportos ou rodoviárias em que as pessoas parecem querer dizer em poucos minutos o que poderiam ter dito com folga antes do momento da partida.

- As pessoas e os robôs que acessaram o blog contribuíram para que ele tivesse pouco mais de 70.430 visualizações, com média diária de 45 visualizações (graças aos robôs do Google).

- Dos posts antigos, o menos acessado foi o desenho "No país dos triângulos - 03", com apenas seis visualizações;
- 67% dos 1.580 posts publicados não tem nenhum comentário;
- O post mais acessado foi "Seremos todos trouxas?", um artigo de Lia Luft originalmente publicado na revista Veja e que atingiu 2.008 visualizações;
- O post autoral de maior visualização foi "Banho de Lua", com 850 acessos;
- Os mais comentados foram "Macarrão instantâneo" e "Jambos e rosas brancas", ambos com 12 comentários;
- Os posts que mais gostei de ter criado foram o poema "A certeza" e as séries de desenhos de humor "Fiat Lux!" e  "Só 3,6 bilhões de anos?".

Para um aposentado recluso e sem amigos que não sejam parentes o blog foi uma janela para o mundo exterior. Mesmo que essa janela muitas vezes se abrisse para o paredão de um beco estreito e sem saída. Respondendo a uma pergunta inexistente, posso dizer que sim, que sentirei saudade do velho Blogson (já estou sentindo, para dizer a verdade). Afinal, é um relacionamento íntimo, quase um casamento, com todas as alegrias e decepções que um casamento pode proporcionar. Mas está na hora. Como ninguém tem nada com isso, eu até poderia abortar a ideia de acabar com o blog, mas resolvi deixar rolar, pois sei que acabaria voltando com as lamúrias já conhecidas. 

Amanhã o blog completará cinco anos e eu farei sessenta e nove (69 anos, é bom deixar claro). Lembro aos meus amigos virtuais Marreta e Ozymandias que podem tirar o Blogson de sua lista de blogs, pois não haverá mais atualizações. Que mais eu tinha a dizer? Nada. Ou melhor, o que tinha a dizer sairá amanhã. Trata-se de um post que foi publicado há uns três meses, e, que graças a um comentário generoso de meu amigo virtual Marreta, foi retirado e guardado na geladeira. Mas amanhã virá com força total, de forma definitiva.



E O MUNDO NÃO SE ACABOU - ASSIS VALENTE (VERSÃO PAULA TOLLER)


Recentemente, ao ligar o rádio do carro e sintonizar a “Rádio UFMG Educativa”, ouvi uma cantora cuja voz me lembrou a da Gal Costa. De repente, no meio da música, tomei um susto ao ouvir a frase “peguei no pau de quem não conhecia”. Não podia ser a Gal!

Tentei memorizar um verso para procurar no Google. Não deu outra: a música foi composta em 1938 por Assis Valente e se chama “E o mundo não se acabou” (se não sabe quem foi Assis Valente, é melhor procurar no Google pois não estou com tempo para explicar). Foi gravada e interpretada por uma penca de gente, mas não tem nada de “pau” na letra. O verso correto é “peguei na mão de quem não conhecia”. Comecei a ouvir as versões disponíveis no Youtube, para ver quem tinha tido a cara de pau de por um pau na letra.

Nei Matogrosso, Adriana Calcanhoto, Roberta Sá, Maria Betânia, Leci Brandão e nada, todo mundo bem comportadinho. Aí apareceu a sacaninha da Paula Toller e era ela. Que já começa com “saliência” ainda na introdução da música. E por que eu resolvi postar esta música? Porque o blog está se acabando. Mas nem por isso o mundo vai se acabar.

Para quem quiser conhecer a letra, tai. E se quiser escutar a música, tai o link.

(Introdução a La Paula Toller):
Aracaju, maracujá, pega daqui, taca de lá
Maricota Mariquinha e Mariquita soltam a periquita lá em Guaratiba e Guarujá Maracatu, jacarandá, Jeca tatu, Paranaguá
Papacu rasteiro vem correndo bem ligeiro
Vem querendo um bocadim de guaraná

Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar
E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite lá no morro não se fez batucada

Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei na boca de quem não devia
Peguei no pau de quem não conhecia
Dancei pelada na televisão
E o tal do mundo não se acabou

Chamei um cara com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele mais de quinhentão / um milhão
Agora eu soube que esse cara anda
Dizendo coisa que não se passou
Vai ter barulho vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou








terça-feira, 4 de junho de 2019

SLG, A SÍNDROME LEÃO-GIRAFA - MENTOR MUNIZ NETO

Encontrei este texto em algum portal da internet e confesso que não me lembro onde li, pois creio que foi publicado em 24 de maio de 2019. Mas gostei muito das ponderações do autor e resolvi partilhar com os 2,3 leitores desta bagaça. Olhaí.



Como está provado que neste País não é necessário diploma para ser formado (basta lembrar que a ministra Damares se considera mestre em educação e o astrólogo Olavo se diz professor de filosofia), hoje serei pesquisador médico.
Apresentarei uma síndrome que detectei, batizei e passo a documentar. É a síndrome Leão-Girafa ou SLG. Uma condição que afeta, em menor ou maior escala, políticos de todo o mundo. Suspeito tratar-se de uma enfermidade transmitida por uma bactéria comumente encontrada nos carpetes dos congressos e parlamentos nacionais.
Para ilustrar os sintomas da SLG e justificar sua denominação, vai aí uma antiga historinha.
Certo dia, na floresta, a girafa e o leão estavam conversando.
– Leão, você já notou como os humanos são esquisitos?
– Por que, girafa?
– Porque não olham para frente! Ficam só olhando para cima o tempo todo.
O leão coça a juba, pensando, e responde:
– Caraca, girafa, isso eu nunca reparei. Mas o que sempre me chamou a atenção é que estão sempre gritando e correndo.
Explico aos que não entenderam: a SLG é a síndrome na qual o sujeito torna-se incapaz de enxergar o mundo por outro ponto de vista que não seja o próprio.
A compreensão da realidade, das coisas e dos fatos daquele acometido por essa condição torna-se distorcida, limitada e/ou equivocada. Quando você conhece um portador de SLG, é comum uma reação de incredulidade a tudo que diz o infeliz.
Há até quem ache que o sujeito é tapado ou mal-intencionado. Não se engane. O pobre sofre de SLG, algo comum a qualquer governante do mundo. No Brasil é pior. Talvez alguma vocação essencialmente política transforme Brasília num verdadeiro caldo de cultura dessa bactéria.
Nosso presidente é um ótimo exemplo de portador de SLG. E antes que você, bolsonarolavista enfie na minha cara um “E o Lula, hein? Hein?”, já adianto que o presodente (trocadilho infame intencional) sofre do mesmo mal.
Uma vez contaminado, não existe tratamento conhecido para a SLG. Lula, dentro de seu aquário petista, insiste que os brasileiros — exceto seus inimigos políticos e parte do Judiciário — clamam por sua liberdade, enquanto nós, brasileiros SLG soronegativos, assistimos com absoluta incredulidade os sintomas de sua doença avançarem.
Enquanto isso, nosso atual mandatário quase que diariamente impõe alguma de suas interpretações contaminadas pela SLG sobre o Brasil, o mundo, a economia, a moral e por aí vai.
Na semana passada, o presidente compartilhou um texto onde o autor afirma que é impossível exercer a presidência no Brasil, já que quem ocupa o cargo precisa conviver com as pressões constantes e conflitantes da sociedade, dos militares, dos empresários, dos políticos etc. Seríamos “ingovernáveis”. Como se fosse diferente em qualquer outra parte do mundo.
A SLG do presidente vem de longa data. No inicio de sua carreira, numa entrevista, afirmou que o Congresso também não servia para nada, sugerindo que fecharia a instituição se um dia desses fosse eleito. É a SLG avançada que faz essas coisas.
O paciente passa a acreditar que suas limitações são, na verdade, virtudes comuns a qualquer outro indivíduo. Mas o que mais me preocupou foi o fato de Bolsonaro divulgar um vídeo onde o pastor Steve Kunda afirma que foi Deus quem o escolheu para presidente. Segundo o religioso, temos que apoiar o nosso messias, pois o Criador quer assim. Me dei conta que a bactéria causadora do SLG se espalhou e não vive mais apenas no carpete do nosso Congresso, mas também em alguns templos.
Temo por uma pandemia.



VOCÊ SABE O QUE É AFORISMO?


Pouco mais de um mês depois da criação do Blogson, publiquei o primeiro post ironizando o PT e a turma do Mensalão ("Você sabe o que é hashtag?"). Depois disso, critiquei, ironizei, reclamei e fiz piadas infames com e sobre o Lula e sua turma, o Temer e, agora, com o Bolsonaro e sua tchurma. Ou seja, não idolatro ninguém nem nenhum partido, mas sinto-me cada vez mais de centro-direita, moderadão (ou "morno"). Por isso, repudio visões e atitudes extremadas, pouco me importando se são de esquerda ou direita. Meu amigo virtual Marreta comentou que eu seria um "anarquista". Talvez seja, mas não sentido histórico, apenas para divertir-me e (tentar) divertir os 2,3 leitores deste blog agonizante. E na época atual os personagens principais são pessoas com bastante descontrole verbal (para dizer o mínimo), gente muito esquisita. Daí...

Segundo o dicionário Houaiss, aforismo pode ser definido assim:
Máxima ou sentença que, em poucas palavras, explicita regra ou princípio de alcance moral”.

Encontrei na internet este texto: “Os aforismos caracterizam-se, sobretudo, pela brevidade e precisão. São concisos e taxativos, apresentam um discurso quase sempre doutrinador, conciliando literatura e filosofia. Aproximam-se, conforme definição do dicionário, dos provérbios populares, pois contêm máximas capazes de traduzir amplos e complexos conceitos por meio de pequenas sentenças”.

Parece que na França do século XVIII era moda as pessoas cultas se dedicarem à criação de aforismos, prova de brilho intelectual, inteligência e de vivacidade de espírito, mas não consigo me lembrar onde li sobre isso. Infelizmente, mesmo que ande com a cabeça na(s) nuvem(ns), meu cérebro está cada vez mais distante de um computador, pois em vez de bancos de memória, o que mais existe hoje são brancos de memória (essa piadinha foi razoável). “Deve ser da idade”...

Eu gosto muito de (tentar) construir essas frases e “textículos” só para colocá-los em destaque no Facebook (e depois exportá-los para o Blogson). Claro está que não passo nem perto da elegância de exemplos como estes:

 “A vida é breve, a velhice é longa” (desconhecido).

A tradição é cultuada pelos que não sabem renová-la”. (Carlos Drummond de Andrade)

Ultimamente, graças a nosso atual presidente e sua equipe, surgiu novo estilo de aforismo,  que eu chamaria de “daforismo”.

Sem sacanagem, é tanta declaração desnecessária, tanta bola fora, tanta pisada no tomate, tanto tiro no próprio pé (nada como uma sucessão de clichês, não é mesmo?), que só podem ser classificadas como daforismos as frases e falas divulgadas por esse pessoal.

Exemplo de daforismo:
“O Estado é laico, mas eu sou cristão” (Jair Bolsonaro)

Que se pode dizer sobre isso? “Que ótimo! Então, vá à missa ou - culto - de sábado ou domingo, mas de segunda a sexta seja apenas presidente!”.

Este também é ótimo:
“Não está na hora de o Supremo ter um ministro evangélico?” (Jair Bolsonaro). 

A resposta mais correta seria “O que o cu tem a ver com as calças?”, mas pode-se também dizer "Não precisa", pois basta ir a alguma igreja evangélica (coisa que o “católico” Messias adora fazer), pois lá está "assim” de ministros evangélicos.

Mais exemplos de daforismo:
"Menino veste azul, menina veste rosa” (Damares Alves)


Mesmo não fazendo parte do atual governo, o astrólogo Olavo de Carvalho exerce grande influência sobre alguns de seus membros e parentes do presidente. Seria uma espécie de Rasputin verde-amarelo. Por isso, o que diz merece algum destaque. 

Como nessa vez:
 "                                          (Olavo de Carvalho)

(me esqueci de dizer que tudo o que o astrólogo diz é vazio, vulgar ou sem importância). 

Em compensação, disse também:
"#&%#ди $%@воз@&$!!!"  (Olavo de Carvalho)

Resumindo, ele só é bom em uma versão hardcore do daforismo - que eu chamaria de "desaforismo".

domingo, 2 de junho de 2019

CASTIGO - DOLORES DURAN (INTERPRET. LUIZ ALFREDO XAVIER)


Conheci minha mulher no jurássico ano de 1969, em pleno carnaval. Depois de muita insistência de minha parte, começamos a namorar (já contei esse caso aqui no blog). O namoro terminou pouco mais de um mês depois, ao sermos flagrados de mãos dadas por minha futura sogra, um absurdo para a época. Como eu nem sonhava com a prensa que minha mulher tinha levado de sua mãe, na hora da despedida tentei ganhar um beijinho, mas fui repelido delicada mas resolutamente. Continuei a insistir, fui ficando puto e ameacei terminar o namoro. OK!

Foi nesse dia que eu entendi por que as músicas de corno fazem tanto sucesso entre boa parte da população. Imagino que a maioria das pessoas não tem um relacionamento feliz, é mal amada, traída, solitária ou abandonada. Naquele momento era esse o meu caso. Saí de lá com aquele gosto amargo na boca de quem sabe que dançou feio, com músicas de corno indo e vindo em minha mente. Uma delas foi "Castigo", da Dolores Duran, bem no estilo da seção "Todo castigo pra corno é pouco", publicado pelo blog hardcore "A Marreta do Azarão". Cinquenta anos depois, posso dizer que vivo muito bem com minha mulher, que é a pessoa mais importante da minha vida. Brigamos? Claro, pra caralho, mas estou na linha do "vivo todo arranhado mas não largo a minha gata". E ela é linda!

Por isso, o motivo de postar o link dessa música é sua aplicabilidade ao meu relacionamento com o blog Blogson Crusoe e ao seu próximo fim. Já sei, eu sou chegado a fazer drama, daqueles bem patéticos, esparramados, suburbanos, muito ridículos. Saca só a letra: 

A gente briga, diz tanta coisa que não quer dizer
Briga pensando que não vai sofrer
Que não faz mal se tudo terminar

Um belo dia a gente entende que ficou sozinho
Vem a vontade de chorar baixinho
Vem o desejo triste de voltar

Você se lembra, foi isso mesmo que se deu comigo
Eu tive orgulho e tenho por castigo
A vida inteira pra me arrepender

Se eu soubesse naquele dia o que sei agora
Eu não seria esse ser que chora
Eu não teria perdido você








MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4