Foi no início da adolescência que eu comecei a participar das matinês e
bailes de Carnaval que aconteciam nos clubes. Era sempre a mesma coisa, ano após
ano. Eu era super ultra mega tímido e ficava paralisado nos primeiros dias,
mesmo que sempre desejasse encontrar o “amor da minha vida”. Como tinha também o “auxílio
luxuoso” da minha silhueta magérrima (IMC=18,9), obviamente não conseguia nada, sempre terminava sozinho.
Apesar disso, no último dia era invadido por uma melancolia que vinha da
certeza de que “agora, só no ano que vem”, porque eu gostava de Carnaval.
Isso só mudou em 1969, quando conheci minha lynda
menina (para mim, ela sempre será minha menina). A partir daí passamos a ir
juntos aos bailes, mas, mesmo assim, no último dia ainda dava aquele gostinho (já
muito diluído) de “agora, só no ano que
vem”.
O tempo passou (muito, muito tempo!), os
bailes de clubes estão praticamente extintos e o carnaval de blocos de rua
explodiu em Belo Horizonte. Para variar, resolvemos hoje, sábado de Carnaval, sair
atrás de um desses, o “Volta Belchior”
(criado um ano antes da morte do cantor). Minha mulher, linda como sempre e eu,
com minha versão “Seu Madruga” (às
vezes confundido com o Belchior graças ao bigodão postiço).
O que sei é que depois de chover pra kawaka,
estávamos no meio da muvuca, esperando a saída do bloco. Mas tinha tanta gente,
a rua estava tão cheia de foliões “indo Belchior”, “voltando Belchior” ou
simplesmente “esperando Belchior”, que logo me ocorreu um pensamento com a
sabedoria de Jotabê: “Se ficar parado vai ser encoxado”.
Estava nesse devaneio quando minha mulher começou
a conversar com um casal de jovens, logo transformado em trio: Ana Luiza, seu
aparente namorado e designer gráfico Bruno Martim e o amigo Bruno, todos
simpaticíssimos. E ficamos ali conversando despreocupadamente. Como minha
mulher mencionou meu sobrenome obsceno, tive de mostrar minha identidade para
eles.
Em determinado momento, a jovem, com a
delicadeza que parece ser própria de todas as Anas Luizas, disse que nós éramos
“fofos”, mas eu protestei, ao dizer que
não era “fofo”, apenas “flácido”. Mais risos e logo depois a despedida. E foi aí, em
pleno sábado de Carnaval, que bateu uma melancoliazinha, por saber que provavelmente
aquela foi a primeira e última vez em que encontramos aqueles jovens tão
simpáticos, amistosos, tão cheios de vida e, de sonhos, muitos sonhos. E tive saudade de um tempo em que eles poderiam ser nossos amigos. Volta Belchior? Que nada! Volta, Juventude, isso sim!
Rapaz, sua esposa fez você mostrar o seu Pinto para o casal?
ResponderExcluirBem legal o nome do bloco, Volta Belchior.
Na minha idade, poder mostrar o pinto, ainda que seja na carteira de identidade, já é lucro. Mesmo que as pessoas rachem de rir.
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