segunda-feira, 11 de março de 2019

PAREDE DA MEMÓRIA


Aprendi a nadar só com 14 anos de idade. Assim mesmo, graças à insistência de meu irmão mais velho, que se esforçava para nos tirar daquela vidinha de merda e pouco dinheiro que levávamos. Dele também foi a ideia de nos tornarmos sócios da sede “urbana” do Cruzeiro (as novas instalações construídas na região da Pampulha – e onde não tínhamos acesso - eram conhecidas por “sede campestre”).

O “Cruzeirinho” possuía uma piscina de 12,5 x 25 metros, de azulejos quebrados e água frequentemente esverdeada. Longe, muito longe da magnificência da piscina olímpica de 25 x 50 metros do Minas Tênis. A frequência era só de moradores da região e de pessoas da classe média para baixo. E foi esse mundinho de gente remediada que passei a frequentar.  Obviamente, aquilo para mim era o máximo se comparado com o bairro ainda mais humilde onde morávamos.

Eu tinha dezesseis anos quando resolveram ressuscitar a equipe de natação do clube. Um conhecido entrou e nos chamou para participar também. De 1966 a 1968 fiz parte daquela equipe. Mas eu era medíocre e pouco dedicado. Talvez por isso, ninguém exigia muito de mim (fico pensando o que poderia ter acontecido se tivesse sido mais exigido). Foi nesse período que conheci um excelente nadador que tinha o apelido de “Gato”. Era vaidoso, irônico, atlético,  namorava a Neusa (uma nadadora gostosinha e gente fina) e pertencia ao grupo de elite da equipe. Talvez por isso não me dava muita atenção, pois, além de tímido, esquelético e sem namorada,  eu ainda pertencia – suprema desgraça! – ao “lado B” da equipe.

Um dia, cinco dos melhores nadadores começaram a se comportar de maneira estranha. Ficaram mais arredios, conversavam só entre eles e acabaram saindo da equipe. Foi assim que descobri que um gato estava dando tapas na pantera. Ele e os demais.  Depois disso, a vida andou, dois desses cinco jovens morreram em um acidente a caminho de Guarapari, saímos do Cruzeirinho e perdemos contato com os conhecidos e amigos que fizemos naquela piscina.

Ontem, ao acessar o Facebook, a década de 1960 deu as caras e invadiu minha memória, pois tive a atenção voltada para uma foto postada por um dos “amigos" dessa rede para homenagear alguém recentemente falecido. A foto mostrava um rosto levemente familiar e um apelido pouco usual, igual ao do meu conhecido de juventude: "Gato". Perguntado sobre isso, meu "amigo" confirmou que o homem do retrato era o mesmo Gato que eu havia conhecido. Lamentei sua morte e pensei que na minha "parede da memóriahavia agora mais um quadro pendurado. Pequeno, talvez, mas um quadro a mais em um painel que já exibe muitos retratos.

2 comentários:

  1. Eu também já tenho a minha galeria de retratos. Um dia, meu caro, será o nosso a ser pendurado.

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    1. Eu pressinto que meu preguinho até já está no lugar.

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