Aprendi a nadar só com 14 anos de idade.
Assim mesmo, graças à insistência de meu irmão mais velho, que se esforçava
para nos tirar daquela vidinha de merda e pouco dinheiro que levávamos. Dele
também foi a ideia de nos tornarmos sócios da sede “urbana” do Cruzeiro (as
novas instalações construídas na região da Pampulha – e onde não tínhamos
acesso - eram conhecidas por “sede campestre”).
O “Cruzeirinho” possuía uma piscina de 12,5 x
25 metros, de azulejos quebrados e água frequentemente esverdeada. Longe, muito
longe da magnificência da piscina olímpica de 25 x 50 metros do Minas Tênis. A
frequência era só de moradores da região e de pessoas da classe média para baixo.
E foi esse mundinho de gente remediada que passei a
frequentar. Obviamente, aquilo para mim era o máximo se comparado
com o bairro ainda mais humilde onde morávamos.
Eu tinha dezesseis anos quando resolveram
ressuscitar a equipe de natação do clube. Um conhecido entrou e nos chamou para
participar também. De 1966 a 1968 fiz parte daquela equipe. Mas eu era medíocre
e pouco dedicado. Talvez por isso, ninguém exigia muito de mim (fico pensando o
que poderia ter acontecido se tivesse sido mais exigido). Foi nesse período que
conheci um excelente nadador que tinha o apelido de “Gato”. Era vaidoso, irônico,
atlético, namorava a Neusa (uma nadadora gostosinha e gente fina) e
pertencia ao grupo de elite da equipe. Talvez por isso não me dava muita
atenção, pois, além de tímido, esquelético e sem namorada, eu ainda
pertencia – suprema desgraça! – ao “lado B” da equipe.
Um dia, cinco dos melhores nadadores
começaram a se comportar de maneira estranha. Ficaram mais arredios,
conversavam só entre eles e acabaram saindo da equipe. Foi assim que descobri
que um gato estava dando tapas na pantera. Ele e os demais. Depois
disso, a vida andou, dois desses cinco jovens morreram em um acidente a caminho de
Guarapari, saímos do Cruzeirinho e perdemos contato com os conhecidos e amigos
que fizemos naquela piscina.
Ontem, ao acessar o Facebook, a década de
1960 deu as caras e invadiu minha memória, pois tive a atenção voltada para uma
foto postada por um dos “amigos" dessa rede para homenagear alguém
recentemente falecido. A foto mostrava um rosto levemente familiar e um apelido
pouco usual, igual ao do meu conhecido de juventude: "Gato". Perguntado sobre isso,
meu "amigo" confirmou que o homem do retrato era o mesmo Gato que eu
havia conhecido. Lamentei sua morte e pensei que na minha "parede da memória" havia agora mais um quadro pendurado. Pequeno, talvez, mas um quadro a mais em um painel que já exibe muitos retratos.
Eu também já tenho a minha galeria de retratos. Um dia, meu caro, será o nosso a ser pendurado.
ResponderExcluirEu pressinto que meu preguinho até já está no lugar.
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