sábado, 1 de abril de 2017

VOCÊ RI(M)A COMO EU RI(M)O?

Depois de ler um comentário (super bem vindo) aqui no Blogson, fiquei divagando sobre essa coisa estranha que é a Poesia. Mesmo que não esteja certo (pois sou apenas alguém da área de Exatas), ocorreu-me a ideia de que Poesia é paixão, explosão, emoção,  concisão, enquanto a Prosa seria razão, reflexão, contenção, extensão.

Em outras palavras, a Prosa seria como o calorzinho bom que se sente ao vestir um agasalho em dias mais frios. Em contraponto, a Poesia teria o brilho das labaredas  e o calor intenso das chamas que emana de uma fogueira quando se está próximo de uma.

Meu pai gostava muito de poesia, mesmo que falasse pouco sobre isso. Tendo nascido em 1911, e ainda por cima no interior de Minas, nada mais natural que apreciasse os poemas no estilo clássico, com métrica e rima. Eu até entendo essa predileção. Aqui mesmo no Blogson, em um post “reverência” ao Vinicius de Moraes de janeiro de 2015, fiz o seguinte comentário (já disse e repito que não tenho nenhum pudor em fazer citações de mim mesmo):

Gosto muito de poesia e reverencio aqueles que conseguem transmitir emoção de forma concisa, minimalista. Os sonetistas então, esses são a nata, por conseguirem domar o esqueleto rígido do soneto. Em outras palavras, eu os vejo com o mesmo respeito que devoto aos neurocirurgiões. A coisa é mais ou menos como uma cirurgia feita no cérebro: o que falta em espaço sobra em restrições e cuidados a tomar. Ou seja, ambos conseguem o suprassumo da precisão e eficiência, tudo realizado em espaço muito reduzido.

Como sou mais moderno (só um pouquinho) que meu pai, aprecio e traço qualquer tipo de poesia, com ou sem rima. Só tenho resistência à poesia que me parece gratuitamente pornográfica. Mesmo assim, fico na minha. Curiosamente, uma das exceções que faço ao estilo “poesia de zona” são os poemas satíricos do Gregório “Boca do Inferno” de Matos e ao “Elixir do Pajé” e “A origem do mênstruo”, dois poemas cheios de métrica, rima e sacanagem do Bernardo Guimarães (só conheço esses dois).

Com essas ideias na cabeça, resolvi perguntar na internet o que é poesia, afinal. E achei muitas definições e frases geniais de gente que entende ou entendia disso, rimando ou não. Olha que bacana:

Aprendi com meu filho de dez anos que a poesia é a descoberta das coisas que eu nunca vi. (Oswald de Andrade)

Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz.  (Mário Quintana)

O material do poeta é a vida. Por isso me parece que a poesia é a mais humilde das artes. (Vinícius de Moraes)

Amor é prosa, sexo é poesia (Rita Lee)

Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. (Mario Quintana)

 O material do poeta é a vida, e só a vida, com tudo o que ela tem de sórdido e sublime. Seu instrumento é a palavra. Sua função é a de ser expressão verbal rítmica ao mundo informe de sensações, sentimentos e pressentimentos dos outros com relação a tudo o que existe ou é passível de existência no mundo mágico da imaginação. Seu único dever é fazê-lo da maneira mais bela, simples e comunicativa possível, do contrário ele não será nunca um bom poeta, mas um mero lucubrador de versos (...). (Vinicius de Moraes)

Tem que existir tanta poesia no receptor quanto no emissor. Você precisa ser tão poeta para entender um poema quanto para fazê-lo. Só poetas são capazes de entender poesia. (Paulo Leminski)

Poesia não nasce pela vontade da gente, ela nasce do espanto, alguma coisa da vida que eu vejo e que não sabia. (Ferreira Gullar)

Eu acho que a poesia é um inutensílio. A única razão de ser da poesia é que ela faz parte daquelas coisas inúteis da vida que não precisam de justificativa porque elas são a própria razão de ser da vida. Querer que a poesia tenha um porquê, querer que a poesia esteja a serviço de alguma coisa é a mesma coisa que querer que um gol do Zico tenha uma razão de ser além da alegria da multidão. É a mesma coisa que querer, por exemplo, que o orgasmo tenha um porquê. É a mesma coisa que querer que a alegria da amizade e do afeto tenha um porquê. Eu acho que a poesia faz parte daquelas coisas que não precisam ter um porquê. Para que porquê? (Paulo Leminski)

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