Meu querido amigo e colega Luis Felipe era
conhecido por todos os engenheiros da empresa pelo apelido “Pintão”. Um desavisado poderia achar que
ele era uma versão menor (bem menor) do Negão
da Piroca, mas a alcunha servia apenas para diferenciá-lo do filho,
conhecido por “Pintinho”.
O Pintão era um grande causeur, um contador de histórias divertidíssimas e, provavelmente,
muito aumentadas por ele. Quando seus filhos ainda eram bem crianças, resolveu
contar a eles uma história de caçada de onça, guardada em sua memória,
justamente pelo comentário entusiasmado de um dos meninos.
- Eu
estava na floresta caçando, quando apareceu na minha frente uma onça. Eu peguei
a espingarda, mirei e... "pá"!
- Matou
ela!
- Não,
a espingarda falhou. Ela veio para cima de mim. Peguei então um pedaço de pau e
bati na cabeça dela!... mas o pau quebrou.
Segundo ele, o filho mais novo foi ficando
inquieto com aquela situação, mas o pai continuou, veemente.
- Aí eu
peguei minha faca e enfiei nela!
- Ela
morreu?
-
Não... a faca entortou!
- E o
que você fez???
Nesse momento da história, com o filho
preocupadíssimo e de olhos arregalados, o Pintão comentou conosco que não sabia
mais o que inventar. Só não podia reproduzir a piada, dizendo que a onça o
teria comido. E saiu o fecho “empolgante”:
-
Quando ela pulou em mim, eu a agarrei pelo pescoço e nós rolamos pelo chão, mas
dei uma gravata com tanta força que ela acabou morrendo sem ar. Então eu peguei
a onça pelo rabo, rodei, rodei e joguei ela lá longe!
A reação empolgadíssima do filho pequeno foi
hilária:
- EITA
PAI FEDAPUTA!!!!!
Nesse ponto, meu amigo encerrou a historinha
com um comentário bem a seu estilo. Rindo, disse:
- Acho
que foi o maior elogio que recebi na minha vida!
Essa história já foi contada aqui no Blogson no
início de 2016, mas, além da falta de vergonha na cara de requentar posts
antigos, o caso serve para mostrar que palavrões, linguagem obscena ou expressões
vulgares podem ser - e muitas vezes realmente são - elogios ou manifestações de
carinho, afeto ou amizade.
Em nossa casa a linguagem chula é de uso
corrente desde sempre, pois nunca proibi nossos filhos de dizer palavrões
(coisa que fazem com extrema desenvoltura). Talvez por isso, as palavras cascudas sejam usadas apenas pela sua
força expressiva, sem nenhuma (ou quase nenhuma) conotação sexual. Resumindo, o
que me incomoda ou constrange não são as palavras vulgares, mas o contexto em
que podem ser ditas.
Por exemplo, “Eita porra”, seguido de um “ficou
muito bom” é indiscutivelmente um elogio, um puto de um elogio. Ou, se quiserem, um puta elogio - mesmo que imerecido. Uma frase dessas demonstra
que a pessoa que a formulou é uma flor de delicadeza, mesmo que seja uma flor cheia
de espinhos e cascuda.
Falando em flores e espinhos, outro dia pesquisando sobre a personagem da Rosa do Pequeno Príncipe encontrei esse resumo da obra que me lembrou seu texto "Tinha também uma flor, uma formosa flor de grande beleza e igual orgulho. Foi o orgulho da rosa que arruinou a tranquilidade do mundo do pequeno príncipe e o levou a começar uma viagem em busca de amigos, que o trouxe finalmente à Terra, onde encontrou diversos personagens a partir dos quais conseguiu repensar o que é realmente importante na vida".
ResponderExcluir" J"