quinta-feira, 27 de abril de 2017

BODE NA SALA

Já que meu santo nome foi citado em um post do poderoso Marretão, sinto-me impelido a responder. Como não sou tão bobo quanto demonstro ser, resolvi transformar a resposta em post também. Essa situação lembra remotamente a polêmica Noel Rosa versus Wilson Batista, que rendeu fantásticos sambas. A diferença é que Jotabê não quer polêmica (prefere polenta), não compõe (só decompõe) nem é poeta, apenas poeteiro (ou punheteiro).

Mas, antes de continuar, preciso dizer que a resposta do Marreta apenas adiou a materialização de um pensamento pré-existente aos posts do Azarão, ideia que tem-me perseguido ultimamente.

Você fala em tomar uma cerveja comigo mesmo que seja “uma sem álcool”. Talvez seja mais viável você tomar um leite com Toddy e cachaça. Quanto ao vômito na roupa, todos já fizemos isso na juventude. Eu piorei essa experiência ao dormir em cima, totalmente de porre. 

O que eu quis dizer é que você vem vindo com ótimas imagens (como o excelente poema “Garça no Esgoto”). De repente, é como se desse um estalo em sua cabeça e você pensa que ainda não disse um palavrão nem fez uma referência explícita a algum tipo de prática sexual. E aí, do nada, você saca uns dois ou três e aplica nos versos finais. E fica estranho.

Com relação aos palavrões, você nunca me ouviu (nem ouvirá) conversando com pessoas mais simples! Eu falo tanto palavrão que até eu mesmo me assusto. A diferença é que eles são ditos sem nenhuma conotação sexual.

Tratando-se de poesia, o que eu curto são as imagens e sacadas geniais, é o lirismo contido em um poema, mesmo que seja a história de uma tragédia. O que me incomoda não é um bode no curral ou aprisco (bom nome esse!), mas na sala.

Para finalizar, lembro apenas que tive uma infância de criança pobre, frequentemente exposta à riqueza despreocupada de meus primos endinheirados. Uma criança que literalmente já rolou na lama de um buraco aberto em forma de tronco de pirâmide, executado a título de “piscina” (enquanto isso, meus primos brincavam nas praias cariocas).

Talvez por isso a “periferia” não me atraia, pois eu sei como é. Como disse o filósofo Joãozinho Trinta, “Quem gosta de miséria é intelectual. Pobre gosta de luxo.” E eu não sou intelectual. Evidentemente, isso é apenas uma metáfora para dizer do meu desapreço ou falta de interesse pela "poesia sórdida".

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MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4