Outro dia eu li na internet que o "Princípio da Gravitação Universal e a Teoria da Relatividade podem ser frutos do intelecto de dois autistas. Dois grandes gênios da ciência, diga-se de passagem, Albert Einstein e Isaac Newton, possivelmente sofriam da síndrome de Asperger (SA), uma forma amena de autismo, segundo notícia divulgada pela Reuters esta semana e publicada no Journal of the Royal Society of Medicine, da Inglaterra.
O distúrbio foi descoberto pelo médico austríaco Hans Asperger em 1944, e ocorre em função de um problema de desenvolvimento cerebral que causa deficiências nas faculdades sociais e de comunicação, assim como obsessão. Entretanto a SA não afeta o aprendizado, nem o intelecto. Muitos portadores dessa síndrome possuem talentos ou habilidades extraordinárias.
Os pesquisadores da Universidade de Cambridge e da Universidade de Oxford, estudaram as personalidades e a biografia de Einstein e Newton. Isaac Newton é nitidamente um caso clássico da síndrome de Asperger. Não falava e esquecia de comer, tamanho seu envolvimento com o trabalho. Começou a desvendar a lei da gravidade aos 23 anos, era um sujeito distante, de poucas palavras, e freqüentemente tinha acessos de mau humor. Desde a infância, quando se apaixonava por um tema, ele o fazia com tanta intensidade que se impunha longos períodos de solidão para estudá-lo. Outros traços da síndrome de Asperger, o desleixo com a aparência e a mania de reescrever até vinte vezes os seus estudos, sem fazer quase nenhuma alteração de uma cópia para outra".
Essas informações fizeram com que me lembrasse de outra característica do Newton, que li em algum lugar. Sir Isaac Newton, uma das maiores e mais brilhantes mentes que a humanidade já produziu, era quase um crápula. Era rancoroso, inseguro e vingativo. Devido ao ódio que devotava ao cientista que o antecedeu, mandou queimar seu único retrato conhecido ao assumir a presidência da Royal Society de Londres. Há outros casos de gente brilhante, genial em suas profissões, mas com comportamento totalmente reprovável. O pintor Caravaggio, por exemplo, era quase um marginal, apesar de gênio da pintura.
Quem leu até aqui e está se perguntando o que eu estou tentando dizer, pode relaxar, pois o motivo começa agora a ser revelado. Mas antes, preciso dizer que este
é um texto bobo, mais bobo que os normalmente publicados aqui no Blogson. Serve
apenas para registrar alguns pensamentos e ideias que vêm me atormentando há
vários meses. E a causa disso são opiniões - às vezes inflamadas - emitidas por
artistas, "intelectuais" e políticos em entrevistas, bate-bocas e
todo tipo de meios adequados à depreciação e ao patrulhamento de quem não pensa igual a eles. Então, se eu disser
apenas platitudes e reflexões acacianas é porque eu sou assim mesmo, um sujeito
de pouco conteúdo. Bora lá.
Eu
tinha quase quatorze anos quando o golpe ou revolução de 1964 aconteceu. Sendo de
uma família anticomunista, nessa época eu já tinha pavor do comunismo, mesmo
que não entendesse o que isso significava. Só sabia que era ruim. Afinal, como
cantou o Paulinho da Viola, "tinha
eu quatorze anos de idade". Mesmo assim, meu pai enfatizou várias
vezes para não falar nada com estranhos, pois nunca se sabia se eram
informantes do DOPS ou não. O "nada" seria qualquer coisa contra ou a
favor dos militares.
Fui
crescendo com aquele pavor de poder ser afetado por algum mal entendido, ao
ponto de me tornar totalmente alheio à política, fosse ela de qualquer matiz ou direção. Meu negócio era rock, minha praia era a música, cinema, livros, a "cultura" e a contracultura, os quadrinhos exclusivos e desconhecidos da maioria. Eu
queria ser intelectual.
Por
volta dos meus dezessete, dezoito anos, um cantor começou a fazer um sucesso
fantástico, fenomenal. Era o Wilson Simonal. Tudo (ou quase tudo) o que ele
gravava logo caia na boca do povo, pois ele punha tanto suingue e balanço na
interpretação, que transformava qualquer merda em hit, em sucesso. Até "meu limão, meu limoeiro, meu pé de
jacarandá".
Lembro-me
de uma música que tem algo a ver com este post. O título é "Recruta Valdemar" e tem estes versos:
Valdemar é um recruta biruta
que não sabe nem marchar
e qualquer voz de comando
"Esquerda!",
"Direita!"
tonteia o Valdemar
Eu
era como o recruta Valdemar, pois ficava tonto com esse papo de direita e
esquerda. Por isso, não entendi na época o que aconteceu com o Simona. Só muito depois é que fui saber o motivo de sua carreira artística ter literalmente acabado. Alguém divulgou (aparentemente sem apuração) que
o Simonal teria usado agentes do Dops para dar um pau em um funcionário que
teria lhe dado cano. E a notícia se espalhou (ou viralizou, como se diz hoje). Se isso é verdade ou não, pouco
importa. Ele devia conhecer todo mundo, pessoas de todas as convicções
políticas, mas o fato de (supostamente) usar "o regime" por interesse
pessoal foi demais para a "intelligentsia"
nacional, que o viu como colaborador do regime militar, um dedo-duro, portanto. A mídia
em peso gelou o sujeito, não falou mais nada sobre ele a não ser para descer o
cacete. O cartunista Henfil criou um personagem que era a cara dele, com uma
faixa amarrada na testa, tal como fazia o cantor. O detalhe era um dedo
indicador anormalmente longo, o "dedo duro". E o Simonal sumiu.
Pensando
nessas coisas e na reação apaixonada que o tema Direita versus Esquerda provoca nas pessoas, fiquei tentado a expor
um pensamento que me incomoda muito e que é o tema real do post de hoje:
Ninguém é um crápula apenas por ser de direita! Da mesma forma, ninguém é um
canalha apenas por alinhar-se com o pensamento de esquerda.
São as convicções e crenças pessoais que fazem uma pessoa ser de direita ou de esquerda (óbvio, não é?). Para mim, quem é de direita é mais centrado em si mesmo, mais
adepto do mérito pessoal, das conquistas individuais, mais egocêntrico, mais
individualista. Já os de esquerda seriam mais idealistas, sonhadores, estariam
mais focados em uma sociedade mais justa (o que quer que isso signifique), nos
mais desfavorecidos, na eliminação do desnível sócio-econômico, etc. Conheço um jovem super idealista assim, que é amigo de meus filhos. É um advogado que só atende e defende
movimentos populares de ocupação de terrenos.
Obviamente,
nem Direita nem Esquerda são demonstrações da "ignorância política" de quem é simpatizante com essas ou aquelas ideias. Também não são sinônimos de Corrupção. Corrupção combina com
falta de caráter, falta de ética, falta de moral. Na prática, isso se materializa em "obras públicas". Volto a dizer, quem se alinha com o pensamento de esquerda ou de
direita só o faz por identificação pessoal com essas ideologias, não por
burrice ou falta de caráter.
Não
conheço pessoalmente nenhum patife que seja de esquerda ou de direita. Todas os meus conhecidos de quem descobri as simpatias pessoais e identificação com essa ou
aquela ideologia (graças ao que postam ou comentam no Facebook!) são, no geral,
pessoas de ótimo caráter, encantadoras, muitos deles com cultura bem acima da média.
No entanto, ao defender o Bolsonaro e crucificar o Lula (ou o contrário disso)
comportam-se como se estivessem sido mordidos por cachorros hidrófobos.
Por
isso, enfureço-me com comentários depreciativos que parte expressiva da "Intelligentsia" brasileira faz aos
que não comungam de seu credo político. Como o comentário que vi o deputado
cuspidor Jeep Willis fazer sobre um
jovem extremamente bem articulado e com raciocínio consistente, cujos únicos
"defeitos" seriam a juventude e o fato de ser de direita. Pois bem,
Sua Excelência - um modelo de controle emocional -, entre outras críticas,
acusou o jovem de "ignorância política". Por dedução, pode-se dizer
que o deputado se acha o mestre dos mestres, o senhor dos anéis (ou do anel).
Há
também as manifestações inflamadas e pródigas em perdigotos do ator José de
Abreu. Ou os discursos do senador Lindberg Farias contra qualquer medida que
possa ser benéfica ao país. Pelo
menos no Brasil, quem é de esquerda é pródigo em manifestar desprezo por quem
não pensa na mesma linha. E se o bacana tem alguma influência ou é ator,
escritor, músico com alguma fama, aí é que a coisa piora. Para essa moçada a
coisa mais fácil é chamar alguém de fascista (ou "fachista", como se a
língua daqui fosse o italiano. Para mim, fachista ou faxista é o sujeito que
fabrica aquelas faixas que são amarradas nos postes, logo removidas pela
prefeitura).
Estou de saco cheio desse preconceito! Aliás, se tem alguma coisa
que me tira do sério, que me enfurece até o nível máximo é perceber ou sentir que alguém está sendo menosprezado, humilhado ou desprezado. Depois de perceber que sou de
centro-direita (eu me achava apenas de centro), sinto-me também ofendido e emputecido
com a forma como gente de esquerda trata ou se refere a quem é de direita. Grosseiramente
falando, o sujeito de direita seria o leproso bíblico dos tempos atuais, um
pária, alguém que deve ser mantido à distância.
Já
faz algum tempo que descobri um texto de um político inglês, que reclama e explica de forma muito mais elegante o que estou tentando dizer.
Segundo a Wikipédia, Daniel Hannan (esse é o nome) é jornalista e "membro do Parlamento Europeu
representando o distrito eleitoral do sudeste da Inglaterra pelo Partido
Conservador". Nesse artigo ele diz o seguinte:
(...)
"a maioria das pessoas de Esquerda é sincera nos seus compromissos
assumidos com os direitos humanos, a dignidade da pessoa humana e o
pluralismo. Minha animosidade com muitos (não todos) esquerdistas é algo
mais simples. (...) ao assumirem uma
superioridade moral, tornam o diálogo político praticamente
impossível. Usar a alcunha “Direita” querendo que isso signifique “algo
desagradável” é um pequeno mas importante exemplo".
No original:
(...)
"most people on the Left are sincere in their stated commitment to human
rights, personal dignity and pluralism. My beef with many (not all)
Leftists is a simpler one. (...) by assuming a
moral superiority, they make political dialogue almost impossible. Using the
soubriquet “Right-wing” to mean “something undesirable” is a small
but important example".
No
mesmo artigo, esse deputado critica a visão de alguns esquerdistas de que
Direita é sinônimo de "vilania" (synonym for “baddie”). Usando uma expressão do
Gilberto Gil, o que tem de gente que se "arvora a ser Deus" não está
no gibi. E é aí que mora minha implicância e esta é a mensagem que encerra este post aguado:
O simples fato de alguém ser o fodástico em sua profissão ou atividade principal,
não implica na obtenção automática de um passaporte de santo ou de dono da verdade eterna. E é isso que a moçada de Esquerda tenta sacramentar.