Rememorando o que já publiquei aqui: um amigo
virtual me deu de presente dois livros do Millôr Fernandes em formato PDF. Um
deles é resultado de uma seleção de textos avulsos publicados ao longo de 50
anos em diversos veículos de comunicação. Segundo o próprio Millôr, “foi um
livro difícil”, pois começou com 13 mil tópicos levantados por três pessoas ao
longo de um ano. Depois desse trabalho braçal, o autor fez sua própria triagem
e reduziu o material a 5.142 verbetes, organizados em ordem alfabética.
Pois bem, estou empacado na página 304 de um
total de 588. Descobri – com certo pesar – duas coisas terríveis: primeiro, que
qualquer livro organizado em “textículos” (sejam piadas, aforismos ou
definições) pode ser a coisa mais chata do mundo para se ler, justamente por
não ter um fio condutor, uma narrativa que nos prenda e nos faça virar páginas
como quem persegue um mistério ou um personagem. O livro do Millôr não é assim.
Por isso, venho lendo a conta-gotas, sempre interrompendo a leitura.
A segunda descoberta é ainda mais incômoda:
ao fazer a seleção de sua obra, Millôr foi, digamos, generoso demais consigo
mesmo. Deixou passar frases enigmáticas que só faziam sentido para ele, piadas
sem graça, críticas políticas datadas e até textos já publicados em outros
livros. Em resumo: está difícil atravessar as 588 páginas apenas confiando no
prazer que sua ironia fina me causava.
Alguém aí achou que eu estava fazendo crítica
literária de um gênio do humor? Quebrou a cara! Fiz essa introdução para falar dos
meus próprios 14 e-books – que agora pretendo reduzir para seis ou sete.
Primeiro, vamos falar de seleção. Assim que
descobri que era possível publicar e-books na Amazon sem gastar nada, imaginei
quatro livros iniciais, baseados nas principais “vertentes” do Blogson: poesia,
contos e crônicas, textos de humor e desenhos. E esses foram efetivamente os
quatro primeiros publicados.
Mas, algum tempo depois, movido por uma
ansiedade esguichando por todos os poros e por um desejo insuspeitado de
publicar outros livros, mergulhei nos mais de 3.200 textos do blog. Foi aí que
deixei minha autoindulgência me guiar. Comecei a enxergar valor até no que era
claramente dispensável. E assim surgiram os outros livros.
A ordem de publicação foi esta:
O Eu Fragmentado – poesia
Meu nome é Ricardo – contos e crônicas
Confraria das Hienas – textos de humor
What a Wonderful
WORD!
– desenhos, colagens e experimentações gráficas
O Caso da Vaca
Voadora
– “causos” hilariantes contados por meu amigo Pintão
Só para Passar o
Tempo
– crônicas sobre antigos colegas de serviço
Garimpo de Palavras – mais poesia
Eu Só Sei Dezénhar! – mais desenhos
Diálogos de Spamtar – mais humor
Descompensado! – mais humor
Falando Sério – crônicas mais
sérias
Alucinações
Cotidianas
– crônicas e lembranças pessoais
A Mamucha da Laranja – mais desenhos
Ainda Ontem Eu Tinha
Vinte Anos
– mais lembranças pessoais e crônicas
A partir do quinto livro, comecei a me
incomodar com a seleção apressada que havia feito. Esse incômodo aumentou à
medida que lia o livro do Millôr e percebia que havia cometido o mesmo pecado
editorial: fui negligente na escolha dos textos, deixei passar material com
“prazo de validade vencido” e fui complacente com bobagens que deveriam ter
sido deixadas apenas no blog.
Foi então que decidi fazer uma nova
curadoria, mais crítica e criteriosa. Não para me penitenciar, mas para, quem
sabe, ser lembrado com um mínimo de simpatia pelo que de melhor (ou menos ruim)
eu produzi.
Qual é a proposta inicial? Por ser ainda um
processo em andamento, não há respostas definitivas, mas a ideia é esta:
- Transformar os dois livros de poesia em
apenas um. Essa tarefa já foi concluída.
- Transformar os três livros de “dezénhos” em
apenas dois, um deles dedicado às HQs e séries e o outro à produção avulsa.
Tarefa também concluída
- Deixar o livro da vaca voadora tal como foi
publicado, pois nada tenho a acrescentar ou excluir nos casos bizarros e
engraçados que ouvi um dia de um grande amigo, hoje falecido.
- Mergulhar nos três volumes de humor e
transformá-los depois de seleção ultrarrigorosa em apenas um. Esse processo
ainda está em andamento.
Como se vê, nove e-books originais se
transformaram em apenas cinco. O que fazer com os remanescentes eu ainda não
sei. Talvez transformá-los em, no máximo, dois volumes. Acho sensato destacar
que a quantidade de páginas não deve ser muito grande – só romancistas
superinspirados e geniais conseguem entreter os leitores por centenas de
páginas, fazendo com que quem chega à 900ª página de um livro caudaloso de
1.000 páginas lamente que o livro não fosse ainda maior. Um autor desconhecido
e com pouca inspiração deve dar-se por satisfeito se conseguirem ler suas obras
até a centésima página. Esse o motivo de pensar em dois e-books que abriguem a
mediocridade que se salvou dos cinco e-books originais.
E chegamos aos títulos e capas dos novos
livros. Minha vontade sempre foi publicar e-books eternamente gratuitos, desejo
obviamente impossível. Por isso, precisei escolher novos títulos e capas para
que pelo menos durante cinco dias os livros pudessem ser baixados de graça.
Talvez, depois de passado o período de gratuidade e por gostar de alguns dos
originais, eu revise tanto os títulos quanto as capas – mas isso ainda está
longe de acontecer.
Para finalizar, mais uma resposta para
pergunta inexistente: esta postagem provavelmente não terá interesse para
ninguém, só para mim, pois é um pró-memória das idas e vindas do Blogson Crusoe
e de seus rebentos.
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