Recebi este texto de um dos filhos - que não se preocupou em identificar o autor. Mas é um texto que eu gostaria de ter escrito, tão grande a identificação imediata que senti ao lê-lo, pois tudo o que já senti e pensei em relação ao Blogson está lá. E na falta do título original, escolhi o que me veio à cabeça. Espero que gostem.
No início era leve. Um passatempo. Algo que eu fazia por puro prazer, quase como quem resolve montar um quebra-cabeça num domingo chuvoso. Escrever no blog era uma distração curiosa, uma forma de organizar o caos das ideias e jogar conversa fora com um punhado de leitores imaginários — ou reais, vai saber.
Com o tempo, essa brincadeira se tornou hábito. E hábito, como se sabe, tem esse dom de se infiltrar sem alarde. De repente, eu me pegava pensando em textos durante o banho, anotando frases soltas no meio da madrugada, estruturando parágrafos enquanto lavava a louça. O blog, antes casual, virou extensão do pensamento. Tudo era potencial matéria-prima: conversas, irritações, leituras, absurdos cotidianos.
Não demorou muito para virar terapia. Não no sentido nobre da palavra, mas como descarga, como válvula de escape. Escrever passou a ser o único lugar onde eu conseguia ouvir o que estava pensando de fato. Às vezes, só descobria o que sentia quando lia o que tinha acabado de digitar. E isso tem sua beleza, claro, mas também seu preço: você começa a precisar da escrita como quem precisa de um ansiolítico leve. Vai tomando sem perceber o quanto está dependente.
Daí para o vício foi um pulo. O texto se impôs como necessidade, urgência, quase compulsão. Eu precisava publicar, precisava ter retorno, precisava sentir que estava sendo lido. Não tanto por vaidade, mas por uma espécie de angústia difusa: se ninguém lê, eu existo? Se não publico, ainda penso? Comecei a medir minha semana não pelo calendário, mas pelo número de parágrafos escritos. E quando os textos não vinham, o silêncio me incomodava como uma falha moral.
Aí veio a obrigação. A escrita virou tarefa, prazo interno, um chicote invisível que eu mesmo criei. Não podia deixar o blog parado. Afinal, havia quem esperasse, mesmo que fossem dois ou três gatos pingados — ou talvez só eu mesmo, disfarçado de leitor fiel. O prazer deu lugar à disciplina. A leveza cedeu à cobrança. Comecei a revisar demais, podar demais, hesitar demais. O texto precisava fazer sentido, precisava ter ritmo, precisava “valer a pena”. E quando se começa a pensar assim, muita coisa deixa de ser escrita.
E, por fim, o aborrecimento. Às vezes a vontade de escrever é igual à de limpar a caixa de areia do gato: sei que preciso, mas faço com cara feia. Um cronista que eu inventei e agora preciso alimentar. E nesse ponto, confesso, a escrita me cansa. Me trava. Me desgasta. Pesa como peso morto nas costas. E o mais irônico é que, mesmo assim, continuo. Talvez por teimosia. Talvez porque, depois de tanto tempo, escrever seja a única forma que encontrei de continuar conversando comigo mesmo — mesmo quando não quero ouvir a resposta.
E talvez seja isso: não se trata mais de escrever bem ou mal, com regularidade ou não, para muitos ou para ninguém. Trata-se apenas de reconhecer que a escrita é parte do que sou — e, como toda parte essencial, tem seus dias bons e seus dias inúteis. Tem seus encantos e seus custos. E mesmo assim, continuo. Porque parar seria estranho. Seria admitir que não tenho mais nada a dizer — e aí eu ia ter que lidar com a vida sem narrador. E, convenhamos, que graça teria?
Que interessante esta tua função de “funcionário do blog”! 😄 É curioso ver os bastidores e todo o empenho que colocas no teu espaço — dá vontade de inscrever-me como estagiário oficial!
ResponderExcluir💜 Desejo-te um ótimo resto de boa semana!
Com carinho,
Daniela Silva
🔗 https://alma‑leveblog.blogspot.com
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Oi, Daniela, obrigado pelos comentários sempre gentis e delicados! Apenas lembro que o texto de hoje não é de minha autoria, mesmo que traduza todos os sentimentos já vividos por mim desde a criação do blog.
ExcluirReproduzindo o verso de uma linda música brasileira, posso dizer "como não fui eu que fiz?"
Texto bacana, reflete de alguma forma os "viciados em escrever", mas é um pouco melodramático. Quando não tiver mas nada pra dizer, amigo-blogueiro-sem-nome, simplesmente não diga nada. Dizer por obrigação ou puro vício não deve fazer bem ao coração.
ResponderExcluirMas, tem vícios e vícios, e cada um lide bem com os seus. Escrever é um vício do bem mesmo que não se escreva bem.
Eu recebi pelo zap este texto de um filho que mora fora. Achei tão impressionantemente parecido com o que sinto que me fez lembrar da letra da música Certas canções: "que perguntar carece como não fui eu que fiz".
ExcluirConfesso que já fui mais "prisioneiro" ( e escravo) dos blogues do que sou hoje. Talvez da idade, 😁😁😁
ResponderExcluir.
Deixo saudações poéticas
..
“” Segredo que dói ““
.
Mesmo estando sem assunto e inspiração, este é um mal de que ainda padeço, caro Ryk@rdo.
ExcluirJotabê,
ResponderExcluirHoje passando só
pra ler sem comentar.
Mas siim venho
deixar meus votos de
um ótimo domingo.
Bjins
CatiahôAlc.
Ok, obrigado!
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