Mas estaria ele errado? O que poderiam dizer de mim, um idoso com carência afetiva de criança abandonada? Movido por minha onipresente e incurável ansiedade, retalhei posts do Blogson para publicar quatorze e-books. Se isso serviu de anestésico ou tranquilizante, hoje essa atitude me enche de vergonha. E é por isso que escrevi ter uma autocrítica implacável.
Hoje eu percebo ter publicado uma overdose de irrelevâncias. Quantos e-books eu deveria ter feito? Quatro, dez, nenhum? Porque na prática, 99% do que já escrevi ou é lixo puro ou apenas “literatice”.
Acessando via KDP o desempenho dos e-books, fiquei surpreso ao descobrir que cinco deles não tiveram sequer um mísero e solitário acesso. Se eu os publiquei para “deixar minhas pegadas na Terra”, então posso estar tão fadado ao esquecimento quanto sondas espaciais que, depois de ultrapassar os limites do sistema solar, seguem para sempre incomunicáveis pelo espaço interestelar.
Para ilustrar minha irrelevância “cósmica”, apresento a lista dos e-books com sua classificação no “Ranking dos mais vendidos” da Amazon (o que me deixou surpreso foi descobrir que o livro melhor classificado é o e-book de desenhos):
237.010º - What a Wonderful Word! (desenhos e humor gráfico)
435.753º - Meu nome é Ricardo (contos e crônicas)
474.815º - Descompensado (humor)
477.691º - Falando Sério (auto explicável)
556.100º - O Eu Fragmentado (poesia)
607.266º - Alucinações Cotidianas (papo cabeça)
655.710º - Garimpo de Palavras (poesia e crônica)
704.570º - O Caso da Vaca Voadora (memórias)
966.429º - Confraria das Hienas (humor)
Agora preciso decidir o que fazer com os cinco que não interessaram a ninguém. A opção mais fácil é removê-los – embora isso mexa um pouco com meu perfil de acumulador. A outra hipótese é sua fusão em dois ou três novos e-books. Talvez seja um bom momento para revisar tudo o que foi publicado, adotar novas capas e, quem sabe, traduzir para quatro idiomas (piada!).
Mas tudo bem. No fim das contas, meus e-books seguirão vagando pelo espaço digital como lixo cósmico, ignorados tanto por leitores quanto pelas próprias sondas Voyager, que, ao menos, ainda carregam um disco de ouro com uma chance mínima de serem encontrados por alienígenas. Talvez o melhor seja aceitar logo a verdade: meus livros são tão atraentes quanto um panfleto de troca de óleo deixado no para-brisa do carro. E começo até a dar razão ao texto recebido do parente de minha mulher, quando escreveu que “Já não tenho mais paciência para fingir interesse em mediocridades alheias só para que leiam as minhas, pois qualidade literária na internet é tão rara como a existência de vida no universo". Em falta até mesmo no interior das sondas Voyager. Estou cansado, estou realmente muito cansado.