Hoje aconteceu uma coisa estranha: minha cunhada, com pena da pedreira que tenho encarado como homem dólar (do lar), sempre envolvido com a limpeza da casa e dos utensílios de cozinha, lavagem de roupas e suporte para minha mulher, pagou uma faxineira (excepcional) para dar um grau aqui em casa. Mas a mulher é obcecada por limpeza e toda hora me perguntava alguma coisa:
Dizem que, numa noite sem lua, o Olimpo fechou as portas para um congresso extraordinário das criaturas que os deuses preferiam esquecer. Vieram todas, das mais temidas às mais ridicularizadas.
A Esfinge, altiva, abriu a sessão com um enigma que ninguém quis resolver. O Minotauro mugiu impaciente, afirmando que a única coisa que desejava era um labirinto menos úmido. Hidra de Lerna tentou tomar a palavra, mas cada cabeça falava ao mesmo tempo, e o secretário – um Cérbero burocrático – pediu ordem, latindo em grego arcaico.
Das profundezas do mar surgiu Kraken, ainda pingando algas, reclamando que os humanos já não acreditavam nele, preferindo tubarões de cinema. Nuckelavee, aquele pesadelo das ilhas britânicas, se queixou do sol escocês que nunca lhe fazia bem à pele inexistente. E Anhangá, guardião das florestas, entrou furioso: ninguém mais o respeitava, nem os madeireiros, nem os políticos.
No fundo da sala, vampiros e lobisomens riam baixo, convencidos de que eram as únicas celebridades ainda contratadas para filmes e seriados. Górgonas reviravam os olhos, petrificando sem querer alguns estagiários.
E ali, entre resmungos e queixas, surgiu a questão central: “O que fazer para não sermos esquecidos?”
A Esfinge suspirou:
- Talvez devêssemos mudar de estratégia. Não assustar, mas seduzir. As pessoas gostam de monstros domesticados.
O Minotauro ergueu-se, indignado:
- Eu, mascote de pelúcia? Jamais!
Mas no fundo, todos sabiam: nada é mais monstruoso para uma criatura lendária do que o esquecimento.
Naquela noite, decidiram firmar um pacto: aparecer de vez em quando, discretos, em sonhos, em livros, em histórias contadas ao pé da cama. Não para devorar, mas para lembrar. Porque os monstros, afinal, também são a memória da humanidade.
E desde então, se alguma vez você sonhou com asas, dentes, tentáculos ou enigmas sem resposta… talvez tenha sido só um monstro passando para não ser apagado.