sexta-feira, 26 de abril de 2019

TUDO O QUE É VOLÁTIL UM DIA SE EVAPORA (SPOILER)


No início da década de 1970, por não ter dinheiro para ser playboy, mauricinho, metrossexual ou outra designação para os jovens endinheirados que se exibiam com roupas caras, carros do papai ou deles próprios, tudo o que eu queria era ser alternativo, diferente, único (a carência afetiva já estava presente). Por isso, tentava ser o mais descolado possível. Pois, como cantou o Herbert Viana, "era mais fácil se eu tentasse fazer charme de intelectual". E uma das formas que encontrei foi comprar revistas e jornais alternativos de que ficava sabendo através da leitura do Pasquim ou pesquisando em bancas de jornal. 

Graças a isso, comprei (e ainda tenho) os tabloides "Flor do Mal" (apesar de terem saído cinco números, só tenho um), "Presença" (de título suspeitíssimo - "Vou ali fazer uma presença"), a edição brasileira de "Rolling Stones" e "Jornal de Amenidades". Além desses, comprava as revistas de humor e cartuns "O Grilo" (que começou como tabloide caretinha e passou a revista com o melhor do circuito alternativo internacional), "O Bicho" (que durou oito números) e "Fradim".

Flor do Mal, O Bicho, Fradim e Jornal de Amenidades foram produzidos por antigos colaboradores do "Pasquim". À exceção do "Grilo" e "Fradim", o que essas publicações tiveram em comum  foi a curta existência, o caráter efêmero. Uma dessas publicações merece um comentário extra-literário. O Jornal de Amenidades (JA) foi criado por Tarso de Castro, um cara que comeu a Candice Bergen, uma das atrizes mais lindas da época - que tempos depois confessou ter sido ele o grande amor de sua vida (estou me sentindo como se fizesse parte da bancada do programa da Sonia Abrão).

Estava pensando nisso, nessa transitoriedade de alguns meios e formas de comunicação, justamente por comparar os blogs atuais com a "imprensa nanica" da década de 1970. E explico: o blogroll (chique, não?) do Blogson Crusoe contém os links de cinco blogs: "A Marreta do Azarão", "Casal Geek", "MaLuComg", "Mixidão" e "Um Sábado Qualquer". Mesmo sem fazer parte do “blogroll”, há mais um - "O Elemento Jota" - que eu sempre bisbilhotava. Curiosamente, desses seis blogs que acompanhava, só metade está “positiva e operante”. O "Casal Geek", equivalente ao "Jornal de Amenidades" está (segundo seus criadores) definitivamente desativado. O "Mixidão", simpaticíssimo e premiado blog de receitas lindissimamente desenhadas (para analfabeto culinário nenhum botar defeito) está há um ano paralisado. E o Elemento Jota, com seus poemas incríveis e imagens perturbadoras, simplesmente sumiu, foi retirado da internet por sua titular. Sobraram apenas os "heróis da resistência" "Blog do MaLuCo", comandado por uma estrela da administração empresarial de alto nível, o "Um Sábado Qualquer" (que parece ter perdido o gás criativo - mas não o tino comercial) e o divertido "A Marreta do Azarão" (que teve as pernas quebradas por conta de sua falta de modos, por sua recusa a ajoelhar-se diante do censor).

E que lições, informações ou correlações esses blogs trazem para o “blog da solidão ampliada”? A única possível, que é a efemeridade desse tipo de comunicação. Como na maioria das vezes não se lucra nada com um blog, a única coisa que o mantém vivo é a postagem não muito espaçada de imagens, ideias, piadas, crônicas, desenhos, reflexões do titular do blog. Mas até isso um dia acaba (ou torna-se tão esporádico que ninguém mais se lembra de acessar o blog). O desejo acaba, a inspiração desaparece, a criatividade evapora-se e o tesão – que coincidência! – simplesmente desintegra-se. É isso que tenho sentido frequentemente em relação ao velho Blogson. Aparentemente, a fonte secou Ou, como diria o Drummond, “o dia não veio,o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou”.

Tenho ficado maçante e repetitivo por estar sempre voltando a esse assunto nas postagens recentes do blog, mas aqui é minha blogoterapia, meu lugar de desabafar. E o sentimento é real, passa longe de chantagem emocional. Aliás, que chantagem seria essa se não há ninguém a chantagear? Na prática, creio ter dito tudo o que queria dizer. Além disso, estou escrevendo pior a cada dia que passa. E isso me incomoda muito. Acho que cansei de tentar ser o que não sou. Cansei de tentar garimpar alguma pepita em um solo cada vez mais estéril e difícil de cavar. Aproveitando os versos dramáticos de Caymi, só "me resta o cansaço, cansaço da vida, cansaço de mim. Velhice chegando e eu chegando ao fim". 

Por isso, este é só mais um aviso: o blog vai mesmo acabar. Mas há uma coisa que não posso deixar de registrar: o meu riso, a minha alegria e a minha gratidão ao ler os comentários engraçados, elogiosos, encorajadores e sem noção que dois amigos virtuais (a quem quero muito bem) fizeram ao longo do tempo. Esses para sempre desconhecidos "amigos" são os titulares do Marreta e do Elemento Jota. Se esses dois malucos não existissem, é provável que o velho Blogson já tivesse fechado as portas há muito tempo.

E como o blog vai mesmo acabar, já tem até data para isso acontecer: 07/06/2019, quando completará cinco anos de existência. De hoje até lá, são 42 dias. Poderei postar o que quiser o que me der na telha. Acho difícil mas não improvável. Mas o último post (que o Marreta já leu) está pronto há muito tempo. Nesse dia, farei como cantou o Chico: “baterei o portão sem fazer alarde, com a leve impressão de que já vou tarde”.


12 comentários:

  1. Nossa, nem acredito que voce escondeu tudo isso das traças e do tempo, JB. Lembrou-me de que quando eu tinha uns cinco anos, peguei a coleção de revistas da minha mãe e recortei tudo com a minha poderosa tesoura amarela e sem ponta. Foi igual recortar os peixinhos das notas de cem. A minha mãe, senhora das lições de paciência que invejariam até o Dalai-Lama, mas que entra em crise por conta de uma flor colhida antes do tempo, nem deu bola, nem fez alarde. Quem chorou ao ler os recortes e me dar conta do que tinha feito fui eu. Deixa disso, JB. Eu, como outros, gostamos muito do que voce escreve e esperamos lê-lo muito mais tempo.
    "J"

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    1. Esta é uma decisão tomada há muito tempo, e não tem volta. Até o aniversário do Blogson (que também é o meu aniversário), poderei postar o que quiser No dia 07/06/2019, entretanto, sairá apenas um único post, o último. O Marreta gostou. Mas, se um dia eu me arrepender de ter capado o Blogson, talvez eu crie um novo.Que acha desse título "O Elemento Jotabê"?

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  2. Vai acabar é o caralho que vai!!!
    O Elemento Jotabê? Tá é de saliência pra cima da Jota, né?
    Tá querendo se fundir, se mesclar, se imisciur, acasalar com a Jota!!!

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    1. Hahahahahaha!!! Mas não é você que gosta dos meus trocadilhos?

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  3. Hahaha o choro é livre, mas eu ainda prefiro o bom e velho Blogson Crusoé. Mas se o caso for uma boa paródia ja dei muitas risadas com aquele filme O fantastico Robin Crusoé (1966).

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  4. Gosto muito dos seus trocadilhos.
    Também estou devagar com o Marreta. Tenho dois textos rascunhados, um no papel e outro na cabeça, mas cadê vontade, tempo, ânimo de me sentar e digitá-los e burirá-los.
    Vamos levando, Jotabê, vamos levando... sem muito compromisso de nada; principalmente com a gente mesmo.

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    1. Se eu utilizasse seu processo criativo o blog nem teria começado. Como meu pensamento é caótico, às vezes começo pelo meio do texto ou pelo final. E só à medida que vou digitando é que vou percebendo a ordem que prevalecerá. É um copicola desgraçado. Além do mais, "rascunhar um texto na cabeça" é tarefa quase impossível, pois já perdi uns dez posts simplesmente por não saber mais o que pretendia dizer a partir de uma frase ou ideia registrada apenas na cachola. "Na idade em que estou aparecem os vícios e as manias"...

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Não se renda, Jotapê, desistir do blog poucos meses depois de eu descobrir? A sensação sempre é muito ruim, já tive parceiros que desistiram dos blogs que tinham, desde que comecei, alguns deles acabaram se juntando ao meu, sem querer voltar para os deles. Realmente, sei que muitas vezes dá raiva, muitas vezes eu só tenho vontade de cair fora e deixar o blog com outros donos, até o fiz isso uma vez, por um trimestre. Mas vai parar de escrever e deixar o blog no ar? Ou querer que tudo suma nesse espaço?

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    1. Meu caro Ozymandias, o blog não será excluído, só ficará "abandonado". Quanto ao fato de você ter descoberto o blog há poucos meses, não se grile, pois existem 1570 posts para você acessar. A propósito, meu nome é José Botelho Pinto... (este nome é real!). Por isso, o apelido no blog é Jotabê, não Jotapê. Mudando de assunto: chegou a ler o post "Uma breve histórias da des(h)umanidade"? Se tirar a introdução e o comentário final, sobra um texto meio delirante que gostei muito de escrever.

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    2. Vou salvar para ler com calma mais tarde, tava até conferindo, por sorte errei o "Jotabê" só por aqui mesmo. Vi o senhor comentando lá duas vezes, nos posts do Val Kilmer, mas não sei sei viu minhas respostas. De qualquer jeito, foi um progresso. Eu arriscava que o blog tinha pouco mais de 100 posts, por ver poucas tags. Para facilitar o acesso, recomendo colocar o gadget do blogger, que mostra as postagens por ano. Como tem lá no meu, no final da página no canto direito. Assim eu posso ir olhando por mês e ano, como se fosse um catálogo numa biblioteca.

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    3. Meu caro Ozymandias, Não sou auto suficiente nesses baratos de blog. Para ser sincero, sou limitadíssimo mesmo. O marreta chegou a me dar umas dicas, mas não consegui implantá-las. Como disse a Marina Lima, "deve ser da idade". Quanto à divisão por ano, eu preferi não utilizar. Achei melhor indexar os posts por estilo. Assim, ao abrir qualquer post, encontrará à direita a coluna "Marcadores", com 15 opções de estilo e estados de espírito. Clicando em uma "seção", serão exibidos posts nela indexados. A título de sugestão (pela sua pouca idade) dê uma olhada nas postagens agrupadas em "Papo Cabeça" ou "Humor - Sem noção".

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