Não existe nada
mais nerd que um geek. Da mesma forma, não existe nada
mais geek que um casal
de geeks. Quem leu essa frase e
não entendeu, não precisa se preocupar pois é só uma frase de efeito que eu também não entendi - e nem sei se faz algum sentido! Ela surgiu
na minha mente poluída apenas para falar da minha reverência de hoje,
justamente para um casal de geeks que conheço, ou melhor, justamente
para o “Casal Geek”.
Para quem se
interessar em conhecer (vale a pena), o link é esse: http://blog.casalgeek.com/
Como conheço os
dois pessoalmente, sou suspeitíssimo para falar sobre eles, pessoas do extremo
Bem. São divertidíssimos, agradabilíssimos e todos os íssimos positivos. Mas o que interessa é que os dois escrevem
bem pra caramba e o blog é muito legal. O único reparo que faço é que para mim,
o blog deles é uma zona, pois nunca consigo encontrar nada, tal a quantidade de
informações nele contidas. E como sou do tempo da escrita cuneiforme, fica
difícil navegar pelo blog.
Apesar dessas
minhas limitações digitais,
consegui encontrar dois textos excelentes, um de autoria do Gustavo Coelho e o
outro da Fernanda Lacerda. Esses são os nomes dos malucos. Espero que se
divirtam.
Em tempo: limitação digital também é
encontrada em quem teve amputado um ou mais dedos (Jotabê também é ciência).
COISA DE POBRE (Gustavo Coelho)
Pobre que se preze não chama um amigo para jantar
em sua casa. Pobre de verdade chama a moçada para um churrasco:
- Grande Robervânio!
- Opa! Wanderley, quanto tempo!
- Pois é, rapaz! A gente 'tá precisando colocar a
conversa em dia!
- Vamos marcar de tomar umas!
- Tá marcado então! Sábado à tarde lá em casa!
- Lá pras cinco, pode ser?
- Claro! A gente coloca uma carninha pra assar e
fica tomando uma cervejinha lá na laje!
- Combinado! Até sábado então!
- Até mais!
Tudo bem que gente com grana também gosta de fazer
churrasco, mas "assar uma carninha" é coisa de pobre, assim como
andar de ônibus. Aliás, não há nada que se caracterize mais como "coisa de
pobre" do que andar de ônibus:
- Ô gente! Vamos dar um passinho aí pra trás pro
pessoal entrar!
- Não cabe mais ninguém, trocador!
- É! Tem até um tiozão me encoxando aqui, de tão
lotado que está esse ônibus!
- Esse rapaz aqui não pára de encostar o seu
negócio no meu ombro também!
- Eu já pedi desculpas, minha senhora! Além disso,
a senhora não deveria reclamar tanto, porque está sentada confortavelmente.
- Eu ficaria mais confortável se você parasse de encostar
esse troço no meu ombro!
- Ô gente! Dá um passinho pra trás aí, por favor!
- Não dá!
- Anda, motorista! Tá lotado!
- Ô gente! O pessoal precisa entrar! Tem um lugar
vago ali! Alguém podia sentar, pelo menos, pra dar um espacinho no corredor!
- Senta você então, magrão! Se desse, alguém já
teria se sentado ao lado dessa gordatcha!
- Mais respeito, rapaz!
- Minha senhora, por que a senhora acha que ninguém
se sentou ao seu lado?
- ...
- Por causa dessa bunda enorme! A senhora sabe que
eu mesmo tentei me sentar ao seu lado, mas acabei sentando sem querer em uma
banda do seu culote.
- Mal educado!
- Pode me xingar do que quiser, mas a senhora não
vai deixar de ocupar um assento e meio.
- Ô gente! Um passinho aí pra trás...
- Nossa! Não suporto trocador que fica mandando o
pessoal arredar quando não cabe mais ninguém no ônibus!
- Nem eu! Não vejo a hora de comprar um carro!
- Eu também! Andar de ônibus é coisa de pobre!
VERGONHA E PRECONCEITO (Fernanda Lacerda)
Quem me conhece sabe que adoro um papo, com raras
exceções. Conheço uma pessoa e logo logo ela está me contando tudo da sua vida.
Comigo sempre foi assim. Acho que é porque gosto de gente e de saber suas
histórias. Só que tem dias em que você encontra alguém desagradável, que não
deveria nem sair de casa, quanto mais ter aprendido a falar, porque a pensar eu
acho que elas definitivamente não aprenderam...
Hoje, na sala de espera do médico, me deparei com
uma pessoa extremamente desagradável. Eu não estava a fim de papo, queria só
ser atendida e vir embora pra casa tomar uma água e fugir desse calor
horroroso. Mas eu atraio...
Ela sentou e já começou a falar, numa associação
livre que faria inveja a qualquer paciente em terapia.
Difícil entender a linha de raciocínio da mulher.
Num determinado momento, ela começa a falar de um programa de TV, jurando que
um dos convidados que se dizia heterossexual estava mentindo. Para ela o cara
deveria se assumir ali mesmo, em frente às câmeras, sem se preocupar com sua
esposa e família. Essa mulher dizia ainda que gay não é normal, e que acha
inaceitável existir uma família que não seja papai, mamãe e filhinhos. Segundo
ela, um casal de gays não seria capaz de criar filhos porque Deus não aceita
isso, e que esse filho cresceria com problemas e precisaria de muita terapia.
Eu não gostei do jeito dela e principalmente das
coisas que ela falava. Anormal é ela que ainda pensa assim, e ainda é capaz de
gritar na sala de espera, o que fazia todo mundo olhar pra nós.
Falei para ela a minha opinião, que é completamente
contrária à dela, dizendo que desde que o casal (aí não importa se é
mulher-homem, mulher-mulher, homem-homem, mulher-homem-homem ou mulher... Ui!!!
Fiquei até confusa. São tantas possibilidades..) se respeite, que haja entre
eles um acordo e eles expliquem pra criança como é aquele ambiente, não há
problema nenhum.
Mas a pessoa insistia que não era aceitável, e num
determinado momento começou a falar sobre fetiches. Perguntou se eu assistia um
programa de sexo que passa na TV, que mostra diversas formas de diversão para
adultos. Além de não ficar confortável com ela gritando os tipos de fetiches
que ela achou estranho, achei curioso que uma pessoa tão pudica e conservadora
assistisse esse tipo de programa. Mas é como dizem, quanto mais cheia de
conservadorismo é a pessoa, mas desejos reprimidos ela tem.
Falei que a TV está aí pra todos os gostos,
tamanhos e, especialmente pra ela, fetiches. E que assiste quem quer. Mas ela
insistia na questão dos gays. Cheguei a pensar se ela estava me testando, pra
ver se eu topava um café mais tarde, mas ela viu que essa não era minha praia.
Até Nero e Julio César entraram na história. A
conversa acontecia, e eu doida pra ser chamada pelo médico. Cheguei a levantar
2 vezes, falar que estava atrasada, e nada dela sair dali, ou parar de falar
essas bobagens.
O fato é que ela me deixou muito constrangida, mas
não do tipo que me dá vontade de abraçar a pessoa e ajudá-la a sair da situação
constrangedora (como me deu vontade de fazer com a Vanuza, ao errar o hino
nacional). Era um constrangimento por ela ser tão burra e tão cega na sua
ignorância, que me fez pensar como que uma pessoa ainda pode determinar se uma
pessoa é boa ou não, merecedora do apreço dela ou não, pela opção sexual.
Parece um assunto tão bobo, tão falado e que a
gente acha que não tem mais tabu, mas tem sim. Tem de forma velada e de forma
explícita, como o caso dela. Aliás, não tiro o direito dela de dizer o que
pensa. Não é essa a questão. O que me incomodou foi ela achar que os gays não
são normais, e o preconceito e intolerância estampados nela, fora a certeza que
ela demonstrou de que o melhor pra ela é o melhor para o mundo. Se fosse assim,
se o melhor pra gente fosse o melhor pro mundo, eu gostaria que ela
desaparecesse. Será que vai funcionar? Tô tentando...
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