domingo, 30 de novembro de 2025

TRISTE - ALBA ARMENGOU // JOÃO GILBERTO

 
Enquanto estava internado no hospital como acompanhante de minha Amada, acordei pensando na letra de uma música que sempre achei linda. Composta pelo “maestro soberano” Tom Jobim, tem ou teria alguma conexão com a tristeza em que tenho vivido e sentido. Mas é linda em qualquer época e de qualquer jeito. E por ser tão linda, resolvi fazer uma postagem no estilo “barba, cabelo e bigode” – a letra da música e dois  links com interpretações   magníficas.
 
O primeiro link é o vídeo de uma apresentação da Sant Andreu Jazz Band   de Barcelona,  Catalunha. Fundado em 2006 na Escola Municipal de Música de Sant Andreu, esse grupo tem a característica de gostar da música brasileira, sendo formado por jovens instrumentistas na faixa de sete a vinte anos.
 
O segundo link traz nosso João Gilberto com sua voz e batida de violão  deliciosa e inconfundível.
 
Triste é viver na solidão
Na dor cruel de uma paixão
Triste é saber que ninguém pode viver de ilusão
Que nunca vai ser, nunca vai dar
O sonhador tem que acordar
 
Tua beleza é um avião
Demais prum pobre coração
Que para pra te ver passar
Só pra me maltratar
Triste é viver na solidão
 




quinta-feira, 27 de novembro de 2025

ORGULHO DE QUE, MINHA SENHORA?

Urgente: A AmBev acaba de suspender as férias de todos os funcionários, para reforçar  a produção de cerveja.

Minha estadia forçada no hospital provocada pela internação da minha amada tem-me impedido de postar alguma coisa minimamente interessante. Por isso, para aproveitar uma piada que recebi pelo zap, pedi ao sobrinho com quem tenho mais contato para reproduzi-la no blog. Dei a senha e demais dados necessários, além do texto adaptado sobre a prisão do Bolsonaro. Ele atendeu, mas não formatou nem colocou o título.
 
Isso não foi tão ruim, pois posso agora fazer uma correção e incluir um comentário. Escrevi esse texto a mão no hospital para ser digitado quando eu fosse à nossa casa para pagar contas, tomar banho, trocar de roupa, pegar coisas que estejam faltando, etc.
 
Minha amada está sem dor e 90% lúcida, embora ainda sem definição sobre os próximos passos. Só tenho mais um texto programado; depois disso, silêncio.
 
Uma das enfermeiras do andar onde minha mulher está internada, ao ver na TV a notícia da prisão do Bozo, comentou algo assim:
- Conseguiram tirá-lo da eleição...
 
Perguntei o que ela pensava dele e a resposta petulante e apaixonada foi:
- Sou bolsonarista com muito orgulho!
 
Esse tipo de pensamento me causa perplexidade. Como pode uma profissional da área da saúde aprovar e admirar um sujeito negacionista, defensor de medicamentos ineficazes, capaz de dizer barbaridades sobre quem estava morrendo durante a pandemia, que atrasou a compra da vacina contra a COVID, atraso injustificável se pensarmos nas pelo menos cinco mil vítimas que poderiam ter sido salvas se a compra salvadora fosse feita tão logo as vacinas ficaram disponíveis?
 
Como pode uma pessoa com título universitário de enfermeira ser tão obtusa assim, ao ponto de deixar que a crença cega em um idiota a tornasse incapaz de enxergar a tragédia da responsabilidade seu ídolo?
 
Pensei, mas nem vou perguntar: o que ela pensa sobre as três versões apresentadas por seu mito para danificar a tornozeleira eletrônica que usava?
 
Parece que as crenças cegas são sempre superiores à razão. Idiota!!!
 
Se seu ainda bebesse, compraria a cerveja mais cara para comemorar essa prisão e, claro, deixaria as marcas mais baratas – mesmo que boas – para aplacar, para anestesiar a frustração e o ódio dos tolos e apoiadores radicais do Cavalão.

TODO HOMEM É MINHA CAÇA - MILLÔR FERNANDES

 
Este texto encerra o livro que nasceu da garimpagem minuciosa de 5.142 textos e frases produzidas por Millôr Fernandes ao longo de toda a sua vida  materiais espalhados por inúmeros veículos de comunicação e agora reunidos sob o título Millôr definitivo: a bíblia do caos.
Trata-se de um texto profundamente desencantado, livre de ilusões, e, ao mesmo tempo, desconcertantemente sincero. Justamente por isso, por sua força e honestidade crua, resolvi reproduzi-lo na íntegra aqui no blog.
 
 
O livro Todo homem é minha caça, nome inspirado num poema do inglês Pope, mostra minha profunda descrença no ser humano – que eu sou. E olhem que jamais procurei um homem perfeito. Nunca tive admiração pelo “If”, de Kipling – poema fascistóide em que o genial propagandista do Império Britânico esculpe um homem de mármore, com “qualidades” que fariam desse ser, se existente, um chato perfeito. E não me espanta que Alekos Panagulis, o Homem de Oriana Fallaci, o super-herói dessa mulher em geral tão dura, fosse um admirador exatamente do “If”. Tinha esse poema enquadrado, como qualquer executivo (vi, através da vida, inúmeras cópias emolduradas em escritórios de luxo) mediocremente mercantil. Heróis nunca me iludiram. Quando caço o homem, como Nemrod na Bíblia, e procuro alvejar individualmente o mesquinho, o covarde, o safado, o hipócrita, o corrupto, o incompetente e, coletivamente, a medicina, a política, a psicanálise, o jornalismo, o economismo, com suas pretensões, falhas, fraquezas, egoísmos e sandices (que são as minhas, eu nunca esqueço; só que eu nunca esqueço; a maior parte das pessoas nem se lembra) não estou preocupado com essas falhas e defeitos insanáveis, mas com o inevitável fim a que isso leva – a desumanidade do homem para com o homem. Mas, ai!, não resta alternativa – nada me interessa mais do que o ser humano. A partir de um certo momento da vida minha maior diversão passou a ser conversar longa, lenta, interessadamente, com alguém. Mas uma pessoa só. Quantas vezes, na calma do meu estúdio, atravesso a tarde e penetro pela noite, falando a alguém que veio me procurar. Interrompo o trabalho mais premente – a princípio aborrecido com a intromissão – e de repente me vejo profundamente ligado a uma pessoa que nunca vi, num psicanalismo bifronte e gratuito (o único válido; o unilateral e com guichê na porta é uma contrafação) arte pela arte no seu melhor momento. E, vejam bem, essas conversas são, indiferentemente – honni soit qui mal y pense – com homem ou mulher, jovens ou velhos. Daí vem muito o meu conhecimento do outro lado, a certeza de que ninguém quer ser mesmo torturador, todo mundo gostaria de ser generoso, não há quem não tenha uma justificativa absolutamente correta pro seu erro, seu mau caratismo, seu péssimo humor, sua violência. Mas as justificativas não eliminam o fato de que todos nós só queremos a nós mesmos; o irmão que se rompa. Mesmo o mais humilde, o “sacerdote” mais “santo”, a sua vanglória o arrasta, pelo menos, a querer ser “o mais humilde do ano”. Estão aí Dom Hélder e Madre Teresa de Calcutá que não me deixam mentir. Humildes, sim, mas que ninguém duvide disso! Mesmo o herói indubitável, aquele que tirou alguém do incêndio – e quantas vezes me digo: “Bem, aí está um entre as chamas, aí está a salvação”, – quando o conheço melhor, descubro que é, na vida diária, usurário de pequenos empréstimos ou mercador de remédios falsificados. É só ler uma enciclopédia com olhos abertos para ver que não houve exceção – todos os “libertadores” foram posteriores tiranos, quase sempre “Salvadores Perpétuos” da pátria a ferro e fogo (e muito pau- de arara); as sociedades filantrópicas se transformaram sempre, quando já não eram assim em intenção, em fontes de suborno e locupletação; as ideologias, feitas em nome do homem, logo servem à glorificação e/ou gozo material de ideólogos, e a consequente exploração da coletividade. Humorismo é a visão cética no seu mais profundo sentido. Redentora. Aquela que nos permite, honestamente, variar sobre a imagem cansada e repetir: “O homem está nu!“ É a única que vê o herói César depilando seu corpo para – cito Suetônio – ser “O homem de todas as mulheres e a mulher de todos os homens”, e não o herói shakespeareano. Que vê Napoleão sabendo se proteger muito bem nos campos de batalha porque, naturalmente, isso importava muito mais para a glória da França do que qualquer preocupação com (outras) vidas humanas. Que vê Baden Powell, o do escotismo, produzindo um “heroico” extermínio de negros na guerra dos Boers. Que vê todos os grandes experts em pintura da Europa depondo num tribunal holandês contra o pintor falsário Van Meegerem – aqueles mesmos que, durante anos, impuseram aos europeus as falsificações dele como peças autênticas – até que ele desmascarasse tudo e todos, falsificando um quadro diante de seus próprios juízes. Que sabe que os grandes negócios escusos (há outros?) internacionais são feitos em camas milionárias, resolvidos em iates de luxo, decididos em banquetes filantrópicos, planejados em todos os lugares dourados do mundo. É aí que, impunemente, se decide a morte de milhões de miseráveis que jamais saberão que sua fome e sua degradação foram negociadas a milhares de quilômetros de distância, num Méditerranée ensolarado. Só a descrença total pode trazer alguma solução. Só o ceticismo integral pode começar a produzir um mínimo de verdade, criar um sentimento de maior aproximação com o outro ser humano assim mesmo como ele é; quer dizer, a partir do conhecimento de sua crapulice, de sua mentira, de sua quase-absoluta incapacidade de corresponder. Só a aceitação desse ser centralizado definitivamente em seu próprio umbigo (religiões e ideologias, uma tentativa comercial de apresentá-lo de maneira diversa, só têm feito criar monstros sagrados, cada vez maiores à medida que as populações aumentam e, com elas, os recursos da tecnologia da comunicação) pode nos conduzir a um suportável convívio. Por mim, acho que já aprendi a conhecer o ser humano que sou eu mesmo, meu irmão homem. Já sei até seu nome – Caim. Não adianta toda a minha racionalização, não adianta eu olhar no olho de todo e qualquer interlocutor e saber que cada palavra dele – um imenso código sempre mais complicado – não corresponde a nada do que ele é. O sentido de humor, que me faz ver sempre falho – porque a mim não me vejo de outro modo – me mostra toda a complexidade das relações humanas como uma coisa extraordinariamente engraçada, mesmo quando dramática, mesmo quando odiosa, mesmo quando mesquinha. Pois fora do ser humano a vida não tem enredo. Fora do ser humano não há salvação. Não resisto a um ser humano

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

A PRIMEIRA VEZ - JOÃO GILBERTO

Hoje eu acordei cantarolando estes versos: “Procuro esquecer a dor, não sou capaz. Meu violão não toca mais”.  Mesmo conseguindo cantá-la quase toda, não consegui me lembrar quem gravou essa música. Só agora, procurando na internet, descobri que foi meu ídolo João Gilberto, em um dos três primeiros LPs que lançou (eu tenho os três. Sorry, periferia).
 
Por estar em total sintonia com ela, resolvi compartilhar com os malucos que acessam este blog em processo de desmame (porque para conseguir ficar livre das drogas talvez você precise ir devagar) o divino som do violão desse outro maluco. E por não saber versejar eu uso os versos de outros para tentar - quem sabe? - um pouco a dor que eu sinto, expressar. 


segunda-feira, 24 de novembro de 2025

SEMPRE DE VOLTA PARA O FUTURO

 
Li no portal Carta Capital um artigo publicado no início deste mês tão interessante que até tentei copiá-lo para postar no blog. Infelizmente, só consegui as primeiras frases – o resto estava bloqueado. Mas eu sou brasileiro e não desisto nunca, ainda mais depois da criação do ChatGPT. Então, passei a ele a missão de ler o artigo e fazer um resumo para mim. E não é que o danado conseguiu?
 
O que me chamou a atenção no texto foi a maneira como o autor aponta e critica as burrices e equívocos cometidos no país desde a época do Brasil Colônia. Veja só esta passagem:
 
“A explicação de nosso atraso principalmente em face do desenvolvimento acelerado da China, não se deve à disparidade dos números, mas à sua causa.
O atraso seja político seja econômico sempre foi a ideologia da classe dominante aqui instalada pelas naus portuguesas, dependente da irmandade siamesa entre latifúndio e escravismo. O primarismo fez-se valer como necessidade da política de posse de terra, alternativa à colonização para a qual Portugal carecia de meios. Assim, com as nuances impostas pelo processo histórico, o atraso estrutural chega ao capitalismo e à República nos meados do século XX, impondo ao novo regime, no contrapelo da modernidade prometida, o modelo colonial da plantation, voltado para a exportação”.
 
Enquanto isso, a comunista China fez um esforço gigantesco para se transformar na prática em um país capitalista com governo autoritário. Para mim, os números, as estatísticas e os comentários mostram por que o Brasil talvez esteja condenado a ser o eterno “país do futuro” – e por que a China provavelmente ocupará o posto de superpotência hoje nas mãos do país do “cabelo de milho”.
 
A seguir, apresento a síntese produzida pela IA. O autor do artigo é Roberto Amaral (muito prazer, não o conhecia). Lêaí:
 
 
O atraso brasileiro frente ao avanço chinês não se explica pelos números em si, mas pelas causas que os produzem. Desde a colônia, o Brasil foi guiado por uma elite agrária e dependente, herdeira do latifúndio e do escravismo, que transformou a exportação de produtos primários em política de Estado. Mesmo com a República, a Revolução de 1930 e o surto industrial dos governos Vargas e JK, a ideologia conservadora sobreviveu: a crença liberal na “vocação agrícola” e na mínima intervenção do Estado. Essa visão — sintetizada por Eugênio Gudin e propagada pela Fundação Getúlio Vargas — combateu o planejamento econômico e a proteção à indústria nacional, condenando o país a um desenvolvimento descontínuo e frágil.
Nos anos 1950, o Brasil ainda era uma economia majoritariamente agrária, com 50% da população no campo e taxas de analfabetismo elevadas. A indústria de transformação representava pouco mais de 20% do PIB, voltada a bens de consumo leves, dependente de importações de insumos e tecnologia. Essa estrutura manteve o país vulnerável às oscilações externas e às crises cambiais, limitando a consolidação de uma base tecnológica autônoma.
A China partia de condições ainda piores. No final dos anos 1940, mais de 80% da população vivia no campo, a produtividade agrícola era baixíssima e a taxa de analfabetismo superava os 80%. O país havia sido devastado por invasões, guerras civis e décadas de dominação colonial. A partir dos anos 1950, o regime maoísta implantou uma economia planificada, priorizando a reforma agrária, a siderurgia, a energia e a indústria pesada. Mesmo com erros e retrocessos, esse processo criou as bases de um sistema de ciência e educação que, a partir das reformas de 1978 sob Deng Xiaoping, permitiu a transição para um capitalismo de Estado voltado à modernização tecnológica.
Nos anos 1970, Brasil e China investiam proporções semelhantes de seus PIBs em pesquisa e desenvolvimento — cerca de 2%. A partir de então, seus caminhos divergiram. A China multiplicou seus investimentos, chegando a 2,6% do PIB em 2024, com um sistema integrado de educação, pesquisa e política industrial. Hoje, o país é protagonista em energia renovável, semicondutores, telecomunicações, inteligência artificial e biotecnologia. O Brasil, ao contrário, reduziu o esforço estatal e desarticulou suas políticas industriais: em 2024, investe apenas 1,2% do PIB em P&D, a maior parte concentrada em universidades públicas, com pouca participação do setor privado. Nossa indústria prefere pagar royalties a desenvolver tecnologia própria.
Enquanto a China planeja seu 15º plano quinquenal (2026–2030) com foco em inovação científica, autossuficiência tecnológica e sustentabilidade ambiental, o Brasil se mantém prisioneiro de um neoliberalismo de ajuste permanente, em que o combate à inflação se torna fim em si mesmo. O resultado é uma economia estagnada, dependente de commodities e de tecnologia estrangeira.
O contraste entre os dois países não está na virtude de um ou no fracasso moral do outro, mas na diferença de projeto e de continuidade. A China apostou em planejamento e consistência; o Brasil, em improviso e retórica. Um construiu o futuro, o outro o adiou indefinidamente.

domingo, 23 de novembro de 2025

O MEDO DOS IGNORANTES

 
Este texto foi escrito no final de agosto de 2025, e eu o fui empurrando para depois, por estar publicando textos mais interessantes. Isso mostra que algumas postagens têm data de validade e que, se não forem postadas no momento certo, acabam ficando meio rançosas.

Hoje, para mim, a extrema direita é, entre outros defeitos, a expressão mais radical do obscurantismo e da negação da ciência. Como imaginar que o secretário de Saúde dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., justamente quem deveria incentivar as melhores práticas de saúde, revele tanto negacionismo e preconceito contra as vacinas? Segundo o site The Conversation, “Kennedy lançou um ataque generalizado à infraestrutura de vacinas dos EUA: destruiu comitês de supervisão, semeou dúvidas sobre ciência estabelecida, politizou a segurança dos ingredientes, limitou o acesso a vacinas e suspendeu o financiamento para pesquisas”.
 
Eu simplesmente enlouqueço quando leio notícias assim. Na prática, é como deixar uma raposa tomando conta do galinheiro. Em plena pandemia da Covid, antes mesmo da Coronavac, eu dizia que tomaria qualquer vacina que me protegesse da sanha da mamoninha assassina. Podia ser feita até de cocô de pombo, que eu tomaria, porque nunca duvidei de vacina alguma. Quando idiotas questionaram a rapidez da criação da vacina de RNA mensageiro, agiram como os cariocas que, no início do século XX, se opuseram à vacinação contra a febre amarela. Em outras palavras: preconceito, ignorância e estupidez.
 
Foi depois de ler um extenso artigo da BBC, intitulado “A história do movimento antivacina no mundo, que repete os mesmos argumentos há séculos”, que resolvi condensar e reduzir à metade as cinco páginas do texto original. Lê aí:
 
A humanidade sempre enfrentou epidemias letais, como a varíola, responsável por milhões de mortes até ser erradicada em 1980 com a vacina criada por Edward Jenner em 1796. Estima-se que, nos últimos 50 anos, vacinas tenham salvado mais de 150 milhões de vidas.
Mas a resistência surgiu junto com a prática. Antes mesmo das vacinas, a variolação — introduzida no século 18 — já era atacada por religiosos como o reverendo Edmund Massey, que a considerava uma afronta à vontade divina, uma “operação diabólica”. Com Jenner, proliferaram sociedades antivacinação, panfletos e sermões que denunciavam a imunização como antinatural, venenosa ou conspiratória. Uma ilustração de 1802, por exemplo, mostrava vacinados se transformando em vacas, ecoando temores que hoje se traduzem em boatos sobre DNA.
No século 19, movimentos antivacina organizaram protestos na Inglaterra, no Canadá, nos EUA e no Brasil, onde a Revolta da Vacina (1904) paralisou o Rio de Janeiro. Muitos argumentos se baseavam na defesa da liberdade individual, rejeitando a vacinação obrigatória imposta por governos. Mesmo diante de surtos que atingiam sobretudo crianças, ativistas sustentavam que higiene e quarentena seriam suficientes.
A oposição nunca desapareceu. Com a internet e as redes sociais, antigas falácias se multiplicaram. Entre 2018 e 2023, a confiança dos britânicos nas vacinas caiu de 90% para 70%. A OMS classifica a hesitação vacinal como uma das dez maiores ameaças à saúde pública. O sarampo, considerado eliminado nos EUA em 2000, voltou a registrar surtos fatais por causa da queda da cobertura vacinal.
Os discursos antivacina, embora atualizados com linguagem moderna, continuam recorrendo a velhos padrões: medo, teorias conspiratórias, defesa de liberdades absolutas e visões religiosas que interpretam doenças como castigos divinos. Dois séculos depois, são as mesmas falácias que ameaçam conquistas fundamentais da ciência.

agosto 2025

sábado, 22 de novembro de 2025

POLICIALMENTE CORRETO

Tenho andado muito cansado, cansaço provocado pela doença de minha mulher, por duas internações para tratar a confusão mental provocada pela baixa de sódio no sangue em menos de um mês. Talvez uma terceira seja necessária, pois ela já está novamente dando sinais de confusão no cérebro.
 
Para mim – mesmo sendo leigo – isso pode significar que os remédios identificados como "vilões" (pregabalina, desvenlafaxina, quetiapina e hidroclorotiazida) pelos médicos do hospital onde foi internada, talvez nem sejam tanto assim, ou não sejam só eles.
 
Segundo um médico amigo de minha cunhada, o quinto culpado pela baixa de sódio no sangue – ou até mesmo o principal culpado – pode ser o excesso do hormônio aldosterona ou desequilibrio de magnésio. A recuperação é simples, mas demorada. Um soro rico em sódio é aplicado lentamente, muito lentamente na veia, e tudo volta ao normal. Um litro desse soro demora trinta horas ou mais para ser totalmente aplicado, pois é liberado de forma programada por uma “bomba”. O problema é descobrir o motivo, talvez escondido em alguma alteração de natureza oncológica.
 
Por isso, para combater o stress e a preocupação que venho sentindo, resolvi ser politicamente incorreto agora ou, talvez, “policialmente correto”. E o tema é a recente operação no Rio de Janeiro que resultou na morte de mais de cem criminosos fortemente armados. E digo sem rodeios: apoio operações policiais que cumpram a lei e enfrentem grupos que impõem o terror armado a comunidades inteiras. Não consigo aceitar passivamente teorias sociológicas e justificar comportamentos de quem, na prática, ameaça e até barbariza os moradores que amedronta e controla com violência.
 
Não duvido que muitos moradores dessas áreas – gente de bem, reféns de extorsão, de ameaças, de tiros e de uma “taxação” criminosa sobre tudo, até sobre o preço do botijão de gás – acompanhem esse tipo de operação com um misto de alívio e esperança, ainda que em silêncio. Eles sabem melhor do que ninguém quem manda ali, e certamente não é o Estado.
 
É possível aceitar como normal a barbárie que é a existência de “tribunais do crime”, que torturam e executam pessoas por motivos muitas vezes banais? Se dependesse da lógica da rua, muita gente defenderia a aplicação da velha Lex Talionis, o famoso “olho por olho, dente por dente”. Mas vivemos, oficialmente, em um Estado de Direito – mesmo que esse direito chegue tarde, ou não chegue, para quem mora nessas regiões. Talvez por isso grande parte da população apoie operações desse tipo, ainda que setores organizados – a esquerda, a Igreja e grupos de defesa dos direitos humanos – as condenem.
 
Essas mortes vão acabar com o tráfico, com os assassinatos, com o poder paralelo? Claro que não, todos sabemos disso. Mas, como me disse um manobrista enquanto eu pagava o estacionamento do hospital: “É um bandido a menos”. Concorde-se ou não com essa frase, ela reflete um sentimento comum – o de que o Estado só se lembra dos cidadãos quando eles viram estatística.
 
O mundo já ultrapassou oito bilhões de habitantes e vive um debate global sobre sustentabilidade. No meio disso, a comoção seletiva por criminosos armados de fuzis, cuja chance de regeneração é mínima, parece, para muitos, um luxo moral distante da realidade de quem vive sob o domínio do tráfico. É duro admitir, mas há quem pense assim – e não sem motivo.
 
E agora chega, preciso levar minha mulher à sua oncologista. Talvez fiquemos internados novamente, sem condições de acessar o Blogson e os blogs que acompanho. Até a próxima, até quando der.

Em tempo: pedi ajuda ao ChatGPT para retirar ou modificar trechos do texto que pudessem ser equivocadamente classificados como "discurso de ódio" ou "injúria racial", simplesmente porque eu sou cara do bem, um sujeito totalmente a favor da cultura da não violência. Já escrevi sobre isso aqui no blog.

31/10/2025

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

CIRANDA, CIRANDINHA

 
Este texto é só para encerrar a lista de posts dedicados aos filhos e filhas de meus avós maternos Francisco e Julieta (ou Julieta e Francisco)
 

Nascida em 1919, Tia Ci, faleceu em 2023, com 104 anos, sem saber que o idiota de seu filho mais novo tinha morrido de Covid 19, por se recusar a acreditar na vacina que o teria salvado.

Nascida em 1920, minha mãe morreu em 2009 com Alzheimer.

Nascido em 1925, Tio Cici foi abatido por um câncer em 1988, aos 63 anos.

Nascido em 1926, Tio Ném, falecido em 2019, continua endeusado por filhas, netos, netas e bisnetos.

Nascido em 1928, Tio Tôto morreu em 2024, de causas naturais.

Nascida em 1929, Tia Dalva foi vítima do Mal de Parkinson. Faleceu em 2014.

Nascido em 1931 Omir morreu no interior, em 2015, cuidado por seu filho mais velho, também já falecido, vítima de infarto.

Nascida em 1933, Tia Aidê está com Alzheimer.

Nascida em 1935, Tia Marisa continua viva, lúcida e ligando para mim no dia de meu aniversário.

Nascido em 1940, Mon, meu tio mais novo, continua vivo, lúcido e trabalhando (está com 85 anos).

E, como na antiga cantiga de roda, “acabou-se o que era doce”.

HIPONATREMIA

 
Tenho um amigo que, fez uma descrição interessantíssima de como enxergava a Vida e o ato de morrer. Para ele, a vida seria como um caminho cercado que leva o gado ao matadouro, que iria se afunilando quanto mais se andasse. No início, as cercas estão tão distantes que ninguém se preocupa com a existência delas. À medida que passam os anos, a cerca vai se aproximando, se aproximando, de tal forma que, quando nos damos conta, não há mais como escapar do abate.
 
Acho que esse é um sentimento que nos acompanha em boa parte da vida. Sabemos que morreremos um dia, mas as “cercas” estão tão distantes que é como se nem existissem. É o que eu chamaria de “falsa imortalidade”.
 
Um dia, entretanto, um evento ou descoberta inesperada acontece e a imortalidade ilusória desaparece para sempre, momento em que os ajustes das expectativas se iniciam. E é assim, com a inexorabilidade da perda próxima de minha mulher, eu estou.
 
A descoberta da doença incurável de minha mulher em março de 2023 me fez desejar que pudéssemos (eu e ela) estar vivos até 2034, ano em que nossas netas mais novas completarão quinze anos.
 
Infelizmente, em virtude da doença incurável, as primeiras estatísiticas consultadas indicavam que viveria até 2027, no máximo. Mas só isso? Novo ajuste.
 
Recentemente, devido à confusão mental provocada por baixa de sódio no sangue, foi internada duas vezes para sua reposição controlada, só possível em hospital. Hipóteses foram aventadas sobre quem seria o culpado disso. Medicamentos, claro!
 
Ajustes, supressões e trocas foram realizadas, mas novo episódio de hiponatremia (esse é o nome) aconteceu. Ora, se os culpados não são apenas os medicamentos, quem seria o vilão? Um hormônio que atua na suprarrenal.
 
Ah, bom, então basta um tratamento oncológico para manter as coisas em seus lugares!
 
Entrei em contato com a oncologista que sempre a tendeu e tomei um murro na cara: não haverá mais tratamento oncológico, apenas cuidados paliativos. Mas, doutora, qual é a expectativa de vida então dessa menina a quem amo tanto?
 
Desde a descoberta da doença (câncer de fígado com metástase). Ela teria uma sobrevida de apenas 21 meses. E ela já tem uma sobrevida de 30 meses. Nada a fazer a não ser a aplicação contínua de morfina e antipsicótico. Puta que pariu!
 
Aí surgiu um novo médico que trabalhou em CTI durante dez anos e, depois de examiná-la e aos exames de imagem e de sangue mais recentes realizados, disse que não é o câncer o motivo da confusão mental, de uma provável infecção no quadril, no local da metástase tratada com radioterapia. Sugestão: nova internação, novos exames, novos antibióticos e nova esperança de melhora da consciência – mas não da sobrevida. Será internada hoje.
 
Mas a enfermeira que a atende domiciliarmente, depois de pressionada por mim, disse que provavelmente a mulher a quem amei nos últimos cinquenta e cinco anos não viverá até o final de dezembro.
 
Agora, o último ajuste das expectativas é que ela não sofra. Pelo menos não tanto quanto estou sofrendo por saber, como cantou o Beto Guedes, “que não vou te tocar além da lembrança”.

Escrito em uma tristíssima madrugada do dia 20/11/2025.

domingo, 16 de novembro de 2025

MINGAU

 
O cansaço extremo que sinto
Fez sua cobrança, afinal,
Burnout, cérebro liso,
Consistência de mingau.

Por isso peço desculpas
A todos que são meus amigos
E também aos que não mais são
Pois agora não mais consigo

Comentar como sempre fazia
Nem conseguindo acessar
Os blogs que antes seguia
Só consigo dizer “Nada a declarar”


10/11/2025


sexta-feira, 14 de novembro de 2025

CUIDE-SE!!!! (CONSELHOS DE UM CUIDADOR AMADOR)

 
Se você nunca pensou nisso, pode acreditar: o maior tesouro é aquele com que a maioria das pessoas já nasce. Saúde é o seu nome. Nenhuma riqueza o supera, nenhum poder o substitui. E você só saberá a verdadeira dimensão desse tesouro quando o tiver perdido para sempre.
 
Quando for alugar ou comprar um apartamento, certifique-se que tenha elevador. E que nele caiba pelo menos uma cadeira de rodas e espaço para um acompanhante.
 
Se for construir uma casa, uma mansão ou até mesmo uma edícula ou barracão lembre-se de instalar portas com no mínimo 80 cm de largura, mesmo nos banheiros. Um idoso e/ou inválido cadeirante agradecerá.
 
Escadarias podem ser um elemento arquitetônico lindo, mas procure evitá-las, mesmo que o desnível entre dois ambientes seja de apenas um degrau. Porque um dia você envelhecerá.
 
Se um dia, por infelicidade, sentir tanta dor nas pernas que acredite ser melhor ficar só deitado ou sentado, reaja a isso. Consulte um médico clínico da dor e peça medicamentos potentes para neutralizar essas dores, permitindo que consiga andar. Nunca deixe que o imobilismo e a inatividade possam causar atrofia de músculos não utilizados e te levem a perder “massa magra”. Pode chegar um momento em que a recuperação seja virtualmente impossível.
 
Se, por acaso, sentir alguma dor inesperada ou outro tipo de desconforto não usual, procure um médico, pois é melhor um neurótico saudável que um otimista com doença terminal.
 
Cuide-se, imagine-se como um carro que o uso continuado vai fazendo surgir pequenos problemas. Se você leva seu carro a uma oficina só por causa de um barulhinho estranho na rebimboca da parafuseta, leve-se a um médico (bom), por um raciocínio simples: a menos que seja um charlatão ou picareta, ele só descobrirá o que existe.
 
Saiba que a dor emocional que um cuidador sente por saber-se impotente para diminuir a dor física da pessoa que ama e cuida pode ser tão grande ou até maior que a que alguém sente por uma perda definitiva.
 
Para finalizar, três pequenos conselhos: se você fuma, pare de fumar; se você bebe, beba o mínimo possível; se você cheira, deixe de ser idiota. Seus pulmões agradecerão, o fígado agradecerá, seu corpo todo agradecerá, sua conta bancária agradecerá. Cuide-se, cuide-se, cuide-se!

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

PERSONAL STYLIST

 
Para mim, que cada vez mais tenho menos certeza sobre mais coisas, a pior das crenças que alguém pode ter é a que afeta negativamente quem as tem, quem nelas crê. Algumas crenças religiosas são o pior exemplo disso. Sem estabelecer escala de valores, poderia citar a proibição de transfusão de sangue em quem dela necessita, a preferência pelo tratamento espiritual ou xamânico em vez da medicina convencional, a recusa à vacinação, a crença na “terra prometida” etc.
 
As crenças ideológicas também padecem desse mal. Li recentemente, no site da BBC, uma reportagem sobre o conflito surgido na colônia japonesa do Brasil logo após o fim da Segunda Guerra, entre aqueles que aceitavam o fato de o Japão ter-se rendido e os que se recusavam a acreditar nisso. Transcrevo um trecho:
 
Dez meses após o fim das hostilidades no Pacífico, a colônia japonesa no Brasil permanece em pé de guerra, desta vez interna.
De um lado estão os kachigumi, que não admitem a derrota – e têm apoio ou simpatia de 80% da comunidade –, e, de outro, os makegumi, que aceitam a vitória aliada.
Sociedades secretas, entre as quais se destaca a Liga do Caminho dos Súditos (Shindo Renmei), recorrem à intimidação e ao assassinato contra os adversários.
 
Situação ainda mais triste – ou louca – é a de um soldado japonês que, sem aceitar o fim da guerra, ficou escondido na selva durante trinta anos. Só depôs as armas depois de receber a ordem da boca de seu antigo comandante. Vestia o uniforme e portava rifle e espada (além de granadas, cartuchos de munição e uma adaga que sua mãe lhe dera na década de 1940).
 
Mas não quero me meter a teorizar ou filosofar sobre isso sem ter formação adequada. Sou engenheiro, não sociólogo, antropólogo, psicólogo ou qualquer outro “ólogo”.
 
O tema deste post é minha irritação e desprezo pelas pessoas que vestem roupas que eu chamaria de “ideológicas”: verde e amarelo para a gangue conservadora ou bolsonarista, vermelho e branco para a moçada da esquerda.
 
Para mim, esse pessoal possui uma crença que não permite críticas, reavaliações nem moderação. Ou talvez lhes falte uma visão mais pragmática, mercadológica.
 
Pode haver cinismo ou preconceito (um preconceito do bem) no que vou dizer, mas toda vez que vejo gente de verde e amarelo ou vermelho PT tenho quase vontade de vomitar, tão grande é a rejeição que sinto pelas crenças "pétreas" e valores defendidos por esses radicais.
 
Outro dia, depois de ver uma foto do Lula vestindo uma camisa vermelha de mangas compridas durante a COP30, pensei comigo: “Que sujeito burro! E esse é o cara que quer se reeleger?”. A explicação é simples: desde criança, com aversão ou medo do comunismo (mesmo sem saber de que se tratava), eu sempre odiei bandeiras e roupas vermelhas (hoje, só tolero o vermelho vivo de uma Ferrari conversível). E a camisa do Lula não é uma roupa cerimonial como as batinas dos padres, é uma roupa ideológica.Além disso, camisa "social" (de mangas compridas) fora da calça é feia demais (acho que seria bom para ele um personal stylist de direita).
 
Da mesma forma, quando vejo idiotas vestidos de verde e amarelo fazendo manifestações pedindo anistia para velhinhos delinquentes, sinto a mesma rejeição – por associar essa cambada aos tempos sombrios dos generais-presidentes.
 
Eu acredito ou tenho a impressão de que a maioria dos eleitores é formada por gente moderada. Por isso, se alguém almeja ser eleito para algum cargo de maior expressão (presidente, governador, prefeito), precisa tornar-se mais palatável para a maioria, não pode ficar servindo de eco apenas para seu gueto. E vestir-se só com as cores aprovadas ou aplaudidas pelo "gueto" pode ser um tiro no pé. Eu aceito e aprovo tanto algumas das bandeiras da esquerda quanto algumas da direita, mas não suporto radicalismos e crenças imutáveis, lembrando ainda que vivo em um país oficialmente laico.
 
Pensando nisso tudo, imaginei roupas que demonstrassem a moderação de quem as veste. Pedi então ao ChatGPT para criar camisetas de malha e uma camisa de mangas compridas misturando, em partes iguais, as cores verde, branco, amarelo e vermelho. 
 
Para mim o ideal seria um tecido  discreto tal como os utilizados nos kilts escoceses ou utilizando a técnica do pontilhismo (mas isso a IA nunca conseguiu fazer de forma decente). Como o resultado estava muito ruim (falta ao ChatGPT bom gosto e criatividade fashion), acrescentei ao pedido a ordem para usar a técnica de pintura do artista Jackson Pollock (Blogson Crusoe também é cultura!) – e saíram estas imagens. Quem as vestir estará mostrando sua moderação e equilíbrio ideológicos – mesmo que possa espantar quem olha a exuberância amazônica da padronagem. Olhaí.




terça-feira, 11 de novembro de 2025

RAVEN

 
Meu interesse pela manutenção do blog pode ser entendida por estas imagens. Sinceramente, estou pouco me lixando para o que foi um dia minha melhor fonte de diversão. Foi, pois a Vida matou esse interesse. 

Há posts antigos da família de minha mãe e alguns novos que deixei programados. Aproveitem, portanto (se quiserem, lógico). Depois disso, só o Belchior para explicar, pois eu cheguei no meu limite.
 
No presente, a mente, o corpo é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais.
Como Poe, poeta louco americano, eu pergunto ao passarinho:
- Black bird, assum-preto, o que se faz?
Black bird, assum-preto, pássaro-preto, me responde:
- O passado nunca mais





sábado, 8 de novembro de 2025

BEIJINHO, BEIJINHO

 
Caso real. Minha mulher está tomando soro em casa para reidratar-se e, talvez, controlar um pouco a confusão mental causada pela baixa de sódio no sangue.
 
Fazendo minha doutrinação sobre saúde – que hoje considero o maior tesouro do mundo –, ouvi do enfermeiro da Unimed que veio instalar o soro, um relato, um “causo” que não podia deixar de registrar neste blog de amenidades.
 
Segundo ele, depois de operar de apêndice, ganhou licença de quinze dias. Ligou para a mãe, para contar as novidades. A mãe disse então que os quinze dias de licença seriam bons “para namorar”. A reação foi hilária:
 
- Mãe, eu fui operado de apêndice! Os quinze dias podem até ser utilizados para namorar, mas só se for na base do “beijinho, beijinho”. “Pau, pau”, nem pensar!

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

INTERNAÇÃO

 
(Dando um refresco nas memórias familiares. Mas elas voltam!)

Se você acredita que uma internação em hospital é período propício à reflexão sobre os tomates em que pisou ao longo da vida, ou adequado para tirar um cochilo no intervalo entre a hora do café e aquele almoço horroroso que te faz ter saudade de um jantar à luz de velas no Maxim’s de Paris – ou de um podrão com bastante maionese comprado no trailer da esquina, lamento dizer que está mais distante da realidade que sua chance de ganhar uma medalha de ouro na prova de salto com vara em uma olimpíada (e o problema pode nem estar na sua vara).
 
Na verdade, um quarto de hospital é um dos lugares mais badalados e movimentados que você poderia imaginar. Pouco importa se você é o/a paciente ou o/a acompanhante. Sabe aquele cochilinho depois do almoço? Esquece! Quem está internado dorme como quem está pescando na hora do trabalho, ou babando na camisa enquanto o chefe resolve definir as novas diretrizes para o setor.
 
E não há exagero no que digo (na verdade, não digo nada, eu só escrevo), pois tenho experiência sobre isso, duramente adquirida durante recente internação de minha mulher. Duvida?
 
Fiz uma lista de todas as interrupções de sono a que fui submetido ao longo de 24 horas. Numa boa: se alguém precisasse de um culpado para confessar o roubo das joias francesas do Louvre, nem precisaria me apertar. Bastaria me mostrar um travesseiro e eu confessaria tudo, salivando igual cachorro faminto à espera de um pedacinho de carne do churrasco que está acontecendo em cima da laje.
 
Parece que estou enrolando? Claro qu estou, senão o texto ficaria muito pequeno. Mas deixemos de prolegômenos (palavra chique demais!) e passemos ao dia a dia de uma internação.
 
Tudo se inicia às cinco ou seis da manhã, quando a porta do quarto se abre e a luz é acesa por alguém dizendo “bom dia”. Mede-se a pressão, a frequência cardíaca, o índice de saturação de oxigênio.
 
Você se ajeita para continuar a dormir, mas parece que há um sistema ou alguém que diz algo como: “pode ir agora, eles já voltaram a dormir”. E aí a roda anda. Sem me preocupar com a cronologia das aberturas e fechamentos de porta, o sono/cochilo é interrompido por:
 
Administração de remédios previstos para a meia-noite
Administração de remédios previstos para as dezoito horas
Administração de remédios previstos para as doze horas
Administração de remédios previstos para as seis horas
Alguém perguntando se o acompanhante também almoçará
Alguém perguntando se o acompanhante também jantará
Almoço
Apresentação da enfermeira de plantão
Café da manhã
Café da tarde
Chá noturno com biscoitos para o/a paciente (o acompanhante não tem direito)
Chegada da equipe de banho e troca de roupa de cama
Coleta de sangue
Entrega de roupa de cama limpa
Entrevisita do geriatra
Entrevista da nutricionista
Exercícios com o fisioterapeuta
Jantar
Medição da glicemia à tarde
Medição da glicemia em jejum
Medição da pressão, frequência cardíaca e índice de saturação de oxigênio feita à tarde ou noite
Recolhimento da bandeja do café da tarde
Recolhimento das garrafas do café da manhã
Troca do cesto de lixo e limpeza do banheiro
Visita do médico plantonista
 
Em cada uma dessas situações, é uma porta que se abre e se fecha.
Fora as visitas que chegam conversando mais que papagaios enlouquecidos.
Fora o barulho das mensagens de zap chegando ou das chamadas de telefone. Uma loucura!
 
E tem gente que acha que internação é momento de tranquilidade!

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

QUEM SABE ISSO QUER DIZER AMOR

 
Este texto foi gerado pelo ChatGPT a partir das letras de algumas músicas que o Lô Borges compôs. Depois de “informar” o motivo de sua morte, escolhi algumas letras de músicas que ele compôs – Clube Da Esquina, Equatorial, Clube Da Esquina Nº 2, Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor, Dois Rios e Paisagem Da Janela (deve ter mais alguma, mas não estou me lembrando). E o ChatGPT entregou este texto. Acho que ficou bem legal. Lêaí.
 
 
A morte de Lô Borges foi como se uma das cordas invisíveis que sustentam o céu de Minas tivesse se partido — mas a música que ele deixou continua vibrando no ar, como quem se recusa a aceitar o silêncio definitivo. Suas canções sempre foram feitas de encruzilhadas: noite e dia, corpo e sonho, chão e céu, o ribeirão que se imagina mar, o amor que nasce no intervalo entre um acorde menor e a luz da manhã. Nada nele era simples, mas tudo era claro como um gesto que não precisa de explicação.
 
Há, nos versos que ele musicou uma busca constante por saída — ou por retorno. “Fugindo pra outro lugar” não era desistência: era a certeza de que existe sempre uma esquina que ainda não foi dobrada, um país que ainda não se inventou, um futuro quieto esperando no bolso de quem ousa caminhar. Talvez por isso suas melodias pareçam feitas para a memória: mesmo quando falam de despedida, é como se chamassem alguém para se reencontrar amanhã, “antes do sol”, antes que o mundo comece a rodar depressa demais de novo.
 
E se “o mundo lá sempre a rodar” é destino inevitável, Lô ensinou que o que vale é o gesto íntimo: a mão que se oferece, o beijo de paz, o instante em que duas vozes descobrem que são dois rios correndo para o mesmo mar. Há nisso algo de eternidade, mas uma eternidade discreta, mineira, guardada num quarto de dormir com janela para uma igreja, um muro, um pássaro.
 
Ele partiu, mas deixou o mapa. Uma trilha feita de silêncio, de lua, de calçadas gastas em Belo Horizonte, de portas que se fecham para que outras se abram. Quem escuta sabe: não se trata de morrer — trata-se de continuar fugindo, buscando, acreditando que “a chama não tem pavio”, porque a canção acende sozinha.
 
Se houve falência dos órgãos, não houve falência da obra. O corpo cansa, a voz parte, mas o acorde fica. E fica porque, no fundo da noite, Lô Borges fez o que poucos conseguem: compôs canções que parecem lembrar de nós quando somos nós que deveríamos lembrar delas.
Talvez seja isso que quer dizer amor.

 

terça-feira, 4 de novembro de 2025

EQUATORIAL

 
Por morar no mesmo bairro onde surgiu o “Clube da Esquina” e por já ter visto o Lô Borges tomando cerveja despreocupadamente em um bar-mercearia perto de minha casa, nunca dei a ele maior importância, mesmo adorando suas composições do disco que dividiu com o Milton Nascimento. Prova de que a distância física pode afetar nossa percepção.
 
Conversei com ele uma única vez, quando perguntei se não tinha intenção de publicar um livro de cifras (acordes) para que os mais bobos (como eu) pudessem tentar reproduzir no violão as músicas incríveis que compôs. Escapando pela tangente, disse que sairia “no ano que vem”.
 
Pois bem, sua morte logo após o fechamento do icônico Bar do Bolão (o rei do espaguete da madrugada) provocou um gosto amargo em minha boca e a certeza de que “nada será como antes” – nem na música nem na boemia do bairro onde moro nem em minha vida, que já está “na tábua da beirada”, como dizia um cunhado falecido.
 
Para celebrar um tempo já passado, uma gravação da música “Equatorial”, composta pelos ainda desconhecidos Lô Borges e Beto Guedes, identificados em um festival ou coisa assim como Lu Borges e Bete Guedes (quem contou esse caso foi o próprio Lô).



 

BOATE AZUL - MATO GROSSO E MATHIAS

A Eliany sempre adorou uma música tipo “de zona” e muito brega para meu gosto elitista e pedante – “Boate Azul” , que cantava nas festas de ...