Recentemente, enquanto dirigia, ocorreu-me a ideia de uma ampulheta que vencia a força da gravidade. Os grãos subiriam, em vez de cair. Cheguei em casa e comecei a escrever frases soltas. Juntei tudo e saiu este poema.
Ah, ampulheta!
Por que insistes em me exasperar
Ao mostrar o escoamento inexorável, grão a grão,
Da areia que trazes dentro de teu corpo bipartido?
Por que não estreitas ainda mais tua cintura e impede
Que os grãos continuem a descer através de tua feminina silhueta?
Por que não te rebelas contra Chronos, teu patrão irascível?
Não sejas pulha!
És obsoleta, peça de decoração em um mundo digital.
Reinventa-te e a teu significado!
Aspira cada grão que deixaste cair displicentemente,
Subverte a lei da gravidade!
Dá-me a chance de sentir novamente
A intensidade dos primeiros amores
E de poder sonhar outra vez
Meus sonhos ingênuos de juventude.
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