DROGAS
A primeira droga que eu usei foi talo seco de chuchu. Não ria, pois é verdade. Com onze, doze anos, um conhecido me mostrou que dava para fumar aquela coisa. É claro que fiz como o Bill Clinton, pois fumei mas não traguei, coisa que eu não sabia fazer. Mas era divertido fumar cigarro de chuchu, pois produzia uma fumaça bem legal embora deixasse um gosto ruim na boca. Como isso era coisa de criança, logo abandonei essa bobagem.
Meu pai era tabagista pesado, pois fumava desde os treze anos de idade. Tinha os dedos e o bigode amarelos de nicotina e vivia tentando parar de fumar. Até conseguir parar definitivamente, tentou várias vezes, sempre nos prometendo que “agora era pra valer”. Segundo nos disse anos depois, morria de vergonha dos filhos saberem que tinha fracassado.
Eu pouco me lixava para isso, mas obedeci fielmente seu pedido de só fumar depois dos dezoito anos. Lembro-me dele falando que o cigarro era uma porcaria e que nós nunca deveríamos fumar. Entretanto, se ainda assim quiséssemos, que esperássemos fazer dezoito anos, pois aí ele até acenderia um para nós. Não precisou.
Comecei a fumar com dezenove anos. Um dia, na praia, alguém pediu que eu acendesse um cigarro com um pipoqueiro que estava por ali. Como imaginei que o cigarro apagaria até voltar, pus na boca e aspirei. Eureka! Apesar de ficar meio tonto, sem querer, tinha aprendido a tragar.
Comecei a fumar com dezenove anos. Um dia, na praia, alguém pediu que eu acendesse um cigarro com um pipoqueiro que estava por ali. Como imaginei que o cigarro apagaria até voltar, pus na boca e aspirei. Eureka! Apesar de ficar meio tonto, sem querer, tinha aprendido a tragar.
Comecei com um cigarro no sábado, fui aumentando aos poucos, até chegar ao consumo diário de um maço, quando parei. E foi meu sogro que fez com que eu parasse. Um dia fui buscar o resultado de uma biópsia que ele tinha feito e levei ao seu médico. O médico olhou o resultado e perguntou o que eu era dele.
- Genro, por quê?
- A situação dele não é muito boa, pois está com câncer no pulmão.
- É curável? O que dá para fazer?
- Talvez pudéssemos extrair o pulmão doente. Como ele fuma desde a infância, o outro pulmão ficará sobrecarregado e talvez ela morra de infarto ou insuficiência respiratória.
- Qual é a expectativa de vida que ele tem?
- Pessimista, três meses; otimista, um ano.
Naquele dia, ao dar essa notícia para minha mulher e seus irmãos, parei de fumar. E ele morreu seis meses depois.
Minha relação com o álcool já foi mais estranha, pois eu sempre achei ruim o gosto de qualquer bebida. Apesar disso, adolescente, quando ia a alguma festa em casa de família, bebia cuba libre ou high-fi, duas misturas intragáveis. Se a festa era em clube, eu tomava cachaça em algum boteco antes de entrar. Com uma ou duas goladas já esgotava o copo. Aí era só esperar o efeito desinibidor, libertador, ...que nunca vinha.
Ninguém nunca soube me explicar o efeito do álcool no meu organismo. Primeiro, turvava-se a vista, como se tivesse pingado um colírio para fazer exame de vista em um consultório de oftalmologista. O passo seguinte era a sensação de que a língua estava mais grossa, o que me fazia falar meio enrolado. A perda significativa da audição vinha logo a seguir, fazendo com que eu passasse a falar mais alto. Se o teor alcoólico estava anormalmente muito alto, perdia o tato e a sensibilidade da pele caia. A partir daí, my friend, começava a cambalear descontroladamente. A única coisa que ficava inalterada nesse quadro de pré-coma alcoólica era a filha da puta da minha consciência. Podia tomar um copo de cerveja ou algumas doses de uísque que lá estava eu, os sentidos entrando em colapso e as emoções inalteradas. Triste antes? Também agora. Muito alegre? Tudo igual.
Resumindo, a bebida nunca me fez ficar mais alegre, desinibido ou impulsivo. Nem mais triste, deprimido ou raivoso. Só inalteradamente tímido e introvertido. E no dia seguinte, aquele gosto de fundo de gaiola na boca, aquela dor de cabeça escrota, a velha e boa ressaca. Por isso, quando ainda não tinha namorada, bebia até cambalear. Essa era a única diversão que eu tirava da "marvada". Isso aconteceu até o dia em que meu irmão teve de arrombar a porta do banheiro da casa onde morávamos, para me tirar de lá, quase em coma alcoólica, depois de ter bebido todos os tipos de bebida disponíveis em uma confraternização em um domingo à noite. No dia seguinte, prometi à minha mãe ficar um ano sem beber.
Passado esse período sabático, já não achava mais graça nenhuma em cambalear "desgovernado". Passei a beber cerveja esporadicamente, conversando com cunhados e amigos. Cheguei até a pegar alguns porres gigantescos com a loura gelada (o último aconteceu no carnaval de 1976). Mas nunca gostei de cerveja, Às vezes dizia brincando que gostava demais (verdade) do primeiro copo, bebido de uma só vez; mas, a partir do segundo copo, a bebida ficava com gosto de cerveja - e eu não gosto de cerveja.
O último e definitivo porre que tomei foi quando nosso terceiro filho formou-se na faculdade. Avisei que iria beber até me acabar, o que realmente fiz. O uísque rolava solto e eu encarei. Lá pelas tantas, dirigi-me à mesa onde estavam meus filhos e noras. Estava quase cambaleando. Quando meu filho mais novo olhou para mim, notei no seu rosto uma expressão que misturava pena, horror, constrangimento e preocupação. E a minha consciência lá, firme, vigilante. Senti tanta vergonha naquela hora que decidi parar de beber - pelo menos, naquela festa.
Um.dia, revendo essas imagens em minha cabeça, pensando em todas as pessoas de quem gosto e que se transformam em puro lixo quando estão bêbadas, decidi parar de beber definitivamente. Não sei precisar a data certa, só sei que desde antes do Natal de 2013 nunca mais pus nenhuma bebida alcoólica na boca. Qual a vantagem, afinal?
E aí chegamos ao reino das drogas ilícitas. No final da década de 1960 e início da seguinte, tudo o que eu queria era experimentar maconha. Afinal, muitos conhecidos usavam, o filme sobre o festival de Woodstock tinha acabado de ser exibido (assisti umas três vezes), etc. Não havia a noção de que seu uso era danoso para o organismo, e por aí.
E aí chegamos ao reino das drogas ilícitas. No final da década de 1960 e início da seguinte, tudo o que eu queria era experimentar maconha. Afinal, muitos conhecidos usavam, o filme sobre o festival de Woodstock tinha acabado de ser exibido (assisti umas três vezes), etc. Não havia a noção de que seu uso era danoso para o organismo, e por aí.
Mas eu tinha medo (era ilícito, proibido) e desejo (era moderno, descolado) de experimentar. Um dia, conversando sobre drogas com um conhecido da faculdade (chamava-se Tadeu mas tinha o apelido de Caetz, por causa do cabelo a la Caetano Veloso), disse-me que iria me arrumar uma "bolinha" para dar um barato legal. E realmente trouxe. Era um glóbulo de remédio natureba. Disse que eu devia tomar com cachaça. Apesar de meio ressabiado, resolvi encarar. Engoli aquela bosta com uma dose de pinga e fiquei esperando o barato. Mas nem uma baratinha eu vi passar, pois não aconteceu absolutamente nada. Só fiquei com a sensação humilhante de que tinha sido alvo de uma pegadinha de maconheiro gozador.
Poucos meses antes, tinha viajado para Guarapari com algumas pessoas. Era período de férias e a cidade estava lotada de mineiros. Passei por um maconheiro meio barra pesada que conhecia apenas de vista e comentei com um conhecido (que também queria experimentar) que esse cara poderia nos ajudar a comprar um baseado. Fomos atrás do sujeito e explicamos nosso desejo e pedimos sua "assessoria". Prontificou-se imediatamente em nos ajudar e pediu o dinheiro, pois "logo estaria de volta". Para ser sincero, estou esperando o bagulho até hoje. Talvez ele tenha se esquecido de nossas fisionomias, quem sabe, não é?
Falando sério, eu acredito que era tão bundão que nenhum maconheiro de respeito queria ser visto a meu lado, nenhum nunca quis me aplicar, como se dizia na época. Ainda bem.
Para explicar por que não fumo, não bebo nem cheiro, gosto de citar os versos do Belchior que dizem "a minha alucinação é suportar o dia a dia, o meu delírio é a experiência com coisas reais". Recentemente, ouvi uma frase que passou a ser minha predileta e que utilizo para terminar este post:
A Realidade me satisfaz.
A Realidade me satisfaz.
Ora, ora, quem diria? O velho JB um manguaceiro de primeiro, de entrar em coma alcoólico. Aliás, dizem que o gaúcho adora um coma alcoólico, ele bebe até ficar trêbado, aí fica pelado e diz pro outro : coma!
ResponderExcluirE a tal bolinha que você tomou com cachaça? O que será que era? Como há muito "batismo" e adulterações no mundo das drogas ilegais, de repente, era até uma bosta de carneiro.
Pra você ver. A propósito, ainda bem que sou mineiro. Quanto à "bolinha", lembro-me que era um glóbulo amarelado, não opaco. Podia até ser bosta de carneiro, mas certamente era natureba (como a bosta).
ResponderExcluirSó tive tempo de ler agora a continuação, ri demais, pra seu consolo acho que todo maconheiro que se preze já fumou muita bosta de vaca rsrs e ainda tá em tempo, JB. Minha sogra foi dar uns tapas já coroa, no meio de uma festa da família, dizendo ela que não sentiu nada, mas dormiu o sono dos anjos. Vai entender, tá valendo.
ResponderExcluir"J"
Deve ter dormido depois de comer três pizzas família e um frango a passarinho.
ExcluirEngraçado isso, nunca tive uma larica dessas que o povo fala, só fico mais bêbada que o normal, agitada e com a sensação de que nunca mais vou conseguir dormir.
ExcluirMinha resposta é igual à do Zeca Pagodinho: "Não fumei, não senti, só ouço falar".
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